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sábado, 15 de novembro de 2014

"Noite gaúcha"

O naïf de Carmen Garrez, para um espectador brasileiro, tem traços europeus, como o geometrismo, a nitidez, a minúcia. Aos olhos europeus, no entanto, as cores tão vivas da natureza e a simplicidade colonial das construções evocam o modo de vida latino-americano. Essa fusão de características se faz possível porque nós, como pessoas, somos uma mescla de origens culturais e porque nossos campos e cidades são misturas de recortes do Velho Mundo dentro do Novo.

De fato, é no Morro Redondo, município gaúcho da Serra dos Tapes, que Carmen vem observar essas colagens visuais e humanas, para esboçar um tratado de antropologia sensível, ao modo da arte. O próprio nome do quadro, "Noite Gaúcha", vem reiterar que esta visão é brasileira, e mesmo tropicalista, pois só nos trópicos uma Noite pode ser tão brilhante e cheia de vida. O calor ambiental está sugerido pelo azul claro no céu, e a umidade, pelo halo lunar.

Carmen Garrez
Mas sabemos que o quadro é de Carmen, e não qualquer naïf, por algumas de suas marcas nestas paisagens: o pontilhismo que contrasta com a ingenuidade, a profusão de flores das árvores (como querendo combinar com as estrelas), a perspectiva na distância e a grande variedade cromática dos verdes.

Percebe-se também uma anotação que faz com bom humor: duas pessoas escondidas no declive da estradinha. É inevitável pensar que elas vão conversando e caminham lentamente.

Sobre as fases da artista gaúcha, veja as notas Carmen Garrez, artista plástica em evolução e Carmen Garrez vê Frida Kahlo
Imagem: C. Garrez

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