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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Esquinas de pedra

Uma das semelhanças entre Pelotas e algumas cidades europeias são as ruas calçadas com paralelepípedos, um uso urbano comum no século XIX. Hoje em dia, quem admira as modernidades globalizadas geralmente abomina o que é antigo e não quer nem saber daquela época em que Pelotas reproduzia costumes franceses. Mas se trata de uma reação fóbica ao conhecimento das raízes.

Além de recordar o sabor de tempos passados, as ruas de pedra são seguras, estéticas e ecológicas. Em Pelotas, elas combinam com a umidade do inverno e do verão, e trazem à consciência outra parte da história, menos apresentável ao turista: esses paralelepípedos foram confeccionados, transportados e colocados por escravos ou seus descendentes.

Apesar da decadência pelotense, iniciada entre 1930 e 1945 e prolongada até hoje, muito do que ficou parado no tempo está sendo valorizado e pesquisado, por turistas e estudiosos. Uma das coisas por ser entendidas é como ainda conservamos tantas ruas de pedras, de um modo que nos liga àquelas épocas de riqueza e de paraísos sonhados. Essa ponte tão evitada pode nos levar a nossas raízes e depois permitir-nos avançar no tempo.
Foto 1: esquina de Montmartre, Paris
Foto 2: esquina do Café Aquários
A pedra é o símbolo perfeito da verdade. Áspera como ela, e assim inamolgável, luminosa. Impenetrável às umidades, aos gases, às poeiras, aos limos, tanto como a verdade o é às lisonjas, às calúnias, às deturpações, aos vexames.

Tendo o senhor andado em desassosego por toda parte, ao voltar em busca de algo que perdeu, esta cidade árida o recebe abrindo-lhe os seus caminhos de pedra.
Satolep (V. Ramil, 2008), p. 46.

Um comentário:

  1. Muito oportuna a reportagem. E rever Paris e seu refinamento, um regalo!
    Assisti, em evento da UPF,há muitos anos, um seminário sobre ecologia. Vários reitores e especialistas nos mostraram a importância e a beleza dos calçamentos de pedra. Esses, permitem o escoamento da água da chuva, não retém calor, são belos e resistem ao tempo. Quem não lembra passear em Roma sobre pedras de dois mil anos?!
    O mesmo nas capitais dos países mais cultos.
    O asfalto é útil (palavra asquerosa) nas grandes distâncias (estradas fora das cidades). Retém o calor, não permite o escoamento das águas. Enchentes e o aquecimento global tem tudo a ver.
    Mas, no mundo utilitário em que vivemos, capitaneado pelos USA, estamos tornando a vida inviável. Estamos pagando e, certamente, o agravamento dessa situação, talvez acorde o ser humano desse torpor indiferente e irresponsável que o dominou. Pelos nossos filhos, espero que não seja tarde demais!
    Prof.ª Loiva Hartmann/UBE/IJSLN

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