Cidade dos sobrenomes que não existem mais
Cidade de teatros em ruínas lembranças
Cidade pilhada por oligarquias rurais
Cidade dos rios que umedecem os ossos
Pelotas rosa de horizontes longos
Cidade onde castelos são jogados ao acaso
Cidade onde vampiros não passam de pernilongos
Cidade rota, de história antiga
Cidade onde o nada é maior que tudo
Pelotas quer Ser, mas o ser é nada
Cidade do rebelde de protestos mudos
Pelotas grande, é maior que o mundo
Se vou embora, peço pra voltar
Lugar que odeio quando me encontro dentro
Lugar que vivo pra amar e odiar
Se já existias antes dos poetas
Quando eu partir tu vais ficar aqui
Catedrais de gritos e de fé suspeita
Quando morrer quero morrer em ti
Tuas pedras úmidas de sofrer silêncio
De loucos gritos e de boêmios loucos
Se tua existência cheira a orquídeas
Teu submundo cheira a esgoto
Tuas mulheres talvez sejam homens
Teus escritores pensam ser imortais
Tua carne negra sofre a dor do tempo
Teu rio de sangue já não corre mais.
Nauro Machado Júnior
Fonte: "Andanças Imaginárias" (2014), p. 77.
Sobre o livro, v. a nota Nauro poetiza a vida.
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