Voltei de Pelotas ontem (23-11) impressionado com o impacto do Pelotas Jazz Festival, já em terceira edição. Impressionado com tudo: os shows, a organização, os locais e - talvez principalmente - o comportamento do público. Quê público! Tem tudo para se tornar um dos principais festivais de jazz do Brasil, para não dizer do Cone Sul. [...]
Último dia do Festival
O show de Naná Vasconcellos num Theatro Guarany lotado foi emocionante, histórico. Ele transformou o público em um instrumento, entre seus berimbau, tambores e chocalhos, recebeu aplausos de pé no meio da apresentação, deixou pessoas com um nó na garganta e saiu chorando do palco, profundamente tocado pela sinergia. Que grande brasileiro! Que grande músico! Que grande homem! Ele remeteu com delicadeza à triste memória dos negros das charqueadas, que ocupavam suas horas livres com música e inventaram instrumentos de percussão como o sopapo, que só existe no RS (v. crítica de Cristiano Castilho para a Gazeta do Povo, de Londrina: Naná faz show sobrenatural].
No palco externo, o multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo, ao lado da flautista Léa Freire e do bandolinista Fábio Peron, um trio de altas esferas, mandou seu recado mesmo fazendo uma música menos afeita aos grandes espaços ao ar livre, cheia de improvisos e requintes [v. comentário de Roger Lerina: Pelotas é a cidade do jazz].
Mas o público pelotense aprovou e teve toda a paciência, à espera do mais famoso grupo de Hermeto Pascoal, que viria a seguir. Confesso que eu estava meio preocupado com o Bruxo, escaldado pelo show ruim feito por ele em outubro no POA Jazz Festival. Mas ele (a meus olhos) se redimiu, fazendo em hora e meia um show sem sobressaltos, na medida para satisfazer o enorme público e fechar o festival em alto astral [abaixo, cenas da oficina com Hermeto; aqui imagens da oficina com Naná].
A cidade é protagonista
Parece que a encantadora Pelotas de uma longa história humana e arquitetônica se recupera de também longos períodos de descaso político. A memória do passado, preservada com cada vez mais cuidado em prédios belíssimos, muitos deles abertos à população, parece estar enfatizando nos últimos tempos (uns 20 anos para cá, por aí) um orgulho de ser pelotense. Trazendo a ideia de que a insubstituível arquitetura dos anos de fausto econômico nos hotéis, nos prédios públicos, nos bancos, nas mansões, não deve dar lugar a caixas de concreto sem alma e sem arte como os edifícios modernos - que já roubaram boa parte dessa história.
Pelotas é uma cidade única no RGS. Sua vocação era ser a capital do estado. E, como o Rio de Janeiro em relação a Brasília, tem várias evidências disso. Um de seus filhos mais ilustres, Vitor Ramil, tem se ocupado em demonstrar isso em seu trabalho musical e literário; em sua filosofia, posso dizer.
Em meio ao passado, a modernidade de Satolep encanta os visitantes, como se percebe ao conversar com os artistas do festival. Como se percebe ao ver o cuidado com que a TIM, patrocinador master do festival, o está considerando, ao trazer jornalistas de outros estados para assisti-lo, por exemplo.
Graças aos idealizadores do festival e à sua realizadora, Gaia Cultura e Arte, eu e todos os visitantes, sem falar dos pelotenses que durante três dias lotaram o fantástico Theatro Guarany e as ruas do centro da cidade, pudemos comprovar o bom uso da Lei de Incentivo à Cultura do Estado e como ela é importante para levar adiante projetos que ajudam uma cidade da importância de Pelotas a crescer artística, turística e economicamente.
Sem citar nomes, dou os parabéns a todos os responsáveis por fazer do Pelotas Jazz Festival um verdadeiro evento. E aos felizardos pelotenses, por entenderem e apoiarem a ideia com sua participação. Em 2015 quero voltar.
Último dia do Festival
O show de Naná Vasconcellos num Theatro Guarany lotado foi emocionante, histórico. Ele transformou o público em um instrumento, entre seus berimbau, tambores e chocalhos, recebeu aplausos de pé no meio da apresentação, deixou pessoas com um nó na garganta e saiu chorando do palco, profundamente tocado pela sinergia. Que grande brasileiro! Que grande músico! Que grande homem! Ele remeteu com delicadeza à triste memória dos negros das charqueadas, que ocupavam suas horas livres com música e inventaram instrumentos de percussão como o sopapo, que só existe no RS (v. crítica de Cristiano Castilho para a Gazeta do Povo, de Londrina: Naná faz show sobrenatural].
No palco externo, o multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo, ao lado da flautista Léa Freire e do bandolinista Fábio Peron, um trio de altas esferas, mandou seu recado mesmo fazendo uma música menos afeita aos grandes espaços ao ar livre, cheia de improvisos e requintes [v. comentário de Roger Lerina: Pelotas é a cidade do jazz].
Mas o público pelotense aprovou e teve toda a paciência, à espera do mais famoso grupo de Hermeto Pascoal, que viria a seguir. Confesso que eu estava meio preocupado com o Bruxo, escaldado pelo show ruim feito por ele em outubro no POA Jazz Festival. Mas ele (a meus olhos) se redimiu, fazendo em hora e meia um show sem sobressaltos, na medida para satisfazer o enorme público e fechar o festival em alto astral [abaixo, cenas da oficina com Hermeto; aqui imagens da oficina com Naná].
Naná Vasconcelos sozinho encheu de música o Teatro Guarani. |
Parece que a encantadora Pelotas de uma longa história humana e arquitetônica se recupera de também longos períodos de descaso político. A memória do passado, preservada com cada vez mais cuidado em prédios belíssimos, muitos deles abertos à população, parece estar enfatizando nos últimos tempos (uns 20 anos para cá, por aí) um orgulho de ser pelotense. Trazendo a ideia de que a insubstituível arquitetura dos anos de fausto econômico nos hotéis, nos prédios públicos, nos bancos, nas mansões, não deve dar lugar a caixas de concreto sem alma e sem arte como os edifícios modernos - que já roubaram boa parte dessa história.
Palco geodésico e a Rua do Jazz vistos de cima |
Em meio ao passado, a modernidade de Satolep encanta os visitantes, como se percebe ao conversar com os artistas do festival. Como se percebe ao ver o cuidado com que a TIM, patrocinador master do festival, o está considerando, ao trazer jornalistas de outros estados para assisti-lo, por exemplo.
Graças aos idealizadores do festival e à sua realizadora, Gaia Cultura e Arte, eu e todos os visitantes, sem falar dos pelotenses que durante três dias lotaram o fantástico Theatro Guarany e as ruas do centro da cidade, pudemos comprovar o bom uso da Lei de Incentivo à Cultura do Estado e como ela é importante para levar adiante projetos que ajudam uma cidade da importância de Pelotas a crescer artística, turística e economicamente.
Sem citar nomes, dou os parabéns a todos os responsáveis por fazer do Pelotas Jazz Festival um verdadeiro evento. E aos felizardos pelotenses, por entenderem e apoiarem a ideia com sua participação. Em 2015 quero voltar.
Juarez Fonseca
Colunista de Zero Hora
Colunista de Zero Hora
Fotos: F. Campal (1-2), L. P. Carapeto (3)
Texto: Facebook
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