A peixaria Estrela do Mar funciona no Mercado Público há muitos anos, pelo lado da Andrade Neves, e chama a atenção pela presença de um aquário com peixes vivos (dir.).
Em geral, um aquário serve para atrair e manter a atenção dos clientes, do mesmo modo que o mico dos realejos e, modernamente, os televisores na fila do banco. Costuma haver aquários em lojas de mascotes e animais em geral, como a Fauna&Flora (veja post).
Mas numa peixaria o mesmo elemento evoca outras associações, pois o aquário contém animais parecidos aos que se vendem (mortos) para consumo. Seria como instalar um açougue dentro de uma feira pecuária. Em certos portos onde há pescadores, os "frutos do mar" são escolhidos para consumo ali mesmo.
O contraste traz à consciência que somos comedores de animais, e isso não nos parece muito chocante. Uma parte nossa gosta de ver e tocar os bichos se movendo, vivos, e outra gosta de abocanhá-los (amor e morte; espírito e instinto).
A presença de peixes vivos numa peixaria fica como um chamariz duplo ao inconsciente humano, que - além de ver filmes sobre bichos - gostaria de ir caçá-los para alimentar-se deles. A força do mesmo fator se encontra na peixaria Aquarius (esq.), hoje fechada, defronte à Estrela do Mar.
Questões linguísticas
O caso também faz lembrar que em nosso idioma usamos a palavra "peixe" (do latim piscis) indiferentemente para o animal vivo em seu meio, e o mesmo que foi caçado para consumo. Em espanhol (pez e pescado, respectivamente), o mesmo bicho muda de nome, segundo o momento de observação. Mas em português é peixe antes e peixe depois.
Ainda em português, temos o exemplo de "touro" e "boi": é o mesmo indivíduo, antes e depois da castração.
Como contei em outra nota, piscina e aquário apresentam uma curiosa troca histórica (leia o post)- uma piscina era um viveiro de peixes que ficou como simples depósito de água (para humanos);
- um aquário era um provedor ou depósito de água (para humanos) e ficou como viveiro de peixes.
Nesta mistureba verbal, podemos acrescentar a peixaria: depósito de ex-peixes. Seu nome mais exato seria pescadaria (consta no Aurélio), venda de pescados.
Fotos de F. A. Vidal
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