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domingo, 27 de junho de 2010

O expressionismo visual e a composição da "pintura sonora"

Em fevereiro passado, o compositor Jorge Meletti ensinou um conceito utilizado na criação de trilhas sonoras: o mickeymousing (veja o post).

Trata-se de uma técnica de composição para cinema - não somente de desenhos animados - em que a música imita a cena: às vezes detalhadamente, de forma sincronizada com ações dos personagens, outras vezes imitando a cena de forma geral, no seu caráter como um todo. Começou a ser usada nos primeiros curtas de animação de Disney, e com o tempo foi incorporada pelos compositores nos mais variados gêneros de filmes.

Um dos exemplos - do filme Pollock (2000) - foi gentilmente disponibilizado pelo professor e se transformou em minha primeira postagem no portal YouTube. Nesse trecho, o pintor expressionista norte-americano Paul Jackson Pollock (1912-1956) - representado no filme pelo ator-diretor Ed Harris - faz um mural abstrato, após algumas semanas de refletir e olhar para uma parede vazia.

Veja como a música ilustra as imagens, com precisão formal e abundância de significados. O compositor Jeff Beal cria conexões entre os timbres instrumentais e as cores de tinta. Textura, orquestração e gestos musicais aparecem em estreita relação com as ações físicas do artista. Um sofisticado exemplo de mickeymousing.


    • O ataque gentil e brilhante da percussão em 0:09, facilmente associável à faísca criativa na mente do artista, ao olhar a tela em branco.
    • As arcadas rápidas e enérgicas nas cordas agudas acompanham as primeiras pinceladas do artista em 0:14;
    • O oboé introduz a cor cinza em 0:50.
    • Os sons de percussão são associados ao amarelo em 1:12.
    • As melodias paralelas ilustram as onduladas linhas descendentes em preto e cinza em 0:57.
    • Os ataques instrumentais graves ilustram a tinta vermelha sendo atirada sobre a tela em 1:37.
    • Quando a pintura revela melhor sua exuberância de linhas, formas e cores, a música assume uma nova postura, com várias melodias simultâneas que dialogam em diversos timbres instrumentais: 1:55.
    • O momento em que a obra está mais acabada, e o artista pinta os últimos retoques, é sublinhado por uma mudança textural e pelo caráter musical menos improvisatório: 2:10.

    Assista e ouça atentamente, buscando outras relações música/imagem. Há muito mais.

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