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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Cidades irmãs, tão longe e tão perto

O Diário do Matuto, do professor de História rio-grandino Felipe Nóbrega, usa linguagem educada e elegante, mas a crítica é impiedosa. Nesta crônica, que foi despertada pelo aniversário dos 200 anos, o tema é Pelotas e seu momento atual em relação a Rio Grande: segundo o autor, a primeira se desenvolve (culturalmente) mas não enriquece, e esta cresce (na economia) e se vulgariza. 

O autor conhece bem as duas cidades, mas as descreve em tom depreciativo, como duas irmãs que se invejam e maltratam desde o nascimento. Ele não faz ficção, mas traça um panorama tragicômico. Ambas são antigas e empobrecidas, mas Pelotas sabe usar seu bairrismo para atrair turistas (Pelotas, cidade tão rica). O público pelotense é culto mas não consegue ter um bom cinema (A cidade que merece filmes piratas). 
O Matuto percebe Pelotas como subúrbio habitacional de Rio Grande e também como bairro cultural e intelectual. Para ele, o porto marítimo seria somente um bairro de empregos. Não haveria um centro ou matriz; somente fragmentos urbanos. Veja na Wikipédia o conceito de cidade dormitórioCom tal pessimismo, estes municípios nunca se associariam, ficando para sempre como caricaturas. 

O Canal São Gonçalo já foi proteção que permitiu o crescimento econômico; hoje parece uma muralha intransponível.


Pelotas tem muita dificuldade em admitir um sintoma: está se tornando uma cidade dormitório de Rio Grande. E a tendência é cada vez mais entrar nesse movimento no qual Rio Grande é o local onde se ganha dinheiro, Pelotas é o local onde se gasta e se dorme.

Recapitulando: Pelotas era parte de Rio Grande, virou cidade, se transformou num polo econômico fundamental do Estado, estagnou. Rio Grande, por vias de uma política pública federal do governo Lula, recebeu o investimento do Polo Naval, cresceu, não se desenvolveu e fez com que Pelotas voltasse à cena para abocanhar a fatia de serviços que Rio Grande não é capaz de prestar – fundamentalmente, um comércio de qualidade e cultura.

Não é raro ouvir ironias antipelotenses como esta.
O prefeito Fetter Jr. não escondeu o desconforto ao ser perguntado sobre o fato do reaquecimento da economia pelotense estar diretamente ligado, e ser devedor, do Polo Naval na cidade vizinha. Desdobrou-se em oito para não admitir isso.

O motivo? Bem, Rio Grande e Pelotas é como um eterno Brasil-Argentina. Outro motivo: o partidário. Fetter não reconheceria que é por vias de uma administração petista que a Região Sul do Estado voltou a ser importante no cenário nacional. Seria demais para ele assumir a dupla derrota em tempos de duzentos anos.

Não há como negar que a infraestrutura de Pelotas é infinitamente maior do que a de Rio Grande – em se tratando de prestação de serviços e comércio. Mas não fica só por aí, na questão cultural não existe nível de comparação entre as duas cidades.

É vergonhoso que Rio Grande consiga ter apenas um ou dois bares que não se rendem ao pagode universitário, sertanejo universitário e funk universitário após ás duas da madrugada. Do mesmo jeito, é gritante a diferença no que tange à possibilidade de espaços para exposições, pontos de cultura e afins – em Rio Grande esses espaços ainda estão grudados nas mãos de uma elite moribunda.

Vira-lata à espera do Primo Rico.
Claro que Pelotas tem seus problemas, aliás, muitos que estão debaixo do tapete nessa festa de 200 anos, mas não há como negar que a cidade soube fazer uso da própria tradição para ganhar dinheiro.

E tanto sabe que, mesmo não sendo a cidade polo dos investimentos, está tirando mais proveito do que a própria Rio Grande quando o assunto é “desenvolvimento” e não “crescimento”.

Pelotas, mesmo como uma cidade dormitório que ainda não se assumiu, continua sendo o Primo Rico da cidade com síndrome de vira-lata chamada Rio Grande.

Felipe Nóbrega
6 julho 2012
Fotos: L. Bittencourt e Diário do Matuto

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