O Diário do Matuto, do professor de História rio-grandino Felipe Nóbrega, usa linguagem educada e elegante, mas a crítica é impiedosa. Nesta crônica, que foi despertada pelo aniversário dos 200 anos, o tema é Pelotas e seu momento atual em relação a Rio Grande: segundo o autor, a primeira se desenvolve (culturalmente) mas não enriquece, e esta cresce (na economia) e se vulgariza.
O autor conhece bem as duas cidades, mas as descreve em tom depreciativo, como duas irmãs que se invejam e maltratam desde o nascimento. Ele não faz ficção, mas traça um panorama tragicômico. Ambas são antigas e empobrecidas, mas Pelotas sabe usar seu bairrismo para atrair turistas (Pelotas, cidade tão rica). O público pelotense é culto mas não consegue ter um bom cinema (A cidade que merece filmes piratas).
O Matuto percebe Pelotas como subúrbio habitacional de Rio Grande e também como bairro cultural e intelectual. Para ele, o porto marítimo seria somente um bairro de empregos. Não haveria um centro ou matriz; somente fragmentos urbanos. Veja na Wikipédia o conceito de cidade dormitório. Com tal pessimismo, estes municípios nunca se associariam, ficando para sempre como caricaturas. O Canal São Gonçalo já foi proteção que permitiu o crescimento econômico; hoje parece uma muralha intransponível. |
Recapitulando: Pelotas era parte de Rio Grande, virou cidade, se transformou num polo econômico fundamental do Estado, estagnou. Rio Grande, por vias de uma política pública federal do governo Lula, recebeu o investimento do Polo Naval, cresceu, não se desenvolveu e fez com que Pelotas voltasse à cena para abocanhar a fatia de serviços que Rio Grande não é capaz de prestar – fundamentalmente, um comércio de qualidade e cultura.
Não é raro ouvir ironias antipelotenses como esta. |
O motivo? Bem, Rio Grande e Pelotas é como um eterno Brasil-Argentina. Outro motivo: o partidário. Fetter não reconheceria que é por vias de uma administração petista que a Região Sul do Estado voltou a ser importante no cenário nacional. Seria demais para ele assumir a dupla derrota em tempos de duzentos anos.
Não há como negar que a infraestrutura de Pelotas é infinitamente maior do que a de Rio Grande – em se tratando de prestação de serviços e comércio. Mas não fica só por aí, na questão cultural não existe nível de comparação entre as duas cidades.
É vergonhoso que Rio Grande consiga ter apenas um ou dois bares que não se rendem ao pagode
Vira-lata à espera do Primo Rico. |
E tanto sabe que, mesmo não sendo a cidade polo dos investimentos, está tirando mais proveito do que a própria Rio Grande quando o assunto é “desenvolvimento” e não “crescimento”.
Pelotas, mesmo como uma cidade dormitório que ainda não se assumiu, continua sendo o Primo Rico da cidade com síndrome de vira-lata chamada Rio Grande.
Felipe Nóbrega
6 julho 2012
Fotos: L. Bittencourt e Diário do Matuto
6 julho 2012
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