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Rádio Pelotense, a mais antiga do Estado, foi fundada em junho de 1925 por Alexandre Gastaud, João Abrantes, José Luís Pinto da Silva, Antônio Nogueira Filho, Tobias Sica e Carlos Sica. Constituída por profissionais ousados e criativos, a Sociedade Rádio Pelotense obteve de início uma centena de sócios e o apoio de toda uma comunidade, orgulhosa e entusiasmada com tanto pioneirismo: realmente Pelotas se achava ao nível do Rio de Janeiro, onde estava a rádio reconhecida oficialmente como a mais antiga do Brasil, a Roquette Pinto (fundada em 1923, hoje Rádio MEC). A Rádio Clube de Pernambuco já estava transmitindo desde 1919, pelo qual seria a primeira. A Pelotense é a 3ª ainda em funcionamento.
Naquela época, informa o
site da emissora, havia seis salas de cinema funcionando em Pelotas: Ponto Chic, Popular, Coliseu, Arco Íris, Teatro Sete de Abril e Teatro Guarani.
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"Cine Rádio" virou "Cine Radtke" |
A primeira transmissão foi feita em 25 de agosto de 1925, desde uma sala da Escola de Agronomia, cedida pelo intendente municipal, Augusto Simões Lopes. Sucessivamente, a Rádio mudou-se para dependências do Clube Comercial, depois para uma sede própria na Félix da Cunha.
Uma nova mudança da Rádio Pelotense em 1962 parecia ir ligada à criação de um novo cinema em Pelotas, que ficou com o nome da sociedade proprietária: Cine Rádio Pelotense. Não como os cine-teatros, no sentido de ser as duas coisas (cine e rádio), mas sendo um cinema que era da Rádio Pelotense.
A primeira sessão exibiu o filme "A Taberna das Ilusões Perdidas" (1960), com Tony Curtis e Debbie Reynolds (informação pesquisada por Carlos Adib).
Ao longo das décadas, a empresa fez a radioemissora crecer e criou uma rede local de cinemas, tendo em vista o interesse comunicacional e financeiro. Como o público gostava de assistir a filmes para divertir-se e informar-se, o negócio se sustentava economicamente. As salas foram: o cine Capitólio (1928), o Pelotense (1962), o cine Rei (1963) e o Tabajara (1967). Nas mesmas mãos se encontra hoje o CineArt.
O Pelotense tinha sessões matinais aos domingos, com Tom&Jerry e desenhos animados europeus e russos. A
bombonière não vendia pipocas; nos primeiros tempos não havia refrigerantes em lata. As preferidas eram as balas de goma e as Azedinhas. A sala não costumava lotar sua capacidade (880 lugares) e o piso superior deixou de ser usado. Com a diminuição sucessiva das plateias, o cinema teve que fechar, o que causou mais tristeza do que revolta na comunidade de cinéfilos. Não era o último dos cinemas de rua, mas "somente" o penúltimo. A demora na reocupação do ex-cinema também diluiu as reações, entre 1997 e 2007.
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Ao fundo, a entrada direita; o piso superior virou depósito. |
Finalmente, quando o local foi alugado pelo Comercial Radtke, as velhas filas de cadeiras foram vendidas às pressas - em conjuntos de 5 - por dez reais a unidade, segundo informou um artigo do Diário Popular (veja
o texto). O velho cinema ia-se para sempre, após 45 anos.
Um dos que comprou cadeiras foi o jornalista Jairo Sanguiné, professor da Católica, hoje diretor da Comunicação Social. “Tem o romantismo dos cinemões”, disse, ao fazer a escolha daquelas que levaria para casa. Como antiguidades, os móveis adquiriram valor sentimental e decorativo - metáfora da "inutilidade" econômica dos velhos cinemas.
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Lado esquerdo do antigo palco |
Seguindo a notícia acima citada, também foram postos à venda os projetores Philips e a antiga tela em
cinemascope. A catraca INC Wolpac, onde está mantido o número 38.083, ficou no acervo da Rádio Pelotense, segundo informou o funcionário Norberto Rosado.
Em 27 de março de 2007, a maior filial dos supermercados Radtke mudou-se da Andrade Neves entre Cassiano e Major Cícero a uma quadra de distância, entre Major Cícero e Senador Mendonça. Não houve mudança nos materiais nem nos funcionários, mas o atendimento se viu beneficiado pelo maior espaço. Querendo manter a mística do local, o cartaz agora anunciava: Cine Radtke.
Numa primeira fase, os cinco caixas ficaram no antigo saguão de espera do cinema; açougue e padaria instalaram-se no antigo palco (
esq.) e o segundo piso virou depósito (
acima dir.). No verão passado, os caixas passaram para a área de exposição das mercadorias, e o ex-saguão agora é lancheria-padaria-sorveteria (
abaixo).
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Antigo saguão de espera com a bombonière e a entrada direita |
Fotos: Rádio Pelotense (1) e F.A.Vidal (2-5).