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quarta-feira, 31 de março de 2010

46 anos de uma revolução anticomunista

Há exatamente um ano, o jornalista e advogado José Lauro Dieckmann Siqueira abriu um blog informativo, com suas reportagens e memórias, o Lauro Dieckmann Journal. A propósito dos 45 anos do golpe militar, ele relata, em 31 de março de 2009, onde estava no memorável dia de 1964: em Pelotas, com dezenove anos de idade.

Recorda que dia 31 à noite as tropas do General Mourão Filho se deslocaram de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, onde estava João Goulart. Mas somente no dia 1 de abril é que o golpe aconteceu, declarando vago o posto de presidente da república, contra a Constituição de 1946. O jornalista remarca que os golpistas celebram a chamada "revolução" de 1 de abril no dia anterior para não coincidir com o dia dos bobos.

Dieckmann (esq., hoje com 65) conta que passou, na manhã do dia 1, pela praça Coronel Pedro Osório a caminho do Café Aquários e viu soldados apontando metralhadoras para o chafariz, sem entender nada. A praça estava deserta e nada mais de anormal se viu na cidade. Naquela noite começaram a prender comunistas, pois esse era o sentido dos militares desde o segundo governo de Getúlio.

Ainda de acordo ao jornalista, o único conflito entre militares e a população ocorreu no domingo seguinte. Na esquina do Aquários juntava-se tanta gente para conversar (centenas de marmanjos) que o trânsito fechava nos fins de semana à noite (não havia calçadão, na época).

Pelas 21-22h, "um pelotão do Exército, comandado pelo Major Escalante, mandou todo mundo embora, sem necessidade, pois não havia nada ali que pudesse afetar o regime que se impunha. Foi pura truculência, exibicionismo, prepotência. Mas o pessoal começou a sair pacificamente, embora tivesse ocorrido reação, algumas ruas mais adiante, com os populares jogando pedras sobre os soldados". Veja o relato completo em: Onde eu estava em 1º de abril de 1964.

Em 2009, Lauro Dieckmann abriu outros cinco blogues de leitura interessante e variada, e segue atualizando-os:
  • LD Mídia, sobre jornais e meios de comunicação, "um Observatório da Imprensa particular".
  • Lauro Dieckmann Jurídico, um olhar bem-humorado sobre o mundo jurídico.
  • LD Economia, com notas sobre empresas e produtos.
  • Blog do Escrevinhador, com relatos breves e ideias parecidas, dele mesmo e de outros (o Blogger o classificou como conteúdo para adultos).
  • Blog de Poemas, com versos e ideias poéticas (postagens esporádicas).

terça-feira, 30 de março de 2010

Cotada, uma viagem no tempo

― Vou pra Cotada ― falei ao taxista. Seu silêncio e olhar fixo me disseram que eu devia esclarecer algo. ― Aquele que era o antigo prédio da Cotada, sabe?

― Ah bom, agora o senhor me deu um susto! Cheguei a pensar por um momento que...

― Pois é, a Cotada não reabriu, não.

Enquanto guiava, o moço, de uns quarenta e tantos, me perguntou o que tinha sido daquele prédio, mostrando não saber das mudanças. Expliquei que a UFPel tinha comprado esse e outros prédios. Ele tinha ouvido falar nisso, mas parecia morar em outra cidade.
Pelotas é imensa, mesmo. O bairro do Porto, por exemplo, fica a uns 50 anos do centro histórico. A corrida sai uns dez reais, mas o trajeto é espaço-temporal.
Ao chegar lá, o impacto emocional de estar diante da velha Cotada transportou o transportista a sua infância e ele revelou em parte o que tinha pensado com aquela minha primeira frase.

― Fazia muito tempo que eu não vinha aqui... Sabe, é que meu pai trabalhou na Cotada, quando eu era criança. Mal me lembro, disso já faz uns 35 anos. Parece que o dono era um chinês.

Muitos pelotenses realmente não se informam, mas este taxista, que trabalha nas ruas, nem tinha sabido da primeira ocupação simbólica da Cotada, em novembro passado (Arte no Porto III). Já era janeiro de 2010 e estava realizando-se a segunda grande exposição ali, com desenhos de humor e artes relacionadas com o desenho gráfico (Ecletipofaces). Mal sabíamos que os artistas da UFPel estavam pensando numa terceira, para os últimos dias de março, a Recotada.

Aos poucos a cidade vai sendo remexida, mesmo que simbolicamente, e enriquecendo seu capital cultural.
Foto de F. A. Vidal

sábado, 27 de março de 2010

Conversas de barbearia, só para homens

As conversas de barbearia são parecidas com o que se ouve nos bares e cafés. Quem vai cortar o cabelo tem o pretexto de dizer tudo o que pensa. Liberado o verbo, o barbeiro conta episódios incríveis, os clientes seguem um dominó de associações, e no final já não se sabe quem disse o quê. Homens falando são bem mais engraçados que os bate-bocas de mulheres na cabeleireira.

Em 29 de janeiro, em minha última ida ao salão de Darci e Paulo (Quinze com Cassiano), ouvi este tipo de conversa.

― Viu só, o ano que era "novo" já envelheceu: já é dia 29, acabou janeiro.

― E fevereiro este ano ainda é curtinho. Tem o carnaval, e já deu pra a bola. É em março que o ano começa.

― Mas março passa voando! Depois, abril tem dois feriadões, Semana Santa e Tiradentes. Quando se vê já terminou o mês. Depois, a Fenadoce, que este ano vai ser em maio, pra não coincidir com a Copa. E começando a Copa, só fica o segundo semestre e acaba o ano.

― É, 2010 não teve graça.

(Admito que a segunda metade eu ficcionei, mas a primeira é literal).

Na mesma sessão, Paulo (acima) tirou do fundo do baú um exemplo de como pode ser embaraçosa a ignorância verbal de certas pessoas. A gafe ocorreu no programa da Rádio Cultura "Atrações Tusa", do ex-vereador, hoje octogenário radialista Teófilo (Tufi) Salomão (esq.). Os ouvintes, a maioria de origem humilde, ligavam para mandar alôs aos amigos e pedir músicas, e eram postos no ar ao vivo. Nunca acontecia nada estranho; tudo era previsível e dentro de esquemas: desfiar a longa lista de amigos e parentes, pedir uma música antiga do Roberto Carlos ou Moacir Franco e dedicá-la a algum dos citados.

Certa noite, um moço do Fragata, dentro do esperado, recitou o terço de familiares, vizinhos, amigos da infância, cachorro, papagaio, e terminou dedicando a música... pra mulher boa que eu como lá atrás do cemitério.

Tufi tira do ar o convidado, pede desculpas aos ouvintes pela vergonha - tem cada uma, a gente não tem como prever essas coisas - e põe a música pra aliviar o mau momento. Terminado o intervalo comercial, o seguinte ouvinte que vai ao ar é... o mesmo de antes!

― Sabe, desculpa seu Tufi, às vezes a gente se atrapalha, mas a música eu queria dedicar é pra dona Maria, uma senhora muito legal que me dá almoço todos os dias, ela mora na rua atrás do cemitério. Ela é uma mãe pra muita gente.

O duplo sentido das palavras comanda a construção das melhores piadas, mesmo que involuntárias. E os mestres das anedotas reais são os radialistas e os barbeiros.
Fotos da web (2) e F. A. Vidal (1)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ariel Ramírez morre aos 88 anos

O compositor e pianista argentino Ariel Ramírez morreu aos 88 anos, na quinta 18 de fevereiro, numa clínica de Buenos Aires. O músico era mundialmente conhecido por canções como Alfonsina y el mar e obras corais como a Misa Criolla (1964) e a Misa por la Paz y la Justicia (1981).

Desde jovem Ariel Ramírez interessou-se pela música de raiz argentina, e esse interesse se intensificou em 1941, quando se encontrou com Atahualpa Yupanqui.

Passou a compor com inspiração folclórica sul-americana, apresentando-se também como pianista. Em 1955 criou um grupo folclórico com o qual viajou pelo mundo por duas décadas, difundindo a música de raiz latino-americana.

No vídeo acima, o Gloria da Misa Criolla, interpretado pelo grupo Los Fronterizos e o coro da Catedral de San Isidro, dirigido por Gustavo Felice. Esta música aparece no filme Leolo (1992), do francês Jean-Claude Lauzon.

Abaixo, "Nacimiento del charango", de Ariel Ramírez, tocando piano com Jaime Torres no charango, para o documentário Argentinísima II (1973), dirigido por Fernando Ayala e Héctor Olivera.
Foto da web

quinta-feira, 25 de março de 2010

São José festeja seu centenário

Ao celebrar seus cem anos, o Colégio São José iluminou a fachada dianteira de seu prédio com focos vermelhos e verdes, alternativamente.

As festividades incluíram, na sexta (19), dia de São José: homenagem na Câmara de Vereadores, missa com o bispo de Pelotas e um jantar de honra, e no sábado (20): apresentações artísticas, visitas guiadas e a inauguração de um novo brasão na entrada do Colégio.

Há um ano, o Diário Popular vem publicando fascículos com notas históricas e documentos sobre a vida interna da instituição; acaba de sair o sétimo de uma série de onze. Até o fim deste ano deverá completar-se a coleção de fascículos e a cada mês serão feitas celebrações deste centenário.
Foto de F. A. Vidal

quarta-feira, 24 de março de 2010

A história de Kleiton e Kledir

Amanhã (25), Kleiton e Kledir apresentam o show "Autorretrato", no Teatro Guarani.

Em fevereiro passado, o jornalista gaúcho Emílio Pacheco publicou em seu blogue (veja) o vídeo abaixo, que traz uma entrevista com os cantores pelotenses, realizada em Natal, Rio Grande do Norte, para ser exibida na televisão portuguesa. A dupla conta, para quem não conhece, toda a sua história desde o tempo dos Almôndegas. No desfecho eles cantam "Tassy", composição de Giba Giba e Maria Betânia Ferreira (disco "Kleiton & Kledir", 1980). Acompanhe a letra na grafia em tupi-guarani.

Tesaetá abátinga
Gûyratatá
Tybira yykeira paîé
Mbaekûapara
Potara eyma
Mamoigûara
Kunhã ausuba
Mamoigûara
Mamoigûara katu
Eima Menama
Ybakapora Tesaetá
Tybira tykeira tasy
Teõ Abá îukapira
Abá tinga
Tekó katu eyma Teõ

terça-feira, 23 de março de 2010

Agenda de março

Em março, esta Agenda inaugurou nova fase deste blogue e ficará, por este mês, em lugar de destaque. Para ver detalhes das atividades, clique uma vez sobre seu título. Para obter outras formas de visualização, clique em Hoje, Semana, Mês e Compromissos (esta última é a mais recomendável).

Desde abril, o blogue terá duas agendas na coluna da direita: uma para exposições, feiras e congressos, e outra para espetáculos e palestras. A atual ficará sem uso, permanecendo somente no post de 2 de março.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Vinícius ao som de Freud

A temporada de palestras 2010 na Sociedade Sigmund Freud foi aberta por Catherine Lapolli, psiquiatra que cursa a formação no Instituto de Psicanálise de Pelotas.

Quarta-feira passada (17), ela expôs o tema "Vinícius ao som de Freud, Bion e Winnicott", ante uma plateia de umas trinta pessoas, principalmente psicólogos e psiquiatras. Sempre ao som de um CD de Toquinho e Vinícius, a palestrante falou uns 50 minutos e depois abriu para perguntas e comentários.

O trabalho de Catherine saiu em forma de artigo na coletânea de trabalhos "Construções" (na foto), representando Pelotas. A obra foi editada em 2009 pela Associação Brasileira de Candidatos (a analistas) e será apresentada em nossa cidade em abril próximo.

A ideia de analisar esta personalidade artística surgiu em 2008, com os 50 anos da Bossa Nova, e se realizou em 2009, quando a ABC fez 15 anos. Com apoio na biografia de José Castelo "O Poeta da Paixão", a psiquiatra relatou a história de vida de Vinícius de Morais (1913-1980, registrado como Marcus Vinitius Cruz de Moraes) e a deteriorada relação com a mãe adolescente. Aos 9 anos de idade retirou o sobrenome materno (Cruz), suas mulheres foram 9, e as horas que ficava na banheira (onde morreu, num dia 9) eram um modo de voltar aos 9 meses uterinos. A filha mais velha Susana Moraes mantém um sítio na internet sobre Vinícius (veja), oficial mas não completo.

Sem destacar demais as virtudes do admirado "analisando" mas respeitando profundamente as autodefinições do artista, Catherine situou Vinícius entre as personalidades melancólicas e adornou o poético sofrimento com arranjos dos psicanalistas Freud, Bion e Winnicott. Podendo ter usado a ocasião para dar uma aula sobre os três autores à luz de um poeta, preferiu deixar que o caso clínico falasse por si próprio, como o faz no Samba da Bênção, escrito com Baden Powell em 1968 (ouça, abaixo, a gravação em Mar del Plata, 1970).

sexta-feira, 19 de março de 2010

Poema-canto ao Laranjal

A poetisa porto-alegrense Beatriz Araujo foi apresentada aqui no blogue, há uns meses (veja nota), após a edição de seu primeiro livro. Admiradora de Pelotas, oferece-nos um novo escrito, inspirado na praia que é nossa maior beleza natural.

Querido Laranjal!

Querido Laranjal! Porto sempre seguro!
Relicário de amores, sonhos embevecidos.
Tão só, insone – à noite, te procuro!
A mim devolves os sentidos.

Lavas minha alma de coração impuro.
Dás calma, paz, ao meu olhar entristecido.
Querido Laranjal! Porto sempre seguro!
Relicário de amores, sonhos embevecidos.

Enleias-me em águas cheias, de prata lua!
E à minha alma, teu corpo-água se mistura.
Necessito-te como a um sonho que emolduro.
Acolhes-me! Por teu amor é que perduro!
Querido Laranjal! Porto sempre seguro!

Beatriz Araujo
19/03/2010

Foto: blogue de Liziane Vieira

quarta-feira, 17 de março de 2010

Rádios de Pelotas na internet

Com o surgimento da TV aberta, há 50 anos, as pessoas passaram a ouvir menos rádio, especialmente na zona urbana. O veículo audiovisual teve maior uso educativo e político, e o auditivo ficou com as funções da voz humana: antecipar as notícias da TV, comentar, acompanhar, aproximar, bater papo, divagar, sonhar.

Nos últimos 20 anos, a internet não eliminou a TV nem a radiofonia; ao contrário, veio até reforçá-las. Se antigamente era preciso ter um receptor de rádio e estar dentro do alcance da emissora, hoje pode-se ouvi-la num sítio eletrônico, em qualquer lugar do mundo (algumas rádios - como a carioca Globo FM - até já saíram do dial e estão somente na internet).

O pelotense pode captar cerca de vinte radioemissoras em aparelhos AM-FM. Aqui vai a recomendação de algumas, para que o ouvinte de longe disponha dessa aproximação a nossa cidade.

Frequência Modulada (megahertz)

Com seu estilo repousado, a Rádio União FM (99.9 MHz) chegou em 2007 como irmã da União de Novo Hamburgo, que nasceu em 1980. As duas emissoras podem ser ouvidas na internet, mediante o programa Windows (ouça ao vivo). A locutora Kathia Roloff (acima) apresenta notícias das 6h às 7h, e é também a voz principal da Fenadoce.

A Rádio Federal FM (107.9 MHz) foi fundada em janeiro de 1981 como rádio educativa da UFPel, batizando-se como Rádio Cosmos e tendo em vista um alcance até a fronteira, mas seu projeto ainda não se realiza totalmente. Desde 1992 com o atual nome, ela tem uma programação musical focada no ouvinte adulto, preenchida com anúncios da agenda cultural da cidade. Requer o programa WINAMP. A principal locutora é a escritora Maria Alice Estrella (esq.).

A Rádio Com (104.5 MHz) é outra opção interessante, do ponto de vista cultural. As mais tradicionais em FM são a Rádio Alfa (94,5 MHz), criada há 30 anos pela UCPel, e a Rádio Atlântida (95,3 MHz) que pertence à RBS (sem áudio disponível).

Amplitude Modulada (quilohertz)

  • A Rádio Pelotense (620 kHz) é uma das mais antigas do Brasil – faz 85 anos em 6 de junho próximo – e mantém o estilo noticioso e de conversação (ouça ao vivo).

  • A Tupanci (1250 kHz) toca ao abrir o sítio na internet, mas ainda não tem informação completa da grade de programas.

  • A Rádio Universidade (1160 kHz) pode ser ouvida ao vivo com Real Player.

  • A Rádio Cultura (1320 kHz) está em processo de transição e recuperação; ouve-se "somente" em receptores de rádio.

Ouça um trecho de 3 min da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, que anuncia um programa de debate que se realizou em março na UFPel, com pelotenses, sobre o momento da cidade, sobre o seu desenvolvimento econômico presente e futuro (clique no botão "tocar") . Os dois debates estão disponíveis no portal dessa rádio.

Se o leitor estiver em Pelotas ou fora, pode dizer sua opinião sobre estas emissoras e o que gostaria de ouvir.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Poética do Caos, pinturas de Lígia Farias

A artista plástica Lígia Monassa Farias publicou em novembro passado um livro de poemas sob o mesmo título da mostra de quadros que fica no Bar João Gilberto, até esta quarta (17): “A Poética do Caos”.
Lígia é dessas poucas pessoas - e há mais de uma em Pelotas - que se move em mais de uma área artística. Havia participado de algumas exposições coletivas, como integrante do MAPP (Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas). No entanto, nunca havia organizado uma individual, e se atreveu agora, junto com o impulso do livro. Ela mesma diz:
– Caos é, para mim, o impulso da criação! Caos seria a desordem dos elementos e, a partir daí, eu os coloco do meu jeito, como os sinto!
Para a artista, "pintar é como escrever poesia". Outras declarações suas estão no sítio pelotense de anúncios e comentários culturais E-Cult (leia o post).
A série de pinturas em acrílica consta de doze obras, como "Poética do Caos II" (abaixo) e "Máscara" (dir.). Todas estão à venda por preços entre R$ 140 e 250.
Num contexto de ingenuidade, a constância das máscaras inexpressivas parece representar o "caos" inicial, a partir do qual a artista gera variações, em cores e formas.

"A triste" (dir.) é uma das mais interessantes, justamente pela revelação simbólica de um conteúdo humano, sugerindo a caída da máscara.
"Perfis em azul" (acrílica e lápis sobre papelão) se encontrava semitapada por uma cortina (esq.), esta semana, no dia de um show cuja parafernália ocupou parte das paredes. É algo que pode acontecer quando o lugar não é adequado para exposições e a curadoria não é valorizada o bastante (recado para o MAPP, que coordena as exposições no JG). Assim como é bonito ver o diálogo entre literatura e pintura, também é possível harmonizar o visual com o sonoro.
Fotos de F. A. Vidal

sábado, 13 de março de 2010

Festival de Cinema não incluiu Pelotas

O 6º Festival de Verão de Cinema Internacional está realizando-se no Rio Grande do Sul de 11 a 18 de março, com apresentação de uma centena de filmes inéditos e a presença de profissionais do cinema (diretores, produtores, roteiristas e atores) de vários países.

Promovido pela Panda Filmes desde 2005, o festival traz anualmente várias dezenas de filmes novos, apresentados em Porto Alegre e cidades do interior, além de atividades paralelas gratuitas, como aulas magnas e workshops. Hoje de manhã, o cineasta Marcos Jorge palestrou sobre "Direção e experiências de filmagem" no auditório da FAMECOS da PUC-RS.

Este ano, os 108 filmes se distribuem em várias mostras:

  • principal, com vários gêneros e origens (45),
  • Mundo, com filmes alemães, franceses, poloneses, portugueses, argentinos, uruguaios, sul-coreanos (27),
  • universitária (16),
  • Godard 1961-1965 (5),
  • ambiental (3) e
  • Quinto Festival (12).

Na mostra principal encontra-se "Tudo pode dar certo" (2009), o último filme de Woody Allen (dir.) ainda não conhecido no Brasil (veja comentário no blogue A Sétima Arte).

Somente uma parte desses filmes é exibida fora de Porto Alegre. Veja aqui a programação do festival. Participam 9 cinemas do circuito da capital, 7 do interior do Estado e um itinerante. Há sessões com debates. São tantos filmes que, se alguém quiser ver um especificamente, terá que viajar à cidade onde estiver sendo exibido.

Este ano, nossa cidade não foi incluída no circuito do interior, mas os pelotenses que viajarem ao Cassino poderão ver meia dúzia de filmes, nos horários de 19h e 21h: sexta, sábado e domingo (amanhã), terça, quarta e quinta. Exigimos uma explicação.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Palavras sobre Palavras: consultório etimológico

Esta segunda-feira (8), comecei a escrever uma coluna no blogue da Escola Santa Mônica, o Alquimia das Palavras. A professora amiga Teresinha Brandão me convidou a colaborar e batizamos a seção: Palavras sobre Palavras, aludindo à metalinguagem e ao estudo dos étimos. Parece ser o único espaço pelotense dedicado à etimologia, incluindo também algo de paremiologia (origem dos provérbios e expressões).

De contrabando com as informações históricas e gramaticais, pretendo introduzir análises sobre os costumes brasileiros e comportamento em geral. O primeiro artigo compara os sinônimos trombadinha (assaltante menor de idade) e pivete (menor de idade assaltante), que no Brasil denunciam implicitamente nossa permissividade com o delito e a corrupção, desde tenras idades.
A etimologia costuma interessar mais a especialistas, mas muitos leigos gostam de saber de onde vêm as palavras e não encontram informação confiável. Minha base será uma dezena de dicionários, vários deles não disponíveis na internet. A intenção é tirar a aparência solene da gramática, respeitando os estudiosos de um assunto em que, parecido ao futebol e a política, muitos dão palpite ou fazem piadas. Inclusive há quem, de ouvido, ache que "étimo" não teria o "i" após o "t" (como em "ritmo"). Mas o radical é etymon, grego que passou pelo latim.

Alguém sabe por que os cachorros-quentes são chamados de "panchos" no Uruguai e países vizinhos?

A salsicha veio da Alemanha com o nome de Frankfurter Würstchen (veja explicação). Em vez de ser traduzida para "salsicha de Frankfurt", a expressão foi simplificada para Frankfurter e depois para Frank e Pancho, que em espanhol é o apelido de Francisco.

Esta explicação é algo que não achei nos dicionários, mas deduzi pela lógica e pelos dados disponíveis (primeiramente publicado em setembro de 2009 no Amigos de Pelotas).
Imagem: Wikipedia

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lago da praça já vazio, ainda sujo

Este era o aspecto ontem (7) do minilago da praça Osório, em processo de limpeza e de renovação da água.

Do lado norte, ao parecer mais alto (esq.), não resta mais água; somente lodo.

Do lado leste, pela Félix da Cunha (dir.), algo de água muito suja aprisiona meia dúzia de peixes, mortos ou quase. As crianças gritam espantadas: Olha, ainda tem uns peixes!

Há uns meses, apareceram peixes mortos pela sujeira e falta de oxigenação, ficando escancarada a ineficiência municipal para solucionar o caso, pois uma entidade é a que cuida da segurança da praça e outra da saúde dos peixes. O anúncio foi de que os animais comprados para este local seriam transferidos para o lago da Estação Rodoviária (que na verdade são dois), enquanto este espaço seria restaurado.

Se os peixes fossem humanos diriam: Vou para a capital dos lagos, lá tem um mar de água limpa.

Hoje vemos que o processo é tão lento que parece que a água e os bichos fossem retirados manualmente, com baldes pequenos. É claro que isso envolve gastos com pessoal e materiais, mas não se sabe de um controle externo, quantos peixes morrem, como são alimentados etc. Se eu fosse peixe, quereria ficar no "mar de água limpa" e não voltar a um lugar tão descuidado como a velha praça. Quem prefere a província por suas vantagens de quietude, precisa ter amor por ela e assegurar-se de que ela não fique em estado de abandono.
Fotos de F. A. Vidal

sábado, 6 de março de 2010

200 anos do nascimento de Chopin

Esta semana se recordou, ao redor do mundo, o bicentenário de nascimento do maior compositor polonês, mais conhecido por seu nome francês: Fréderic François Chopin (1810-1849). Ao mesmo tempo, se celebrou ontem (5), no Brasil, o dia nacional da música clássica, escolhido em 2009 (leia histórico) por ser o aniversário de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Em Pelotas não houve celebrações por nenhum dos dois motivos.

O nascimento de Chopin foi registrado - numa paróquia próxima a Varsóvia - como sendo 22 de fevereiro de 1810, mas se acredita que a data certa seja mais perto do dia 1 de março. O menino teve as primeiras aulas de piano com a irmã mais velha e com a mãe. O talento precoce o fez conhecido em Varsóvia como "segundo Mozart", pois aos oito anos de idade deu o primeiro recital como pianista e já era autor de uma polonaise (veja biografia). Devia ser como Dimitri, de 7 anos (acima, tocando a Valsa em lá menor, opus póstumo nº 17). Aos quinze, Chopin compôs a obra que seria seu opus 1: o Rondó em dó maior.

Aos vinte, foi morar em Viena, mudou-se para a França - terra de seu pai, professor de francês em Varsóvia - mas nunca pôde voltar à terra natal. Do exílio são suas obras mais intensas, como a famosa "Marcha Fúnebre" (1837), que veio fazer parte da Sonata nº 2 em Si bemol menor, opus 35 (vídeo abaixo, interpretação de Jeffrey Biegel).

Por sentimento e por compromisso político, Chopin esteve sempre ligado à Polônia, como um revolucionário de coração contra a invasão russa. Seguiu compondo até que morreu em Paris, de tuberculose, aos 39 anos. Sua Marcha Fúnebre foi tocada em seu próprio enterro e ficou conhecida em funerais de governantes como John Kennedy, mais especialmente na versão orquestrada pelo inglês Edward Elgar. No Brasil, o motivo melódico principal foi um bordão da novela de sátira política "O Bem-Amado" (1972-73).

Habitualmente se recordam a fama e o inegável talento de Chopin como músico. Nas comemorações dos seus 200 anos, um moderno museu foi inaugurado em Varsóvia e muitos concertos estão sendo realizados em todo o mundo; em São Paulo, por exemplo, o pianista Nelson Freire interpretará algumas de suas obras no próximo sábado (13).

No entanto, em Pelotas o compositor polonês foi homenageado por seu compromisso político e patriótico, sem menção da música. Um pequeno monumento foi levantado, há 65 anos, e até hoje pode ser visto, defronte à Escola de Direito (abaixo). Seus dizeres são: A Chopin, símbolo da liberdade, a Federação Acadêmica de Pelotas.

Segundo o historiador Mário Osório Magalhães (Diário Popular, 24-11-2002), a Federação Acadêmica decidiu, em 1943, destacar o valor patriótico e libertário do artista polonês. Naquele ano, recrudescia a Segunda Guerra Mundial, já com o Brasil aderido às forças aliadas, após submarinos alemães terem atacado mercantes brasileiros. A Polônia era um emblema da luta contra o nazismo (terminada esta guerra, seria novamente dominada pela ditadura russa soviética).

O bronze foi um trabalho da escultora Eugênia Smyte, conforme relata o historiador pelotense. Ainda em 1943 se falou na imprensa sobre a escolha do local para o busto: a praça Osório, a Júlio de Castilhos (hoje Parque Dom Antônio Zattera) ou a pracinha Conselheiro Maciel, a da Escola de Direito, onde finalmente se inaugurou, em 31 de maio de 1944. A Guerra ainda duraria um ano angustiante, envolvendo países de todos os continentes, inclusive com forças expedicionárias brasileiras.

Assim como o Aeroporto Tom Jobim no Rio de Janeiro, a Polônia denominou o seu principal aeroporto internacional com o nome de Fréderic Chopin. Além do proverbial patriotismo (derivado das perseguições dos poderosos vizinhos), o país é um modelo mundial de valorização de seus artistas e intelectuais; muitos deles são designados oficialmente como autoridades públicas e do serviço diplomático, denotando que a inteligência e a cultura é que devem governar ou, pelo menos, representar os princípios morais e éticos da nação.

Pelotas tem muitos artistas e intelectuais, mas aqui eles não governam e inclusive são vistos pela autoridade como um segmento social e político reduzido, fonte de pressões e exigências. A mesma cidade que já homenageou governantes locais - e até artistas estrangeiros - ainda deve um monumento a seu maior escritor, João Simões Lopes Neto.
Imagens da Wikipedia (1) e F. A. Vidal (2)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Duas belas pelotenses

Sábado passado, Karen de los Santos (esq.) e Charlene Macedo Quadrado (abaixo) foram selecionadas, como representantes de Pelotas, para a final de um concurso de modelos, da agência brasileira Mega Model.

Karen e Charlene foram selecionadas nas primeiras fases e disputarão o prêmio final (contrato por R$ 100 mil) no próximo dia 18 de março, em Porto Alegre.

A informação saiu quarta (03) no blogue da filial Pelotas e hoje (05) no Diário Popular, impresso e online (veja a notícia). Não se trata (propriamente) de um concurso de beleza, mas de uma escolha de modelos para os comerciais de um bronzeador, o que - claro - requer beleza física e simpatia para mostrar o bronzeador sendo usado.

Charlene só tem 20 anos mas já foi princesa da Fenadoce (16ª versão, em 2008), Garota Verão - por Pelotas e pelo Cassino - e princesa da Femorango (município de Turuçu).

A agência Mega Model é paulista e o concurso foi organizado pela sua divisão gaúcha; o scouter (caçador de talentos) da Mega Model Pelotas é Sergio Piñeiro, da ClickPelotas.

Para ser top model, há requisitos de idade, peso e altura (não de etnia, se bem que uns 95 % das modelos mulheres da Megamodel de SP são loiras ou morenas, a julgar pelas fotos do seu site). O mesmo vale para os modelos masculinos.
Imagens: Megamodel e Chachah

Sete Imagens de 2009

O Projeto Sete Imagens nasceu em 2008, como uma parceria entre o Teatro Sete de Abril, administrado pela SeCult, o Curso de Cinema e Animação da UFPEL e o IF-Sul. Nesse primeiro ano, foram realizadas sete sessões de debate sobre produção local em vídeo e cinema, seguindo-se o formato aproximado de 15 minutos de projeção e 45 de discussão.

Em 2009, a segunda edição do Projeto quis incluir novas propostas estéticas e técnicas (não somente cinema, e não somente da zona de Pelotas), renovando e ampliando a ideia do Sete Imagens, com o mesmo formato básico dos encontros: debate sobre produções audiovisuais gaúchas (veja explicação). As novidades artísticas ficaram por conta do stop motion e da videoarte.

Esse ano, foram recebidas 17 inscrições provenientes de diversas zonas do Estado e foram selecionadas seis, para um ritmo de uma sessão por mês, de maio a novembro, com a primeira delas destinada a produção universitária. A frequência só foi interrompida pelas medidas de proteção contra a Gripe A: com a suspensão de reuniões em ambientes fechados, o programa de agosto foi transferido para dezembro.

Em maio (28), a reestreia do Projeto apresentou sete curtas-metragens de alunos da UFPel.

Em junho (18), Causos de Gaudério, três curtas do estúdio profissional Animatchê: "O Chimarrão" (vídeo abaixo), "Tirando leite" e "Dia de Tosquia" foram feitos em animação stop motion (filmagem quadro a quadro, de modelos feitos de diversos materiais, como massa de modelar e látex). Na ocasião, foram expostos no saguão do Sete de Abril os bonecos e cenários utilizados. O Animatchê e seus artistas são daqui de Pelotas.

Em julho (23), o diretor Bruno Carvalho trouxe de Porto Alegre o curta Do mesmo lado do muro, produção de 2008 da Regra Três Filmes.

Em setembro (17), a produtora Moviola apresentou Futebol, Sociedade Anônima, curta de ficção ambientado no bairro Simões Lopes, com lançamento do vídeoclip de Edu daMatta "Passa a Bola" (veja). A numerosa equipe esteve quase toda no palco do teatro participando no debate.

Em outubro vimos Fome de quê, curta de Luiz Alberto Cassol, que conseguiu duas semanas em cartaz em uma sala comercial de Santa Maria e a participação num concurso argentino (veja o blogue do diretor: Filmes de Junho). Ao debate em Pelotas somente veio o ator principal, Joel Cambraia.

Em novembro (19) foi a vez de Bruno Carvalho trazer um segundo curta produzido em Porto Alegre, também com personagens adolescentes: Gol a gol. Comentado aqui no blogue (veja nota).

Em dezembro (10) foram projetados os quatro vídeos de Martha Gofre (Maresia; Blow in) e Kelly Xavier (Crepúsculo; Duplo). A videoarte são obras audiovisuais com imagens em movimento, realizadas por artistas plásticos, como parte de obras visuais e espaciais (veja uma definição); não sendo arte cinematográfica, não estão feitas para serem projetadas em salas de cinema. Também não são "vídeo-arte", como se a expressão fosse análoga a "cine-arte". No entanto, as 4 obras aqui mencionadas têm sido expostas em sessões de cinema especiais.

Todos estes filmes podem ser vistos no Memorial Theatro Sete de Abril, Rua Quinze de Novembro 560A, de 14h a 18h (não disponíveis para venda nem cópia). Os que podem encontrar-se na internet são os citados "Gol a Gol" e os do grupo Animatchê.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A tragédia do último homem (conto)

Rubens Amador é cronista literário e jornalístico pelotense, que por cerca de quarenta anos colaborou na imprensa local. O texto abaixo viu a luz, primeiramente, em 23 de junho de 1979, e mantém atual sua simplicidade cinematográfica e seu dramatismo psicológico e ecológico.

Os rios haviam secado, literalmente. A vegetação voltara aos tufos dos primeiros tempos. Os pássaros, os peixes, e os animais em geral, há muito se haviam extinguido dado a Grande Tragédia da Humanidade, chamada de “Poluição Ponto 1000”.

Finalmente o ser humano chegara ao derradeiro estágio. De nada adiantaram as repetidas campanhas e advertências sobre a premonição daquele fim para o qual todos haviam colaborado. A ânsia do lucro fora maior que tudo.

E lá estava ele, aquele homem que encarnava a Espécie, como o herói de um cenário negativo. Era o último. Ainda inadaptado à solidão; barbudo, sujo, desnudo. Realmente tinha-se dado uma terrível compulsão universal de volta às origens, numa inversão da escala evolutiva. Era um retorno aos primeiros tempos, depois do pináculo do ser humano.

Agora, aquela sombra de homem se movimentava num cenário de pedra-pomes, cujas elevações e árvores petrificadas desenhavam fantasmagóricas criaturas, dignas de um cenário do Macbeth de Orson Welles.

Os períodos dos dias e das noites, por um supremo desequilíbrio, transformaram-se em um ambiente único e estático. Não havia mais chuva. Nem ventos. Nem sol. Nem lua.

Permanentemente, aquele vazio enorme há anos – igual, irremediavelmente igual – transformando o ambiente numa espécie de entardecer eterno, provindo de nuvens sanguinolentamente avermelhadas. E o silêncio... Um silêncio eloquente em todos os lados.

Mas ele, o Último Homem, não desistia apesar de toda a adversidade. E lutava para sobreviver. Precisava caminhar quilômetros a cada dia, em busca de um pouco de água, penosamente obtida depois de muito cavar com as próprias mãos. Seus pés estavam em chagas, de tanto vagar na lava consolidada e áspera. Aliás, o homem pode suportar muita coisa enquanto suportar a si mesmo. Pode viver sem esperança – inclusive, sem amigos, sem livros ou mesmo sem música, enquanto for capaz de ouvir seus próprios pensamentos. Mas naquela situação ele se dera conta de que o homem tinha sido o lobo do próprio homem. E, talvez movido pela decepção, começou a fraquejar.

Dramática era sua busca, em vão, de estabelecer qualquer diálogo – havia muito ansiado – com o próprio eco que fosse, como uma forma de vencer aquele abandono, mesmo através da mais rudimentar forma de comunicação ainda possível, pensava.

“EU SOU UM SER HUMANO!” gritava com suas poucas forças, e por cerca de vários dias escutava apenas sua própria frase, reproduzida até sumir. E insistia bradando nova sentença, na esperança de ouvir qualquer contestação. De som ou de ideias.

As verdades transcendem. E deu-se conta de que outras também eram válidas. Que o homem, por exemplo, vazio do contato do semelhante, mesmo que ainda lhe sobrem alguns valores, ao final passa a ansiar pela solidão da morte. “Por que não lutara para evitar a poluição ambiental?” – perguntava-se em desespero, autopunindo-se.

Exausto, no torvelinho daquele labirinto, sem uma tênue esperança ou possibilidade de sair, abandonou-se na maior lassidão. E, talvez no desejo vão de arrojar para fora de si a responsabilidade de continuar vivendo, reuniu forças e deu o derradeiro grito: “EU VOU MORRER!”

Finalmente, o eco respondeu-lhe, entre seco e irônico: “BEM FEITO!”

E, naquela imensidão niilista, o NADA serviu de mortalha para o Último Homem.

Rubens Amador

Imagens da web

quarta-feira, 3 de março de 2010

Mandalas de Letícia Castro

As mandalas são desenhos simbólicos em forma circular, de conteúdo místico e de origem oriental, com o sentido de promover a consciência, o relaxamento e o equilíbrio de energia. Há alguns meses vimos uma exposição de mandalas feitas por uma artista pelotense (veja as duas notas).

Letícia Tessmann de Castro (esq.) é artesã de Canguçu e também se interessa especialmente pelas mandalas. Há somente um ano decidiu tentar produzi-las e desde então nunca mais parou. Agora ela expõe por primeira vez e o faz em Pelotas, no Corredor Arte do Hospital da FAU.
A maioria das obras estão expostas em suportes individuais, mas também se encontra um trio (acima). Uma das mandalas "autônomas" contém um espelho (abaixo), que permite casualmente ver no reflexo o mesmo grupo mostrado acima.
As mandalas de Letícia são feitas de diversos tipos de materiais como pedras, papel, semente e texturas. Segundo ela, todas emitem boas vibrações e tranquilizam o ambiente. “A energia é plenamente perceptível pelo nosso inconsciente, o que estimula mudanças e melhorias no local”, explica.
O sentido pacificador pode estar nas formas desenhadas e nos símbolos inspirados pela mente da pessoa criadora. Como ocorre com outras modalidades artísticas, as mandalas são formas autoexpressivas que crianças e adultos podem conceber e plasmar - não somente artistas com experiência.
Para a canguçuense, expor o trabalho no Corredor Arte tem um significado especial. “Espero que elas transmitam harmonia e energia positiva para todas as pessoas que passam por aqui”.
Como se pode ler na nova agenda do blogue, esta mostra se encontra no Hospital da FAU até o dia 10 de março. Cerca das 14h desse dia, a equipe do Corredor Arte retirará estas obras e coloca a nova série (já programada, como se vê no mesmo calendário).
Fotos Corredor Arte

terça-feira, 2 de março de 2010

Nova fase do blogue "Pelotas, Capital Cultural"

Ontem (1) o blogue inaugurou uma nova fase, marcada pelo sentido de incluir os leitores pelotenses nas atividades culturais, através de uma agenda. O instrumento usado é a Agenda Google (acima), que este mês incluirá dois tipos de eventos: os de hora programada (shows e palestras) e os de visitação livre, como as exposições. Desde abril, haverá agendas separadas para esses dois fins. Um clique numa atividade do calendário com o botão esquerdo do mouse mostrará detalhes do evento. A opção "Compromissos" mostra as atividades em lista; um clique mostra seus detalhes. A atribuição de mapas pertence ao buscador do Google, não ao blogue.

A inovação mais central que marca o início desta etapa é o cabeçalho visível desde ontem, criado por Nathanael Anasttacio, designer gráfico que também fez o cabeçalho anterior, em julho de 2009 (veja).

O visual das postagens ficou mais homogêneo nas cores, sendo preferido o preto e o cinza, que lembram a tinta de impressão dos jornais e revistas, e o azul, que se associa à navegação pela internet mediante vínculos (links). A inclusão de um Livro de Visitas (Guestbook) facilita a interação com palavras e os dois jogos (aquário e sudoku) pretendem acrescentar um elemento lúdico.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Terremoto no Chile e a conexão com Pelotas

Ao meio-dia de hoje, o sítio da RBS Pelotas Mais informou da presença de pelotenses em Santiago do Chile, durante o terremoto de sábado (27). Eles são o doutor Waldemar Barboza e sua esposa Sônia, em férias até ontem, e forçados, desde hoje, a esperar um voo de saída do país. Como eu conheço o doutor e conheço o Chile, me pareceu necessário mencionar o fato, que simboliza a conexão destas duas realidades insulares: nossa cidade e o país andino.

Em entrevista pelo bate-papo eletrônico, o médico relata o momento terrorífico do tremor mais forte (o primeiro foi às 3h 26) e descreve a tensa calma que se vive no setor médio-alto de Providencia. Indiretamente ele comenta o que gostaria de ver no brasileiro, se aqui ocorressem situações assim. "...as pessoas formam filas enormes, mas mantendo sempre uma postura de cuidados e respeito com os outros. [...] Os comerciantes estão sendo muito éticos e não estão aumentando os preços de artigos de primeira necessidade, ao menos aqui onde estamos" (leia a nota).

O aeroporto internacional de Santiago está funcionando desde sábado às 14h, mas com restrições, devido aos danos. Os voos do exterior foram desviados ao norte do país, para o atendimento de alfândega, e logo os passageiros são trazidos a Santiago; os voos provenientes do sul foram suspensos. Durante a semana, espera-se recomeçar os serviços normais sob tendas do exército; o clima de verão é quente e com baixa umidade. Os primeiros voos para o exterior poderiam ser na sexta (5), de acordo ao vespertino La Segunda (leia).
Os chilenos estão acostumados a esperar catástrofes e a sofrer danos naturais, inverno ou verão, dia ou noite, mas tudo indica que esta situação é o mais grave que já se viu desde 1960. O terremoto foi minimizado por notas de imprensa, comparando-o ao de março de 1985, que teria sido mais forte, o que parece ter sido dito para não intranquilizar ainda mais a população.

Um sinal de que o tremor é importante são os cortes de luz, água e telefone. Os rádios de pilha passam a ser o contato com o mundo, no meio da angústia. Algumas estradas (foto abaixo, em Talcahuano) e um setor do porto de Valparaíso racharam e prédios residenciais desabaram - em maior medida que no terremoto anterior.
A cada 15 ou 20 anos ocorre um grande sismo (de mais de 6 na escala Richter), com um ou dois menores no meio do período. A força deste último equivale a uma energia que a terra estava guardando, pois há 25 anos que nenhum tinha ultrapassado o grau 6. Os dados oficiais de hoje (1) são de 723 mortos e mais de 500 feridos, segundo o jornal La Nación. O transporte público funciona normalmente desde hoje, não há desabastecimento na capital, mas todos os cinemas e teatros fecharam, ainda sem previsão de reabrir.

A engenharia chilena se encontra ao nível mais avançado no mundo das construções antissísmicas, e é por isso que os edifícios somente balançam mas não caem. As casas mais suscetíveis a danos são as que seguem o sistema colonial, à base de adobes (grandes ladrilhos de barro e palha). Com os tremores de terra, inerentes à natureza próxima aos Andes, as paredes de adobes das casas rurais se desmancham por completo, mas logo estes são reutilizados, a maioria em bom estado.
No entanto, numa cidade permanentemente exposta a sismos, os prédios são construídos com as devidas proteções, a tal ponto que as pessoas devem ser orientadas a proteger-se a si mesmas e não se preocupar com objetos físicos. Por exemplo, se alguém estivesse próximo à janela de um edifício alto, poderia ser projetado pela janela com as oscilações. Mas o edifício não cairia, pois sua estrutura é feita com metais flexíveis e resistentes.
Essa imagem pode ser uma metáfora do psiquismo do chileno, acostumado a duros golpes e programado para não quebrar, com defesas muitas vezes excessivas. Psicólogos aconselham as melhores medidas (leia nota do jornal El Mercurio). Em Pelotas não há terremotos, mas as inundações são nossa permanente ameaça, perigo que se agrava especialmente com a subida do nível dos oceanos.
Daqui a duas semanas assumirá o presidente eleito em janeiro, Sebastián Piñera, empresário de direita que se desligou gradualmente da ditadura pouco antes daquele terremoto de 1985. Até agora nenhum sinal foi dado de que a cerimônia venha a ser alterada ou adiada. Hillary Clinton, que está em Montevidéu para acompanhar a posse do novo presidente uruguaio, confirmou sua visita ao Chile.
Imagens La Segunda

Músicos da UFPel apresentam-se na França

O Núcleo de Música Contemporânea (NuMC) organizou, para a próxima semana, uma atuação na cidade de Paris, França: a Mostra de Música Contemporânea Brasileira. Serão 3 concertos diferentes, programados para os dias 10, 11 e 12 de março, na Maison du Brésil ("Casa do Brasil", centro cultural ligado ao Estado francês).

O NuMC é um grupo formado por professores do Conservatório de Música da UFPel, interessados em desenvolver e difundir a música erudita contemporânea. Participou ativamente em 2009 no 6º Festival de Música Contemporânea, realizado em Porto Alegre e Pelotas (veja nota).

Os participantes na Mostra anunciada são o flautista Raul Costa d´Avila, os violonistas Thiago Colombo (sentado)e Rogério Constante (também compositor) e os pianistas Joana Holanda (sentada), Lucia Cervini e Guilherme Goldberg (de pé, no centro). Ao todo, 18 compositores brasileiros serão interpretados.

Além dos 3 concertos, os integrantes do Núcleo realizam uma palestra sobre as atividades do grupo na UFPel e participam de um ateliê de música contemporânea junto à associação francesa (análoga ao NuMC) Musica Temporalia, à qual pertence a pianista Martine Joste (esq., foto de Isabelle de Rouville), que se apresentou em Pelotas em 2009.

O primeiro concerto traz obras para piano, que serão interpretadas por Joana Holanda e Lucia Cervini, dos seguintes compositores:
  • Liduino Pitombeira (Uma noite na Mata, 2002),
  • Bruno Ruviaro (Sete Vazios, 2006) [ouça o trecho no sítio do autor],
  • Rogério Constante (Pampa I, 2005),
  • Alexandre Lunsqui (Contours... Distances..., 2009),
  • Silvio Ferraz (Catedral das 5:45, 2004),
  • Almeida Prado (Cartas Celestes I, 1974).

O Concerto II traz obras para violão de Edino Krieger (Passacaglia para Fred Schneiter, 2001), César Guerra-Peixe (Sonata para violão, 1968), James Corrêa (Terrains, 2000), Januíbe Tejera (Estudo nº 1, Homenagem a Sciarrino, 2005), Celso Loureiro Chaves (Portais e a Abside, 1991) [leia nota do compositor] e Almeida Prado (Sonata Tropical, 1996).

O último dia inclui obras

  • para flauta solo de: Nelson Macedo (Fantasia Seresteira, 1998) [veja e ouça gravação de Raul Costa D'Ávila], Rodrigo Garcia (In Extremis, 2004), Paulo Costa Lima (Aboio op. 65, 2004) e César Guerra-Peixe (Melopeias nº 3, 1950);
  • para piano solo: de Flávio Oliveira (Serielo op. 10, 1973), Bruno Kiefer (Terra Selvagem, 1971) e Frederico Richter (Variantes Breves, 1972) e
  • para duo de flauta e piano, dos autores Flávio Oliveira e Armando Albuquerque.