Neste período, participou em coletivas e individuais em cidades gaúchas e uruguaias e ganhou prêmios em concursos, o primeiro deles com direito a exposições internacionais. Em visita a sua casa ontem (16), registrei parte de sua produção.
Concentrando-se na pintura com pastel seco, Maria Lúcia tem obtido progressivamente, com o estudo minucioso, melhores efeitos de textura e brilho. Evoluindo rapidamente como pintora, ela define e soluciona desafios precisos, como um torso masculino com certa superfície, um gato enrolado num pelego (acima), um detalhe de madeira num móvel.
A representação da lenha ardendo (dir.) é outro exemplo desses desafios, fazendo que as colorações despertem a sensação de calor e o contraste entre madeira e fogo sugira imperceptivelmente a associação entre matéria e espírito.
A imagem é de 2008 e se denomina "Do trotar"; está diretamente inspirada numa frase do prefácio dos Contos Gauchescos, em que João Simões Lopes Neto apresenta o narrador Blau Nunes nas proximidades do fogo de chão, em torno ao qual a sabedoria do gaúcho é gerada e compartilhada.
Na bota do "Domador" (dir.) observamos como a artista reproduz pequenos detalhes, quase imperceptíveis a mais de dois metros de distância. No detalhe à esquerda, vê-se melhor a profundidade numa tira de couro, e uma sutil luminosidade no metal.
Maria Lúcia não se satisfaz com um só desafio plástico no mesmo trabalho, como vemos nos exemplos aqui apresentados; por outro lado, não deixa de valer-se de algum motivo condutor, nunca evidente demais. Na contemplação, descobrimos significados secundários, personagens ocultos e às vezes algumas sonoridades.
O torso nu copiado de uma foto (dir.) mostra efeitos de sombreado, relevo, cor da pele e a postura corporal do modelo. Já é expressivo ver o quadro na parede com esse conjunto de aspectos desafiantes (também ao espectador). Logo, ao fotografar esta obra no pátio da casa, um novo efeito apareceu, no contraste com as folhas de uma trepadeira na parede externa.
O quadro intitulado "Amarração" (abaixo) combina o cuidado técnico na forma e um conteúdo conceitual sugestivo. Além do jogo visual de tonalidades, sombras, reflexos e texturas, ficamos pensando no sentido das amarras de um barco, objeto que não vemos cotidianamente em Pelotas. Nosso porto não é usado, falta-nos a experiência de navegar. Imaginamos a utilidade de uma corda para segurar o barco, mas estas parecem muito firmes, talvez acomodadas na posição. Seremos nós mesmos os amarrados?
"Nosso porto não é usado, falta-nos a experiência de navegar. Imaginamos a utilidade de uma corda para segurar o barco, mas estas parecem muito firmes, talvez acomodadas na posição. Seremos nós mesmos os amarrados?"
ResponderExcluirLindas pinturas! Quanto ao texto, o que chama a atenção é o seu final: pois é ... Pelotas continua "amarrada", ao menos no que se refere à mentalidade tem sido assim...!
Parabéns à Maria Lúcia e a ti pelo belo texto!
Teresinha Brandão