Onde perdi meus sonhos de menino?
John Fante perguntou ao pó
Eu pergunto às estrelas
Aos mares
Aos córregos
Às árvores
– Onde perdi meus sonhos?
Meus sonhos de menino...
Incrédulo diante do invisível?
Onde perdi a luz primeira?
Chama que acendeu minha alma
Onde perdi as asas?
Onde perdi as guelras?
Onde enterrei a vontade...
O impulso de chegar à aurora do mundo?
Em que nuvem jaz o segredo desvendado
Que deveria ter pingado na terra
E regado a magia da existência?
John Fante perguntou ao pó
Eu pergunto às estradas
Às pedras
Às ervas daninhas
Às pegadas
– Onde perdi meus sonhos?
Meus sonhos de menino...
Pasmo diante do universo?
Preciso perguntar ao
Novo homem que nasceu em mim...
Novo homem que nasceu em mim...
Manoel Soares Magalhães
Foto: Nauro Jr.Texto: Facebook
Leia sobre "Pergunte ao Pó".
Grato pela publicação do texto. No espaço de gestação do livro As Perguntas que Neruda não fez nasce um ou outro poema... Um abraço.
ResponderExcluirQue bonito. Não sei bem que gênero de poesia e (simbolista, mistica)... Mas e linda. Kris Couto
ResponderExcluirKris, o autor deixa explícitas duas influências bem diversas entre si: o americano John Fante e o chileno Pablo Neruda. O primeiro de conteúdos obscuros e materialistas; o segundo, bem mais luminoso, quase budista.
ResponderExcluirO poeta pelotense toma a tristeza e a frustração como pontos de partida, mas tenta buscar saídas mediante as vivências concretas. Busca o sentido universal da vida, e a encontra na experiência humana.
Ao mesmo tempo, faz uma brincadeira verbal, como se os dois autores dialogassem: Fante escreveu "Pergunte ao pó" (1939), Neruda escreveu "O livro das perguntas" (póstumo, anos 70). Então vem Manoel e nos recita a pergunta mais importante: quem sou eu?
Todo o poema acima nos levaria ao existencialismo (desorientação no universo), mas a julgar pelas 2 últimas linhas, parece mais uma poesia psicológica (em busca do autoconhecimento e da evolução pessoal).
Uma nova leitura, do ponto de vista do lugar de onde o poeta fala, nos faz pensar que se trata de um profeta que descreve a dor histórica e o fracasso comunitário de uma cidade que já não é menina mas ainda não é adulta. O organismo social pode ser visto como uma pessoa, que também é orgânica, o qual é próprio do humanismo.
É difícil classificar, mas acho que está mais perto do vitalismo poético, definido no meio do texto pelas palavras: alma, vontade, impulso, e no final: "nasceu em mim".
Por último, é preciso destacar o sentido poético de Nauro Jr., concordante com o texto escrito. Tudo está na foto: a infância bloqueada, a impotência ante o futuro e o universo, o sentido comunitário, a visão do céu e das nuvens inalcançáveis. Veja a explicação do fotógrafo.
wp.clicrbs.com.br/retratosdavida/2012/01/17/o-poder-de-uma-foto/?topo=77,1,1
Muito obrigada pela explicação. Vou ficar de olho neste poeta, cujo poema muito me comoveu. Kris
ResponderExcluirMais uma faceta deste autor pelotense. Belo poema. Quanto ao novo livro, As Perguntas que Neruda não fez, no mínimo curioso.
ResponderExcluirFranciele