A Panambra ainda existe (faço votos que esteja cada vez mais sólida), ainda é um referencial daquela região; mas, exclusivo, só até surgir — e depois se impor no espaço urbano, e mais tarde no esportivo (no culto ao corpo, à boa forma física) — a Avenida Dom Joaquim.
Dizia-se, por exemplo, que tal lugar de uma das ruas longitudinais do centro ficava, depois da Avenida, a tantas quadras da Panambra... Raramente se indicava que seria na altura da Pinto Martins, ou na esquina da Padre Felício, ou até mesmo perto da Capela da Luz, que dera nome ao bairro...
Afirmei que eram raros os pontos de referência da cidade. Explico-me melhor: eram raros, estes pontos que menciono, porque todos os outros — inclusive a Avenida Dom Joaquim — representam sinalizações muito óbvias, comparáveis às de qualquer outra cidade.
O porto, na região sul; o cemitério e o quartel, no Fragata; a estátua do Colono, nas Três Vendas (esq.), não se diferenciam, neste sentido, de qualquer avenida, trapiche, aeroporto, quartel, delegacia, prefeitura, campo santo ou monumento que exista pelo mundo afora.
Além das funções específicas que desempenham, esses elementos do patrimônio público sempre serviram, em todos os lugares, de parâmetros, de indicativos, de orientações — enfim, são pontos naturais de referência (e esta é, mesmo, a melhor expressão).
O extraordinário é que uma concessionária de automóveis tenha exercido, um dia, esse papel mais sentimental. E que uma entidade hoje etérea — incorpórea como os sonhos (mas não exatamente os reais “bolinhos de chuva” que fazia) — aponte a uma jovem usuária o lugar exato onde descer do ônibus. Enfim, que uma antiga padaria, onde não há mais padaria, siga prestando ainda hoje esse serviço. Um serviço que se mantém útil, para aquela moça, e para mim, mais do que útil, lírico.
Mario Osorio Magalhães
Fotos: F. A. Vidal
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