domingo, 27 de dezembro de 2009

Peixes morrem, por ações e omissões dos pelotenses

Domingo passado (20), uma leitora visitava a Praça Osório e observou o abandono e sujeira em que se encontrava o lago, com lixo flutuando e peixes mortos. Tomou fotos (dir. e abaixo) e as enviou a este blogue e ao sítio da RBS Pelotas Mais, com um texto de desabafo.

A quantidade de lixo espalhado dentro do lago e o esforço daqueles seres para conseguirem sobreviver era algo inexplicável, inconcebível na verdade.
De que adianta embelezar uma praça, colocar ali para viver seres que necessitam o básico em termos de cuidados e depois não dar conta do mínimo que deveria ser feito: prestar a manutenção necessária para a limpeza e consequente sobrevivência dos animais que ali habitam?
Foi deprimente visualizar aquilo e o pior foi não ter para quem pedir ajuda. Resta então tornar pública a minha indignação com quem tem responsabilidade e deveria zelar pela conservação da limpeza e vida do lago da praça Coronel Pedro Osório.
E, sinceramente, se for para deixar os animais agonizando naquela porquice (perdoem o termo, mas representa o verdadeiro estado do local), então é melhor secar imediatamente o lago e acabar com o sofrimento de quem não tem culpa do ser humano ser tão pouco inteligente quando se trata de responsabilidade (veja a matéria completa).

A professora Aline Neuschrank, autora da denúncia, não a enviou a outros meios, mas a notícia do Pelotas Mais foi tomada pela TV e teve outras repercussões.
O Diário Popular publicou o fato na contracapa de terça (22) e no portal da internet (leia). Nos dias seguintes, o Amigos de Pelotas postou em vários tons: crítico, trágico, sério e irônico.
Terça (22) às 16h alguns peixes mortos haviam sido retirados e - quem sabe para quê - deixados em exposição (dir.).
O lago seguia com a água turva e escura, mesmo sem lixo. Tão "irrespirável" devia estar, que alguns dos peixes sobreviventes tentavam aproximar-se a uma fonte de água limpa (abaixo à esq.).
Uma tartaruga só podia ser vista se estivesse perto da superfície; na imagem (última à esq.), ela empurra com a cabeça um peixe morto, como tentando reanimá-lo.
Naquela tarde, a Brigada Militar veio pesquisar o possível crime ambiental (abaixo à dir.), configurado há meses mas somente agora evidenciado.
Mesmo sem intenção de dano, pode haver muitas quotas de responsabilidade, por ações ou omissões. Será difícil identificá-las, pois o público que suja a praça é anônimo, enquanto os funcionários municipais se encontram fragmentados em secretarias sem coordenação: Qualidade Ambiental, Serviços Urbanos, Turismo, Educação e Cultura. Todas poderiam contribuir para prevenir e solucionar problemas como este, mas sua desunião é causadora de dores de cabeça na população.

Enquanto eu tomava fotos, aproximou-se uma senhora de aparência muito humilde, com um só dente e um toco de cigarro aceso na boca. Aparentando consciência da situação, ela me comentou:
― As crianças dão pipoca aos peixes e eles morrem afogados.
A senhora jogou a bagana no chão (não no lago, ainda bem) e afastou-se, preocupada com a inconsciência dos outros.
Outros transeuntes jogam lixo no chão (mau costume que ninguém se atreve a censurar) e atribuem ao vento ou às pombas sujarem a praça. Sacos plásticos e folhas das árvores simplesmente chegam aonde não devem; copos descartáveis e paus também?
Os funcionários públicos serão responsabilizados por não limparem a piscina, ou por deixarem mais de mil animais num espaço tão reduzido, mas eles dirão que somente seguem ordens. Ninguém parece pensar em prevenir erros ou em cuidar dos animais ou do ambiente natural. Mas todos gostam de ver os peixinhos vermelhos e as tartarugas. Quando aqui havia jacarés, era uma sensação.
Quarta (23) o Diário Popular informou (leia) sobre as medidas que seriam tomadas: mudança dos peixes para o lago da Rodoviária, escovação do fundo da piscina e, futuramente, adoção do lago para cuidar de modo adequado da alimentação dos animais. Com sorte, isso ocorrerá em janeiro próximo.
Hoje (27) ao meio-dia a água parecia menos suja (dir.) e os bichos, mais tranquilos. Se não houvesse uma manifestação popular, o que a prefeitura teria feito pela situação deles?
As palavras piscina e aquário apresentam uma curiosa troca de significados ao longo do tempo.
  • No latim original, uma piscina era um viveiro de peixes, mais para criação do que para exposição ― nosso popular "aquário".
  • Por sua vez, um aquário se referia a algo puramente aquático, como um chafariz ou um provedor de água (daí o signo zodiacal) ― o que hoje se chama "piscina" (depósito de água para pessoas ou para peixes).
Fotos de Aline Neuschrank (1-2) e F. A. Vidal (3-7)

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