Fim de uma etapa para o blogueiro

Em função de meu trabalho de mestrado, não tenho mantido a regularidade das postagens, mas espero recuperar o ritmo após 3 de maio, quando defenderei a dissertação. Nesse dia termina uma etapa para o blogueiro, mas não para o blogue. Ontem, o portal de notícias da UCPel divulgou a seguinte nota (leia o texto completo).

O mestrando em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Francisco Antônio Soto Vidal avalia, em sua dissertação, a aplicação do WISC-III, instrumento que mensura a inteligência infantil. Seu trabalho será apresentado no dia 3 de maio, às 10h, no Campus II da UCPel.

Sob orientação da professora Vera Figueiredo, o mestrando utilizou dados recolhidos durante aplicação do teste em 263 crianças com dificuldades de aprendizagem, integrantes de escolas públicas de Pelotas e Rio Grande.

A dissertação de Vidal (esq.) pretende revelar, por meio dos números obtidos, se os grupos de habilidades que prevalecem no WISC-III são os mesmos nesse grupo específico. O pesquisador descobriu que a mesma estrutura de fatores que vale para crianças em geral vale também para as que têm dificuldades de aprendizagem.

A banca avaliadora do trabalho será composta pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Elizabeth do Nascimento, pesquisadora de renome na área; pelo professor Ricardo Azevedo da Silva, da UCPel; e pela orientadora Vera Figueiredo.
Foto: UCPel

Discos de vinil viraram relógios

Primeiras amostras 2010 na SECULT

Hoje terça (20), realizam-se as inaugurações das primeiras amostras deste ano organizadas pela direção de Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Pelotas. Os concursos foram realizados no verão e os resultados saíram em março.

Às 19h, no saguão da Prefeitura:

Necrorgânicos, uma visita ao inferno, desenhos de Cássius Souza (convite à esquerda).

.

Às 20h, na Casa de Cultura Adail Bento Costa (convite abaixo):

Sogni Dedicati, pinturas de Michele Iannarella,

seleção de premiados no concurso New Holland de Fotojornalismo.

Devido ao feriado (21), as salas não estarão abertas, pois são dependência municipal, não consideradas como museus.

A partir da quinta (22), a visitação pode ser feita de segunda a sexta, no horário da tarde (12:30 - 18:30), até 7 de maio.

As próximas exposições até o fim do ano deverão permanecer mais tempo (3 ou 4 semanas), sempre nos mesmos lugares e horários. Cinco ciclos foram programados até dezembro.
Imagens: divulgação

O crime perfeito (conto)

O cronista Rubens Amador enviou-nos este relato de ficção, publicado há uns vinte anos na imprensa local.

A cidade dormia naquela madrugada supinamente gelada enquanto ele caminhava resoluto quão solitário. O relógio público testemunhava: Quatro e meia.

Saíra àquela hora para comprar um medicamento, pois o filho pequeno fora acometido de terrível crise de asma. Caminhava ligeiro e seus passos ecoavam na perspectiva da rua, a sua frente. A imagem do filho dispneico, querendo beber todo o ar que pudesse, em desespero, não lhe saía da cabeça. Nem um maldito táxi. Nem um só carro para arriscar uma problemática carona. Cedo verificou que só lhe restava contar com as próprias pernas. E ele o faria o mais rápido possível, pensou aflito, corpo inundado pela adrenalina.

Súbito, como um gigantesco mapa em neon, se desenha no negrume do céu uma faísca elétrica. Segundos após, um estrondo ensurdecedor. “Pode ser que alguém desperte, venha à frente, e me possa ajudar se tiver uma condução” – divagou, já imaginando o longo retorno a casa, enquanto levantava a gola do surrado casaco de homem pobre; fisionomia preocupada.

Mas ninguém apareceu para solidarizar-se com sua aflição. Aliás, para ele aquela situação não era novidade. Deu de ombros, apurou o passo mais ainda, pensando no filho que o estaria por certo esperando em agonia e sofrimento.

Nisto começou a ouvir o que lhe pareceu, a princípio, ser um grupo de malvados que o estaria apedrejando. Mas logo viu que se tratava de granizos enormes a cair do espaço. “Céu cruel e sem coração”, ruminou com amargura e revolta. Foi obrigado a procurar refúgio no primeiro vão de porta, abrigando-se o melhor que podia enquanto a catadupa de pedras geladas – enormes – caía perigosamente. Que fazer?

Todo molhado e tiritando de frio, sentiu que não podia ficar ali, parado, e se deixar agredir pelos elementos. Tentou atravessar a rua correndo, a fim de se abrigar numa marquise fronteira. Mal iniciara as primeiras passadas, foi atingido na cabeça e caiu. Perdera os sentidos. Em menos de dez minutos seu corpo estava coberto de granizo, morrendo enregelado.

Vinte e cinco minutos depois, a chuva para, como por milagre. Mais um dos muitos que às vezes tardam, apesar dos merecimentos e das preces. Já era de manhãzinha. O degelo se dera rápido sem deixar uma só testemunha da tragédia. Um sol esplendoroso agora se levanta, a tudo indiferente, apesar da sua majestade.

A natureza praticara o crime perfeito, na pessoa daquele homem sem sorte.

“Na certa foi assalto”... disse a mulher magrinha que se espremia entre os muitos curiosos em torno do corpo inerte, ferimento enorme na fronte pálida; braços em cruz; como a querer a abraçar a Esperança, que não chegara para ele.

Nem chegaria, jamais.

Imagens da web

Pinturas em caneta, cera e lápis de cor

Tiago Athaydes Dias, 27 anos, é aluno de História na UFPel. Há cinco anos sofreu um grave acidente em casa, ficou imobilizado por três meses e a convalescência o fez descobrir a arte.

A solidão foi um "estímulo" para expressar o vazio que sentia e as ideias foram saindo do esconderijo mental, como uma erupção sem fim. Colocar os sentimentos no papel o fez descobrir um mundo novo na recuperação. Simples materiais como lápis de cor, caneta esferográfica, giz de cera e cartolina serviram para canalizar a criação.

Isso é o que relata o portal da UCPel (leia a notícia) sobre a mostra "Autodidaktos", título que apresenta Tiago como um artista espontâneo, sem mais professores que suas experiências, ideias e talentos. Nesta sua primeira exposição, o jovem reúne os trabalhos realizados nessa fase de descobrimento.

Com princípios simples, o novo pintor desenvolve formas grandiosas e complicadas, como se confeccionasse um mural em miniatura. Geralmente ele usa lápis e giz de cera, com abundância de cores vivas, que recordam um estado psicodélico ou onírico (aos lados, detalhes do quadro "Brotos").

Por trás das imagens por demais chamativas, há conceitos que o espectador poderá resumir após passar o choque inicial das formas e colorações.

Um exemplo de trabalho sem cores é o quadro “Composição dos Dias de Ontem e de Hoje” (na foto 1 e abaixo, detalhe), criado durante dois meses, somente com tinta preta sobre papel. A ficha de referência na exposição indica que se trata de nanquim, mas à reportagem da UCPel o artista informou ter usado seis canetas esferográficas.

Com esta interessante mostra, a Galeria de Arte da Católica inicia em abril sua temporada 2010, tardiamente em relação a anos anteriores, quando a seleção era feita nas férias da universidade e a primeira exposição se instalava com o início das aulas.
Fotos de F. A. Vidal

Super-heróis: caricaturas ou sintomas?

Nesta quarta-feira (14), o psiquiatra Nei Guimarães Machado palestrou na Sociedade Sigmund Freud sobre os heróis dos quadrinhos à luz da psicopatologia.

Mesmo com somente uma dúzia de participantes, o encontro recordou, por momentos, a época em que o criador da psicanálise se reunia em Viena com discípulos interessados em conhecimentos novos e reveladores. Neste caso, o doutor trouxe uma proposta de fácil compreensão, cheia de arestas emotivas e útil para a discussão de aspectos mentais, sociológicos e artísticos.

O próprio Freud abordava todos os temas humanos de seu tempo, desde os mais teóricos - como a religião, a arte e a antropologia - até os mais cotidianos, como espetáculos, publicações de atualidades, tradições, anedotas e contos de fadas. Escreveu um par de livros sobre Moisés, um dos maiores heróis bíblicos. Se vivesse hoje, não teria deixado de analisar os super-heróis, os ídolos de moda e os personagens de filmes e telenovelas.

Fã dos quadrinhos que surgiram nos anos 40, Nei Machado mencionou uma dezena de figuras heroicas, passando pelas biografias deles, suas façanhas, inimigos e traços patológicos ou do desenvolvimento psíquico. Observou que os traumas de infância são decisivos na aparição de certos "heroísmos", as vinganças e até de patologias mentais.

A bipolaridade do Super-Homem (triste versão do ideal de Nietzsche) e a do Incrível Hulk (reedição do Médico e o Monstro) contrastam com a falta de superpoderes do esquizoide Fantasma.

O Capitão América teve um sentido político durante a Segunda Grande Guerra: no número 1 da revista - relatou o palestrante - "o marmanjo aparecia dando uma sova em Adolf Hitler", vilão da realidade, muito recordado como personificação de desajuste mental e social (imagens acima). Chaplin representou esse conflito, mais elegantemente, no filme "O Grande Ditador".

Sobre o Homem-Aranha, o dr. Machado escreveu em 2002 - quando saiu o primeiro filme - que se tratava de uma simbolização do despertar sexual da adolescência (leia o artigo). Por outro lado, Batman tem características depressivas, paranoides e homossexuais. A Mulher Maravilha representa a liberação da mulher nos anos 60, e assim por diante.

Os diversos super-heróis podem ter significados políticos - construídos com diversas características de anormalidade mental ou com superpoderes simbólicos (as cores americanas no uniforme do Super-Homem) - ou simplesmente psicológicos, com a idealização ou exagero de traços de personalidade ou de momentos do desenvolvimento humano. O mesmo pode ocorrer nos personagens dos contos, dos quadrinhos, da TV e do cinema.

O primeiro livro sobre o assunto foi "Psicanálise dos Contos de Fadas", de Bruno Bettelheim (Ed.Paz e Terra, São Paulo). Existe um livro mais amplo, com personagens modernos e alguns brasileiros (nenhum super-herói): "Fadas no Divã", de Mário e Diana Corso (Ed. Artmed, Porto Alegre).
Imagens da web (2-3) e F. A. Vidal (1)

Fotografias de reflexos no Corredor Arte

A artista plástica Helena Dias é paulista radicada em Pelotas; ela veio estudar na UFPel, formou-se e ficou trabalhando. Suas criações e seu trabalho docente são na área da fotografia, onde descobriu o inusitado interesse dos reflexos escondidos na visualidade cotidiana. Captando, sem a intenção, o próprio reflexo em uma foto, Helena gostou e começou a buscar resultados parecidos, com fotos em vários ângulos e locais, analisando cores e formas refletidas no suporte.

As fotos de reflexos fazem uma nova leitura do cotidiano, registrando imagens fugazes (de breve duração) e pouco percebidas pela consciência, mas que estão praticamente em todo lugar. Diz Helena que a ideia de trabalhar com reflexos vem sempre acompanhada de uma fantasia provocada pela casualidade.

Esta é a sensação que o visitante poderá vivenciar na exposição “Espectro”, terceira coletânea de fotografias com esta inspiração, realizada neste mês no Corredor Arte do Hospital Escola UFPel/FAU.

Nessas fotografias, que às vezes podem parecer muito óbvias ou realistas, as sobreposições de informações geram muitos níveis de percepção, que podem gerar confusão ou interesse pelo que está além do evidente. “Se a pessoa olhar atentamente, vai achar intrigante, vai gerar questionamentos”, comenta a artista. As imagens podem ser observadas de diferentes perspectivas, pois a informação não é percebida no primeiro olhar.

Nossa percepção costuma selecionar um foco, descartando os demais, mas a fotografia permite observar todos eles alternativamente; daí o interesse de uma exposição como esta, que contenha também alguma explicação, seja escrita ou de algum mediador. Foi o que ocorreu em 2009, na inauguração da mostra "Espectro II", em que Helena se encontrava presente, disposta a comentar as obras (veja a nota).

Compare uma daquelas fotos (esq.) com a tomada há duas semanas, no Corredor Arte. Na primeira (clique para ampliar), superpõem-se a imagem da autora da fotografia (Helena, no centro) sendo fotografada pela amiga, com a câmara na mão. Na outra (abaixo), mesclam-se as figuras da pessoa observadora e seu reflexo, os variados níveis da imagem original e os imperceptíveis reflexos gerados pelo vidro.

A exposição, que pode ser visitada até a próxima terça-feira (20), reúne fotos de exposições anteriores da artista, como a Bienal do Mercosul, "Arte no Porto II" e a aludida acima.

Imagens: Corredor Arte

A arte de trocar arte

Os artistas Manoel Magalhães e Carmen Garrez anunciam nova proposta, baseada na arte do escambo. O velho troca-troca de objetos úteis, novos ou usados, eles agora o aplicam à arte. À sua própria arte.

Se você gostaria de ter alguns destes quadros (v. imagens) e tem livros em casa, sem uso prático, Manoel e Carmen propõem trocá-los por telas pintadas por eles.

Numa simples troca, você ganhará um quadro e a livraria dos artistas aumentará seu acervo, seja para aluguel, venda ou novas trocas. Leve um ou mais livros, de qualquer gênero, eles serão avaliados e você receberá opções de obras cujo valor seja aproximado. Quem já trocou um livro ou gibi por outro, sabe o que é viver e desfrutar da arte pela arte.

Manoel revisita fragmentos da história e da arquitetura de Pelotas, como o prédio da Biblioteca Pública (abaixo), reformado em 1914. Carmen pinta há anos quadros naïve (dir.) e tem numerosos clientes fora de Pelotas. Aqui no blogue eles já foram apresentados, com suas criações. Pesquise por seus nomes na caixa de busca (extremo superior à esquerda).

A Cultive Ler Livros & Arte (Rua Uruguai 1078) está conectada à Estante Virtual, que negocia livros para todo o Brasil.

O contato com os artistas pode ser feito pelo telefone 32229298 ou pelos seus endereços: magalhães.manoel@bol.com.br e carmen06garrez@gmail.com

Agenda de abril

Ontem (1) estreou, na coluna direita do blogue, a agenda Palestras e espetáculos, destinada a eventos culturais com hora marcada: conferências, espetáculos em geral, inaugurações, lançamentos de livros, filmes fora do circuito comercial. Outra agenda será feita, na mesma coluna, para eventos de horário amplo, como feiras, congressos e exposições. O cinema comercial terá um link à parte.

Para saber mais sobre um evento, clique uma vez sobre a chamada e aparecerão horário, lugar, preço e outros detalhes. Para fechar a informação, clique outra vez sobre ela. Se rolar adiante ou atrás, poderá ver dados de eventos futuros ou antigos.

A informação provém dos jornais de Pelotas, da internet e de anúncios enviados pelos organizadores. Não indicarei a origem, mas checarei os dados em pelo menos duas fontes, quando não for direta dos encarregados.

A Agenda Google está sendo usada neste blogue de modo pioneiro. Somente um blog pelotense utiliza, há poucos meses, esse recurso (para divulgação própria): Galeria do IAD. Os sítios culturais pelotenses fazem anúncios e notas com texto, mas não utilizam agenda gráfica. A ideia provém de um blogue chamado Agenda Cultural do Brasil, que tem a ambiciosa meta de reunir as agendas de todo o país nesta área.

O sentido interativo da agenda, que inaugura o segundo ano de existência deste blogue, é orientar os leitores pelotenses para que possam ir aos eventos que serão comentados aqui, em vez de somente ler as análises posteriores. Quem quiser conhecer a vida de Pelotas e valorizar seu capital cultural está convidado a participar como espectador e enviar também seu material escrito ou gráfico.

Terceira Semana do Camarão

Desde 2008, o grupo Sabores do Laranjal organiza, na semana prévia à Páscoa, uma promoção gastronômica com sentido turístico: a Semana do Camarão (veja nota de 2009), que nesta Semana Santa de 2010 está em sua terceira edição, até este sábado (3).

Segundo Danúzia Ribeiro, coordenadora do grupo de restaurantes, vinte pratos à base de camarão são oferecidos este ano por quatro restaurantes: Café Panqueca, Cebola Mix (esq.), Cia da Gula e Santo Antônio. Com 10% de desconto nos pratos à base de camarão, com preços entre R$ 30 e 40 (para duas pessoas).

A informação está no jornal Diário da Manhã de sexta passada (26), dia em que a promoção começou. Não se encontra na internet, nem sequer no portal do Diário Popular. Na Bahia e interior de São Paulo também existem eventos com esse nome.

Na Semana Gastronômica de 2009, o Cebola Mix ofereceu "Camarão ao molho de queijo": camarão frito no azeite com cebola, pimentões, tomate e palmito com molho de queijo, acompanhado de arroz e batatas noisette (dir.).