Os pianistas Fernanda Castilho e Júlio Machado (dir.) apresentam, por primeira vez, a oficina Então eu posso tocar piano?, para iniciantes que desejem saber como se começa a fazer música com esse instrumento.
A atividade será realizada este sábado (4) na sede da Piano Class (Rua General Osório, 1005), escola particular de música, para 25 pessoas de diversas idades.
Esta oficina é uma de várias ações artísticas que se inserem no 1º Festival de Inverno de Pelotas, um grande evento que cobrirá diversas áreas artísticas em Pelotas e cidades vizinhas, de 3 a 12 de agosto.
De formas bem práticas, os professores mostrarão o que se deve saber para começar a tocar, que sons o piano produz, como estudar em casa, tendo ou não um piano. Segundo eles explicam, o aluno começa adquirindo as habilidades básicas no instrumento e logo a seguir é a imaginação e a capacidade de divertir-se que poderão trazer os melhores benefícios de se fazer música, na arte e no estudo.
Os participantes receberão todo o material necessário para acompanharem a oficina, inclusive poderão ver e tocar no piano de cauda em que se fazem as aulas e recitais da Piano Class (esq.).
Para inscrever-se na oficina (R$10), comunique-se com a escola: pianoclass@pianoclass.com ou 3227 0545.
Com os alunos desta oficina de iniciação, os professores oferecerão, também por primeira vez em Pelotas, uma nova modalidade de ensino do piano: aulas grupais, em turmas de 4 alunos de nível similar. Esta forma não tradicional será feita de modo experimental de agosto a dezembro, só com iniciantes.
Usualmente as aulas práticas são individuais (um professor e um aluno). Com esta novidade, estudantes sem experiência terão a primeira aproximação técnica ao piano, com professores altamente qualificados e por um preço menor, tendo em vista as futuras aulas individuais, mais intensas e exigentes.
Veja e ouça abaixo, a modo de ilustração e motivação, uma menina japonesa de 8 anos de idade, que começou a estudar aos três, interpretando o movimento final de uma sonatina de Anton Diabelli, identificada como do opus 151.
Fotos: Piano Class (1), F. A. Vidal (2)
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terça-feira, 31 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Sarau na Biblioteca destaca Vítor Ramil
Poeta-letrista com uma obra consolidada ao longo de mais de três décadas, Vítor Ramil é o autor em destaque da XXIII edição do Sarau Poético-Musical da Biblioteca Pública Pelotense.
A reunião está marcada para a próxima terça (31) desde as 19h30min até 22h, aproximadamente.
A escolha do artista local foi feita em apoio ao Festival de Inverno de Pelotas, a ser realizado de 3 a 12 de agosto. O tema deste projeto do Teatro do Chapéu Azul é a proposta de Ramil sobre a Estética do Frio.
Gilnei Oleiro Correa é o convidado para falar sobre a obra do cantor, compositor e escritor pelotense, que tem sua produção reunida em nove discos e três livros, desde 1981 até hoje (veja na Wikipédia).
Nosso escritor já foi patrono na Feira do Livro do Cassino, mas na de Pelotas ainda não. Em 7 de julho de 2012, a cidade fez 200 anos e no dia 7 de abril Vítor completou 50. Terá ele aqui alguma homenagem, além deste Sarau?
Conforme modelo adotado desde a criação dos saraus na Biblioteca, em maio de 2010, os encontros incluem blocos de música ao vivo e de poesia recitada de autores da cidade e região.
Nesta que é a edição de julho, a convidada para a parte musical é a intérprete pelotense Xana Gallo. Os autores-poetas convidados a declamar são: Adriana Palma Geisler, Angélica Freitas, Lucas Langie Pacheco e Vinicius Kusma.
Os coordenadores do projetos dos Saraus na Biblioteca são: Daniela Pires de Castro, Getúlio Matos, Mara Agripina Ferreira e Pedro Moacyr Perez da Silveira.
Imagens: BPP
A reunião está marcada para a próxima terça (31) desde as 19h30min até 22h, aproximadamente.
A escolha do artista local foi feita em apoio ao Festival de Inverno de Pelotas, a ser realizado de 3 a 12 de agosto. O tema deste projeto do Teatro do Chapéu Azul é a proposta de Ramil sobre a Estética do Frio.
Gilnei Oleiro Correa é o convidado para falar sobre a obra do cantor, compositor e escritor pelotense, que tem sua produção reunida em nove discos e três livros, desde 1981 até hoje (veja na Wikipédia).
Nosso escritor já foi patrono na Feira do Livro do Cassino, mas na de Pelotas ainda não. Em 7 de julho de 2012, a cidade fez 200 anos e no dia 7 de abril Vítor completou 50. Terá ele aqui alguma homenagem, além deste Sarau?
Conforme modelo adotado desde a criação dos saraus na Biblioteca, em maio de 2010, os encontros incluem blocos de música ao vivo e de poesia recitada de autores da cidade e região.
Nesta que é a edição de julho, a convidada para a parte musical é a intérprete pelotense Xana Gallo. Os autores-poetas convidados a declamar são: Adriana Palma Geisler, Angélica Freitas, Lucas Langie Pacheco e Vinicius Kusma.
Os coordenadores do projetos dos Saraus na Biblioteca são: Daniela Pires de Castro, Getúlio Matos, Mara Agripina Ferreira e Pedro Moacyr Perez da Silveira.
Imagens: BPP
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Variantes do Caminho, em pastel seco
Até 6 de agosto Maria Lúcia Drummond expõe 15 quadros em pastel seco sob o título “Variantes do caminho”, no Corredor Arte do Hospital Escola UFPel/FAU (Rua Professor Araújo, 538).
A artista escolheu o título da mostra pois ela apresenta aqui parte das influências recebidas desde o início do percurso artístico, em 1999.
Entre as obras encontram-se cinco de uma série que retrata o ciclo de uma plantação de abóbora, da flor ao fruto (esq.).
Apesar de ter descoberto o dom pela pintura há pouco mais de dez anos, o currículo de exposições é grande, por convite e selecionada por editais: além do Rio Grande do Sul, em países como Espanha, Eslováquia, China, Tailândia e Uruguai.
Durante este período, Maria Lúcia utilizou diversos materiais, como acrílica, carvão, lápis e óleo, mas de todas as experiências a que mais lhe agradou é a que utiliza hoje, pastel seco sobre um papel importado especial.
Organizada e perfeccionista, ela conta que pensa muito antes de começar a pintar uma obra e não termina se não estiver exatamente como ela havia planejado.
— Gosto de fazer as coisas com profundidade, coisas mais superficiais não me agradam... não gosto de fazer "mais ou menos”.
A artista se considera uma eterna aprendiz, pois além de participar de cursos de extensão e de aulas de pintura, visita muitos museus para estar sempre em contato com a arte.
— Não considero a arte como hobby. Meu hobby é jardinagem. A arte eu levo muito a sério, me dedico, estudo, faço o melhor que posso. Continuo estudando e me informando. Estou sempre aberta para novos conhecimentos, novos desafios. Minha inspiração vem do cotidiano, que acredito ser uma fonte infinita.
Texto e fotos: Completa Comunicação
A artista escolheu o título da mostra pois ela apresenta aqui parte das influências recebidas desde o início do percurso artístico, em 1999.
Entre as obras encontram-se cinco de uma série que retrata o ciclo de uma plantação de abóbora, da flor ao fruto (esq.).
Apesar de ter descoberto o dom pela pintura há pouco mais de dez anos, o currículo de exposições é grande, por convite e selecionada por editais: além do Rio Grande do Sul, em países como Espanha, Eslováquia, China, Tailândia e Uruguai.
Durante este período, Maria Lúcia utilizou diversos materiais, como acrílica, carvão, lápis e óleo, mas de todas as experiências a que mais lhe agradou é a que utiliza hoje, pastel seco sobre um papel importado especial.
Organizada e perfeccionista, ela conta que pensa muito antes de começar a pintar uma obra e não termina se não estiver exatamente como ela havia planejado.
— Gosto de fazer as coisas com profundidade, coisas mais superficiais não me agradam... não gosto de fazer "mais ou menos”.
A artista se considera uma eterna aprendiz, pois além de participar de cursos de extensão e de aulas de pintura, visita muitos museus para estar sempre em contato com a arte.
— Não considero a arte como hobby. Meu hobby é jardinagem. A arte eu levo muito a sério, me dedico, estudo, faço o melhor que posso. Continuo estudando e me informando. Estou sempre aberta para novos conhecimentos, novos desafios. Minha inspiração vem do cotidiano, que acredito ser uma fonte infinita.
Texto e fotos: Completa Comunicação
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Banheiros inacabados, máxima retenção
Os assim chamados "banheiros do Laranjal" tinham este aspecto de aquário flutuante, no entardecer deste domingo (22). De fato, o problema flutua desde abril de 2010, quando o Ministério Público denunciou a irregularidade da obra (leia a notícia no Amigos de Pelotas). A construção inconclusa, iniciada sobre a areia da praia no verão daquele ano, ainda não foi demolida, após a Prefeitura ter perdido a causa judicial, em abril de 2012 (veja a notícia).
A polêmica pública questionou, na época, o uso da areia para novas construções (já existem algumas ali, há décadas), o fator ecológico (do saneamento e da estética) e o uso político-administrativo da verba destinada aos banheiros.
Atualmente, os únicos banheiros disponíveis para o público são os das residências e dos restaurantes da orla; inclusive o mais usado desses toaletes é de um restaurante que está sobre a areia há uns 50 anos (dir.). Quando "a natureza chama", o faz com urgência e perdem força os valores sociais e espirituais, como a liberdade de espaço dos banhistas e a visão da paisagem.
A Justiça Federal (4ª Região) acolheu a denúncia mandando sustar a construção. Ficaram as paredes pela metade todo o verão seguinte (2010-2011), e alguns moradores de rua fizeram acampamento ali, em janeiro e fevereiro, como qualquer veraneante (veja a notícia).
Na época, artistas de rua também fizeram seu manifesto pacífico, dando beleza ao feio e chamando a atenção com fina ironia sobre estas manchas da cidade. Os peixes de cores parecem rir de nossas necessidades básicas e de nossas proibições moralistas (como dizendo "não urine em nosso aquário").
Em Pelotas, já foi interrompida a construção de uma dezena de centros comerciais nos últimos 20 anos, talvez por fatores econômicos ou culturais (mentalidade retentiva, diria um psicanalista). Aqui preservamos prédios velhos e abortamos novos. Mas este é o primeiro caso de um banheiro inacabado, e talvez seja o único no Estado ou no país. A tendência à retenção perdeu a elegância abstrata e direcionou-se aos instintos mais básicos.
Fotos: F. A. Vidal
A polêmica pública questionou, na época, o uso da areia para novas construções (já existem algumas ali, há décadas), o fator ecológico (do saneamento e da estética) e o uso político-administrativo da verba destinada aos banheiros.
Atualmente, os únicos banheiros disponíveis para o público são os das residências e dos restaurantes da orla; inclusive o mais usado desses toaletes é de um restaurante que está sobre a areia há uns 50 anos (dir.). Quando "a natureza chama", o faz com urgência e perdem força os valores sociais e espirituais, como a liberdade de espaço dos banhistas e a visão da paisagem.
A Justiça Federal (4ª Região) acolheu a denúncia mandando sustar a construção. Ficaram as paredes pela metade todo o verão seguinte (2010-2011), e alguns moradores de rua fizeram acampamento ali, em janeiro e fevereiro, como qualquer veraneante (veja a notícia).
Na época, artistas de rua também fizeram seu manifesto pacífico, dando beleza ao feio e chamando a atenção com fina ironia sobre estas manchas da cidade. Os peixes de cores parecem rir de nossas necessidades básicas e de nossas proibições moralistas (como dizendo "não urine em nosso aquário").
Em Pelotas, já foi interrompida a construção de uma dezena de centros comerciais nos últimos 20 anos, talvez por fatores econômicos ou culturais (mentalidade retentiva, diria um psicanalista). Aqui preservamos prédios velhos e abortamos novos. Mas este é o primeiro caso de um banheiro inacabado, e talvez seja o único no Estado ou no país. A tendência à retenção perdeu a elegância abstrata e direcionou-se aos instintos mais básicos.
Fotos: F. A. Vidal
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Palavras de presente para uma cidade balbuciante
A Professora Loiva Hartmann abriu com sucesso, na sexta 6 de julho, a exposição de poemas ilustrados "Somos a chave de tudo, ou não?". As palavras da poetisa, que mora na Princesa do Sul há muitos anos, são expressamente dedicadas aos 200 anos da cidade. Mostram que quem ama vê o coração mais profundo, e pode com razão criticar o defeito do ser amado, para vê-lo mais feliz e mais próximo de sua essência.
Na foto acima, tomada no Bistrô da SECULT, o poema "Caos" (clique nas imagens para ampliar), com o pátio do Casarão ao fundo. No desenho de Élbio Porcellis (1996), uma mulher nua se desfaz ante um relógio derretido: o tempo inclemente decepcionou as expectativas de um amor eterno. Mas a vida continua, com sua dureza e impiedade.
Os dois textos seguintes parecem contradizer-se, mas se referem a dois sentidos de uma palavra. O jogo verbal é válido para esclarecer falhas de nosso desenvolvimento como pessoas e como cidade (seja o crescimento ocorrido no passado ou o possível no futuro).
Ora somos cegos ante o próprio Eu espiritual (chave de tudo e caminho para a divindade), ora enxergamos nada mais que o Eu narcísico (por contraste com os demais seres humanos à nossa volta).
Somos a chave de tudo... ou não?
Este, chora o amor que perdeu.
Esse, o amor que não viveu...
Aquele, lamenta tudo o que não creu...
Estamos sempre a mendigar de Deus,
a pedir a Deus,
a esperar de Deus...
Só não olhamos o próprio eu.
Chave.
Dos Pronomes Pessoais
Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
Tão simples e completo.
No entanto, ainda não passou de analfabeto
o ser humano: está ainda no "eu".
Vê pouco? Ouve mal?
Tem atrofiado o cérebro?
Ou está desregulado?
O que realmente aconteceu
para que o Homem, até hoje,
não conseguisse enxergar nada além do eu?
Desta atrofia é direta consequência
o mundo e sua violência.
Os poemas ficam expostos até 30 de julho. A inauguração foi comentada por outro escritor gaúcho, também radicado em Pelotas, o Professor Jandir Zanotelli. Leia abaixo um extrato de seu artigo, publicado no Diário da Manhã de segunda-feira (16).
Na foto acima, tomada no Bistrô da SECULT, o poema "Caos" (clique nas imagens para ampliar), com o pátio do Casarão ao fundo. No desenho de Élbio Porcellis (1996), uma mulher nua se desfaz ante um relógio derretido: o tempo inclemente decepcionou as expectativas de um amor eterno. Mas a vida continua, com sua dureza e impiedade.
Os dois textos seguintes parecem contradizer-se, mas se referem a dois sentidos de uma palavra. O jogo verbal é válido para esclarecer falhas de nosso desenvolvimento como pessoas e como cidade (seja o crescimento ocorrido no passado ou o possível no futuro).
Ora somos cegos ante o próprio Eu espiritual (chave de tudo e caminho para a divindade), ora enxergamos nada mais que o Eu narcísico (por contraste com os demais seres humanos à nossa volta).
Somos a chave de tudo... ou não?
Este, chora o amor que perdeu.
Esse, o amor que não viveu...
Aquele, lamenta tudo o que não creu...
Estamos sempre a mendigar de Deus,
a pedir a Deus,
a esperar de Deus...
Só não olhamos o próprio eu.
Chave.
Dos Pronomes Pessoais
Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
Tão simples e completo.
No entanto, ainda não passou de analfabeto
o ser humano: está ainda no "eu".
Vê pouco? Ouve mal?
Tem atrofiado o cérebro?
Ou está desregulado?
O que realmente aconteceu
para que o Homem, até hoje,
não conseguisse enxergar nada além do eu?
Desta atrofia é direta consequência
o mundo e sua violência.
Os poemas ficam expostos até 30 de julho. A inauguração foi comentada por outro escritor gaúcho, também radicado em Pelotas, o Professor Jandir Zanotelli. Leia abaixo um extrato de seu artigo, publicado no Diário da Manhã de segunda-feira (16).
Palavras Gagas
Noite fria. Chuva fina. Minuano. Inclemente. Mas lá estavam os amigos de Loiva, colegas, familiares e a Academia Sul-Brasileira de Letras: a presidente Maria Beatriz Mecking, a secretária Wilma Mello Cavalheiro, a tesoureira Marísia de Jesus Vieira e a presença marcante de Lígia Antunes. Dentro da briga por sua saúde, esta lutadora incansável e querida deu àquela festa o tom da profundidade literária e de amizade bem merecidas por Loiva.
De parabéns Loiva. De parabéns Pelotas. De parabéns a literatura costurada com nossas palavras gagas. A palavra do homem, a poesia do homem é sempre gaga, recordando a bela imagem de Moisés. Nunca sai limpa, pronta, acabada, nunca definitiva, absoluta, total. É sempre insuficiente para dar conta do sentido da vida e das coisas. Apenas prenúncio. Sempre ensaio, tentativa e tentação.
A narração da história de Pelotas, em seus duzentos anos, também é gaga. Que bom! Há espaços para múltiplas vozes, múltiplas escutas que nascem do silêncio de nosso deserto e da sarça que arde em seu seio sem jamais se confundir. Convocação, apelo, promessa, esperança para construir um novo mundo.
Jandir Zanotelli
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Turismo rural trilha "Caminho Pomerano"
A TerraSul Turismo é uma agência que promove o conhecimento cultural da Zona Sul, fazendo passeios pela região, pelo centro urbano e pelos distritos de Pelotas.
Dirigida há 19 anos por Andrea Chies e Josette Pereira, guias de turismo, a empresa também leva clientes gaúchos a viagens nacionais e internacionais, e promove o Turismo Receptivo, destinado a facilitar a vinda a nossa região de visitantes de outros lugares.
Nascida para que os pelotenses acreditem no valor histórico e nas belezas geográficas de sua cidade, a TerraSul segue o passeio "Do Sal ao Açúcar", o "Palmilhar Centro Histórico", a Rota das Charqueadas e mais 5 roteiros locais e 10 regionais.
Dirigida há 19 anos por Andrea Chies e Josette Pereira, guias de turismo, a empresa também leva clientes gaúchos a viagens nacionais e internacionais, e promove o Turismo Receptivo, destinado a facilitar a vinda a nossa região de visitantes de outros lugares.
Nascida para que os pelotenses acreditem no valor histórico e nas belezas geográficas de sua cidade, a TerraSul segue o passeio "Do Sal ao Açúcar", o "Palmilhar Centro Histórico", a Rota das Charqueadas e mais 5 roteiros locais e 10 regionais.
Entre estes últimos, foi criado recentemente o Caminho Pomerano, uma jornada de meio dia entre Pelotas e São Lourenço do Sul que resgata a cultura da Pomerânia, antiga região europeia de onde vieram imigrantes no século XIX.
A próxima saída é este domingo (22) às 8h30min, com destino ao interior de São Lourenço. Pela manhã conta-se a história do Casamento Pomerano (foto inferior), visita-se as zonas rurais do Boqueirão e a Coxilha do Barão, onde se produzem queijos, linguiças e peito de ganso defumado. A aventura termina ao entardecer, com visita ao Museu Pomerano e o buffet colonial no Jeske Café (foto superior).
Todo o Caminho Pomerano custa R$ 125 por pessoa (preço à vista), sem incluir bebidas. A saída de cada miniônibus requer o mínimo de 22 passageiros inscritos.
I Festival de Inverno
Há exatamente um ano foi feito o lançamento do Festival de Inverno de Pelotas, com 70 atividades apresentadas em 5 dias (veja a programação 2011). O evento em si tinha realização anunciada para agosto de 2012, em comemoração dos 200 anos da cidade (veja o post neste blogue). Agora só faltam 15 dias.
O Festival de Inverno de Pelotas consiste numa série de espetáculos artísticos centrados nesta cidade sede, que buscam resgatar a cultura e a arte do Sul do Brasil e aproveitar o movimento turístico do inverno (veja a definição). Há uma programação temática, uma geral e uma paralela; também há ações especiais, ao mesmo tempo do Festival, e atividades prévias (uma destas foi o show do Sovaco de Cobra ontem quarta 18, no Bar Liberdade).
Pensando em que a iniciativa tenha o retorno esperado, já ficou este denominado como o Primeiro Festival de Inverno. Cada ano um autor local será homenageado, sendo Vítor Ramil o escolhido para começar. O lema do Festival 2012 está tomado de uma frase dele, na linha final do texto sobre a Estética do Frio, quando diz que o Sul "não está à margem do centro do Brasil, mas no centro de uma outra história". É nisso que o Festival acredita e pretende divulgar aos que conhecem o Frio de perto.
O Festival de Inverno de Pelotas consiste numa série de espetáculos artísticos centrados nesta cidade sede, que buscam resgatar a cultura e a arte do Sul do Brasil e aproveitar o movimento turístico do inverno (veja a definição). Há uma programação temática, uma geral e uma paralela; também há ações especiais, ao mesmo tempo do Festival, e atividades prévias (uma destas foi o show do Sovaco de Cobra ontem quarta 18, no Bar Liberdade).
Pensando em que a iniciativa tenha o retorno esperado, já ficou este denominado como o Primeiro Festival de Inverno. Cada ano um autor local será homenageado, sendo Vítor Ramil o escolhido para começar. O lema do Festival 2012 está tomado de uma frase dele, na linha final do texto sobre a Estética do Frio, quando diz que o Sul "não está à margem do centro do Brasil, mas no centro de uma outra história". É nisso que o Festival acredita e pretende divulgar aos que conhecem o Frio de perto.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Madre Mia
Madre Mia! é um novo espaço de arte e gastronomia que evoca em Pelotas a cultura hispânica, que os norte-americanos chamam de "latina". Com diversos artistas conseguiram abrir este pub em portunhol, destinado ao encontro de misturas e fusões.
A expressão equivale ao brasileiro "nossa!", santa exclamação que invoca a Mãe de Deus. Na cultura latina, todos usamos expressões de origem religiosa quando algo nos parece divino ou supino.
POST DATA 24-08-12
Veja a nota de Eliza Andrade O Inovador Madre Mia.
A expressão equivale ao brasileiro "nossa!", santa exclamação que invoca a Mãe de Deus. Na cultura latina, todos usamos expressões de origem religiosa quando algo nos parece divino ou supino.
Dando apoio ao espaço internacional: a produtora Mundo Arte Global, o coletivo Invente Arte e dúzias de amigos de Pelotas, Porto Alegre e outras cidades latino-americanas. Fica na Rua Santa Cruz 2200. Veja mais no sítio Madre Mia! Fusão Latina e em sua página do Facebook.
Música do vídeo: Black Magic Woman (veja a letra de Peter Green), famosa em 1970 na versão de Santana, um modelo de fusões no hemisfério norte, mas ainda meio distante do Cone Sul. Aqui temos equivalentes como Pimenta Buena.
POST DATA 24-08-12
Veja a nota de Eliza Andrade O Inovador Madre Mia.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Cem anos de Carlos Reverbel
Carlos de Macedo Reverbel nasceu no dia 21 de julho de 1912, em Quaraí (RS). Aos 22 anos, logo após ter abandonado o ensino médio, iniciou-se no jornalismo (ocupação mal-vista para as "boas famílias", na época) e o fez em Florianópolis. Morou no Rio de Janeiro e em Paris, mas ficou estabelecido sempre em Porto Alegre.
Na segunda metade do século XX, dirigiu a principal seção de jornalismo cultural no antigo Correio do Povo, estimulando em leitores de todo o Estado a crítica, a criatividade e o amor pela literatura.
Como estudioso da cultura do Rio Grande do Sul, Reverbel escreveu a primeira biografia de João Simões Lopes Neto ("Um Capitão da Guarda Nacional", 1981), outra sobre Assis Brasil ("Diário de Cecília de Assis Brasil", 1983) e o ensaio histórico "Gaúcho" (1986).
José Antônio Mazza Leite, diretor do Museu do Charque, escreveu sobre Reverbel, que conheceu e visitou com frequência em Porto Alegre:
Em homenagem a quem resgatou Simões do esquecimento em que se encontrava, o Instituto batizou seu auditório com o nome de Carlos Reverbel, desde que estabeleceu sua sede na antiga casa do escritor pelotense (Rua Dom Pedro II nº 810). Veja mais informações nos blogues Vendaval das Letras e no do Instituto J. Simões Lopes Neto.
Hoje (17) às 19h, comemora o centenário de nascimento de Reverbel, primeiro simoniano, com a palestra da jornalista de ZH Cláudia Laitano e a presença de Beth Reverbel de Souza, filha do homenageado.
Fotos: Vendaval das Letras (1) e IJSLN (2)
Na segunda metade do século XX, dirigiu a principal seção de jornalismo cultural no antigo Correio do Povo, estimulando em leitores de todo o Estado a crítica, a criatividade e o amor pela literatura.
Como estudioso da cultura do Rio Grande do Sul, Reverbel escreveu a primeira biografia de João Simões Lopes Neto ("Um Capitão da Guarda Nacional", 1981), outra sobre Assis Brasil ("Diário de Cecília de Assis Brasil", 1983) e o ensaio histórico "Gaúcho" (1986).
José Antônio Mazza Leite, diretor do Museu do Charque, escreveu sobre Reverbel, que conheceu e visitou com frequência em Porto Alegre:
Reverbel, hospitaleiro e amável, conversava contando suas histórias de vida, sempre com muito humor. Contou-me que vinha a Pelotas e ficava hospedado no Hotel Rex.
Aqui pesquisava, escrevia e informava-se. Eram suas fontes José de Almeida Collares, doutor Luís Simões Lopes, Rui e o jovem Cláudio Simões Lopes. Muito papo foi trocado nos bares e nas praças de nossa cidade. O livro que daí teve origem, "Um capitão da Guarda Nacional", é leitura obrigatória para quem quer conhecer João Simões Lopes Neto e a vida de Pelotas na virada entre os séculos 19 e 20.
Mais de uma vez, Reverbel disse-me que gostaria de morar em Pelotas, mas a fragilidade de sua saúde não permitia esse luxo. Aqui tinha amigos e gostava de perambular pelas mesmas ruas do seu herói João Simões Lopes Neto (leia o artigo completo de Mazza Leite).
Em homenagem a quem resgatou Simões do esquecimento em que se encontrava, o Instituto batizou seu auditório com o nome de Carlos Reverbel, desde que estabeleceu sua sede na antiga casa do escritor pelotense (Rua Dom Pedro II nº 810). Veja mais informações nos blogues Vendaval das Letras e no do Instituto J. Simões Lopes Neto.
Hoje (17) às 19h, comemora o centenário de nascimento de Reverbel, primeiro simoniano, com a palestra da jornalista de ZH Cláudia Laitano e a presença de Beth Reverbel de Souza, filha do homenageado.
Fotos: Vendaval das Letras (1) e IJSLN (2)
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Homenagem à Fotografia no Chafariz
O Diário Popular ilustrou a capa de 7 de julho com esta foto de Paulo Rossi, destacando o esforço do fotógrafo para produzi-la com a perfeição desejada. A ideia inicial parecia ser simplesmente registrar uma gotícula caindo de uma das nereidas da Praça Coronel Pedro Osório, nesta cidade onde sempre parece estar chovendo, e onde de fato chovia no dia 6.
Mas não bastava tal simplicidade. A gota devia refletir, de modo holográfico, todo o chafariz ao seu redor. O problema é que, além de serem mais rápidas que o olho (e o dedo) humano, elas não o focam com a precisão desejada.
Foi preciso bater várias centenas de fotos até obter esse efeito, pois o artista não queria fabricá-lo em laboratório. Assim, o panorama do Chafariz das Nereidas não ficou na foto do detalhe que vemos grande (acima), mas sim na minifoto tomada pela gotinha (dir.).
É preciso observar outra coisa muito importante, para ver que se trata de uma foto artística (para uma antologia de obras-mestras), e não o mero resultado de esforço e paciência: a gota d'água não funciona aí como um espelho mas como uma lente, mostrando o lado de lá de quem a vê (não um reflexo do observador), e invertendo a imagem, como fazem as câmeras fotográficas (abaixo).
Portanto, esta homenagem à Fotografia nos mostra como a Natureza é uma organização viva que se observa a si mesma, sem fazer registro em películas e de modo holístico (cada molécula guarda uma imagem do todo). Também podemos dizer que nós, observadores dessa natureza, estamos sendo por ela fotografados em todo momento, nessas gotas d'água, talvez por um divino Observador.
Fotos: P. Rossi (1) e reproduções do Diário Popular impresso de 7-7-12 (2-3)
Mas não bastava tal simplicidade. A gota devia refletir, de modo holográfico, todo o chafariz ao seu redor. O problema é que, além de serem mais rápidas que o olho (e o dedo) humano, elas não o focam com a precisão desejada.
Foi preciso bater várias centenas de fotos até obter esse efeito, pois o artista não queria fabricá-lo em laboratório. Assim, o panorama do Chafariz das Nereidas não ficou na foto do detalhe que vemos grande (acima), mas sim na minifoto tomada pela gotinha (dir.).
É preciso observar outra coisa muito importante, para ver que se trata de uma foto artística (para uma antologia de obras-mestras), e não o mero resultado de esforço e paciência: a gota d'água não funciona aí como um espelho mas como uma lente, mostrando o lado de lá de quem a vê (não um reflexo do observador), e invertendo a imagem, como fazem as câmeras fotográficas (abaixo).
Portanto, esta homenagem à Fotografia nos mostra como a Natureza é uma organização viva que se observa a si mesma, sem fazer registro em películas e de modo holístico (cada molécula guarda uma imagem do todo). Também podemos dizer que nós, observadores dessa natureza, estamos sendo por ela fotografados em todo momento, nessas gotas d'água, talvez por um divino Observador.
Fotos: P. Rossi (1) e reproduções do Diário Popular impresso de 7-7-12 (2-3)
domingo, 15 de julho de 2012
Fachada do Sete de Abril em 1926
Os pesquisadores do projeto "Pelotas Memória", da UCPel, divulgaram esta foto no Facebook há uma semana, mas primeiramente saiu no Almanaque Gaúcho de ZH do dia 7 de julho, em homenagem aos 200 anos de Pelotas. O Sete de Abril, que desde 1921 já não era o único teatro da cidade, aparece tão coberto de cartazes que não se pode ver a fachada.
Com a década de 1910, apareceu em Pelotas a exibição de filmes estrangeiros e a pioneira produção de cinema dirigida por Francisco Santos. Mas com o início da Guerra Mundial, em 1914, a produtora local teve que parar de filmar e concentrou-se no que fazia antes, o teatro ao vivo com atores e a promoção de filmes americanos, como os da foto.
O filme "Denny na Berlinda" (What Happened to Jones) esteve em cartaz no Brasil em 1926, de acordo com a Biblioteca Nacional Digital. A produção da Universal Pictures (fundada em 1912 pelo alemão Carl Laemmle) era uma comédia de 70 minutos, muda, em preto-e-branco, protagonizada por Reginald Denny, com Marian Nixon e Otis Harlan. Curiosamente, os cartazes anunciam o então famoso produtor Laemmle como hoje se destacam os atores, e o título põe o nome do ator como se fosse personagem.
O outro filme que se pode identificar nos cartazes é Arizona Sweepstakes, western mudo, de 60 minutos, com Hoot Gibson. Segundo a Wikipédia, o título teve versão em português ("A Corrida de Obstáculos do Arizona"). Veja abaixo outro western mudo americano, Arizona Days (1928), de 43 minutos, com Bob Custer e Peggy Montgomery.
Com a década de 1910, apareceu em Pelotas a exibição de filmes estrangeiros e a pioneira produção de cinema dirigida por Francisco Santos. Mas com o início da Guerra Mundial, em 1914, a produtora local teve que parar de filmar e concentrou-se no que fazia antes, o teatro ao vivo com atores e a promoção de filmes americanos, como os da foto.
O filme "Denny na Berlinda" (What Happened to Jones) esteve em cartaz no Brasil em 1926, de acordo com a Biblioteca Nacional Digital. A produção da Universal Pictures (fundada em 1912 pelo alemão Carl Laemmle) era uma comédia de 70 minutos, muda, em preto-e-branco, protagonizada por Reginald Denny, com Marian Nixon e Otis Harlan. Curiosamente, os cartazes anunciam o então famoso produtor Laemmle como hoje se destacam os atores, e o título põe o nome do ator como se fosse personagem.
O outro filme que se pode identificar nos cartazes é Arizona Sweepstakes, western mudo, de 60 minutos, com Hoot Gibson. Segundo a Wikipédia, o título teve versão em português ("A Corrida de Obstáculos do Arizona"). Veja abaixo outro western mudo americano, Arizona Days (1928), de 43 minutos, com Bob Custer e Peggy Montgomery.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Serginho lança CD
Esta sexta-feira (13), no mês dos 200 anos de Pelotas, Serginho da Vassoura lança seu CD, gravado em estúdios da UCPel. Posteriormente, viaja à Inglaterra. Ingressos antecipados (Estúdio CD's, Bar Papuera, Café Gato Gordo, Posto Cidadão Capaz): R$10 (inclui CD) ou R$5 (sem CD). Galpão Satolep, José do Patrocínio 8, Bairro Porto.
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Maio 2013
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Maio 2013
terça-feira, 10 de julho de 2012
E se Pelotas falasse?
André Luís Leite publicou esta crônica ontem (9) no Diário da Manhã, com o mesmo título deste post. A propósito do aniversário da cidade, que a maioria destaca com grandes elogios e orgulhos, ele recorda a importância do lado humano, humilde e cotidiano, sem o qual não se faz uma vida humana, nem muito menos uma cidade.
Sempre imaginei Pelotas como uma sinhazinha antipática e prepotente do século XIX apaixonada por um afrodescendente de dois metros de altura com a cara do Morgan Freeman em Conduzindo Miss Daisy.
A comunidade negra teve uma influência tão grandiosa na formação cultural, comercial e social de Pelotas que talvez nem ela acredite.
Cada um imagina Pelotas a sua maneira, assim como fazem com Deus, e a partir daí vem uma sensação gostosa de contentamento bairrista divino.
Se Pelotas falasse, será que ela apoiaria as cotas raciais? O que Pelotas falaria a respeito da Fenadoce?
Será que Pelotas gostaria de envelhecer valorizando as ruínas de seus prédios históricos ou gostaria de ser maquiada com restaurações?
O que Pelotas pensa a respeito dos viciados que pedem socorro vagando por suas ruas esburacadas, estreitas e mal iluminadas? O que Pelotas acha da maneira de escrevermos nossa história e por consequência a sua? Pelotas é uma essência viva e única de 320 mil pessoas. E se Pelotas estiver pedindo carinho e amor?
Reverenciar sua memória até o final dos tempos ou construir uma nova Pelotas deixando o passado apenas nas memórias dos seres humanos e de suas máquinas de armazenar dados?
O que Pelotas quer para seu futuro nos próximos séculos ou milênios?
Uma cidade famosa, poderosa, grande e miserável ou uma cidade pequena e até mesmo esquecida mas feliz, acolhedora e assistencialista com seus filhos? De repente Pelotas não é uma cidade exibicionista e não curte turismo. Pelotas é uma turista e não um polo turístico.
Enfim, vamos utilizar nossa criatividade e imaginar Pelotas, seja como um brazão, um gaúcho ou a Cicciolina ou o que você achar melhor, e ver o que ela precisa.
Se cada um de nós fizer o melhor a cada metro quadrado a nossa volta, o resultado final será uma cidade honesta, tranquila e serena onde as existências de seus habitantes poderão ser desfrutadas na paz e na harmonia. Precisa mais?
Imagens da web
Sempre imaginei Pelotas como uma sinhazinha antipática e prepotente do século XIX apaixonada por um afrodescendente de dois metros de altura com a cara do Morgan Freeman em Conduzindo Miss Daisy.
A comunidade negra teve uma influência tão grandiosa na formação cultural, comercial e social de Pelotas que talvez nem ela acredite.
Cada um imagina Pelotas a sua maneira, assim como fazem com Deus, e a partir daí vem uma sensação gostosa de contentamento bairrista divino.
Se Pelotas falasse, será que ela apoiaria as cotas raciais? O que Pelotas falaria a respeito da Fenadoce?
Será que Pelotas gostaria de envelhecer valorizando as ruínas de seus prédios históricos ou gostaria de ser maquiada com restaurações?
O que Pelotas pensa a respeito dos viciados que pedem socorro vagando por suas ruas esburacadas, estreitas e mal iluminadas? O que Pelotas acha da maneira de escrevermos nossa história e por consequência a sua? Pelotas é uma essência viva e única de 320 mil pessoas. E se Pelotas estiver pedindo carinho e amor?
Reverenciar sua memória até o final dos tempos ou construir uma nova Pelotas deixando o passado apenas nas memórias dos seres humanos e de suas máquinas de armazenar dados?
O que Pelotas quer para seu futuro nos próximos séculos ou milênios?
Uma cidade famosa, poderosa, grande e miserável ou uma cidade pequena e até mesmo esquecida mas feliz, acolhedora e assistencialista com seus filhos? De repente Pelotas não é uma cidade exibicionista e não curte turismo. Pelotas é uma turista e não um polo turístico.
Enfim, vamos utilizar nossa criatividade e imaginar Pelotas, seja como um brazão, um gaúcho ou a Cicciolina ou o que você achar melhor, e ver o que ela precisa.
Se cada um de nós fizer o melhor a cada metro quadrado a nossa volta, o resultado final será uma cidade honesta, tranquila e serena onde as existências de seus habitantes poderão ser desfrutadas na paz e na harmonia. Precisa mais?
Imagens da web
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Equipe reconstituiu aquarela de Debret
Uma parceria entre Parque Gaúcho de Gramado, Sinduscon, Ato Produções e a Comissão UFPel/200 permitiu reconstruir a travessia de uma pelota pelo arroio Pelotas, na manhã de sábado (7), quando o município comemorou 200 anos da criação da Freguesia de São Francisco de Paula.
Em 1812, já existiam várias charqueadas com mão-de-obra escrava, em torno ao então chamado Rio das Pelotas e do Rio de São Gonçalo. As pequenas embarcações, feitas de couro -segundo o uso indígena- para transportar objetos, passaram a servir aos novos interesses, com escravos transportando senhores e seus materiais.
As pelotas (palavra espanhola) pareciam bolas flutuantes, mas também se diz que os portugueses as denominaram assim por suposta associação com a seminudez de quem as usava (pelote seria o antigo nome de uns trajes menores). A expressão espanhola andar en pelotas se confundiu aqui com o uso das pelotas de navegação (consulte pelota2 no dicionário da Real Academia Española). Com o tempo, o singular nome ficou caracterízando o arroio, a região e a futura cidade. Mas pelotas em uso não foram mais vistas, até este sábado 7 de julho de 2012.
O pintor francês Jean-Baptiste Debret representou em duas aquarelas o uso das pelotas para transportar pessoas, uma de cada vez. Mas não há registro exato de quando ele teria estado na Freguesia de São Francisco de Paula, se é que esteve por aqui. As fotografias mostram a reconstituição de uma dessas duas aquarelas de Debret (abaixo); veja a outra no post Pelotenses verão por 1ª vez uma pelota em uso.
A partir de 1816, Debret lecionou pintura no Rio de Janeiro, dirigiu a Academia Imperial de Belas Artes, organizou em 1829 a primeira mostra pública de arte no Brasil, voltando à França em 1831. Lá publicou os 3 tomos de "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", com 153 pinturas de seus 15 anos de viagens. Debret é um artista com influências do neoclassicismo e do romantismo, o que significa seu interesse pelo exotismo e pelo heroísmo dos personagens, com cuidado técnico mas não necessariamente científico. Por isso é preciso dizer que a reconstrução histórica feita em Pelotas à base desse "registro" compartilha essas influências artísticas.
Veja mais imagens e relatos dessa reconstrução sentimental-histórica, que ficará na memória dos pelotenses por muito tempo, no blog de Nauro Júnior Retratos da Vida, no sítio jornalístico Treze Horas, no blog de Luíz Carlos Vaz e no Diário Popular.
Imagens: C. Queiroz (1), Nauro Jr (2)
Em 1812, já existiam várias charqueadas com mão-de-obra escrava, em torno ao então chamado Rio das Pelotas e do Rio de São Gonçalo. As pequenas embarcações, feitas de couro -segundo o uso indígena- para transportar objetos, passaram a servir aos novos interesses, com escravos transportando senhores e seus materiais.
As pelotas (palavra espanhola) pareciam bolas flutuantes, mas também se diz que os portugueses as denominaram assim por suposta associação com a seminudez de quem as usava (pelote seria o antigo nome de uns trajes menores). A expressão espanhola andar en pelotas se confundiu aqui com o uso das pelotas de navegação (consulte pelota2 no dicionário da Real Academia Española). Com o tempo, o singular nome ficou caracterízando o arroio, a região e a futura cidade. Mas pelotas em uso não foram mais vistas, até este sábado 7 de julho de 2012.
O pintor francês Jean-Baptiste Debret representou em duas aquarelas o uso das pelotas para transportar pessoas, uma de cada vez. Mas não há registro exato de quando ele teria estado na Freguesia de São Francisco de Paula, se é que esteve por aqui. As fotografias mostram a reconstituição de uma dessas duas aquarelas de Debret (abaixo); veja a outra no post Pelotenses verão por 1ª vez uma pelota em uso.
A partir de 1816, Debret lecionou pintura no Rio de Janeiro, dirigiu a Academia Imperial de Belas Artes, organizou em 1829 a primeira mostra pública de arte no Brasil, voltando à França em 1831. Lá publicou os 3 tomos de "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", com 153 pinturas de seus 15 anos de viagens. Debret é um artista com influências do neoclassicismo e do romantismo, o que significa seu interesse pelo exotismo e pelo heroísmo dos personagens, com cuidado técnico mas não necessariamente científico. Por isso é preciso dizer que a reconstrução histórica feita em Pelotas à base desse "registro" compartilha essas influências artísticas.
Veja mais imagens e relatos dessa reconstrução sentimental-histórica, que ficará na memória dos pelotenses por muito tempo, no blog de Nauro Júnior Retratos da Vida, no sítio jornalístico Treze Horas, no blog de Luíz Carlos Vaz e no Diário Popular.
Imagens: C. Queiroz (1), Nauro Jr (2)
domingo, 8 de julho de 2012
O tempo é a vida que não tem fim
Travessia é um curta-metragem dirigido por Rogério Peres, com roteiro de Manoel Soares Magalhães, filmado (no Trapiche do Valverde, em julho de 2011) para fazer parte da série "O Espírito das Ruas", idealizada por Magalhães para homenagear o bicentenário de Pelotas. O projeto está em andamento e já lançou dois segmentos, mas foi reformulado em 2012 e arquivou as filmagens do ano passado.
Devido a seu interesse, "Travessia" fica hoje aqui para reflexão sobre a vida das pessoas dentro da humanidade e para um embrião de filosofia sobre a existência das cidades no contexto da história. Nós passamos pela vida ou é a vida que passa por nós? Se nosso tempo na terra é passageiro, o que resta depois de nossa passagem? Como podemos identificar o nascimento e a morte de uma comunidade formada de várias vidas?
Devido a seu interesse, "Travessia" fica hoje aqui para reflexão sobre a vida das pessoas dentro da humanidade e para um embrião de filosofia sobre a existência das cidades no contexto da história. Nós passamos pela vida ou é a vida que passa por nós? Se nosso tempo na terra é passageiro, o que resta depois de nossa passagem? Como podemos identificar o nascimento e a morte de uma comunidade formada de várias vidas?
sábado, 7 de julho de 2012
Chove na Princesa
Engana-se quem pensa que, numa cidade chuvosa, a água simplesmente cai na vertical e encharca o terreno. Além da pluviometria científica, há ampla e profunda subjetividade neste fenômeno da natureza.
Com o vento, as gotas se espalham e molham na horizontal tudo o que encontram. Mesmo caindo pura, a água exige às pessoas enorme trabalho de limpeza, secagem e conservação de paredes e janelas. A chuva complica a vida dos outros.
Quando vem como garoa imperceptível, a chuva fica sendo um pranto do céu ou um choro das almas que sofrem. Se chega furiosa, é um castigo que aprisiona os viventes, seja no interior das casas ou ao relento das esquinas inundadas. A chuva é emocionante e exasperante.
Como habitantes de zona chuvosa, os pelotenses têm vasta experiência com a invasão aquática. Nossa água até se deixa navegar; mas ela penetra os tetos das casas e as roupas nos armários, como fantasmas possuindo corpos. Por consequência, também invade nossos pensamentos - que não podem ser enxugados de tristezas e angústias inconscientes - e nossas percepções da realidade, que vivem embaçadas de gotículas homeopáticas que nos tapam a visão da paisagem.
A umidade é a única praga que foi expulsa do deserto egípcio (pior que mosquitos, gafanhotos, chuva de cinzas e o mundo em trevas) e ficou ligada a certos lugares, os focos de umidade. Com ou sem essa maldição, Pelotas leva o nome de uma embarcação cujo fim não é tanto cruzar distâncias maiores, mas impedir o afundamento de quem navega.
A véspera do aniversário de Pelotas teve forte chuva, mas ela se retirou à noite e deixou o ar gelado para as celebrações. Hoje (7) o sol apareceu, mas de casaco grosso. Após a chuva de ontem, o poeta decifrou a umidade pelotense em poucas linhas.
Texto poema: Cultive Ler
Com o vento, as gotas se espalham e molham na horizontal tudo o que encontram. Mesmo caindo pura, a água exige às pessoas enorme trabalho de limpeza, secagem e conservação de paredes e janelas. A chuva complica a vida dos outros.
Quando vem como garoa imperceptível, a chuva fica sendo um pranto do céu ou um choro das almas que sofrem. Se chega furiosa, é um castigo que aprisiona os viventes, seja no interior das casas ou ao relento das esquinas inundadas. A chuva é emocionante e exasperante.
A umidade é a única praga que foi expulsa do deserto egípcio (pior que mosquitos, gafanhotos, chuva de cinzas e o mundo em trevas) e ficou ligada a certos lugares, os focos de umidade. Com ou sem essa maldição, Pelotas leva o nome de uma embarcação cujo fim não é tanto cruzar distâncias maiores, mas impedir o afundamento de quem navega.
A véspera do aniversário de Pelotas teve forte chuva, mas ela se retirou à noite e deixou o ar gelado para as celebrações. Hoje (7) o sol apareceu, mas de casaco grosso. Após a chuva de ontem, o poeta decifrou a umidade pelotense em poucas linhas.
Princesa
Nos dias sombrios,
a umidade se espalha nos muros
e nas casas velhas da Princesa.
Em alguns pontos chora;
vê-se suas lágrimas escorrerem parede abaixo.
No tracejar da umidade,
vislumbro antigas ruas cujo som,
apurando os ouvidos,
pode ser percebido.
Lá fora, agora, chove.
Nos cantos sombrios a cartografia de sempre,
meio à selva de liquens.
O manto da Princesa é feito de liquens.
E de caramujos fosforescentes.
Caramujos que caminham;
por isso o andar da Princesa é tão lento.
Manoel Soares Magalhães
Foto: F. A. Vidal [Deodoro esq. Voluntários]Texto poema: Cultive Ler
"A Flor do Sal", poema para Pelotas
"A Flor do Sal", de Mario Osorio Magalhães, é um poema-relato que resume o desenvolvimento da cidade de Pelotas, desde sua pré-história (antes da fundação como freguesia em 1812) até o século XX. A flor do sal é o coalho que cristaliza na produção de sal marinho, mas neste texto a expressão é uma metáfora do florescimento da cidade em torno à fabricação de charque (carne seca e salgada).
Desde 1780 até 1910 Pelotas teve seu "ciclo salgado", do qual derivou sua riqueza econômica e cultural, ainda não igualada pelo "ciclo doce", nascido nos bastidores das charqueadas, e hoje exaltado na FENADOCE.
"Nossa Doce Pelotas", vídeo idealizado em 2009 por Viviane Lino (formanda do curso de Turismo da UCPel), utiliza o poema-guia de Magalhães para divulgar a cidade.
O trabalho audiovisual foi apresentado publicamente no dia 7 de julho daquele ano, e em novembro seguinte destacado como um dos melhores vídeos no 11º Seminário de Turismo e Cultura da UCPel (veja notícia).
Nas imagens aparecem o autor Mario Osorio Magalhães, o locutor Otávio Soares e o músico Leonardo Oxley Rodrigues, que compôs e interpretou a trilha sonora, à base da melodia do Hino de Pelotas (1935), de Romeu Tagnin.
Confira abaixo o texto completo de "A Flor do Sal", transcrito do livro "História e Tradições da Cidade de Pelotas" (Magalhães, Ardotempo, 2011).
Primeiro era o gentio — pagão,
sem Deus, sem devoção, sem luzes.
Ultrapassando as fronteiras,
vieram homens de negro,
que empunhavam cruzes,
e bárbaros maltrapilhos,
que conduziam bandeiras,
adagas e arcabuzes.
E o jesuíta voltou, acuado,
pra o outro lado do rio...
Pois era agora o gentio e gado
— milhares e milhares de cabeças de gado bravio.
Juntaram-se em vacarias,
recolheram-se em currais.
— É, sim, só valia o couro
desses rebanhos baguais.
Mas muito o couro valia!
Foram chegando os tropeiros
— lagunenses e mineiros,
paulistas e cariocas.
Brotaram ranchos, malocas,
nas mais remotas distâncias.
Depois, os açorianos,
madeirenses, transmontanos...
Doaram-se as sesmarias,
domaram-se as valentias,
dobraram-se as alternâncias:
gaudérios/pais de família;
boi xucro/gado de cria;
pampa selvagem/estâncias.
— É, sim, só valia o couro
desses rebanhos baguais.
Muita era a serventia
dessas peles animais:
pra arreios, caronas, tentos,
bainhas, guaiacas, botas...
Centauros, ao desmontarem
dos seus fogosos cavalos,
de botas vararam charcos
e os rios passaram em barcos
de couro que, enfim, chamaram
— que trataram de pelotas.
— É, sim, só valia o couro...
Até que, do além do ouro
das velhas Minas Gerais,
retirante da má sorte,
um homem chegou do Norte;
branqueou de sal as tropas
(nossos rebanhos baguais)
à beira, num descampado,
de um rio que, por devassado
nas travessias remotas,
nossos campeiros monarcas
tratavam, igual que às barcas,
de um mesmo nome: Pelotas.
* * *
Agora valia a carne,
os músculos animais...
Dos mares, dos arredores,
vieram donos de iates
(que juntavam patacas),
trabalhadores negros
(que empunhavam facas),
capitães do mato e feitores.
De recantos bem distantes,
eram famílias chegando,
chegando os comerciantes:
mascates negociando
os seus tecidos; mulheres
se oferecendo aos prazeres.
Carreiras, jogos de azar...
Sempre a se multiplicar
— como em mágicos espelhos —
adultos, crianças, velhos.
Pois nasceu o povoado
poucas léguas afastado
do rio que passava em frente
da primeira charqueada.
Por alvará do regente
e por decisão do bispo,
a aldeia foi registrada
com o nome de São Francisco.
Se bem que intenções devotas
respeitasse, aquela gente
ainda assim preferiu
que se chamasse Pelotas
esta porção do Brasil
— talvez, lá no inconsciente,
querendo que andasse em frente,
seguindo sempre a corrente,
feito um barco e feito um rio...
II
Nesta porção do Brasil,
entre novembro e abril
faz mais calor, menos frio;
menos chove e menos venta.
Pois nesses meses de estio
a fria faca assassina
que empunhava o negro mina
degolava trinta mil
cabeças de boi em cada
charqueada das quarenta
que havia à beira do rio...
Pilhas e pilhas de charque
secando ao sol, no varal;
e as mantas de couro em sal
curtindo, para o embarque
até Rio Grande em iate
e para a Europa em navio
— em navio para as Antilhas,
pra América, pra Bahia,
pra Pernambuco e pra o Rio...
No retorno a embarcação
trazia luz no porão.
Reluzindo feito ouro,
no lugar do charque e o couro,
vinha a Civilização.
(Nessa viagem de volta
o navio vem carregado
das luzes da nova Europa:
o Século vem na troca,
estacionando no Porto,
desembarcando em Pelotas...)
III
Pra diversão nada falta:
são as luzes da ribalta,
concertos e operetas;
músicas, bandas, retretas
no Porto e depois no Parque;
nos intervalos do charque,
os negros com seus batuques;
barões que sonham ser duques,
donzelas com ser senhoras;
poetas às altas horas
declamam pelos saraus;
uns homens, nos carnavais,
transfiguram-se em mulheres;
banquetes de mil talheres,
mil folhas, quindins, pastéis,
fios de ovos, camafeus;
discursos dos bacharéis,
procissões, louvor a Deus,
igrejas e a Catedral...
E o poder dos coronéis,
Miss Universo, bra-péis...
Um dia um banco faliu.
Derrubou-se um casario.
A crise. O mundo atual...
Pela corrente do rio
escorre o ouro animal...
Mas não leva a tradição.
Ainda brota do chão,
crescendo no coração,
Pelotas, a flor do sal!
Imagens:
- Aquarelas de Jean-Baptiste Debret (Charqueada e Pelota)
- "Lancero de la Epoca de Rivera", de J. M. Blanes (Wikipedia)
- Vitral da Catedral de Pelotas (F. A. Vidal)
POST DATA
20-09-12 Veja o post Poemas de Mario Osorio Magalhães.
Desde 1780 até 1910 Pelotas teve seu "ciclo salgado", do qual derivou sua riqueza econômica e cultural, ainda não igualada pelo "ciclo doce", nascido nos bastidores das charqueadas, e hoje exaltado na FENADOCE.
"Nossa Doce Pelotas", vídeo idealizado em 2009 por Viviane Lino (formanda do curso de Turismo da UCPel), utiliza o poema-guia de Magalhães para divulgar a cidade.
O trabalho audiovisual foi apresentado publicamente no dia 7 de julho daquele ano, e em novembro seguinte destacado como um dos melhores vídeos no 11º Seminário de Turismo e Cultura da UCPel (veja notícia).
Nas imagens aparecem o autor Mario Osorio Magalhães, o locutor Otávio Soares e o músico Leonardo Oxley Rodrigues, que compôs e interpretou a trilha sonora, à base da melodia do Hino de Pelotas (1935), de Romeu Tagnin.
Confira abaixo o texto completo de "A Flor do Sal", transcrito do livro "História e Tradições da Cidade de Pelotas" (Magalhães, Ardotempo, 2011).
A Flor do Sal
Mario Osorio Magalhães
IPrimeiro era o gentio — pagão,
sem Deus, sem devoção, sem luzes.
Ultrapassando as fronteiras,
vieram homens de negro,
que empunhavam cruzes,
e bárbaros maltrapilhos,
que conduziam bandeiras,
adagas e arcabuzes.
E o jesuíta voltou, acuado,
pra o outro lado do rio...
Pois era agora o gentio e gado
— milhares e milhares de cabeças de gado bravio.
Juntaram-se em vacarias,
recolheram-se em currais.
— É, sim, só valia o couro
desses rebanhos baguais.
Mas muito o couro valia!
Foram chegando os tropeiros
— lagunenses e mineiros,
paulistas e cariocas.
Brotaram ranchos, malocas,
nas mais remotas distâncias.
Depois, os açorianos,
madeirenses, transmontanos...
Doaram-se as sesmarias,
domaram-se as valentias,
dobraram-se as alternâncias:
gaudérios/pais de família;
boi xucro/gado de cria;
pampa selvagem/estâncias.
— É, sim, só valia o couro
desses rebanhos baguais.
Muita era a serventia
dessas peles animais:
pra arreios, caronas, tentos,
bainhas, guaiacas, botas...
Centauros, ao desmontarem
dos seus fogosos cavalos,
de botas vararam charcos
e os rios passaram em barcos
de couro que, enfim, chamaram
— que trataram de pelotas.
— É, sim, só valia o couro...
Até que, do além do ouro
das velhas Minas Gerais,
retirante da má sorte,
um homem chegou do Norte;
branqueou de sal as tropas
(nossos rebanhos baguais)
à beira, num descampado,
de um rio que, por devassado
nas travessias remotas,
nossos campeiros monarcas
tratavam, igual que às barcas,
de um mesmo nome: Pelotas.
* * *
Agora valia a carne,
os músculos animais...
Dos mares, dos arredores,
vieram donos de iates
(que juntavam patacas),
trabalhadores negros
(que empunhavam facas),
capitães do mato e feitores.
De recantos bem distantes,
eram famílias chegando,
chegando os comerciantes:
mascates negociando
os seus tecidos; mulheres
se oferecendo aos prazeres.
Carreiras, jogos de azar...
Sempre a se multiplicar
— como em mágicos espelhos —
adultos, crianças, velhos.
Pois nasceu o povoado
poucas léguas afastado
do rio que passava em frente
da primeira charqueada.
Por alvará do regente
e por decisão do bispo,
a aldeia foi registrada
com o nome de São Francisco.
Se bem que intenções devotas
respeitasse, aquela gente
ainda assim preferiu
que se chamasse Pelotas
esta porção do Brasil
— talvez, lá no inconsciente,
querendo que andasse em frente,
seguindo sempre a corrente,
feito um barco e feito um rio...
II
Nesta porção do Brasil,
entre novembro e abril
faz mais calor, menos frio;
menos chove e menos venta.
Pois nesses meses de estio
a fria faca assassina
que empunhava o negro mina
degolava trinta mil
cabeças de boi em cada
charqueada das quarenta
que havia à beira do rio...
Pilhas e pilhas de charque
secando ao sol, no varal;
e as mantas de couro em sal
curtindo, para o embarque
até Rio Grande em iate
e para a Europa em navio
— em navio para as Antilhas,
pra América, pra Bahia,
pra Pernambuco e pra o Rio...
No retorno a embarcação
trazia luz no porão.
Reluzindo feito ouro,
no lugar do charque e o couro,
vinha a Civilização.
(Nessa viagem de volta
o navio vem carregado
das luzes da nova Europa:
o Século vem na troca,
estacionando no Porto,
desembarcando em Pelotas...)
III
Pra diversão nada falta:
são as luzes da ribalta,
concertos e operetas;
músicas, bandas, retretas
no Porto e depois no Parque;
nos intervalos do charque,
os negros com seus batuques;
barões que sonham ser duques,
donzelas com ser senhoras;
poetas às altas horas
declamam pelos saraus;
uns homens, nos carnavais,
transfiguram-se em mulheres;
banquetes de mil talheres,
mil folhas, quindins, pastéis,
fios de ovos, camafeus;
discursos dos bacharéis,
procissões, louvor a Deus,
igrejas e a Catedral...
E o poder dos coronéis,
Miss Universo, bra-péis...
Um dia um banco faliu.
Derrubou-se um casario.
A crise. O mundo atual...
Pela corrente do rio
escorre o ouro animal...
Mas não leva a tradição.
Ainda brota do chão,
crescendo no coração,
Pelotas, a flor do sal!
Imagens:
- Aquarelas de Jean-Baptiste Debret (Charqueada e Pelota)
- "Lancero de la Epoca de Rivera", de J. M. Blanes (Wikipedia)
- Vitral da Catedral de Pelotas (F. A. Vidal)
POST DATA
20-09-12 Veja o post Poemas de Mario Osorio Magalhães.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Zezé curte os 200
Biscoitos Zezé promove uma doação para Pelotas usando sua página no Facebook como contador: a empresa ganha curtidas e algumas entidades ganham biscoitos. Ao compartilhar a foto, os primeiros leitores a curtir estão usando o recurso de mencionar amigos para pedir mais votos. Nas primeiras 6 horas já foram mil votos. A promoção encerra daqui a 24 horas, no fim do sábado 7 de julho.
Pelotenses verão por 1ª vez uma pelota em uso
Este sábado (7), recorda-se a criação da Freguesia de São Francisco de Paula, nascida há duzentos anos no assim chamado Rincão das Pelotas. A área então pertencia à Vila do Rio Grande e dela se desmembraria vinte anos depois (em 1832), originando assim a Cidade de Pelotas, que adotou oficialmente o primitivo nome em 1835.
Uma celebração simbólica deste bicentenário foi idealizada pela Comissão UFPel/200 (veja nota do Treze Horas): a Travessia da Pelota de Couro cruzando um ponto do Arroio Pelotas.
Segundo Clayton Rocha, ele deu a ideia (leia nota) e o dono do Parque Gaúcho de Gramado aceitou o desafio de fabricar uma pelota de couro (veja outra nota do Treze).
A pequena embarcação foi confeccionada segundo os padrões históricos (leia notícia), foi trazida a Pelotas e exposta na FENADOCE (dir.) e, posteriormente, num quiosque defronte ao Café Aquários.
Do centro da cidade, a solitária pelota será levada ao ponto escolhido para a travessia, a Charqueada Boa Vista, que será especialmente aberta ao público para as comemorações. Ao meio-dia será servido um almoço por adesão antecipada (arroz carreteiro com charque e feijão, pudins e doces em calda) e logo haverá um show musical com Joca Martins e Kako Xavier e a Tamborada.
Será um segredo até o último momento quem conduzirá a pelota e quem subirá a bordo dela (nota do Treze Horas). Somente foi anunciado que nadadores da Escola de Educação Física da UFPel vão colaborar na travessia.
O certo e sabido é que pelotense algum (dos que hoje vivem) viu jamais, sequer em filmes, uma pelota em uso no Arroio que deu nome à zona (antes de 1812) e à cidade (desde 1832). Quando surgiram as grandes charqueadas, na década de 1780, e se impôs a escravidão como sistema oficial de "emprego", a região foi abandonada pelos indígenas -que mais usavam as pelotas- e até hoje ninguém se havia interessado em sua reativação. Considerando-se que esta Travessia da Pelota provavelmente não se repetirá (talvez no tricentenário), tem-se o 7 de julho de 2012 como um dia histórico.
Foto: F. A. Vidal (1)
Uma celebração simbólica deste bicentenário foi idealizada pela Comissão UFPel/200 (veja nota do Treze Horas): a Travessia da Pelota de Couro cruzando um ponto do Arroio Pelotas.
Segundo Clayton Rocha, ele deu a ideia (leia nota) e o dono do Parque Gaúcho de Gramado aceitou o desafio de fabricar uma pelota de couro (veja outra nota do Treze).
A pequena embarcação foi confeccionada segundo os padrões históricos (leia notícia), foi trazida a Pelotas e exposta na FENADOCE (dir.) e, posteriormente, num quiosque defronte ao Café Aquários.
Do centro da cidade, a solitária pelota será levada ao ponto escolhido para a travessia, a Charqueada Boa Vista, que será especialmente aberta ao público para as comemorações. Ao meio-dia será servido um almoço por adesão antecipada (arroz carreteiro com charque e feijão, pudins e doces em calda) e logo haverá um show musical com Joca Martins e Kako Xavier e a Tamborada.
Será um segredo até o último momento quem conduzirá a pelota e quem subirá a bordo dela (nota do Treze Horas). Somente foi anunciado que nadadores da Escola de Educação Física da UFPel vão colaborar na travessia.
O certo e sabido é que pelotense algum (dos que hoje vivem) viu jamais, sequer em filmes, uma pelota em uso no Arroio que deu nome à zona (antes de 1812) e à cidade (desde 1832). Quando surgiram as grandes charqueadas, na década de 1780, e se impôs a escravidão como sistema oficial de "emprego", a região foi abandonada pelos indígenas -que mais usavam as pelotas- e até hoje ninguém se havia interessado em sua reativação. Considerando-se que esta Travessia da Pelota provavelmente não se repetirá (talvez no tricentenário), tem-se o 7 de julho de 2012 como um dia histórico.
Foto: F. A. Vidal (1)
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Bastidores do Concerto dos 200 anos na Catedral
Bruno Maestrini gravou, fotografou e editou os aspectos menos visíveis do Concerto dos 200 anos realizado pela Sociedade Pelotense Música pela Música, sábado (1) na Catedral de São Francisco de Paula. Identifique as pessoas que reconhecer nas imagens.
Grupo Lechaim, música judaica internacional
A Sociedade Israelita de Pelotas (SIP) e a Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS) convidam para o descerramento da placa comemorativa oferecida pela comunidade judaica em homenagem aos 200 anos da cidade de Pelotas.
A cerimônia terá a presença da presidente da SIP, Nirce Saffer Medvedovski, do presidente da FIRS, Jarbas Milititsky, do prefeito Fetter e outras autoridades.
Haverá apresentação do conjunto musical Lechaim, grupo porto-alegrense que desde 1992 resgata a alegria e a universalidade da música composta pelos judeus ao redor do mundo. Por exemplo: os americanos Irving Berlin, Barbra Streisand, Barry Manilow e os brasileiros Jacó do Bandolim e Juca Chaves.
Confira a letra do sonho profético de The Sound of Silence (Paul Simon, 1964) e a envolvente Nathalie (Gilbert Bécaud, 1965), melodia inspirada no folclore judaico russo (vídeo abaixo).
De acordo ao anunciado oficialmente, a atividade será no Saguão da Prefeitura Municipal, hoje 5 de julho às 18h30min, coincidindo com uma vernissagem de fotografias.
A cerimônia terá a presença da presidente da SIP, Nirce Saffer Medvedovski, do presidente da FIRS, Jarbas Milititsky, do prefeito Fetter e outras autoridades.
Haverá apresentação do conjunto musical Lechaim, grupo porto-alegrense que desde 1992 resgata a alegria e a universalidade da música composta pelos judeus ao redor do mundo. Por exemplo: os americanos Irving Berlin, Barbra Streisand, Barry Manilow e os brasileiros Jacó do Bandolim e Juca Chaves.
Confira a letra do sonho profético de The Sound of Silence (Paul Simon, 1964) e a envolvente Nathalie (Gilbert Bécaud, 1965), melodia inspirada no folclore judaico russo (vídeo abaixo).
De acordo ao anunciado oficialmente, a atividade será no Saguão da Prefeitura Municipal, hoje 5 de julho às 18h30min, coincidindo com uma vernissagem de fotografias.
Poemas ilustrados, de Loiva Hartmann
A professora Loiva Hartmann apresenta uma seleção de 20 poemas, com ilustrações diversas. A exposição será inaugurada amanhã sexta (6) às 18h30min no Bistrô da SECULT e permanecerá durante o mês de julho, em homenagem ao aniversário da cidade de Pelotas.
Tradicionalmente, a poesia recebeu o tratamento da música, sendo recitada ante as plateias. O longo e doloroso trabalho do escritor era levado do silêncio da intimidade ao ruído dos eventos sociais.
Fomentadora da leitura e do pensamento, a professora Loiva (dir.) optou por expor os textos para que os visitantes possam desfrutá-los com tempo livre, assim como ela os elaborou com cuidado e detalhismo (leia a notícia no Diário Popular).
Alguns críticos importantes disseram o seguinte da escrita poética de Loiva Hartmann (a maioria de seus textos está inédita).
Loiva Hartamann expõe poemas na SECULT. |
Fomentadora da leitura e do pensamento, a professora Loiva (dir.) optou por expor os textos para que os visitantes possam desfrutá-los com tempo livre, assim como ela os elaborou com cuidado e detalhismo (leia a notícia no Diário Popular).
Alguns críticos importantes disseram o seguinte da escrita poética de Loiva Hartmann (a maioria de seus textos está inédita).
As interrogações dos versos de Loiva ficam à espera de cada leitor com a chave que abre o segredo do coração do ser humano.Foto: P. Rossi (DP)
Irmão Elvo Clemente (1921-2007), ex-presidente da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percebo nos poemas de Loiva algo que é mais importante do que o ritmo, a musicalidade que os caracteriza. Refiro-me à atitude que eles exigem do leitor: é impossível permanecermos impassíveis, contemplativos, submissos. Esta desacomodação, chamada de diálogo leitor/texto, transforma os poemas em objeto estético, em arte. Loiva produz textos que desafiam o leitor a colocar-se acima do lugar-comum.
Lionira Komosinski, professora de Literatura da Universidade Regional Integrada, Erechim.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Postais grises para um aniversário grisalho
Nauro Júnior é daqueles que vêm a Pelotas a trabalho, descobrem as belezas de viver aqui e nunca mais querem sair. Chegou de Novo Hamburgo em 1996 e sente saudades de Pelotas cada vez que viaja. Estando aqui, nos mostra os ângulos escondidos e os pequenos-grandes detalhes que nunca vemos.
Fotógrafo de mão cheia (ou de olho cheio), cada registro seu é um postal que ele presenteia a Pelotas. Hoje (3) ele dedicou outros de seus cliques apaixonados e reveladores. Reparem a sutil homenagem à fotografia francesa dos anos 50.
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Fotógrafo de mão cheia (ou de olho cheio), cada registro seu é um postal que ele presenteia a Pelotas. Hoje (3) ele dedicou outros de seus cliques apaixonados e reveladores. Reparem a sutil homenagem à fotografia francesa dos anos 50.
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A chuva fina e o cinza abraçam Satolep neste instante. O encanto de um passeio pelo tempo é a brisa batendo no rosto. A vida que passa é mesma que chega.
Amar alguém ou algum lugar é como andar de bicicleta: uma vez que se aprende, jamais se esquece.
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A semana de aniversário de Pelotas começou com uma chuva fina. Lágrimas de uma princesa que completa 200 anos de uma história de elegância e dor. Uma beleza que muitas vezes atrapalhou seu desenvolvimento.
Muitos a vilipendiaram, muitos a amaram. Poucos entenderam seus mistérios por trás de um véu cinza.
Dia 28 de junho completou 16 anos que aportei aqui. Pretendo ficar por aqui pra sempre desvendando os mistérios de tuas luzes gris.
Fotos e texto: Facebook Nauro Jr
Amar alguém ou algum lugar é como andar de bicicleta: uma vez que se aprende, jamais se esquece.
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A semana de aniversário de Pelotas começou com uma chuva fina. Lágrimas de uma princesa que completa 200 anos de uma história de elegância e dor. Uma beleza que muitas vezes atrapalhou seu desenvolvimento.
Muitos a vilipendiaram, muitos a amaram. Poucos entenderam seus mistérios por trás de um véu cinza.
Dia 28 de junho completou 16 anos que aportei aqui. Pretendo ficar por aqui pra sempre desvendando os mistérios de tuas luzes gris.
Fotos e texto: Facebook Nauro Jr
Jingle e logo para os 200 anos de Pelotas
Uma cidade que já nasceu progressista, cresceu rápido e viveu diversas fases (revoluções, auge econômico, figuração artística e política) chega a seus 200 anos com muitas lembranças históricas e polêmicas internas. Tentando gerar acordo e unificação, a Prefeitura Municipal contratou para o Bicentenário uma campanha de publicidade que não excluísse ninguém e que não frisasse a importância do passado nem do futuro por si sós. A ideia completa dizia num cartaz:
Pelotas é uma cidade cheia de história,
mas também está pronta para o que vem pela frente.
O refrão do jingle (vídeo acima) diz:
Já a estrofe (o áudio esteve disponível por um ano no sítio da Prefeitura) é uma verdadeira lição de vida que incentiva o progresso, mas – talvez por economia – não ficou incluída nos clipes visuais. Vale a pena deixar o registro e meditar nos versos:
A mesma campanha fez uma logomarca com o número 200 que não esconde sua semelhança com um dos símbolos do bicentenário da independência argentina (1810-2010). A ideia estrangeira foi repetida em nossos 200 anos, com pequenas modificações, como mostrou um leitor do blogue Amigos de Pelotas.
A bandeira do país vizinho é conhecida pela combinação de azul celeste e branco, e logicamente usou essas cores numa faixa que desenhava o número 200.
A criança argentina correndo com a faixa bicolor também teve um remake entre nós, talvez aproveitando as duas cores mais notórias da bandeira pelotense.
Será que se usasse também o amarelo de nossa bandeira teria havido desnecessárias discussões (sobre o Clube Brilhante e o E. C. Pelotas)? Será que algum pelotense hoje se identifica com as cores de sua bandeira (azul, amarelo e branco) ou somente vê as do clube de futebol?
Em sua tentativa de imparcialidade, a campanha dos 200 anos ficou no óbvio e o jingle não pegou força na população, talvez por recordar o formato de uma campanha política e a inevitável proximidade das eleições municipais. Mas a Prefeitura ainda aproveitou o embalo da despedida para fazer outro clipe de divulgação de seu trabalho, agora misturando os progressos do governo com a alegria dos 200 anos (vídeo abaixo).
Pelotas é uma cidade cheia de história,
mas também está pronta para o que vem pela frente.
O refrão do jingle (vídeo acima) diz:
Pelotas faz duzentos anos e segue em frente,
vive a história e o futuro da sua gente.
vive a história e o futuro da sua gente.
Já a estrofe (o áudio esteve disponível por um ano no sítio da Prefeitura) é uma verdadeira lição de vida que incentiva o progresso, mas – talvez por economia – não ficou incluída nos clipes visuais. Vale a pena deixar o registro e meditar nos versos:
A vida é doce pra quem vive a sua história
com todo o orgulho, mas não mora no passado.
A vida é doce pra quem faz acontecer,
enxerga longe e planta agora o resultado.
com todo o orgulho, mas não mora no passado.
A vida é doce pra quem faz acontecer,
enxerga longe e planta agora o resultado.
A mesma campanha fez uma logomarca com o número 200 que não esconde sua semelhança com um dos símbolos do bicentenário da independência argentina (1810-2010). A ideia estrangeira foi repetida em nossos 200 anos, com pequenas modificações, como mostrou um leitor do blogue Amigos de Pelotas.
A bandeira do país vizinho é conhecida pela combinação de azul celeste e branco, e logicamente usou essas cores numa faixa que desenhava o número 200.
Bandeira argentina (v. Wikipédia) |
Bandeira pelotense (v. UFPel) |
Em sua tentativa de imparcialidade, a campanha dos 200 anos ficou no óbvio e o jingle não pegou força na população, talvez por recordar o formato de uma campanha política e a inevitável proximidade das eleições municipais. Mas a Prefeitura ainda aproveitou o embalo da despedida para fazer outro clipe de divulgação de seu trabalho, agora misturando os progressos do governo com a alegria dos 200 anos (vídeo abaixo).
terça-feira, 3 de julho de 2012
O Bairrista no bairro do sul
Júnior Maicá esteve hoje (3) em Pelotas, falando com alunos de jornalismo da UCPel e outros interessados na expansão de mídias (leia notícia). O gaúcho de 27 anos é conhecido por ter criado o sítio humorístico "O Bairrista", que satiriza o perfil do gaúcho.
Júnior não estudou jornalismo nem tem costumes tradicionalistas, mas em 2010 começou a fazer humor na internet à base do famoso chovinismo rio-grandense, que todos conhecemos de perto.
Baseou-se no sítio de humor jornalístico Sensacionalista, criador de notícias satíricas, e iniciou O Bairrista, que até hoje ele escreve sozinho. Primeiro no Twitter, depois no Facebook e logo ganhando o espaço offline: num programa de rádio, num jornal impresso e lançando o livro "O bairrista: as melhores notícias do país" (esq.).
O gurizão tem sucesso fora do Estado também, apesar de falar mal do resto do Brasil e ferir os princípios da gentileza e da correção política. Tudo o que ele diz pode ler-se como uma sátira ao gauchismo tradicional: acavalado, narcisista e megalomaníaco.
Mas o que a maioria não entende é que suas palavras provêm do personagem "O Bairrista" e não do seu pai, o Júnior. O autor se faz ator, para que o público se veja no espelho. Na entrevista abaixo podem ver-se algumas dessas barbaridades.
Imagens: Twitter O Bairrista (1)
Júnior não estudou jornalismo nem tem costumes tradicionalistas, mas em 2010 começou a fazer humor na internet à base do famoso chovinismo rio-grandense, que todos conhecemos de perto.
Baseou-se no sítio de humor jornalístico Sensacionalista, criador de notícias satíricas, e iniciou O Bairrista, que até hoje ele escreve sozinho. Primeiro no Twitter, depois no Facebook e logo ganhando o espaço offline: num programa de rádio, num jornal impresso e lançando o livro "O bairrista: as melhores notícias do país" (esq.).
O gurizão tem sucesso fora do Estado também, apesar de falar mal do resto do Brasil e ferir os princípios da gentileza e da correção política. Tudo o que ele diz pode ler-se como uma sátira ao gauchismo tradicional: acavalado, narcisista e megalomaníaco.
Mas o que a maioria não entende é que suas palavras provêm do personagem "O Bairrista" e não do seu pai, o Júnior. O autor se faz ator, para que o público se veja no espelho. Na entrevista abaixo podem ver-se algumas dessas barbaridades.
Imagens: Twitter O Bairrista (1)
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Cotidianos: fotos de pelotenses
O Movimento de Artistas Plásticos de Pelotas promove a segunda mostra fotográfica em homenagem a Pelotas. A primeira foi há um ano, sobre os caminhos de Selbor em Satolep, com inspiração no livro de Vítor Ramil (veja nota).
Desta vez o tema ficou centrado na vida cotidiana dos habitantes da cidade (colocando prédios e paisagens em lugar secundário). As fotos de divulgação se baseiam num registro de Nauro Júnior, tomado no centro de Pelotas em 2011.
A exposição "Pelotas: Cotidianos" é inaugurada esta quarta (4) às 19h e permanece aberta até sexta 27 de julho, de segunda a sexta 9-18h e sábados 9-12h, no centro comercial Zona Norte.
Desta vez o tema ficou centrado na vida cotidiana dos habitantes da cidade (colocando prédios e paisagens em lugar secundário). As fotos de divulgação se baseiam num registro de Nauro Júnior, tomado no centro de Pelotas em 2011.
A exposição "Pelotas: Cotidianos" é inaugurada esta quarta (4) às 19h e permanece aberta até sexta 27 de julho, de segunda a sexta 9-18h e sábados 9-12h, no centro comercial Zona Norte.
domingo, 1 de julho de 2012
A Cidade do Tinha
Marilena Lopes Gonçalves, graduada em Filosofia pela UFPel, publicou a seguinte crônica no Diário Popular (veja a nota). O texto alfineta as atitudes pessimistas e confrontacionais em relação a uma cidade, e desafia os cidadãos a unirem forças para sair do "estado de guerra" e construir uma paz verdadeira. A autora é natural de Piratini (veja outro artigo seu) mas suas palavras podem ser vestidas por outras cidades.
Conheci um lindo lugar que se chamava “Terra do Tinha”. Sua história conta que há muitos anos lá tinha teatro, tinha cinema, tinha jornal, tinha fábrica de cerveja, de fogos, tinha uma pecuária e agricultura muito ricas. Serviu até de entreposto comercial para cidades, hoje maiores, cuja situação se inverteu. Tinha uma porção de coisas, que agora não tem.
Lá acredita-se que viveram grandes e famosos heróis. Dizem que foi muito politizada em outros tempos. Mas uma grande e longa guerra devastou aquelas terras. Seu povo passou a viver das lembranças desta guerra, como se fosse a melhor coisa que lhes tivesse acontecido. Como se guerra fosse motivo de orgulho e veneração.
Independentemente da causa que a tenha motivado, que por sinal não foi nobre, só favoreceu as elites da época, assim como só a estas condecorou. Guerra é guerra. Traz apenas desgraças. E como as trouxe! Pagam alto preço por ela até hoje.
Preservar a história como fonte de cultura é válido. Estranho é venerar uma triste história de destruição e dor, que dilacerou tantas vidas.
Este povo vive do passado e está sempre dividido. Acostumou-se a brigar entre si. Acredita-se que é um estigma herdado dos antepassados. Tem olhos voltados apenas para o outro e não para a frente; lutam separados, por isso são frágeis. Move-se por paixões e, como sabemos, as paixões cegam, são más conselheiras.
Alguns até tentam mudar o nome da cidade para “Prosperidade”, mas sempre que surge algo novo ameaçando mudar sua realidade, a outra metade reage e se arma para lutar contra. Em época de eleição, referem-se uns aos outros como “os nossos e os deles”. Até vizinho de porta tratam-se como inimigos. Esqueceram que a política nasceu da necessidade de se buscar o melhor para a coletividade.
Na Terra do Tinha fizeram grandes plantações de eucalipto, o que torna a terra estéril. Ninguém se arvorou de defensor da natureza na época, como fizeram recentemente, por motivos, se comparados, de proporções insignificantes.
Creio que enquanto se virem como possíveis oponentes, em vez de olharem para a frente, na mesma direção, não conseguirão progredir.
Como Thomas More, também tenho uma utopia. Se alguém identificar a Terra do Tinha pela minha descrição, estará me dando razão e, como diz o ditado, vestindo a carapuça. Se não a reconhecerem, então devo estar errada, porque é sinal de que só eu a vejo assim.
Continuarei sonhando com uma utópica cidade ideal, onde a opinião dos demais é respeitada e ninguém é visto como melhor ou pior por divergir. Onde os habitantes não lutam entre si, por motivos infundados, mas juntos, buscando soluções melhores em vez de críticas vazias que não levam a nada.
Uma cidade não dividida em “os nossos e os deles" e sim em “nós”, os habitantes da “nossa cidade”. Afinal, só a união faz a força.
Fotos: Ailton Lopes (2), blogue Educação Ambiental (3)
Conheci um lindo lugar que se chamava “Terra do Tinha”. Sua história conta que há muitos anos lá tinha teatro, tinha cinema, tinha jornal, tinha fábrica de cerveja, de fogos, tinha uma pecuária e agricultura muito ricas. Serviu até de entreposto comercial para cidades, hoje maiores, cuja situação se inverteu. Tinha uma porção de coisas, que agora não tem.
Lá acredita-se que viveram grandes e famosos heróis. Dizem que foi muito politizada em outros tempos. Mas uma grande e longa guerra devastou aquelas terras. Seu povo passou a viver das lembranças desta guerra, como se fosse a melhor coisa que lhes tivesse acontecido. Como se guerra fosse motivo de orgulho e veneração.
Independentemente da causa que a tenha motivado, que por sinal não foi nobre, só favoreceu as elites da época, assim como só a estas condecorou. Guerra é guerra. Traz apenas desgraças. E como as trouxe! Pagam alto preço por ela até hoje.
Preservar a história como fonte de cultura é válido. Estranho é venerar uma triste história de destruição e dor, que dilacerou tantas vidas.
Este povo vive do passado e está sempre dividido. Acostumou-se a brigar entre si. Acredita-se que é um estigma herdado dos antepassados. Tem olhos voltados apenas para o outro e não para a frente; lutam separados, por isso são frágeis. Move-se por paixões e, como sabemos, as paixões cegam, são más conselheiras.
Alguns até tentam mudar o nome da cidade para “Prosperidade”, mas sempre que surge algo novo ameaçando mudar sua realidade, a outra metade reage e se arma para lutar contra. Em época de eleição, referem-se uns aos outros como “os nossos e os deles”. Até vizinho de porta tratam-se como inimigos. Esqueceram que a política nasceu da necessidade de se buscar o melhor para a coletividade.
Na Terra do Tinha fizeram grandes plantações de eucalipto, o que torna a terra estéril. Ninguém se arvorou de defensor da natureza na época, como fizeram recentemente, por motivos, se comparados, de proporções insignificantes.
Creio que enquanto se virem como possíveis oponentes, em vez de olharem para a frente, na mesma direção, não conseguirão progredir.
Como Thomas More, também tenho uma utopia. Se alguém identificar a Terra do Tinha pela minha descrição, estará me dando razão e, como diz o ditado, vestindo a carapuça. Se não a reconhecerem, então devo estar errada, porque é sinal de que só eu a vejo assim.
Continuarei sonhando com uma utópica cidade ideal, onde a opinião dos demais é respeitada e ninguém é visto como melhor ou pior por divergir. Onde os habitantes não lutam entre si, por motivos infundados, mas juntos, buscando soluções melhores em vez de críticas vazias que não levam a nada.
Uma cidade não dividida em “os nossos e os deles" e sim em “nós”, os habitantes da “nossa cidade”. Afinal, só a união faz a força.
Fotos: Ailton Lopes (2), blogue Educação Ambiental (3)