José Ubirajara Timm (Caçador - SC, 14-07-1929) |
Ele escreveu em 2008 a crônica abaixo, em homenagem ao amigo e colega Clayr Lobo Rochefort, recheada de sentidas lembranças da Pelotas dos anos 50. Transcrevi o texto do Diário Popular (Exemplos de integridade e caráter) e introduzi subtítulos.
Ambos pelotenses adotivos, Timm seguiu carreira no Ministério da Agricultura e Rochefort ficou em Pelotas, onde veio a falecer em 2012 (leia nota neste blogue).
Aniversários Os 118 anos de existência ininterrupta e exitosa do Diário Popular – atualmente exemplo de modernidade e competência empresarial entre a imprensa gaúcha – e os 80 anos de vida e 60 de jornal de Clayr Rochefort, estão sendo merecidamente comemorados em Pelotas e em âmbitos maiores. Clayr dedicou sua mocidade e cerca da metade de sua fecunda existência ao Diário e à então A Opinião Pública, o mais antigo vespertino do País, legado de João Simões Lopes Neto, mas tristemente já extinto.
Comemoração dos 80, em maio de 2008 |
Tenho esperança que nossa festejada Iracema com seu talento em prosa e verso e com seu imorredouro amor pelo Clayr; ou os filhos de ambos, o Théo, também ótimo jornalista, e a psicóloga e professora mestra em Letras Thaís, se encumbam dessa impositiva missão.
Caráter íntegro Na exiguidade do espaço reservado a uma simples crônica, limitarei minha abordagem apenas em ressaltar dois dos muitos valores que engrandecem a rica e complexa personalidade do Clayr: a integridade e o caráter, que se refletem diuturnamente no comportamento do Diário Popular. “Agir com retidão e imparcialidade” (integridade) e ter “firmeza e coerência de atitudes, domínio de si” (caráter) são comportamentos devidos por todos, mas na realidade atual cada vez mais raros, sobretudo no meio político e também na atividade da imprensa. Clayr é uma honrosa exceção a essa regra.
Convivência Somos amigos há cerca de meio século. Convivemos intensamente nos melhores anos de nossa mocidade, inicialmente ele como diretor de Redação do Diário e da Opinião; eu como iniciante membro de uma irmandade de jornalistas na árdua missão diária de redigir, ilustrar, paginar e acompanhar a composição e impressão de dois jornais sem dispormos dos atuais e imensos recursos cibernéticos.
Aldyr Garcia Schlee, por Salomão Scliar (anos 60) |
Para felicidade nossa, Aldyr Schlee – na época magérrimo e imberbe mas já evidenciando sua múltipla genialidade – se revelava com a firmeza do caráter e da integridade mantidos nesses seus 70 anos de vida exemplar.
Mais virtudes Dentre todos nós, o Clayr se sobressaía não como chefe autoritário e sim pela liderança assumida, inteligência e bom senso em buscar a harmonia e superação de eventuais conflitos, contendo a nossa impetuosidade de jovens idealistas. Durante esse período também fomos colegas durante cinco anos no Curso de Direito, em que ele sempre manteve a mesma conduta.
Amizade na divergência Somente agora vou revelar um fato que guardava com carinho há quase meio século e que demonstra a grandeza de atitude do Clayr e também dos então proprietários da Gráfica Diário Popular. Quando vereador em Pelotas (como membro da ala ideológica pasqualinista do PTB), fazia oposição intensa ao então prefeito Adolfo Fetter [1956-1960], do PSD, quotista majoritário do Diário Popular e da A Opinião Pública. As divergências políticas e os frequentes embates travados entre o vereador e o prefeito, em nenhum momento afetaram o relacionamento fraterno com o Clayr e se mantiveram amistosos igualmente com a família Fetter (com os filhos e netos do poderoso patriarca).
Em 1981, Theo Rochefort, Clayton Rocha, Clayr Rochefort e Airton Santos Vargas, presidente da Assembleia Legislativa gaúcha |
Jornalista para sempre Tenho a convicção de que, após o mandato de vereador e, se não tivesse acompanhado o ministro Mário Meneghetti para o Rio de Janeiro e posteriormente seguido a carreira de funcionário público federal, teria retornado à Gráfica Diário Popular, já que na minha Carteira de Trabalho não foi dada baixa, até hoje, do meu vínculo empregatício como jornalista.
Saudades Recentemente, após décadas de ausência reencontrei o jornalista Flávio Tavares no lançamento de seu último livro "O dia em que Getúlio matou Allende" [Record, 2004. Leia o capítulo 1], em noite de autógrafos no Senado Federal. Ao me autografar o livro, rompendo o protocolo com um caloroso abraço, recordamos o tempo em que éramos pobres por fora e ricos por dentro em ideais e sonhos.
Comovi-me com essas lembranças ao me sentir nos meus tempos de Pelotas com o reencontro de amigos como Clayr, Schlee, entre outros. Revivendo os melhores anos de minha vida. Época em que me tornei adulto. Defini minhas convicções políticas. Fortaleci meu caráter e me capacitei para enfrentar os caminhos do mundo. Tendo em Pelotas e seus valores a capital da minha geografia sentimental e na condição de pelotense adotivo, a minha nacionalidade.
José Ubirajara Timm
1 setembro 2008
Secretário de Redação – A Opinião Pública, década de 50
Fotos: 13Horas (2, 4) e ardotempo (3)Secretário de Redação – A Opinião Pública, década de 50
POST DATA
15-2-13, 23h
Manoel Soares Magalhães reproduziu e comentou esta matéria com o título Um mergulho no passado. Nas próximas semanas teremos outras emotivas relembranças aqui no blogue.
Belo post, caríssimo. Li emocionado, pois, como não poderia ser diferente, lançou-me no passado. Reproduzi parte dele no cultive-ler.com. Parabéns pela ideia. Grande abraço!!!
ResponderExcluirObrigado Manoel, este post prepara outros 3 ainda mais emocionantes, sobre o Schlee e o Mirim. Hoje o Timm mora em Brasília.
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