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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Bilhete (I)

O cronista Rubens Amador escreveu, em setembro de 1979, um conto longo que este blogue agora reedita, em forma de folhetim, em 12 capítulos diários. Na época, a imprensa escrita o publicou em 4 partes, com o título de "Histórias da Guerra".

A partir de hoje, cada postagem poderá ser lida a partir das 10h da manhã, a cada 24 horas. Não perca a leitura desta pequena novela de suspense, cheia de evocações reais dos anos da Segunda Guerra Mundial.


I  A bela e o papel

Os alemães ainda não tinham entrado em Paris, mas, como era de esperar em 1940, o ambiente era inteiramente belicoso na Cidade Luz. Foi exatamente num clima assim que um brasileiro de 36 anos, por incrível que pudesse parecer, desceu em Paris em viagem-prêmio de recreio.

Ele trabalhava no Rio de Janeiro numa firma subsidiária francesa, das muitas que por lá havia nos idos de quarenta, setor de seguros. Funcionário corretíssimo e exemplar, tivera – como prêmio por sua dedicação como diligente securitário – quinze dias em Paris, com tudo pago pela firma.

Embora os jornais falassem num iminente conflito generalizado na Europa, o nosso patrício aceitou a ímpar oportunidade de conhecer a capital europeia da cultura, com todas as suas maravilhas no campo do conhecimento humano e do lazer, embora conhecesse apenas algumas esporádicas palavras do idioma gaulês.

Já vamos encontrá-lo desembarcando em Orly, para logo após ser encaminhado ao Grande Hotel Lafayette, de categoria internacional. Depois de visitar a matriz de sua empregadora no Rio, e lá ser homenageado, ficou inteiramente livre para beber Paris, com todos os seus encantos.

Sentado à mesa, colocada ao ar livre, de um típico café da grande metrópole francesa, em determinado momento notou que, a pouca distância, se encontrava uma bela mulher, presumivelmente francesa, diafanamente bela apesar de não usar pintura nenhuma, levando com muito charme, na cabeça, uma daquelas boinas usadas sobre o lado, tão do agrado das parisienses.

Nosso personagem encarou-a discretamente, a princípio. Insistiu no olhar, no que passou a ser retribuído, até que ambos sorriam, francamente, um para o outro. Já pensando numa abordagem, o brasileiro notou que ela chamava o garçon.

Ao chegar este à mesa dela, após um curto diálogo, de cujas palavras sequer podia ouvir o som, dado o burburinho de vozes no ambiente, piorado pelo tráfego intenso, viu que o serviçal alcançava para a moça um bloco de notas e um lápis.

A bonita mulher lançou-lhe mais um olhar extremamente enigmático antes de se deter a escrever algo na folha de papel à sua frente.

Concluída a escrita, dobrou a folha, delicadamente, sem tirar os olhos de nosso herói, enquanto com a mão direita acenava ao garçon.

Chegado este à sua mesa, ela entregou-lhe a folha em que escrevera.

O brasileiro, que a tudo observava, vibrou quando o empregado do café veio em sua direção portando o bilhete... para entregar-lhe, não tinha dúvidas.

Assim que o recebeu, abriu-o imediatamente. Num relance viu que era escrito com uma letra miúda e delicada, mas em francês, idioma que não conhecia.

Continua amanhã (v. parte II). 
Imagens da web

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Kenzo Tanaka, artista benfeitor de Pelotas

A Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal acaba de informar a morte do professor Kenzo Tanaka, ocorrida sexta (26) na cidade de Tsuyama, Província de Okayama, no Japão (veja nota). Natural de Osaka, completou 94 anos em julho passado, afetado pelo mal de Alzheimer.

Artista plástico e ensaísta, Tanaka concebeu o projeto da Praça Jardim de Suzu, que inicialmente ficaria ao lado da Rodoviária de Pelotas, depois seria no aeroporto, e hoje se localiza na avenida República do Líbano (dir.). Por burocracias municipais, o projeto ficou parado e foi sofrendo alterações, sem chegar a realizar as ideias originais. Vinte anos depois, ainda não se concretiza plenamente.

A praça homenageia a irmandade entre Suzu e Pelotas, primeiramente firmada por um acordo da Assembleia de Suzu em 1963. Era a primeira cidade japonesa a ser irmã de uma brasileira.

O professor universitário japonês visitou Pelotas pela primeira vez em 1969 e posteriormente voltou em 1993, quando concebeu o projeto da praça, que teria inclusive árvores trazidas do Japão (veja uma minibiografia escrita em 2008 pelo pelotense Luiz Carlos da Lessa Vinholes).

Tanaka foi condecorado pelo Governo do Distrito Federal em 5 de novembro de 1994, com a Medalha do Mérito Cultural. Em dezembro desse ano, obras suas foram expostas na Sala Frederico Trebbi, da Prefeitura de Pelotas. Em 2008, quando do centenário da imigração japonesa ao Brasil, outra comitiva visitou Pelotas, liderada pelo também professor e artista Eishun Tanaka (veja a notícia).
Foto ASCOM

domingo, 28 de outubro de 2012

Eduardo ou Marroni? Continuar ou reiniciar?

Nestas eleições, somente 50 municípios no Brasil (cerca de 1% do total) precisaram passar ao segundo turno. Pelotas é um deles, e tem uma segunda razão para ter, neste domingo (28) a atenção dos partidos mais fortes do país: aqui a confrontação é precisamente entre PT e PSDB (no fundo, privatização vs. socialização). Das 26 capitais brasileiras, 17 foram ao 2º turno, e somente 3 vivem o clássico 13 x 45 (São Paulo, João Pessoa e Rio Branco).

Em nossa cidade, a confrontação Lula & FHC é distante e não muito considerada. Apesar de serem invocadas as figuras de Dilma e Aécio, o pelotense considera isso artificial, pois não percebe a ideologia e sim os perfis pessoais de Fernando Marroni e Eduardo Leite.
  1. Por um lado, o caubói defensor dos pobres, que insiste desde 1996 em ser o único caudilho regional dos trabalhadores. O ex-prefeito tenta voltar ao poder para consertar o que deixou incompleto. Não necessariamente repetirá os erros do passado, mas é certo que governaria, se eleito, com seus poucos partidos de apoio e teria enorme oposição na Câmara.

  2. Por outro lado, o menino bonito e educado, que cresceu rapidamente como político à sombra de uma ampla e duradoura coalizão sem coerência ideológica. Se ganhar já na primeira vez, confirmará sua boa imagem e seu talento para a articulação política. Pouco tem ele a ver com a pessoa de Fetter (líder centrado na pessoa dele mesmo e com forte conteúdo ideológico); o que Eduardo sim representa é a coligação comum, muito mais pragmática que teórica.  
    No primeiro turno, o eleitor já distinguiu esses polos e deixou transparecer a preferência pelo segundo (o de continuidade), em alguns sinais sutis (veja detalhes em Os novos vereadores de Pelotas):
    • margem favorável a Eduardo Leite,

    • preferência pelos perfis de juventude e menor experiência,

    • importante voto de protesto socialista dirigido ao candidato do PSOL,

    • grande e inusual renovação na Câmara,

    • significativa maioria de vereadores da aliança de continuidade, com poucos vereadores de esquerda (4 PT, 2 PSB, 1 PMDB e nenhum PSOL ou PC do B).

     Hoje saberemos se o pelotense prefere continuar com a coligação tipo ônibus (com novo motorista), ou prefere retomar o projeto petista com o mesmo líder da década passada.

     A análise de futuro já foi feita nesta postagem e fica para ser comparada com os resultados reais das eleições.

     Nos vídeos, as entrevistas individuais de meia hora com cada candidato, realizadas pela TV UCPel.

    POST DATA
    17h50min Com 30% das urnas apuradas, Eduardo Leite tem 58% dos votos e Fernando Marroni 42% dos votos válidos (porcentagens aproximadas).
    18h Com 52% das urnas, mantém-se a proporção Eduardo 58%, Marroni 42%. A esta hora, o candidato em desvantagem ligou privadamente para o outro, cumprimentando-o pela vitória.
    18h10min Com 61% das urnas, Eduardo tem 57,5% e Marroni 42,5%. 
    18h20min Com 73% das urnas, Eduardo tem 57,3% e Marroni 42,7%.
    18h30min Com 86% das urnas, Eduardo tem 57,2% e Marroni 42,8%. A esta hora, o candidato perdedor discursou para a imprensa dizendo que seguirá como deputado federal. Agradeceu a seus familiares e partidários, sem mencionar o adversário.
    19h05min Resultados finais: Eduardo Leite 57,154% e Fernando Marroni 42,846%. 

    sexta-feira, 26 de outubro de 2012

    O pop latino de Gahuer

    Gahuer Carrasco apresenta este sábado (27) no Clube Comercial seu novo espetáculo "Imprescindible", que reafirma seu amor pela música latino-americana. O cantor violonista aposta com persistência numa variadíssima mescla de instrumental erudito e pop romântico de diversas épocas, tendo como linha condutora a cultura hispânica, que une públicos de todas as idades e de todos os graus educacionais (veja postagem com sua interpretação de Asturias).

    Entrevistado pelo sítio Cultive Ler há um ano (abaixo), ele reconhece que a timidez o inibiu a cantar, desde os inícios da formação, pelo qual a dedicação ao violão instrumental foi máxima. Mas a paixão pela canção latina, a dedicação permanente, os contatos no meio artístico, a facilidade para mover-se em meios bilingues "cantaram mais alto" e hoje se vê o seu progresso em todas as áreas: as composições autorais, as produções audiovisuais, a qualidade dos arranjos, a expressão cênica e a técnica vocal.

    Bloco de Duas Rodas

    O Bloco de Duas Rodas é formado por Ruan Libardoni (integrante da banda pelotense Vade Retrô) e por Gabriela Lamas. Sendo dois jovens que cantam e tocam música, eles têm seu grupo como mais que uma dupla e menos que uma banda. Preferem chamá-lo simplesmente de "bloco", um conjunto bem unido de coisas bem variadas: uma bicicleta azul anos trinta, violão, escaleta, gaita de boca, triângulo, uma grade de estufa tocada com uma colher, e uma série de inventos sonoros.

    Gabriela e Ruan compõem suas músicas, inclusive de improviso, de acordo ao que eles querem dizer sobre a vida cotidiana, seus amores, sentimentos e pontos de vista. 

    O Bloco pode definir-se como veículo de canções autorais, com som acústico e experimental, ao estilo folk urbano pós 1970.

    Em 2011 estiveram no Quadrado, no Piquenique Cultural, Feira do Livro (de Pelotas e de São Lourenço do Sul), Bar Monjolo, João Gilberto, campus II da UCPel e numa turnê pela Serra Gaúcha (Gramado e Canela).

    Em 2012 não se apresentaram, ou não foram anunciados, e seu blogue Bloco de Duas Rodas deixou de receber postagens.

    No vídeo (acima), a música "Ticket", na produção de Carolina Monteiro e Francine Gonzales para a cadeira de Videoclipe e Séries, ministrada pelo professor Josias Pereira no curso de Cinema da UFPel.

    quinta-feira, 25 de outubro de 2012

    Prelúdios de Liszt (crônica)

    Deogar Soares escreveu esta crônica imaginária em outubro de 1983, com declarada inspiração no Poema Sinfônico nº 3 de Franz Liszt, conhecido como "Os Prelúdios". Ouça a música durante a leitura clicando no vídeo abaixo. Outros textos de Deogar encontram-se no livro "Voo Livre", organizado por Andréa Heidrich (EDUCAT, 2012).

    "Rocky Mountain Train", de Lynn Maverick Denzer
    Onda curta de uma rádio europeia. O som vai e vem. Não faz frio, esta noite na Serra do Marquês. Brisa de primavera. O trem da madrugada passou há pouco, singrando a linha férrea, lá embaixo, no vale, deixando a fumaça parada no ar de plenilúnio.

    1957. Outubro. O perfume das damas-da-noite mistura-se ao cheiro do carvão-de-pedra. O relógio de parede dispara três toques lânguidos. Os altos e baixos da onda curta imitam os contornos das colinas.

    Tem música no ar, aqui dentro. Lá fora o luar não atrapalha o pisca-pisca dos pirilampos vagabundos. Daqui, da face interior da janela, acompanho suas fintas. Aquele que acendeu agora será o mesmo que apagou há pouco?

    Prelúdios de Liszt. Três janelas e uma porta. Venezianas abertas. A cadela vem dormir aos meus pés, sobre o pelego. Seus filhotes de três dias adormeceram na cozinha, debaixo do fogão a lenha. Minha saliva guarda ainda o gosto do mate. Notas e acordes organizados por Liszt impedem-me de dormir e, no entanto, convidam-me a sonhar. Pianíssimo. Violinos chegam, docemente. Eu parto para os campos como nuvem, sem sair do plano físico. Corpo na varanda, alma forasteira sobre a serra enluarada.

    No bosque, os animais dormem, e a suavidade da música completa a penumbra do luar nas trilhas de cada cerro. Gerânios mal se mexem nas molduras dos canteiros. Passa ao longe, e muito alto, um bando de marrecas tagarelas a caminho de algum lago prateado.

    Outubro, 1957. Madrugada. Agradeço, à gentileza desta solidão amável, a paz de um homem só, na infinidade dos próprios sentimentos e emoções infrenes. Sou grato à paradisíaca Serra do Marquês, com suas encostas íngremes, onde escalo meus sonhos em sendas luxuriantes de flores e árvores frondosas.

    Das ausências sobra tanta quietude, e institui-se a pátria do sossego nestas terras de mentira. Quanto conforto no pressuposto desejado. Como te adoro, minha Serra do Marquês, que a mentira fez invenção geográfica nas bordas dos meus sonhos, a sudoeste da verdade.

    A música está vibrando seus derradeiros acordes em apoteose. O mundo real está voltando. Há um prelúdio. É o de Liszt. Adeus, minha solitária imaginação.
    Deogar Soares

    Imagens: Fine Art America (1), UD (2)
    Vídeo: Filarmônica de Viena, Valery Gergiev

    quinta-feira, 18 de outubro de 2012

    Joquim, segundo Vítor

    A canção "Joquim" [djôukin] foi composta por Vítor Ramil para o disco "Tango" (1987), à base da americana "Joey" (1976), com letra de Jacques Levy e música de Bob Dylan (veja a letra original, uma versão em inglês e uma adaptação cantada em italiano). Na época, esta música foi polêmica, por defender o ponto de vista de um bandido nova-iorquino, Joey Gallo (1929-1972).

    O gaúcho Joaquim Pedro Salgado Filho, Ministro da Aeronáutica em 1943,
    homologou o avião "Cidade de Pelotas", construído por Joaquim Fonseca.
    Na transcriação (reconstrução criativa adaptada a outra situação), Ramil usou a mesma estrutura musical para exaltar e mitificar o pelotense Joaquim da Costa Fonseca Filho (1909-1968), não precisamente um criminoso, nem sequer um rebelde político.

    O Joaquim histórico foi um mecânico e aviador autodidata, científico adiantado a seu tempo, e hoje esquecido e desconhecido da maioria.

    Escudado nesse desconhecimento real e injusto, o texto de "Joquim" idealiza o inventor (a começar pelo apelido inventado do herói e de sua cidade), numa verdadeira ficção biográfica. A imagem de revolucionário político, injustiçado por ditaduras, é um mito heroico criado pelo compositor, numa fusão de figuras como Graciliano Ramos e outros intelectuais perseguidos. O paralelismo entre Joey/New York e Joquim/Satolep sugere com sutileza, também, que as duas cidades possam ser sentidas como espaços imaginários de traços frios e escuros (metrópole = cidade-mãe).

    As várias licenças poéticas e dados não reais, contidos na letra, são explicados por Sérgio Luiz Peres de Peres na dissertação de mestrado Uma História de Invenções: memória, narrativa e biografia em Joaquim Fonseca  (UFPel, 2009). Do mesmo autor, há um resumo biográfico (real) no artigo O Faz-Tudo Voador.

    Vítor Ramil apresentou esta música no "Tangos e Tragédias", personificando o Barão de Satolep, outra de suas criações à base de mitos pelotenses. Abaixo da letra completa, confira a experiência artística de outro pesquisador em busca da verdade do Joaquim engenheiro e inventor.

    Satolep, noite, no meio de uma guerra civil, O luar na janela não deixava a baronesa dormir, A voz da voz de Caruso ecoava no teatro vazio: Aqui nessa hora é que ele nasceu, segundo o que contaram pra mim.
    Joquim era o mais novo, antes dele havia seis irmãos. Cresceu o filho bizarro com o bizarro dom da invenção. Louco, Joquim louco, o louco do chapéu azul. Todos falavam e todos sabiam quando o cara aprontava mais uma.
    Joquim, Joquim  Nau da loucura no mar das ideias 
    Joquim, Joquim  Quem eram esses canalhas que vieram acabar contigo?
     Muito cedo ele foi expulso de alguns colégios e jurou: “Nessa lama eu não me afundo mais”. Reformou uma pequena oficina com a grana que ganhara vendendo velhas invenções. Levou pra lá seus livros, seus projetos, sua cama e muitas roupas de lã. Sempre com frio, fazia de tudo pra matar esse inimigo invisível.
    A vida ia veloz nessa casa no fim do fundo da América do Sul: O gênio e suas máquinas incríveis, que nem mesmo Júlio Verne sonhou, Os olhos do jovem profeta vendo coisas que só ontem fui ver.
    Uma eterna inquietude e virtuosa revolta conduziam o libertário.
    Dezembro de 1937, uma noite antes de sair, chamou a mulher e os filhos e disse: “Se eu sumir procurem logo por mim”. E não sei bem onde foi; só sei que teria gritado a uma pequena multidão: “Ao porco tirano e sua lei hedionda nosso cuspe e o nosso desprezo!”
    Joquim, Joquim  Nau da loucura no mar das ideias 
    Joquim, Joquim  Quem eram esses canalhas que vieram acabar contigo?
     No meio da madrugada, sozinho, ele foi preso por homens estranhos. Embarcaram num navio escuro e de manhã foram pra a capital. Uns dias mais tarde, cansado e com frio, Joquim queria saber onde estava. E num ar de cigarros, de uns lábios de cobra, ele ouviu: “Estás onde vais morrer”.
    Jogado numa cela obscura, entre o começo do inferno e o fim do céu, Foi ali que, depois de muitas histórias, a mulher enfim o encontrou. E ele ainda ficou ali por mais dois anos, sempre um homem livre apesar da escravidão, As grades, o frio, mas novos projetos, entre eles um avião.
    O mundo ardia na guerra quando Joquim louco saiu da prisão. Os guardas queimaram os projetos e os livros, e ele apenas riu, e se foi. Em Satolep alternou o trabalho com longas horas sob o sol, Num quarto de vidro, no terraço da casa, lendo Artaud, Rimbaud, Breton.
    Joquim, Joquim  Nau da loucura no mar das ideias 
    Joquim, Joquim  Quem eram esses canalhas que vieram acabar contigo?
     No início dos anos 50, ele sobrevoava o Laranjal Num avião construído apenas das lembranças do que escrevera na prisão. E decidido a fazer outros, outros e outros, Joquim foi ao Rio de Janeiro, Aos órgãos certos - os competentes de porra nenhuma -, tirar uma licença.
    O sujeito lá responsável por essas coisas lhe disse: “Está tudo certo, tudo muito bem. O avião é surpreendente, já vi, mas a licença não depende só de mim”. E a coisa assim ficou por vários meses, o grande tolo lambendo o mofo das gravatas Na luz esquecida das salas de espera, o louco e seu chapéu.
    Um dia alguém lhe mandou um bilhete decisivo e, claro, não assinou embaixo. “Desiste”, estava escrito, “muitos outros já tentaram e deram com os burros n´água. É muito dinheiro, muita pressão, nem Deus conseguiria”. E o louco cansado, o gênio humilhado voou de volta pra casa.
    Joquim, Joquim  Nau da loucura no mar das ideias 
    Joquim, Joquim  Quem eram esses canalhas que vieram acabar contigo?
     No final de longa crise depressiva, raspou completamente a cabeça E voltou à velha forma com a força triplicada por tudo o que passou. Louco, Joquim louco, o louco do chapéu azul, Todos falavam e todos sabiam que o cara não se entregava.
    Deflagrou uma furiosa campanha de denúncias e protestos contra os poderosos. Jogou livros e panfletos do avião, foi implacável em discursos notáveis. Uma noite incendiaram sua casa e lhe deram quatro tiros. Do meio da rua ele viu as balas chegando lentamente.
    Os assassinos fugiram num carro que, como eles, nunca se encontrou. Joquim cambaleou ferido, alguns instantes, e acabou caído no meio-fio. Ao amigo que veio ajudá-lo, falou: “Me dê apenas mais um tiro, por favor. Olha pra mim, não há nada mais triste que um homem morrendo de frio”.
    Luciano Boeira é um professor que ensina Física cantando, em Porto Alegre, e compõe músicas cujas letras são resumos de capítulos da matéria. Ele pesquisou com seus alunos sobre a vida real de Joaquim Fonseca e publicou artigos e um resumo sobre o que descobriu (veja as postagens no seu blogue Cantando a Física e no seu canal YouTube). Imagem: Galeria de Joquim no Flickr

    POST DATA 17-3-13
    Veja uma biografia de Joaquim da Costa Fonseca Filho.

    segunda-feira, 15 de outubro de 2012

    Começa a duplicação do Contorno de Pelotas


    Há dois meses (20-08) foi formalizado publicamente o início da duplicação das vias do Contorno Rodoviário de Pelotas, desde a Ponte do Retiro até os trevos de acesso a cidades vizinhas. São 24 km de estrada, cada vez mais usados por caminhões com cargas pesadas e até mesmo perigosas. O cruzamento mais utilizado talvez seja o vizinho à FENADOCE, com acessos de entrada e saída da cidade (acima).

    O governo federal já autorizou a duplicação das rodovias BR 116 e BR 372, que comunicam Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, e as obras já começaram (veja nota no SkyscraperCity). O Diário Popular postou o vídeo de 16 minutos que explica o projeto (abaixo).


    Estas rodovias de alta velocidade, de circundação da zona urbana e delimitação da zona rural, exigirão grandes viadutos, ruas paralelas e rótulas bem sinalizadas, para não causar acidentes ou transtornos de orientação. Um dos primeiros entroncamentos, para quem vem do norte, é a antiga entrada a Pelotas pelo grande bairro das Três Vendas (abaixo).

    Nos anos 60, o governo militar asfaltou os 250km à Capital do Estado e desmontou, paralelamente, a rede ferroviária nacional, hoje abandonada e em estado de sucata. Por outro lado, o transporte aéreo e o aquático são caros e precários, sendo que deveriam ser modernos e exemplares. O progresso chega a nossa região, mas com os critérios ainda do século XIX, como maquiagem nova para uma velha cidade, sem contemplar a economia do futuro nem os problemas sociais gerados pelo sistema capitalista.

    Espera-se que em 2020 esteja pronta a duplicação rodoviária entre Porto Alegre e Rio Grande... E nossas melhorias urbanas, daqui a quanto tempo terão essa mesma rapidez e perfeição?

    Veja fotos atualizadas dos trabalhos no blogue e notícias Almanaque da Zona Sul.

    Imagens: Caminhos do Sul

    domingo, 14 de outubro de 2012

    Simone Passos ao piano

    Simone e Matheus
    Esta segunda (15) às 18:30, na Fábrica Cultural, Simone Passos (voz) e Matheus Cardozo (teclado) voltam a apresentar-se no Projeto Sete ao Entardecer, com clássicos da MPB e novidades em inglês.

    O show anterior foi em 2011, com músicas como Garota de Ipanema, Samba de Orly, Desafinado, As Rosas não Falam, Sá Marina e Samba de uma nota só.

    A vocalista e o tecladista da Banda Mídia abordam o pop brasileiro e internacional arranjado somente para voz e piano, no "formato barzinho", adequado para espaços menores e públicos mais sensíveis. Ao evoluir assim, a ideia é melhorar a qualidade de interpretação das letras e melodias, mantendo o interesse central pela revitalização da MPB dos anos 60 em diante.

    Simone Passos
    Em 2010, eles vieram com toda a banda (veja nota), voltando em 2011 e 2012, sempre no seu estilo mais vibrante ("formato festa", para espaços amplos), que vinham cultivando com sucesso desde a formação do grupo em 2003. Veja no YouTube uma de suas apresentações na Feira do Livro em 2011, registrada pelo estudante de Jornalismo Vinicius Braga Conrad.

    Não confundir a Banda Mídia pelotense com a paulista de mesmo nome, conhecida como Máquina do Som, formada na década de 1990 (veja o sítio). Há outra gaúcha, nascida em 2012, que aparece no Facebook como Banda Mídia Nacional, e uma banda mineira chamada Cidade Mídia, todas no formato multitudinário e barulhento.
    Fotos: divulgação e L. De Leon (2)

    sábado, 13 de outubro de 2012

    Criação artística contribui à saúde mental

    O Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro) foi celebrado com arte no Hospital Escola: nesse dia o Corredor Arte montou uma exposição das Oficinas de Criação Coletiva, um projeto de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFPel. A mostra pode ser visitada até 29 de outubro.

    As Oficinas de Criação Coletiva têm sentido terapêutico e preventivo, buscando reabilitar a inserção social de pessoas com sofrimento psíquico. O método usado são oficinas sócio-educativas, culturais, artísticas e de lazer. Tais atividades são interdisciplinares (atuam psiquiatras, assistentes sociais e artistas plásticos).

    As reuniões são semanais e realizam-se em Unidades Básicas de Saúde e no Ambulatório Especializado da UFPel. Nesta exposição os trabalhos coletivos do grupo da Faculdade de Medicina foram orientados pelas artistas Nauri Saccol e Helena Badia.

    A saúde mental inclui fatores tão importantes como a expressão de sentimentos e a busca de realização pessoal, e a criação artística ajuda de modo central nesses processos psicológicos. A arte como instrumento de cura ajuda a evidenciar e resolver conflitos emocionais, facilitando a percepção de si mesmo e abrindo caminhos de desenvolvimento pessoal.

    Além dos efeitos de alívio interno e de ressocialização, as oficinas de artes desenvolvem talentos escondidos, que podem significar que a sociedade ganhe uma nova voz artística e que a pessoa encontre sua vocação ao dedicar-se de modo estável a sua produção.

    Um desses casos é o de Ivo Gomes, usuário de um CAPS que em 2011 mostrou no Corredor Arte sua primeira produção (veja o post Primeira individual de Ivo Gomes).
    Fotos: Corredor Arte

    Palestrantes do Forum sobre Violência

    Izaías, Maria José, Francisco, Lisiane e Fernanda
    Na quinta 20 de setembro, o programa Entre Nós, conduzido pela jornalista Fernanda Puccinelli na TV Cidade, tratou sobre o Fórum Permanente de Discussão sobre Violência Doméstica, uma iniciativa da Secretaria de Igualdade Social, em parceria com outras secretarias e entidades públicas.

    O programa é feito ao vivo, na sede da TV Cidade, e gravado para retransmissão em outros horários (veja outras edições no videolog do programa Entre Nós).

    Os painelistas deste programa foram a gerente de Projetos Especiais da SIS, Maria José Garcia, e três dos palestrantes do Fórum: o tenente Izaías Góes (Brigada Militar), a delegada Lisiane Mattarredona (Delegacia para a Mulher) e o psicólogo Francisco Vidal (Secretaria de Cidadania e Assistência Social). A conversa tratou sobre as causas da violência doméstica e formas de preveni-la, na educação e na convivência.

    O Forum busca promover a paz social, mediante palestras em escolas municipais, debates em meios de comunicação e outras atividades que a comunidade solicitar. Até dezembro serão realizados alguns encontros, em locais já agendados, e ainda podem ser outros solicitados à gerência de Projetos da SIS.

    Entre as entidades parceiras encontram-se, além das mencionadas acima (SIS, BM, DM, SMCAS), a Secretaria Municipal de Saúde, a de Educação e Desporto, e a O.N.G. Gesto.
    Foto: F Puccinelli

    sexta-feira, 12 de outubro de 2012

    Corte da FENADOCE 2013

    Corte Real 2013: Princesa Bárbara, Rainha Mônica e Princesa Cíntia

    Na sexta (5) foi realizada a escolha da corte real da 21ª FENADOCE, que reinará durante 2013. O número de candidatas tem aumentado (este ano inscreveram-se 38), em relação com o sucesso do evento e talvez com a ainda recente comemoração dos 200 anos; o registro mais alto até hoje é de 42 candidatas, ocorrido na 12ª edição, em 2004, como foi informado pelo sítio da Feira.

    O fato quase coincidiu com as eleições municipais (domingo 7), que parecem ter feito a FENADOCE sumir da vida da cidade e do noticiário local. No entanto, é de praxe que a eleição anual da corte doceira não desperte muito interesse na imprensa pelotense, que foca principalmente na área política, econômica e administrativa. Celebridades e rainhas de beleza despertam mais atenção dos internautas. Sinal disso é que, neste blogue, a postagem Corte da FENADOCE 2012 é a mais acessada até hoje.

    A Rainha da FENADOCE 2013 é Mônica Bruno Fonseca, de 18 anos. Ela trabalha como recepcionista na empresa de tecnologia Gestor S.A. e como modelo de publicidade. Esta foi a terceira vez que ela concorreu à corte e representa a Imperatriz Doces Finos.

    Em fevereiro de 2012, Mônica (esq.) foi uma das vencedoras do concurso Garota Verão Pelotas, pelo Balneário Valverde (veja nota). Matriculou-se este ano no IF-Sul para estudar o curso de Gestão de Cooperativas.

    Na inscrição como candidata, Mônica declarou como qualidade "ser espontânea". Livro preferido: "O Monge e o Executivo". Música predileta: "Pelotas", de Kleiton e Kledir. Um filme: Uma lição de amor (I am Sam). Estas escolhas parecem mostrar um forte diálogo entre razão e sentimento e um grande interesse pela justiça e o bem comum.

    Entre muitas perguntas e exigências, o concurso fez as candidatas escreverem "um fato importante para a história de Pelotas", e Mônica respondeu o seguinte:
    Certas pessoas têm por conhecimento de que foram apenas os Portugueses que contribuíram para as receitas dos doces de Pelotas, quando na verdade os escravos também tiveram grande importância na cultura gastronômica doceira da cidade. 
    Por exemplo, o Quindim (nome africano que significa dengo ou encanto), é o doce mais vendido na Feira Nacional do Doce, e os escravos contribuíram significativamente nesta receita.  
    Nos conventos, as roupas das freiras, eram engomadas com a clara dos ovos, e a gema acabava por ser jogada aos porcos ou dada aos escravos. 
    Logo, a quantidade de gemas aliado à fartura do açúcar que vinha das colônias portuguesas, serviu como inspiração inicial para o surgimento de experimentos doceiros à base da gema de ovos, realizados pelos escravos e cozinheiras dos conventos.


    Bárbara Gonçalves de Freitas, é Princesa da 21ª FENADOCE. Tem 21 anos e estuda Nutrição na UFPel desde 2011. Esta foi a segunda vez que ela concorreu à corte e representa a loja 5 Marias.

    Como principal qualidade, Bárbara se declara "determinada". Livro preferido: "Comer, Rezar e Amar". Música: "Agora só falta você", de Rita Lee, cantada por Maria Rita (veja uma versão ao vivo). Filme: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

    Juntando sensibilidade, aventura e espírito contraventor, como sugerem estas preferências, nossa nova Princesa poderá colocar muita simpatia, movimento e criatividade nesta corte da FENADOCE.

    Cíntia Viera de Moura é a outra Princesa da Fenadoce 2013. Com 17 anos, ela é a mais jovem desta corte, e ganhou este título já na primeira vez em que concorria, representando o Esporte Clube Pelotas. Está estudando para o ENEM e trabalha em uma loja de conveniências.

    Perguntada sobre uma de suas qualidades, ela respondeu ser "uma pessoa comunicativa e pontual". Um livro preferido: "O Pequeno Príncipe". Música predileta: "Glad You Came", com The Wanted (vídeo oficial). Um filme: À Espera de Um Milagre (The green mile).

    Segundo os organizadores, Cíntia teve a votação online mais alta, sendo a preferida do público no Facebook. O fato de ser escolhida também para a corte oficial já na primeira vez faz esta nova Princesa uma forte candidata para novos concursos de beleza.

    Veja a Corte da FENADOCE 2012 (Rainha Melissa),
    Corte da FENADOCE 2011 (Rainha Karen),
    Corte da FENADOCE 2010 (Rainha Tainise), e
    Doce pausa com três doçuras (Rainha Juliana Büttenbender).
    Fotos: Facebook e FENADOCE

    A roda fazia nossa infância girar

    Todos os dias eram para nós Dia da Criança se conseguíssemos ir brincar na praça. A roda centrífuga nos dava a magia de viajar no mesmo ponto do espaço, girando com outros astronautas na mesma espiral. Hoje ela seria para nós a máquina do tempo, se pudéssemos ver outras crianças ocupando ali nosso lugar. Éramos felizes e não sabíamos.

    Mas, como vimos há dois anos (v. Poética do vazio na Praça Osório), a roda saiu da pracinha de brinquedos, para não voltar mais. Quando Mara Braga era criança, sua felicidade foi fotografada e agora essa imagem nos serve como máquina do tempo, para voltar aos anos 60, e recordar (ou descobrir) a época em que o Edifício Embaixador (esquina norte da Barão de Butuí) ainda estava em construção.

    quarta-feira, 10 de outubro de 2012

    O imaginário de Maria Claria Leiria

    Maria Clara Leiria dos Santos apresenta uma série de novos trabalhos que batizou com a frase “...são imagens que povoam meu imaginário”. As obras ficam no espaço arte do Bar João Gilberto desde esta sexta (12) até a primeira semana de novembro.

    Maria Clara é natural de Pelotas, formada em desenho e artes plásticas pela UFPel e com graduação em Artes Visuais pela URCAMP. Participou de cursos e de exposições individuais e coletivas, no Brasil e exterior, e obteve premiações em diversos salões de artes plásticas.

    Nas artes plásticas, as figuras humanas não são em si coisa nova ou rupturista, mas a forma de pintá-las pode ser instigante ou mesmo incômoda. Por exemplo, pela acentuação de traços físicos (nariz, olhos, mãos) , pela sugestão de psicopatologias (depressão, apatia, sadismo) ou por identidades confusas (homem/mulher, criança/velha).

    O imaginário de Maria Clara mostra seres humanos com corpo e cabeça, mas com características indefinidas ou anômalas.  A artista diz o seguinte, conforme a informação dos organizadores:
    Através da minha obra grito, vocifero, desafio o pré-estabelecido e provoco os conservadores.  
    Procuro mexer com o público, romper com a figuração tradicional que se faz como um corpo aberto ao diálogo que interage. 
    Pinto emoções, me ocupo da tragédia e do absurdo... 

    A mensagem se refere às doenças ou à imaturidade mental que cada pessoa contém em seu interior, e não à aparência social, que impõe o uso de máscaras. Por fora mostramos caras amáveis, harmônicas e adaptadas às expectativas dos demais, mas por dentro a pessoa pode estar chorando, odiando ou buscando-se a si mesma. As figuras sugerem parte dessas incômodas tarefas sem resolver e se constituem menos em descrições de nossas belas construções do que em denúncias do que falta que o ser humano melhore.
    Imagens: divulgação

    segunda-feira, 8 de outubro de 2012

    Os novos vereadores de Pelotas

    PSOL exigiu renovação mas não elegeu vereador 
    Para o período 2013-2016, a formação da Câmara Municipal sofreu uma importante mudança. Uma renovação já era esperada, devido ao aumento de cadeiras (de 15 para 21) e à retirada de meia dúzia de vereadores que não buscaram a reeleição.

    Com as votações de ontem (7-10), confirmou-se a tendência oxigenante, com mais 3 vereadores que não obtiveram reeleição, e 2 ex-vereadores que não conseguiram os votos necessários para retornar à Câmara (v. quadro abaixo).

    Assim, 12 dos 21 eleitos (57%) nunca antes foram vereadores, proporção bem mais alta da que se esperava até ontem. Se a tendência geral da última década - de reeleger a maioria - se repetisse agora, os novos seriam somente 8 (38%).

    Oito vereadores novos ainda seria uma boa evolução, pois no mandato anterior não houve renovação alguma. Mas treze é ainda melhor. Parece que a mensagem repetida pelo PSOL - fácil de entender - foi ouvida no que se refere ao Legislativo local.

    Continuísmo vs. mudança

    Pelotenses já não querem
    humoristas na Câmara
    Por um lado, as 10 primeiras votações revelam que uma boa parte dos eleitores não esquece as velhas figuras e os velhos costumes políticos (Anselmo "Governaço" insiste no apelido antiquado e inadequado, que mais nada tem a ver com a realidade).

    Por outro, a não aceitação dos candidatos mais despreparados para a vida política (como atores, humoristas, radialistas, pastores, comerciantes, lutadores) dá um ar de esperança sobre a consciência dos pelotenses sobre a qualidade de seus legisladores. Na vida pública democrática, todos podem concorrer, mas só os melhores são escolhidos.

    A preferência continuísta do eleitorado também se nota no fato de que somente 7 dos vereadores agora eleitos (33%) pertencem a coligações oposicionistas ao atual Executivo (4 PT, 2 PSB, 1 PMDB). Entre comunistas e pessolistas, somente um teve mais de mil votos. Os 14 "situacionistas" são: 3 PDT, 2 PPS, 2 PSDB, 2 PTB, 2 PP, 2 DEM, 1 PRB).

    Se os pelotenses forem coerentes com essa tendência conservadora, escolherão como prefeito (no 2º turno) o candidato de continuação (Eduardo Leite, PSDB). Os esquerdistas mais puros optarão por Fernando Marroni (PT), mas a heterogênea coligação de Leite também inclui partidos que nada têm a ver com a direita tradicional (como PDT e PPS).

    Outro indício de velhos costumes que não evoluem: seis mulheres estão entre os 39 nomes mais votados (quadro abaixo), mas nenhuma obteve a ocupação de uma vaga na Câmara.

    Fenômeno estranho, totalmente devido ao regulamento eleitoral, foi o número de votações altas que não permitiram a eleição de diversos candidatos. A tendência a ficar de fora, mesmo com muitos votos, é difícil de explicar à população, pela falta de lógica dos números. Os dados seguintes (em negrito os eleitos; os outros ficam como suplentes) foram tomados do portal da Rede Globo.


    Anselmo “Governaço
    PDT
    5.801
    José Sizenando (vereador reeleito)
    PPS
    5.305
    Waldomiro Lima (vereador reeleito)
    PRB
    3.819
    Ivan Duarte (vereador reeleito)
    PT
    3.776
    Marcus Cunha 
    PDT
    3.470
    Ademar Ornel (vereador reeleito)
    DEM
    3.333
    Luís Henrique Viana 
    PSDB
    3.267
    Marcola 
    PT
    3.102
    Idemar Barz (vereador reeleito)
    PTB
    2.979
    Roger Ney (vereador reeleito)
    PP
    2.979
    Ricardo Santos 
    PDT
    2.737
    Rafael Amaral 
    PP
    2.545
    Tenente Bruno 
    PT
    2.436
    Beto da Z-3 (vereador reeleito)
    PT
    2.303
    Dionízio 
    não eleito
    2.293
    Professor Adinho (vereador reeleito)
    PPS
    2.255
    Vicente Amaral 
    PSDB
    2.230
    Mansur Macluf (vereador 1969-2008) 
    não reeleito
    2.219
    Dila Bandeira
    não eleito
    2.215
    Zilda Bürkle
    não eleita
    2.210
    Salvador Ribeiro 
    PMDB
    2.210
    Anderson Garcia 
    PTB
    2.160
    Vitor Paladini 
    PSB
    2.116
    "Fran" Souza
    não eleita
    2.094
    Pedrinho   (atual vereador)
    não reeleito
    2.065
    Conceição Mohnsam
    não eleito
    1.823
    "Miltinho" Martins (atual vereador)
    não reeleito
    1.813
    Sidnei Fagundes
    não eleito
    1.731
    Cecília Hypolito (vereadora 1989-1993)
    não reeleita
    1.714
    Diaroni Santos (atual vereador)
    não reeleito
    1.573
    Marcão
    não eleito
    1.447
    Luciane Almeida
    não eleita
    1.446
    Gaúcho (vereador 1997-2000)
    DEM
    1.423
    Reinaldo Magalhães
    não eleito
    1.385
    Professor Antônio Andreazza
    não eleito
    1.303
    Daniel Volcan
    não eleito
    1.271
    Daiane Dias
    não eleita
    1.252
    Eneias Clarindo
    não eleito
    1.198
    Antônio Peres 
     PSB
     1.177