Sob o título "Fotografando ausências", o estudante Vinícius Kusma expôs uma dezena de imagens sugerindo vazios espaciais ou subjetivos (leia nota).
Uma dessas fotos mostrava a roda de brinquedo, na Praça Coronel Pedro Osório, sem criança alguma ao redor.
Em si mesma, a roda solitária faz pensar em nosso passado ou em nossas crianças de hoje. Onde brincamos, na infância? Ficamos com vontade de brincar mais? Deixamos as crianças brincar? Por que esta fotografia teria sido colocada logo ali, dentro da Prefeitura Municipal?
O fotógrafo deve ter visto a roda ainda em funcionamento, em 2009, ou já estragada. Não é incomum os brinquedos públicos ficarem deteriorados, pois não são usados somente por crianças pequenas, mas também por adolescentes e até por adultos. Parece legítimo recuperar a criança interna, mas é preciso achar formas adequadas ao corpo adulto.
No verão passado, esta roda foi retirada da praça, para conserto, e ainda não voltou. A Prefeitura deve ter outras compreensíveis prioridades.
As crianças não entendem o porquê da demora. Quando passam correndo, ocupam o lugar que a roda deixou, até mesmo correndo risco de se ferirem. Os adultos falam de uma roda que existiu ali, um dia.
No inverno, o espaço foi preenchido pela chuva. Ficou a ausência daquela ausência.
Voltará a roda a girar? Será uma roda que só funciona no verão? Para onde vão as rodas que não giram mais? Para onde vai nossa alegria da infância?
Fotos de F. A. Vidal
"No verão passado, esta roda foi retirada da praça, para conserto, e ainda não voltou."
ResponderExcluirPara onde foi nossa alegria da infância...?
Talvez tenha ficado no verão passado... Mas voltará. O verão não volta sempre?
Ótima reflexão do fotógrafo e sua, Vidal.
A roda se foi, mas ficou o pino(o ponto central para os questionamentos)de onde partem todas as indagações das rodas que faltam por aí. As ausências tornam-se personificações das presenças que nos faltam, e essas por muitas vezes apenas nos são tiradas. Diante das rodas que nos faltam resta-me o registro, o congelamento de um pedaço de realidade, um instante-fragmento. Essa fissura(memória) entre o que esteve, o que estava e o que poderá voltar a estar. A percepção de uma existência que se dá pela observação de sua ausência, a roda ali estava, por mais imóvel que estivesse, ela estava ali, fazendo parte da paisagem, invisível para os adultos, porém um paradigma para o mundo lúdico das crianças. Obrigado por refenciar o meu trabalho e ratificar o seu sentido. Acredito que a arte também é um veículo formador de opiniões. Abraço! Vinícius Kusma ( viniciuskusma@gmail.com)
ResponderExcluir