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segunda-feira, 30 de março de 2009

Carla Domingues, Rainha da Noite

Carla Domingues Batista cantou uma das árias da Rainha da Noite, da ópera "A Flauta Mágica", de Mozart, com o acompanhamento da Camerata Florianópolis, regida por Jeferson Della Roca, em dezembro de 2008. Carla é soprano lírico, graduada pelo Conservatório de Música de Pelotas em Canto (2005) e na Licenciatura em Música (2006).

Natural de Canguçu, ainda estudante ela se apresentava com sucesso em diversos palcos, abordando variados gêneros musicais, e após sua formatura segue subindo degraus qualitativos, em progressiva formação técnica e ganhando concursos no Brasil e no Uruguai. O desempenho em Florianópolis, onde cursou Mestrado em Musicologia, é um deles.

A ária da Rainha da Noite aqui abordada é Der Hölle Rache kocht en meinem Herzen (A vingança do inferno arde em meu coração), que oferece dificuldades importantes, como a pronúncia do alemão, a capacidade de chegar a um Fá 6 (a nota mais aguda) mantendo a afinação e, ainda, a intensa expressividade teatral da personagem. Como no teatro, uma coisa é decorar o papel, e outra é transmitir a alma do personagem.

Além de superar estas exigências dando a impressão de serem fáceis, Carla o faz no início de sua carreira, o que nos deixa duplamente impressionados: pela força da personagem em si, e pelo contraste que percebemos entre este papel e a intérprete tão jovem e simpática. Carla faz que, desde os primeiros compassos, a fúria e a maldade da Rainha da Noite cheguem a nossos ouvidos por sua voz, pelos trejeitos faciais e até pelas mãos. Se a genialidade do compositor se impôs foi porque a intérprete a deixou fluir.
Post atualizado em 21-1-14

domingo, 29 de março de 2009

A vida rebrota

Na Anchieta com Gomes Carneiro, uma grande e velha casa, aparentemente abandonada, marca com sua cor escura a imposição de sentimentos negativos.
Não se vê ali movimento nem luz, exceto os que vêm da rua. Signo de abandono da cidade, que no passado foi construída mas hoje só busca ser conservada.
Ante a solidão e a pouca criatividade, é a natureza que dá mostras de querer renascer, no meio de tanta dureza e esquecimento.
No meio da escuridão, uma luzinha se acende, mesmo que não seja vista. Depois de todo inverno, sempre alguma semente brota e a vida ressurge.
Foto de F.A.Vidal.

sábado, 28 de março de 2009

Conjunto musical Os Velascos

Na década de 1960, Pelotas viu nascer e crescer um grupo musical de adolescentes admiradores do pop rock e da Jovem Guarda: Os Velascos. Cinco irmãos homens começaram tocando por brincadeira, em festas de amigos no bairro Nossa Senhora de Fátima. Na época, "brincadeira" também significava: balada, festa de dançar. O primeiro a entusiasmar-se foi Luiz, que estudava saxofone na Sociedade Musical União Democrata; ele levou Paulo e Jorge, que pegaram o trombone e o trompete. Já bateria e guitarras elétricas eram tidas como "barulho"; hoje, consideram-se soft music.

Muitos gostavam de carnaval, mas esta gurizada entre 9 e 20 anos já começou com versões de músicas americanas e italianas, cantando e tocando. Cada um pegava mais de um instrumento: guitarra, trompete, saxofone, teclado e bateria; além de obter um som diversificado, eles iam trocando a formação. Como eram só homens, tinham uma especial harmonia que se refletia na música; a admiração do sexo oposto era incondicional.

Na foto à direita (clique nas imagens para aumentar), os cinco irmãos: Jorge (bateria), Paulo (baixo), Darci (guitarra), Luiz (saxofone) e Miguel Arcanjo (teclado).

O primeiro degrau à fama foi num programa de calouros na Rádio Cultura, quando usaram o nome por primeira vez. Vieram os pedidos para tocar em toda a cidade: nas domingueiras da Teles e da Ramiro, em boates e clubes sociais - do centro, da periferia e do interior do município. Em 1967, estavam animando seu primeiro carnaval, no Clube Sul-América, do bairro Areal. Todos os gêneros estavam cobertos.

O segundo passo foi em 1970, quando os convites já provinham de outras cidades e foi necessário ampliar-se: compraram melhores instrumentos e vieram mais 4 músicos: Paulo Lima e Ita (guitarras), Tony Del Ponte (teclado) e Nelson Brisolara (trompete). Daí em diante a superbanda se apresentou até em Santa Catarina, Uruguai e Argentina. A brincadeira foi levada a sério por uns 16 anos, até 1978, e teria durado mais se as necessidades familiares e profissionais não existissem para os irmãos Velasco.

Três décadas depois, eles conservam alguma ligação com a música, e decidiram voltar a tocar. Organizaram um show especial no bar João Gilberto, há dois meses, e o entusiasmo das lembranças renasceu, tanto no público como neles mesmos. Eles se reapresentam na próxima sexta-feira (3) no Teatro Sete de Abril, e em maio, num jantar bailável no Clube Diamantinos.

O repertório é dos anos 60 e 70: Roberto e Erasmo Carlos, Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis, The Fevers, e músicas de Carlos Santana e Domenico Modugno.

O grupo Os Velascos não gravou discos, mas terá um DVD depois do show no Sete (é preciso se adaptar aos tempos). Será muito aventurado profetizar que esta gravação dos 5 Incríveis pelotenses vai se esgotar rapidamente?

Já que o conjunto não tem ainda gravações, ilustrei este post com uma d'Os Incríveis que é tocada pelos incríveis Velascos: "Molambo", música bem brasileira (de Meira e Mesquita, 1953), que ganhou roupagem pop, como se fosse americana. Dentro das opções que o YouTube relaciona, a melhor é a 10: "O Milionário" (esta sim, americana).
Imagens fornecidas por Jorge Velasco.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Poluição visual na cidade

A arquiteta pelotense Adriana Araújo Portella pesquisou, em seu mestrado na UFRGS e no doutorado na Inglaterra, sobre Percepção e Análise do Espaço Urbano.
Em seu estudo, ela define poluição visual urbana como a degradação do espaço em função do uso desordenado de anúncios comerciais. Estes costumam ser fixados sem considerar as características dos edifícios e a identidade do espaço urbano. Neste conceito, a publicidade que é posta de modo ordenado e respeitando a identidade cultural do setor em questão não é poluição visual. A ideia é que as casas e edifícios possam ver-se e que seja ativado o funcionamento econômico e social - como o turismo e o próprio comércio local.
Por exemplo, a Times Square em Nova Iorque é um centro comercial cosmopolita: ali os anúncios podem e devem ser de grandes dimensões, luminosos e variados: se eles fossem retirados, o vazio estaria negando a identidade do lugar. Em uma área residencial, por outro lado, os interesses e as características serão diferentes, e o planejamento da cidade deve contemplar essas diferenças.
O caso de Pelotas: no centro histórico, os anúncios comerciais devem respeitar e fortalecer a identidade cultural da área, que se veria prejudicada se os edifícios e seus detalhes não pudessem ser apreciados.
O magazine no Calçadão (esq.) e a farmácia na Osório (dir.) não destacam os traços culturais e arquitetônicos dessa zona histórica. Um caso emblemático é a Galeria Mazza (última foto abaixo), que passou em 2008 por uma restauração da fachada (provavelmente sob estímulo da pesquisa de Adriana Portella). Veja o post neste blog.
Um exemplo diferente é que as árvores em excesso da praça Coronel Osório já foram consideradas poluição visual, por impedirem ver os prédios mais importantes da cidade (valorização da história e da geografia urbana).
A tese de doutorado de Adriana investigou a percepção de 420 pessoas sobre a poluição visual em três cidades (Pelotas, Gramado e Oxford). Segundo suas conclusões, alguns fatores devem ser considerados no controle da poluição visual para que se obtenha um objetivo comum e coerente:
1. A sociedade e sua tendência ao consumo requerem a existência de anúncios comerciais. Considera-se que os usuários modernos têm necessidades visuais e de consumo, a ser integradas ao meio e manejadas como qualquer outra função urbana. O consumo pode ser estimulado sem prejudicar o ambiente.
2. Os interesses de diversos grupos urbanos, em 4 aspectos:
- a percepção da imagem histórica da zona,
- a imagem que os moradores gostariam de manter,
- a imagem que a autoridade pretende promover, e
- os interesses dos comerciantes.
O terceiro aspecto, da autoridade, não se refere simplesmente às normas, mas ao interesse de "marketing da cidade", a publicidade que favorece o turismo urbano, área por área. Além do controle urbano, há a promoção da cidade.
O quarto aspecto se vê muito no Calçadão, na Marechal Floriano e na General Osório, onde cada comerciante obtém um efeito positivo sobre o pedestre com anúncios individuais, mas, somando-se o conjunto da quadra, tem-se um resultado caótico, sem efeito estético nem comercial.
O que se requer é coordenar todos esses interesses, para um crescimento econômico que respeite a identidade cultural. As normas e o controle da publicidade vão depender de todos esses fatores.
Um dos resultados da tese de Adriana é que, com mais de 10% das fachadas ocultas por anúncios, as pessoas desenvolvem uma percepção negativa do setor. Se a poluição visual diminui, o comércio pode ter até benefícios. O trabalho foi apresentado em Pelotas, segundo noticiado na época, e gerou discussão na Câmara de Vereadores, que já esboçou normas, mas pode não ter suscitado o necessário debate com arquitetos, moradores e comerciantes.
Referências das pesquisas:
  • PORTELLA, Adriana Araújo.
    Evaluating commercial signs in historic streetscapes: the effects of the control of advertising and signage on user’s sense of environmental quality.
    Tese de Doutorado. Oxford Brookes University, Oxford, Inglaterra, 2007.
    Tradução aproximada: Avaliação de anúncios comerciais em paisagens urbanas históricas: quais os efeitos do controle da publicidade sobre a percepção que o morador tem da qualidade ambiental.
  • PORTELLA, A. A. (2003).
    A Qualidade Visual dos Centros de Comércio e a Legibilidade dos Anúncios Comerciais.
    Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pos-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. Porto Alegre.
  • Times Square não é exemplo de Poluição Visual, artigo na revista Arquitextos n.94, março 2008.
Imagens: F.A.Vidal (1) e Adriana Portella (2-4).

quinta-feira, 26 de março de 2009

Cine Rádio Pelotense (1962-1997), o penúltimo moicano

A Rádio Pelotense, a mais antiga do Estado, foi fundada em junho de 1925 por Alexandre Gastaud, João Abrantes, José Luís Pinto da Silva, Antônio Nogueira Filho, Tobias Sica e Carlos Sica. Constituída por profissionais ousados e criativos, a Sociedade Rádio Pelotense obteve de início uma centena de sócios e o apoio de toda uma comunidade, orgulhosa e entusiasmada com tanto pioneirismo: realmente Pelotas se achava ao nível do Rio de Janeiro, onde estava a rádio reconhecida oficialmente como a mais antiga do Brasil, a Roquette Pinto (fundada em 1923, hoje Rádio MEC). A Rádio Clube de Pernambuco já estava transmitindo desde 1919, pelo qual seria a primeira. A Pelotense é a 3ª ainda em funcionamento.

Naquela época, informa o site da emissora, havia seis salas de cinema funcionando em Pelotas: Ponto Chic, Popular, Coliseu, Arco Íris, Teatro Sete de Abril e Teatro Guarani.

"Cine Rádio" virou "Cine Radtke"
A primeira transmissão foi feita em 25 de agosto de 1925, desde uma sala da Escola de Agronomia, cedida pelo intendente municipal, Augusto Simões Lopes. Sucessivamente, a Rádio mudou-se para dependências do Clube Comercial, depois para uma sede própria na Félix da Cunha.

Uma nova mudança da Rádio Pelotense em 1962 parecia ir ligada à criação de um novo cinema em Pelotas, que ficou com o nome da sociedade proprietária: Cine Rádio Pelotense. Não como os cine-teatros, no sentido de ser as duas coisas (cine e rádio), mas sendo um cinema que era da Rádio Pelotense.

A primeira sessão exibiu o filme "A Taberna das Ilusões Perdidas" (1960), com Tony Curtis e Debbie Reynolds (informação pesquisada por Carlos Adib).

Ao longo das décadas, a empresa fez a radioemissora crecer e criou uma rede local de cinemas, tendo em vista o interesse comunicacional e financeiro. Como o público gostava de assistir a filmes para divertir-se e informar-se, o negócio se sustentava economicamente. As salas foram: o cine Capitólio (1928), o Pelotense (1962), o cine Rei (1963) e o Tabajara (1967). Nas mesmas mãos se encontra hoje o CineArt.

O Pelotense tinha sessões matinais aos domingos, com Tom&Jerry e desenhos animados europeus e russos. A bombonière não vendia pipocas; nos primeiros tempos não havia refrigerantes em lata. As preferidas eram as balas de goma e as Azedinhas. A sala não costumava lotar sua capacidade (880 lugares) e o piso superior deixou de ser usado. Com a diminuição sucessiva das plateias, o cinema teve que fechar, o que causou mais tristeza do que revolta na comunidade de cinéfilos. Não era o último dos cinemas de rua, mas "somente" o penúltimo. A demora na reocupação do ex-cinema também diluiu as reações, entre 1997 e 2007.

Ao fundo, a entrada direita; o piso superior virou depósito.
Finalmente, quando o local foi alugado pelo Comercial Radtke, as velhas filas de cadeiras foram vendidas às pressas - em conjuntos de 5 - por dez reais a unidade, segundo informou um artigo do Diário Popular (veja o texto). O velho cinema ia-se para sempre, após 45 anos.

Um dos que comprou cadeiras foi o jornalista Jairo Sanguiné, professor da Católica, hoje diretor da Comunicação Social. “Tem o romantismo dos cinemões”, disse, ao fazer a escolha daquelas que levaria para casa. Como antiguidades, os móveis adquiriram valor sentimental e decorativo - metáfora da "inutilidade" econômica dos velhos cinemas.

Lado esquerdo do antigo palco
Seguindo a notícia acima citada, também foram postos à venda os projetores Philips e a antiga tela em cinemascope. A catraca INC Wolpac, onde está mantido o número 38.083, ficou no acervo da Rádio Pelotense, segundo informou o funcionário Norberto Rosado.

Em 27 de março de 2007, a maior filial dos supermercados Radtke mudou-se da Andrade Neves entre Cassiano e Major Cícero a uma quadra de distância, entre Major Cícero e Senador Mendonça. Não houve mudança nos materiais nem nos funcionários, mas o atendimento se viu beneficiado pelo maior espaço. Querendo manter a mística do local, o cartaz agora anunciava: Cine Radtke.

Numa primeira fase, os cinco caixas ficaram no antigo saguão de espera do cinema; açougue e padaria instalaram-se no antigo palco (esq.) e o segundo piso virou depósito (acima dir.). No verão passado, os caixas passaram para a área de exposição das mercadorias, e o ex-saguão agora é lancheria-padaria-sorveteria (abaixo).

Antigo saguão de espera com a bombonière e a entrada direita
Fotos: Rádio Pelotense (1) e F.A.Vidal (2-5).

quarta-feira, 25 de março de 2009

Um anúncio apetitoso

Quem passa pela Voluntários entre Deodoro e Barão de Santa Tecla não pode deixar de perceber a existência de um restaurante. O anúncio não deixa dúvidas e até dá vontade de ficar olhando um garfo tão grande. Quem estiver com fome fica ainda mais disposto a entrar ali.

O restaurante do garfão é um buffet diurno: só atende ao meio-dia. Tem almoço com churrasco, e a comida é gostosa, bonita e abundante. É dos poucos lugares em que nos dias mais frios se encontra mocotó à gaúcha, daqueles com cheiro e gosto bem forte de mondongo, feito no dia e não congelado.

Buffet Ponto Chic pode até ser confundido, por causa do nome somente, com o Bar e Café Ponto Chic, da Sete de Setembro. Este último é uma lancheria, e recorda o nome do cinema Ponto Chic que existiu na esquina da Sete com a Quinze, nas primeiras décadas do século XX, onde hoje é o edifício da Associação Comercial (Café Aquários, para os habituês).
Foto de F. A. Vidal

Pernas-de-pau no Tholl

Este ensaio (acima) foi gravado em novembro de 2007. Em cena: Kleber Moreira, Fernando Jurgina, Ricardo Bach, Guto Rangel e Deniel Santos. Dias depois, veio a apresentação na TV Globo (abaixo).

O Grupo Tholl tem novo site, com sua agenda atualizada, mas conserva o anterior, sob o antigo nome de Oficina Permanente de Técnicas Circenses. Também há fotos e vídeos no seu fã-clube.

terça-feira, 24 de março de 2009

Santa Bela Casa

A fotógrafa Suzy Alam expõe em seu portfólio virtual 96 fotografias sob o título Santa Bela Casa, homenagem à Santa Casa de Misericórdia, em seus 160 anos.

A amostra foi realizada publicamente em 2007, e as imagens ficaram desde então neste arquivo. São um modelo de cuidado e sensibilidade para retratar uma série de espaços que os pelotenses conhecem bem, ou creem conhecer.

Depois de ver qualquer uma destas imagens, ficamos perguntando-nos se é possível que estes grandes e pequenos lugares, às vezes minúsculos, sejam reais.

Quem já esteve na capela, nos corredores, nos quartos, não percebeu os detalhes de tal forma, ou se viu a luz do sol fazer brilhar partes de alguma parede não lhe terá dado maior importância.

Suzy Alam registra a personalidade dos espaços, se é que se pode usar a expressão. Nenhuma pessoa se vê nesta centena de fotos, mas as escadas parecem falar e os lugares vazios parecem cheios de humanidade.

Somente com uso dos ângulos e da iluminação de diversas horas do dia, a fotógrafa constrói uma impressionante visão de algo que acreditávamos conhecer.

Fundada em 20 de junho de 1847, a Santa Casa passou a funcionar uns vinte anos depois no seu atual prédio da praça Piratinino de Almeida, que foi construído em partes, sem unidade arquitetônica.

O primeiro bloco é de 1861, e o mais recente, o Pavilhão dos Tuberculosos, de 1921. Caetano Casaretto deu unidade ao conjunto, em 1932. Nos anos anteriores, o arquiteto havia feito o segundo pavimento da Biblioteca Pública.

Postagem reeditada em 17-10-13

Album Santa Bela Casa

segunda-feira, 23 de março de 2009

Recortes femininos de Suzy Alam

Suzy Alam é artista plástica, professora e arteterapeuta pelotense, apaixonada pela fotografia. Nos últimos anos, tem realizado exposições em torno a temas humanos, urbanos e naturais, como a amostra Santa Bela Casa, em 2007.

Suzy organizou um ensaio com 15 imagens, sob o título Recortes femininos: uma imagem re-des-construída. Tendo como ponto de partida a fotografia de mulheres e de moda, a artista busca novas percepções estéticas usando a intervenção digital. “É a multiplicidade do visível, das inúmeras maneiras de ver uma mesma imagem e de recriá-la”, explica a artista.
O universo feminino, que é o seu também, conserva seu mistério e sua magia, mesmo sofrendo manipulações como: recorte de detalhes, sobreposição de cores, reformulação de contrastes, desestruturação de partes.
Lábios, corações, flores, mãos, pele, unhas, ornatos. Gestos, sombras, sentimentos, pausas, texturas, olhares. A mulher está sempre aí, convidando a novas interpretações.
A partir de fotos já concebidas para books femininos, Suzy faz uma releitura poética das mesmas. “Desconstruo e recrio as imagens inúmeras vezes, até chegar ao resultado esperado”, conta.
Às vezes o resultado se aproxima à pintura, desfazendo a própria essência da fotografia, como uma mixagem gráfica. Hoje em dia, a manipulação digital permite criar, em instantes, efeitos que antes exigiam demorados e complicados processos de edição manual.
As colorações podem ser desfeitas e refeitas, perdem-se as linhas, as sombras têm vida própria, fora da "realidade". A fotografia pós-moderna combina fragmentação e identidade, trazendo a experiência alucinatória do mundo contemporâneo. Texturas, cores, espaços e formas se mesclam e se multiplicam, iluminando e dinamizando as imagens.
Até na moda, com a evolução estética, "a fotografia passou a ocupar a função, não somente de retratar a roupa, mas antes, de retratar uma atitude, um estilo”, comenta Suzy.
A intervenção digital se vale do poder intrínseco das imagens e expande as fronteiras da fotografia e da arte. No caso que se comenta aqui, se acrescenta a proposta de desconstruir e reconstruir o conteúdo feminino. Será isto possível?
O campo de pesquisa é amplo e instigador: até que ponto o feminino pode fragmentar-se sem perder sua natureza? O infinito parece ser o limite, como a imaginação humana.
Visitação até dia 1º de abril, diariamente das 7h às 22h no Hospital-Escola UFPel/FAU (Rua Prof. Araújo, 538). A entrada é franca; somente se pede usar um crachá de visitante.
Fotos 1 e 3: divulgação do Corredor Arte. Foto 2: F.A.Vidal.

domingo, 22 de março de 2009

Duas sociedades inspiradas em Freud

A Sociedade Científica Sigmund Freud foi fundada em janeiro de 1981 por Sérgio Abuchaim e outros psicanalistas locais, formados em Buenos Aires. Desde então, ela funciona como um centro cultural e de estudos científicos sobre o comportamento, à luz da psicologia psicanalítica.

Desde essa época, Pelotas tem sido um centro importante na área da Psicanálise, a única cidade no Brasil que, não sendo capital de Estado, sedia um núcleo de estudos, de atendimento clínico e de formação de psicanalistas. Esse núcleo, iniciado em 1987, é a atual Sociedade Psicanalítica de Pelotas, do mesmo tipo e nível do núcleo porto-alegrense. Em 2004, a SPPel foi reconhecida oficialmente pela Associação Psicanalítica Internacional (IPA), fundada por Sigmund Freud em Viena há cem anos.

Tanto a pioneira Sigmund Freud como a Sociedade Psicanalítica funcionam no moderno Everest Executive Center (dir.), Princesa Isabel 280, esquina Gonçalves Chaves - respectivamente, no 3º e no 11º andar.

A Sociedade Sigmund Freud não forma psicanalistas nem dá atendimento a pacientes, mas a inspiração do patrono concentra nela psicólogos, psiquiatras e outros profissionais ao redor da Psicologia do Inconsciente, um tipo de psicologia individual que estuda a personalidade à luz das emoções mais profundas. A Sociedade Psicanalítica, por sua parte, reúne os psicanalistas locais e dá formação a novos especialistas, reconhecidos pela Associação de Psicanálise nacional e pela internacional.
Ao fundar a Psicanálise - como teoria e como terapia - e a associação mundial de centros psicanalíticos, Freud estabeleceu um método de 3 linhas principais: sessões diárias de terapia pessoal, atendimento supervisionado e seminários teóricos semanais. O mesmo estilo tripartito vinha dando certo na vida religiosa, desde o século IV, com Santo Agostinho: oração, trabalho e estudo.
Há 28 anos, a Sigmund Freud pelotense promove cursos breves, grupos de estudos independentes, um curso de pós-graduação em psicoterapia (em reconhecimento pelo CFP) e reuniões científicas e culturais às quartas-feiras - mesmo dia em que Freud costumava fazer suas reuniões de trabalho com os primeiros colegas, na Viena de 1902.
Além das reuniões sobre temas culturais (em áreas artísticas), há exposições de quadros a cada mês.
A Sociedade Psicanalítica organiza reuniões abertas há oito anos, na última quinta-feira de cada mês às 20h30min. A primeira deste ano será sobre o tema "Por que os bebês choram".
Jorge Velasco palestrou sobre Psicanálise.
No dia do Psicólogo brasileiro em 2008, o psicanalista Jorge Velasco proferiu uma palestra no auditório Sérgio Abuchaim (dir.), da "Sig" pelotense (há uma associação análoga em Porto Alegre).
A primeira reunião científica de 2009 será na quarta 25 de março às 20h, com o tema "O primeiro sexo", pelo dr. Fábio Braga.
A especialização em Psicoterapia Psicanalítica inclui seminários sobre psicanálise, supervisões individuais e grupais, e terapia pessoal - mesmo tripé indicado por Freud para os futuros psicanalistas. Este curso da Sigmund Freud, único no interior do Estado, forma especialistas em terapia analítica (os psicanalistas propriamente ditos são formados na SPPel). Dura 3 anos, com custo de R$ 480 em 36 meses, e tem o requisito final de apresentar um trabalho escrito sobre um tema de pesquisa.
Foto 2 da web. Fotos 1 e 3: F. A. Vidal.

sábado, 21 de março de 2009

Rua Santa Cruz, início e fim

A rua Santa Cruz é uma das longitudinais de Pelotas mais antigas, mas sem grande relevância social, em relação a outras vias do centro da cidade. Estende-se das proximidades do canal São Gonçalo até uns 100m adiante da Avenida Bento Gonçalves.
Seu nome homenageia a Cruz onde morreu Jesus Cristo; pelo menos em nossa cidade, é o único nome "santo" de rua que não se refere a uma pessoa. O segundo nome oficial do Brasil foi Terra de Santa Cruz.
Historicamente, considera-se Centro toda a zona urbana mais alta, favorecida pela visão sobre o São Gonçalo e por estar a salvo de inundações; nesse setor desenvolveu-se a política e a cultura pelotense, a partir da fundação da Freguesia, em 1812.
Geograficamente, a rua Santa Cruz localiza-se ao longo da baixada ou declive desse território, como se metaforicamente surfasse na onda que cai em direção à chamada Várzea. Suas colegas paralelas ao longo da Baixada são a Gonçalves Chaves e a Almirante Barroso. Entre a Princesa Isabel e a Sete de Setembro (dir.), encontra-se bem no meio da onda.
A Santa Cruz sempre teve um caráter secundário; o único registro que encontrei em pesquisa rápida foi ter acontecido em 7 de setembro de 1911, no nº 56 da antiga numeração, a fundação do Grêmio Esportivo Brasil. Era a residência de um dos primeiros jogadores, Salustiano Brito (veja a referência).
A casa da família Nascimento pertence à Barão de Butuí, mas é mais familiar à Santa Cruz. Ela conserva de seus inícios o baixo muro de proteção; é hoje, em Pelotas, das poucas residências sem grades (esq.).
Até a primeira metade do século XX, o trecho entre Butuí e Princesa Isabel não existia; a quadra dos fundos da grande propriedade (do Asilo de Órfãs) foi separada, ficando depois para o INPS, e a rua foi aberta. Nos anos 70, a numeração foi alterada para incluir o trecho antes da Benjamin Constant, na época sem construções.
Não se pode dizer que a Santa Cruz tenha uma tradição artística ou cultural. A primeira sede do Colégio Santa Margarida foi num prédio alugado, na esquina com General Neto; isto ocorreu por uns anos, na segunda década do século XX, a julgar pelo artigo de Gladys Lange do Amaral (veja o texto). Bem mais recentemente, fundou-se o Espaço de Dança Laís Hallal (número 1300) e a locadora Arte&Vídeo abriu o Espaço Molière (número 2252).
Em 2008, muitas ruas receberam asfalto por cima dos antigos paralelepípedos, e a Santa Cruz entrou nesse plano de modernização rápida, desde a Gomes Carneiro até a Bento Gonçalves. Na foto à esquerda, a esquina com a Lobo da Costa.
Desde o asfaltamento, esta é uma via importante de escoamento de veículos da zona do Porto em direção ao norte. Quando se iniciava o asfaltamento, anunciou-se a ideia municipal de inverter o sentido do trânsito, para que a rua servisse de alternativa à Gonçalves Chaves para trazer o movimento do norte ao sul, mas até hoje não se fez essa inversão.
Fui buscar a primeira casa da Santa Cruz, e descobri que se tratava do número 441. Além dali, a rua está fechada por um portão gradeado (dir.), abrindo/fechando a possibilidade de casas com números mais baixos. Esses primeiros metros têm chão de terra, sendo as casas de material firme. A imagem é de uma vila antiga, ou da periferia de uma cidade pequena. Galinhas passeiam soltas, mas grades e cercas mostram que estamos numa cidade "moderna".
No extremo oposto, onde a rua termina, encontrei um calçamento com pedras irregulares, daquelas que impedem o carro de ir a mais de 20 km/h. O final está marcado por um muro de uma residência ou empresa (esq.), como se a rua tivesse invadido um espaço baldio até quase entrar em propriedade privada.
Em síntese, 3 quilômetros de sul a norte, com metade asfaltada e os extremos fechados sem saída, conservando tempos antigos.
Fotos 1 e 2: SkyscraperCity (Farrapo).

sexta-feira, 20 de março de 2009

Cultura somos nós mesmos

Sobre a definição de cultura há controvérsias, inclusive entre os mais entendidos em antropologia. Há acordo geral em que o conceito de "cultura" é um grande ônibus onde cabem todas as produções humanas, principalmente artísticas, religiosas e científicas. O saco pode ampliar-se e aceitar toda a linguagem, os costumes, e as formas de estruturar o tempo.

Na política e no jornalismo, Cultura tende a ser uma área ligada a Educação, Turismo e Esportes, e que funciona como sinônimo de Artes. Alguns municípios têm uma pasta especial para Cultura, e alguns jornais a separam de Espetáculos e de Literatura. Mas se fosse pelas definições antropológicas, até Polícia, Esportes e Política deveriam entrar na editoria cultural, pois Cultura é tudo o que os seres humanos fazem ou dizem.
A Livraria Cultura tem fins comerciais, como todo negócio privado, e seu site é mais um ponto de vendas. Mas esta empresa também sabe empatizar com seus clientes, que são apreciadores e produtores de cultura, gente de nível médio ou alto, com alto poder aquisitivo. Sua revista de divulgação transformou-se em um bonito veículo impresso, com informações sobre os produtos que a rede de livrarias vende e sobre todas as atualidades humanas e científicas que interessam a seus consumidores.
Mesmo com o apelo comercial, a Revista da Cultura pode se considerar uma revista cultural, e não somente a revista da Livraria Cultura. Em uma de suas seções, Gente que faz a Cultura, essa duplicidade fica evidente quando os clientes respondem o que é Cultura. O negócio sai ganhando com essa ambiguidade, mas dos testemunhos podemos aproveitar o conceito que as pessoas têm de cultura.
Filtrei algumas dessas definições, retirando as de maior significado comercial, para contribuir a uma reflexão política e teórica sobre a Cultura. Já que são as pessoas que produzem e gostam de Cultura, o mais natural e coerente é justamente perguntar a elas o seu ponto de vista. Sobre essa visão é que devem elaborar-se planos culturais para nosso povo.
Cultura é...
- Alimento para a alma.
- Fundamental para entender a vida.
- Um pouco mais de felicidade no dia-a-dia.
- Os costumes que as pessoas têm, o que elas gostam de fazer no seu dia-a-dia.
- O refinamento da sensibilidade na percepção das criações de todos os seres humanos.
- Sempre tentar entender as coisas e aprender mais sobre tudo.
- Tudo que se absorve na vida, ao lado do prazer de ser e estar.
- Tudo aquilo que agrega.
- A dinâmica em que estamos inseridos, é o movimento humano.
- Diversão e arte.
- Continuidade e transformação, sensibilidade e humanidade.
- Tudo o que é construído com o traço da humanidade.
- Conhecimento e descobertas essenciais.
- A força máxima da vida.
- Ler e aprender cada vez mais.
- Tudo aquilo que alimenta e faz da nossa alma um instrumento para nossa excelência.
- A sedimentação de um passado... Quando os pais orientam e dão livros, a pessoa está bem formada.
- O que a gente tem de aprender.
- Várias informações virando uma só na minha cabeça.
- Uma fonte inesgotável de prazer.
- A abertura ao novo, sem medo de arriscar... As pessoas têm de ser plurais, e não apenas uma única coisa.
- Sempre aprender coisas novas, de um jeito que seja divertido.
- Respeitar as diferenças.
- Uma eterna busca de conhecimento de diversas formas.
- Tudo relacionado à arte e seus aspectos.
- Gosto muito de escrever e cultura é a minha vida.
- Onde mato minha curiosidade... posso viajar, descansar, aprender.
- Conhecimento amplo, sobre a vida, a arte. Você acha na livraria, no cinema, numa exposição.
- O hábito de ler, ver filmes, ter uma boa comida, bons vinhos, visitar lugares interessantes, uma mulher interessante.
- Quando temos alguma cultura, sabemos que precisamos ter ainda mais.
- Vai desde literatura, arquitetura, culinária, tudo o que faz parte dos costumes de um país. É o que caracteriza um povo.
- Uma coleção de vivências e interações com pessoas. Tudo isso introjeta algo que nos melhora como seres humanos.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Colégio São José prepara centenário

Em 19 de março de 1910, dia de São José, foi fundado um novo colégio feminino em Pelotas. Hoje o Colégio São José completa 99 anos e inicia a preparação do seu centenário.

Conta o site do Colégio que a iniciativa foi do prefeito municipal José Barbosa Gonçalves (1908-1912), que desejava para sua filha uma educação católica sem precisar enviá-la a Porto Alegre. Como nossa cidade ainda não era diocese, ele solicitou ao bispo da Capital a vinda a Pelotas das irmãs da Congregação de São José, a mesma que desde 1906 administrava com sucesso e boa fama o Colégio Sévigné.
A Congregação das Irmãs de São José de Chambéry foi fundada por um jesuíta francês em 1650; estava no Brasil desde 1858 e no Rio Grande do Sul desde 1898. Tem casas em várias cidades brasileiras, mas não em Pelotas.
A primeira sede do Colégio São José de Pelotas funcionou na rua Quinze de Novembro esquina Gomes Carneiro, sob a direção da Madre Saint-Maurice. A educação passou a ser mista em 1972.
A foto do Internato São José, tomada por Brisolara em 1922 (abaixo), mostra como o prédio era originalmente.
O crescimento do Colégio trouxe maiores necessidades de espaço: dois andares novos de salas (que desconfiguraram a construção), anexos pela rua Três de Maio (dois andares adicionais com salas) e a entrada comum pela Félix da Cunha: capela, ginásio e auditório (1ª foto).
Hoje, a escola está totalmente modernizada, com boletins virtuais, um sistema próprio chamado Aula Web com material didático, links para os blogues de professores (Lyl Recuero e Elton da Costa) e o Projeto Conexão (programa de TV, programa de rádio e publicações no Diário Popular).
Fotos: F.A.Vidal e Cosac Naify.

Galeria Nóris Mazza

Galeria de lojas já foi magazine e residência familiar
Uma casa antiga localizada em pleno centro de Pelotas precisa se reinventar para escapar da demolição. A Galeria Nóris Mazza soube adaptar-se ao jogo da modernidade e prolongar-se no tempo, na selva comercial de uma cidade onde só existem pequenas e médias galerias.

Ao redor de 1950, Rafael Dias Mazza comprou a antiga charqueada São João, e a usou de residência com sua esposa Nóris Moreira Mazza (filha do charqueador Carlos Moreira). Mazza faleceu em 1970 e dona Nóris, em novembro de 2001 (veja a notícia). A propriedade rural virou pousada e foi ganhando fama internacional, especialmente após ambientar uma série de televisão.

Critérios parecidos orientaram a família na conservação e utilização deste casarão no centro da cidade, que já foi um dos magazines Mazza, entre os anos 60 e 80.
Funciona como ponto turístico, de compras e negócios; o aspecto cultural fica por conta da arquitetura do prédio, já que não há ali um espaço de encontro nem atividades artísticas. O endereço tem entrada pela General Neto 1006, na esquina com a Andrade Neves, lugar de alta circulação de público.

Não é banal esse ponto da arquitetura, pois se obteve a inclusão no programa federal Monumenta, e seguiram-se certas normas para a revitalização do espaço, que já funcionava como centro comercial. Vê-se, pelo menos, que se respeitou a visibilidade da fachada, sem tapá-la com anúncios.
A eclética construção, que tem nome próprio e logotipo, mantém a aparência externa original (de um casarão), e por dentro ficou quase toda refeita, com 4 lojas em cada pavimento (como uma galeria de lojinhas). Dito de forma inversa: o minishopping por fora não parece o que é, e somente conserva da antiga casa a madeira das escadas, desgastada mas firme (esq.).

No térreo, um painel de fotos compara o aspecto atual com o anterior à reforma de 2008, que restaurou as fachadas. Pela entrada da General Neto (visível na foto maior, à direita), a porta não tem bom aspecto externo, mas dá uma bonita vista desde dentro (abaixo).

Entrada pela rua General Neto, vista desde dentro
POST DATA: 
Veja o aspecto descuidado que o prédio tinha antes da reforma neste post.
Fotos: F. A. Vidal

quarta-feira, 18 de março de 2009

Uma poetisa que pesquisa

Janaína Cardoso Brum tem 23 anos e acaba de concluir o mestrado em Letras, na UCPel, que começou em março de 2007. Nesse mesmo mês ela criou um blogue literário, que mantém até hoje, à base de um poema que havia escrito, e lhe deu o mesmo nome: Entre a Loucura e a Arte.

A poetisa que pesquisa e cria passou a ocupar o palco da literatura.

Entre a loucura e a arte
Há uma lacuna
Essa lacuna onde vivo
E rasuro paisagens
Desconhecidas e improváveis


Entre a loucura e a arte
Está essa lacuna
Que se confunde
Em vida e papel
Onde penso palavras
E teu nome azul no nada


Entre a loucura e a arte

Eu sou essa lacuna
Espuma
Espalhada em tribos diversas
Vivendo do lápis
Que perfura a Pele
E constrói a sangrenta
Luta do Poeta

Janaína é de Jaguarão, próximos na fonética e na semântica, para usar termos linguísticos. Janaína é "rainha das águas" e Jaguarão ("onça brava") é o rio que separa o Brasil do Uruguai. Janaína cresceu junto às águas dessa cidade prima-irmã de Pelotas, que surgiu como Freguesia também em 1812, mas 5 meses antes de nós.

Em 18 de janeiro de 2009, dedicou um poema à margem de cá, com uma bela foto da ponte (esq.). Veja o texto em Avulsos.

A poesia de Janaína tem também muita vida e sonoridade: vida de sensualidades e sentimentos, e sonoridade de movimentos verbais e viscerais. Seus versos irregulares na métrica e cheios de rimas nos agarram pelo ouvido, pelo pensamento e pelo coração. O blogue ganhou admiradores desde o primeiro momento, mas foi somente há dois meses que os seguidores começaram a inscrever-se para acompanhá-lo (eu fui o primeiro).

Em um post de março de 2007, encontrei um poema sem título que me pareceu inspirado em Pelotas, com a mesma imagem que reproduzo abaixo. Sinta o ritmo e os sons, as sensações e as metáforas.

Na rua traversa,
Disperso o vento,
A chuva não cessa
No meu sonho isento.
Perdão não me peças!
Não quero lamentos!
A ira possessa
Vai no pensamento.
Promessas, promessas,
Aquele tormento.
E logo começas,
E logo eu tento.
Acabo com essas
A custo de intentos...
Mas amanhã...é,
Já é outro dia.

Imagens do blogue.

terça-feira, 17 de março de 2009

Epigramas de Mário Quintana (1906-1994)

Sonhar é acordar-se para dentro.

Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais e ficamos repousando no fundo do mar.

O despertador é um acidente de tráfego do sono.

Sem o coaxar dos sapos ou o cricri dos grilos como é que poderíamos dormir tranquilos a nossa eternidade?

O fantasma é um exibicionista póstumo.

Nossos olhos também precisam de alimento.
Se as coisas são inatingíveis, não é motivo para não querê-las.
Ah, nem queiras saber... A vida é preciosa como um pão roubado!
Que tristes os caminhos se não fosse a presença mágica das estrelas.
A mentira é uma verdade que se esquece de acontecer.
A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
Autodidata: ignorante por conta própria.
O único problema da solidão consiste em como conservá-la.

Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas.

Estilo é a deficiência que faz um sujeito escrever sempre do mesmo jeito.

É graças a Deus que o Brasil tem saído de situações difíceis. Mas, graças ao diabo, é que se mete em outras.

Triste é o rio, que não pode parar.
O destino é apenas o acaso com mania de grandeza.
Amar é mudar a alma de casa.
O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente.
As pulgas saltam tanto porque também têm pulgas.
O mais irritante de nos transformarem um dia em estátuas é que a gente não pode coçar-se.
Drummond e Quintana, Porto Alegre.

Belo casarão restaurado


Na rua Quinze de Novembro nº 207, há um de tantos casarões de tradicionais famílias pelotenses. Mas este não somente está bem conservado, mas totalmente restaurado, brilhando de novo, após um par de anos em reformas - não com a finalidade de ser vendido, e sim alugado.

A Câmara de Vereadores já assinou um pré-contrato de uso por 4 anos, para sair o antes possível de sua atual sede na rua Marechal Deodoro; várias opções já foram consideradas, entre prédios grandes e antigos da cidade.

O único fator de demora é que este casarão não tem uma sala que sirva de plenário, e o dono deverá construí-lo, em dois ou três meses. Depois disso, os vereadores planejam mudar-se, à espera de ocupar o que têm em vista como a sede definitiva: o solene prédio defronte à Prefeitura, propriedade do Banco do Brasil, que a ocupou como sua primeira sede em Pelotas.

Esse dia vai demorar, pois a restauração do edifício não está ao alcance da Câmara, que para ocupá-lo também deveria construir um plenário como anexo. O que se pode pagar é o aluguel desta sede provisória, estimado entre 15 mil e 20 mil reais, segundo reportagem do Diário Popular (03-03-09).

Sábado passado (14), a "imprensa crítica de Pelotas" fez um duro questionamento desta situação (veja o post). O elevadíssimo preço se explica porque o proprietário estaria repassando ao aluguel o valor da restauração e da ampliação. Tudo isso para que o Legislativo tenha uma casa... provisória.

Sexta passada (13) fui fotografar a impressionante construção, que tem um acesso para cadeiras de rodas (foto acima à esquerda), refinados adornos como uma Virgem com o Menino em azulejos (detalhe acima à direita), e cerca elétrica como proteção (dir.).

Será mais cuidada esta casa que a sede da Câmara que ainda este ano os vereadores vão deixar? É o que estaremos acompanhando.
Fotos de F. A. Vidal.


POST DATA 
30-12-12

Com o anunciado fechamento do Amigos de Pelotas para janeiro de 2013, copiei nos comentários a nota crítica citada acima.
A foto do passarinho na caixa do correio (dir.) foi posta agora neste post. Assim como as mensagens voam, o dinheiro público em mãos leves também se dissipa como o vento.
Com uma nova alusão à sede da Câmara que está em ruínas, esta nota foi citada no post O palácio abandonado em pleno centro.