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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Joaquim Luís Duval


O Tempo

Cai o tempo
pela tarde mansa
e lento escorre
por entre as velhas mãos.

Cai assim:
como chuva em antigos sítios,
e se dispõe
por entre heras
e cabeças anciãs.

Pára, por instantes,
hesitante...

Mas, sempre incapaz de se deter,
anima-se
e retoma, súbito,
sua marcha sem fim
em busca do esquecimento.


Joaquim Luís Duval é poeta pelotense, nascido em 1945, autor de "Minha gente" (1976), "Tempo provisório" (1979), "A palavra no espelho", com fotografias de Anabela Barbosa (1980), "Exercício de multidão", com poemas de 1980-82 (2002) e "Diálogos do silêncio" (2005). 

Sem lançar livros durante duas décadas, o poeta seguia produzindo e às vezes publicava no Diário Popular. Seu pai, Joaquim Duval, havia sido prefeito de Pelotas (1948-51), deputado estadual (1947-48) e federal (1956-64).

Em 1986, Joaquim Luís escreveu e produziu para a Rádio Cosmos, da UFPel, a série de programas "O artesanato doceiro em Pelotas", que reuniu pesquisas sociológicas e entrevistas com doceiras locais ("Xarque com assucar/Pelotas com Nordeste: contraponto de extremos no paladar cultural brasileiro", de Leonil Martinez, UFSC, 2000, p. 12, disponível na internet). 

Para o quinto livro de Duval ("Diálogos do silêncio"), o seu editor, Mário Osório Magalhães (1955-2012), assinou o prefácio, o qual publicou com leves modificações no Diário Popular (13-11-2005), e reeditamos a seguir.



Joaquim Luís Duval publicou três livros de poemas no espaço de cinco anos: entre 1976 e 1980. Depois houve um longo intervalo e o seu nome só voltou a ocupar as prateleiras das livrarias, com obra nova, em 2002. Mas sei, porque acompanhei a sua trajetória, que há mais de 20 anos ele já havia aprontado o seu livro mais recente. Não só aprontado, no que diz respeito à feitura dos poemas: desde o início da década de 1980, "Exercício de Multidão" estava diagramado, composto e ilustrado, com as belas imagens elaboradas pelo irmão, o artista plástico Fernando Duval.

Por que escrevo isso? Em parte, por cacoete de ofício: para estabelecer, na condição de historiador, uma ordem cronológica na produção do poeta; em parte, para dizer que, quando foi impresso e posto em circulação o seu último livro, os pelotenses e eu estávamos habituados com outros poemas de sua autoria, além daqueles que figuravam, na sua rica bibliografia, até o dia de ontem.

5º livro de J. L. Duval (2005)
Que poemas eram esses? Os que foram editados sob o título de "Diálogos do Silêncio". São 78 poesias, muitas das quais Joaquim Duval divulgou, durante as últimas duas décadas, na página literária do Diário Popular.

Lembro que há três anos, quando saiu "Exercício de Multidão", anunciei a Nara, sua mulher, que escreveria um texto, se não sobre a obra, sobre o amigo Joaquim Luís, no Diário. O artigo não saiu: teria que falar, necessariamente, sobre a obra. Embora diga e repita que Joaquim Duval é para mim o maior poeta pelotense da atualidade (e não um dos maiores, veja bem o leitor), não tive fôlego para me aventurar nesta outra espécie de exercício, talvez tão temerário quanto o de multidão: o exercício da crítica.

Mas é preciso que diga, ainda que com humildade e com escassas palavras: considero este versejador um poeta maior porque a sua produção, cheia de ritmo, ocupa-se de coisas concretas, como árvores, ventos, chuvas, remédios, viagens, bagagens. Não trata de puras abstrações do espírito e da alma (que, para mim, só cabem em livros de filosofia ou de autoajuda, estes infelizmente tão em voga hoje em dia).

"Diálogos do Silêncio" fala de sentimentos, mas quase sempre tomando objetos como pontos de referência. Indaga verdades de coisas palpáveis, que não se comunicam, que não falam com a quase generalidade das pessoas, mas com as quais o poeta, inteligentemente, silenciosamente dialoga.

Mario Osorio Magalhães
Pelotas, outubro de 2005

J. L. Duval (foto de L. Bunselmeyer)
Confira outros poemas de J. L. Duval:
  • "Cassino", citado por Mario O. Magalhães no Diário Popular (2005),
  • "Ser jovem", poema citado por L. R. Lourenço (2008),
  • "Primeiro exercício de multidão", citado por Asdruba (2010),
  • "Mensagem", citado no blogue In Loco, de Janaína Chiaradia (2012),
  • "Poema de amor a uma cidade que é minha", transcrito em postagem neste blogue (2014).
Imagens: Mr. Wallpaper, blogue In LocoTraça,

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