Páginas deste blogue

terça-feira, 12 de março de 2013

"Incidente em Antares" teve cenas em Pelotas

DVD somente se encontra em sebos.
A minissérie Incidente em Antares (1994), adaptada do livro de Érico Veríssimo, foi a primeira coprodução feita em comum entre a RBS e a Rede Globo (v. descrição do programa). O programa foi levado ao ar em 12 capítulos, entre novembro e dezembro (v. sinopse do programa). O DVD saiu em 2005, com 3h e meia de duração.

O livro saiu em outubro de 1971 pela Editora Globo de Porto Alegre, e esgotou sucessivas edições (em 1976 já estava na 14ª). Ainda eram os "anos de chumbo" e o escritor lançou críticas à hipocrisia social e aos abusos de poder antidemocráticos, indiretamente ao regime militar da época (Governo Médici).

As gravações foram feitas em 1993: nos estúdios da Cinédia, numa cidade cinematográfica em Jacarepaguá, em locações fluminenses (Petrópolis e Niterói) e em ruas de Pelotas, no bairro do Porto.

Conforme a Globo, 1200 figurantes locais participaram das filmagens, mas foram realmente uns 500. Aceves Moreno e Chico Meireles interpretaram os coveiros em greve e Flávio Dorneles fez um mendigo; um dos extras foi Gê Fonseca (informação dada pelo ator Vagner Vargas).

Os diretores Carlos Manga e Paulo José tiveram carta branca para fazer uma produção de luxo (leia uma crítica). O resultado foi a minissérie mais cara da TV brasileira, custando 1 milhão e 700 mil dólares, ou 140 mil por capítulo (uma série da Globo custa, em média, 30 mil dólares por capítulo).

Conforme comentário da Veja, alguns atores pediam papéis, como Glória Menezes, que chegou a dizer ao diretor: "Paulo, sou gaúcha e ainda por cima de Pelotas, e você não deixou nem um papelzinho para mim?"

Na fictícia localidade gaúcha de Antares, uma greve dos coveiros deixa sete mortos sem enterro. Os defuntos se levantam e protestam pelo abandono, aproveitando de criticar livremente a sociedade dos vivos. O incidente se transforma em convulsão social e é preciso calar os mortos.

Capa da 11ª edição (1974)
As alusões que o escritor fazia à ditadura militar ainda em vigência e ao coronelismo provinciano (veja resumo do livro) foram usadas pela produção e ainda fazem sentido hoje, no Brasil e em outros países. Por exemplo, um dos mortos, chamado João Paz, havia sido torturado. O dia do incidente é 13 de dezembro, em paralelo sutil com o AI-5, que cassava mandatos de políticos (vigente desde 13-12-68).

A história envolve crítica social, especialmente dirigida à cultura política brasileira, com elementos de terror clássico e de realismo fantástico (v. realismo mágico). Esta obra de Érico Veríssimo faz parte dessa corrente literária, que começou entre escritores hispano-americanos, nos anos 40 e é usado ainda hoje (v. Wikipedia).

Os nossos entes queridos mortos são partes de nosso psiquismo, que foram projetadas por nós em pessoas próximas (quando vivas), que constituem vinculações importantes como a figura materna, irmãos mais velhos etc. De repente, essas projeções deixam de funcionar e precisamos desligá-las de nossas vidas. Se negarmos essa perda (o sumiço do vínculo) ou se as pessoas mortas ressuscitassem, elas passariam a ser elementos semivivos de nosso interior psíquico e começariam a falar em voz alta nossos pensamentos ocultos (conteúdos latentes ou inconscientes, de modos inconvenientes ou inesperados para nossa consciência.
Imagens da web

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar esta postagem.