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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Festival SESC: o lado dos músicos



Desde 2011, o Festival Internacional SESC de Música apresenta ao público em média 4 recitais por dia, e é por essa grande produção artística que ele se chama festival. Não há concursos nem prêmios mas a estrutura do evento é a de um grande encontro festivo, envolvendo centenas de artistas e milhares de espectadores.

A comunidade pelotense presencia diversas formações musicais (solos, quartetos, orquestras) da manhã à noite, no teatro ou na rua, em ensaios ou nos espetáculos. Na primeira semana, o público presencia concertos de grupos convidados (v. reportagem do Diário Popular com o Cuarteto 4Mil); na segunda semana, os estudantes apresentam os resultados dos primeiros dias de estudo. Desse lado espetacular é que provém o nome "festival" (v. definição na Wikipédia).

Jornal porto-alegrense destacou o evento na capa, domingo 18 de janeiro.
Na foto, Evandro Matté rege a orquestra do Festival em 2014.
Ao mesmo tempo, esta quinzena de shows foi concebida como uma escola de verão para estudantes e profissionais se aperfeiçoarem. Algumas desse tipo já existiam no Brasil desde a década de 1950.

Se o Festival SESC não tivesse esta face de trabalho e estudo, que atrai músicos nacionais e estrangeiros, talvez não existisse ou não tivesse a mesma dimensão. Alunos e professores e vêm de muito longe para um encontro humano cheio de aprendizagens técnicas, num verdadeiro congresso internacional, o que repercute numa produção musical mais intensa, mais viva e mais solidária. Por exemplo, o músico e artista plástico Roberto Bonini emprestou o seu piano e fez público vídeo no Facebook (2 min) mostrando parte do ensaio de um estudante. Outras consequências do evento é que a cidade movimenta sua economia com os turistas que vêm ouvir a música de boa qualidade, também motivo de qualificação de suas férias de verão.

No vídeo acima, tomado do Diário Popular, aprecia-se o entusiasmo e o carisma do Núcleo de Metais mostrando sua música sob tempo chuvoso. Abaixo, o lado humano de jovens brasileiros e estrangeiros que, sem saber português, vêm a Pelotas por primeira vez para este evento de criatividade e unificação. Veja reportagem do programa Estação Cultura, da TVE gaúcha (4 min), que mostra o lado do público, que vem para apreciar, e a opinião dos músicos, que buscam o "festival" para aprender em sua profissão. 


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ateliê Giane Casaretto no Corredor (post 1700)


O Ateliê Giane Casaretto retorna ao Corredor Arte em 2015, inaugurando a exposição nº 290, a primeira do ano. Doze alunas apresentam 20 obras, sendo 11 quadros com a temática "cores/flores" e 9 abstratos, nos quais se incluem duas vertentes de trabalho exploradas em 2014 no Ateliê: estudos de Kandinsky e estudos de Paul Klee.

Na imagem acima, o estudo abstrato realizado por Telma Delgado sobre o artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944), com um jogo de manchas coloridas e linhas em preto sugerindo formas geométricas. A tela foi feita em acrílica, no tamanho de 60 x 80 cm. Sem copiar o mestre, a estudante conseguiu aquele estranho contraste de emoções intensas convivendo com esboços de racionalismo, na eterna luta humana entre paixão e razão.

O Corredor Arte busca humanizar o ambiente de saúde,
para que a dor seja superada e faça sentido no tratamento.
Além de Telma, as participantes nesta mostra são: Heloisa Motta, Fernanda Tröger, Maria Helena Braga, Mara Coutinho, Vera Holthausen, Fátima Ferreira, Edy Bezerra, Rosamélia Ruivo, Luciana Gastaud, Greice Brod e Clarice Silva.

O Ateliê Giane Casaretto funciona em Pelotas como escola de desenho e galeria de arte. A artista que o dirige já fez exposições individuais e de produções das alunas no Corredor Arte, além das que organiza anualmente na sede do Ateliê.

Esta exposição permanece quatro semanas, de 8 de janeiro a 3 de fevereiro. A visitação ao Corredor pode ser feita todos os dias, das 7h às 22h, no Hospital Escola da UFPel (Professor Araújo, 538).
Imagens: F. A. Vidal

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A solidão: dois olhares

Solidão.

O vazio existencial aprisionando-nos.

Podemos senti-la quando estamos a sós ou acompanhados.

O vácuo, porém, agiganta-se quando estamos realmente sozinhos, certos de que cair no abismo é inevitável.

Há quem diga que a solidão prefere olhar para dentro, distraindo-se com os escombros internos.

E o que deixa o solitário ainda mais triste é a certeza de que se perdeu no caminho, seja ele qual for, e que mergulhará definitivamente no buraco frio que abriu ao longo da existência.

Solidão.
Manoel S. Magalhães
Cultive Ler, 19-11-14


O artista plástico tem o poder mágico da imagem. Sem palavras, desperta emoções.

O escritor tem o poder mágico da palavra. Interrompe uma tragédia inevitável e a elabora.

Fotos: M. Soares

Festival na Comunidade

O 5º Festival SESC de Música (v. programação 2015) leva à comunidade pelotense pocket shows (breves momentos musicais), com o objetivo de desenvolver e valorizar o ser humano onde ele vive, como é de costume neste projeto de ensino e divulgação da música culta.

Gahuer Carrasco, Sônia Cava, Renan Leme e Adão Santos apresentaram música no centro da cidade.
19 janeiro, segunda-feira
11h Café Aquários: Tons Latinos, com Gahuer Carrasco e grupo (v. fotos da ASCOM e reportagem RBS)

21 janeiro, quarta-feira
11h Abrigo Institucional Pensão Assistida e Casa do Idoso (público interno): Quinteto de Sopros (v. fotos).
14:30 CRAS Navegantes.

22 janeiro, quinta-feira
11h Expresso Embaixador (público interno): Quarteto de Saxofones.
17:30 Paróquia Amor Divino (Colônia Santo Antônio): Eufônios.
18h: Shopping Pelotas: Quinteto Porto Alegre.

23 janeiro, sexta-feira
11h Serviço de Convivência Pestano (Rua 15, nº 45): Quinteto de Madeiras.
14:30 Asilo de Mendigos de Pelotas (público interno): Grupo de Violões.

24 janeiro, sábado
11h Mercado Central: Grupo de Metais.

26 janeiro, segunda-feira
11h Serviço de Convivência Vila Castilhos (Dr. Amarante 1155): Quarteto de Cordas.
14h Hospital Espírita de Pelotas (público interno): Quinteto de Madeiras.

27 janeiro, terça-feira
11h Paróquia Nossa Senhora da Luz: Quarteto de Saxofones.
17:30 Café Aquários: Grupo de Metais.

28 janeiro, quarta-feira
11h Abrigo Institucional Meninos 2 (público interno): Quinteto Porto Alegre.
14h Paróquia Sant’Ana (Colônia Maciel).

29 janeiro, quinta-feira
11h Serviço de Convivência Dunas (Ulisses Guimarães 2067): Quinteto Porto Alegre.

Idosos e doentes atendidos pela rede municipal de abrigos
escutaram por primeira vez música tocada ao vivo (v. notícia)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Fãs de fusca


A estudante de Nutrição Tamires Von Pfeil, de 20 anos, tem um gosto especial por coisas antigas e uma paixão por fusquinhas, tomada do seu pai. Ela economizou dinheiro para comprar seu primeiro carro, que obviamente seria um fusca, até achar o de sua preferência, um modelo amarelo 1300L, ano 1977. O pai de Tamires apoiou o namoro surpreendendo a filha com a compra.

A paixão de Tamires ganhou a capa;
o vídeo foi preferido dos internautas.
O Diário Popular reporteou o caso em 2014 (leia a matéria) a propósito do Dia Nacional do Fusca, 20 de janeiro. Nessa data, o queridinho de Tamires ainda ganhou de presente uma reforma na lataria. Circulando pela Andrade Neves, desde o Parque Antônio Zattera em direção ao calçadão, a entrevistada declarou seu amor eterno aos fusquinhas. Ela participa no "Love Machine Fusca Club" (v. blogue do grupo criado em 2012 e página no Facebook).

A reportagem de Camila Faraco, com imagens de Carlos Queiroz, saiu na edição impressa de 30-1-14 e no sítio virtual. A matéria ganhou chamada na capa daquela quinta-feira (dir.), com a foto de Tamires e o fusca amarelo. Entre os cerca de 240 vídeos produzidos pelo Diário Popular na web em 2014, este foi o 6º mais visitado, com 4840 acessos até 31 de dezembro passado.

O Código de Trânsito considera "infração média" o uso de calçados que afetem o uso seguro e firme dos pedais, como os de salto alto ou de sola muito lisa. Chinelos, tamancos e qualquer calçado solto são expressamente proibidos pela lei (v. nota do DETRAN-MT). Dirigir descalço não é proibido, mas também não é o ideal; no entanto, os especialistas consideram mais seguro que usar um chinelo solto. Já que a reportagem passou por alto este detalhe, é de se esperar que, naquele dia, Tamires dirigisse descalça e usasse os chinelos para caminhar.

Veja abaixo a reportagem audiovisual (com a música de 1939 "In the mood", de Glenn Miller, ouça o som original) e, a seguir, mais informações sobre o velho modelo Sedan da Volkswagen, fabricado desde o final da década de 1930 para ser um "carro do povo", e hoje conhecido como o carro mais popular do Brasil.


O Dia Nacional do Fusca em 2014 foi destacado pelo Jornal do Carro do Estadão. A comemoração teve início em 20 de janeiro de 1989, por iniciativa da Volkswagen do Brasil. Veja o porquê da data no portal da Maxicar.

O especialista Alexander Gromow explica que o nome Fusca, usado somente no Brasil, nasceu da pronúncia alemã da palavra Volkswagen (fôlks-váguen) e de sua abreviatura "VW" (fau-vê). A fábrica começou com um único modelo, o Sedan, que ficou conhecido pelo nome da marca: no Brasil, sintetizado para "folks" e simplificado na fala popular para "fulque" (no Paraná), "fuca" (RS) ou "fusca" (SP). Ao redor do mundo, o carrinho ganhou apelidos pela forma arredondada: tartaruga, bolha, besouro, baratinha, escaravelho, joaninha, sapo, corcunda (informações tomadas da Wikipédia).

Sobre o Fusca e sua volta às fábricas, no Governo Itamar, o paulista Gromow foi entrevistado no Jô Onze e Meia, do SBT, em 1 de março de 1993. Acompanhe abaixo o vídeo da entrevista (desde o minuto 6:35), um dos registros mais antigos do programa do Jô, que hoje é um dos mais longevos da TV brasileira (12 anos no SBT + 15 anos na TV Globo).


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Schlee fala sobre o mundo imaginado em sua obra

Na sétima entrevista da série Obra Completa, realizada com escritores gaúchos pela RBS, Schlee falou sobre sua carreira literária de três décadas. Acompanhe a matéria de Carlos André Moreira, publicada em 26 de outubro de 2013 (v. matéria completa na RBS).

Sobre "O Dia em que o Papa Foi a Melo", v. resenha de Iuri Müller no Sul21 e o artigo da Wikipedia em espanhol El baño del papa, que menciona o conto de Schlee como influência do filme — influência não assumida nem pelos cineastas nem pelo escritor.


Meus personagens são os rejeitados da sorte

ZH — Seus dois primeiros livros parecem comungar de um propósito: mostrar a fronteira como uma região de identidade única no tempo, no caso de "Contos de Sempre", e no espaço, em "Uma Terra Só". Foi um projeto consciente?

Schlee — Eu não gosto de dizer que eu tenha um projeto literário, que tenha pretendido exatamente: “vou fazer assim”. Não consigo entender nenhum colega meu, nenhum autor que tenha um projeto literário, não creio nessa definição. Comigo, o que aconteceu foi que eu tinha esses dois livros de contos que haviam vencido concursos, e os dividi no primeiro livro, mas tinha o impacto do tempo decorrido, e eu os inverti no volume, a seção que eu denominei "Contos de Ontem" eram os mais recentes, e os "Contos de Hoje" eram os mais antigos. Essa era uma perspectiva estritamente temporal. Já no livro seguinte, "Uma Terra Só", eu tinha pretensão de fazer o leitor atentar para um mundo que não é o verdadeiro, e sim o meu mundo imaginado, meu mundo literário, que eu pretendi conquistar e acabei por ele conquistado, porque não tenho condições de sair dele.

O escritor como leitor e espectador da vida

ZH — O senhor lida com o lado B da mitologia da formação do território. Em "Contos de Futebol", olha para o lado B de uma mitologia contemporânea, a do futebol. Foi um passo consciente?

Schlee — Não, eu queria apenas escrever um livro de futebol. A explicação está em um conto chamado Encanto de Futebol, cujo título diz tudo. Esse “encanto de futebol” contaminou uma série de coisas relacionadas à minha vida, o encanto com o futebol uruguaio em particular. Por isso esse livro saiu como Cuentos de Fútbol primeiro no Uruguai. É um livro uruguaio, ainda que não tanto como o "Limites do Impossível" e principalmente "O Dia em que o Papa Foi a Melo".

ZH — Em "Contos de Verdades", o senhor escreve “causos”, mas os chama de “verdades”, mesmo sendo histórias que se apresentam como verdadeiras, mas podem não ser.

Schlee — Eu não havia pensado nisso, mas é assim mesmo. Eu estou falando de “verdades” nesse livro mais ou menos do mesmo jeito que se desenvolvem os “causos”, as “fofocas”, para usar uma expressão mais vulgar, e que dão origem à construção de uma verdade que não é necessariamente verdadeira.

ZH — Nos seus dois primeiros livros, os personagens usam uma mistura de espanhol e português, como na fronteira. A partir de "Linha Divisória", não apenas o personagem, mas o próprio narrador deixa um idioma contaminar o outro. Por quê?

Schlee — Eu aprendi que é possível o narrador assumir a maneira de ser do personagem, deixando de narrar à sua própria maneira. Então, no momento em que estou fazendo uma narrativa referente a um personagem, eu me sinto autorizado a usar esse recurso. Porque há uma dificuldade muito grande para qualquer autor que, como eu, trabalha com personagens rústicos, geralmente pobres, sem educação formal, como são os párias. Os meus personagens são os rejeitados da sorte. Essas pessoas não têm a minha formação, mas têm seu próprio modo de pensar. E quando tento reproduzir o pensamento deles, eu me sinto autorizado a usar esse recurso. É uma coisa que eu vejo que enriqueceu muito a literatura do Simões Lopes Neto, por exemplo.

O Uruguai e o papa
ZH — É estranho o senhor falar na ausência de um “projeto”, já que os seus livros caracterizam-se por uma unidade temática ("O Dia em que o Papa Foi a Melo", "Contos de Futebol").

João Paulo II, o papa mais viajante,
esteve no Uruguai em 1988.
Schlee — São livros em que trabalho em cima de uma tese. Há um determinado momento nesse meu mundo literário em que descubro alguma coisa para desenvolver em forma de tese, para demonstrar ao leitor minha visão de mundo. Nesse aspecto, há um certo conteúdo pedagógico. É uma pretensão grande, mas eu vejo assim. Então, quando eu parto para um livro como "O Dia em que o Papa Foi a Melo", estou perplexo diante dessa visita do papa, sendo o Uruguai um país laico declaradamente. Não só porque está expresso na Constituição, mas porque o Uruguai é laico de fato, e em 1904 já não havia mais crucifixos em repartições públicas, uma discussão que fomos ter agora aqui no Brasil. Sabendo que nesse país laico, na sua zona mais pobre, paupérrima, o papa iria fazer uma visita, fiquei atônito. Então resolvi não ir a Melo no dia 8 de maio de 1988, o dia em que ele foi. Mas fui na semana seguinte. E consegui entrevistas e toda uma documentação para escrever um livro de contos.

ZH — O conto que abre o livro enfoca um padre em crise de fé que decide não ver o papa. É a representação desse confronto que o deixou perplexo entre a figura do papa e a laicidade do Uruguai?

Schlee — Exatamente. Esse padre, que, de certa maneira, sou eu, vai negar tudo, mesmo com todo seu conhecimento do cerimonial religioso. Ele não nega apenas a questão da visita do papa, o que é elementar, superficial. Ele contesta tudo, e isso está representado em pequenos detalhes de sua indumentária, da desolação do espaço onde ele vai se meter, uma paisagem à qual o papa não iria. Tudo isso está pesando em um conjunto do qual tentei fazer a receita desse conto, que é, de fato, uma história chave do livro. Depois tem algumas coisas no livro, como a negação do milagre, da possibilidade de um milagre... Eu não escrevi na ordem em que pus, fui alinhavando até chegar ao "Conto do Turco Jaber", que é um conto louco, que denuncia, entre outras coisas, essa questão da gauchidade. Porque nós temos uma dificuldade muito grande de sermos sul-rio-grandenses. O gentílico é dominado pela palavra “gaúcho”, que se tornou sinônimo. A distância é tão grande entre o gentílico e o significado maior da palavra “gaúcho” que escandaliza.

O Uruguai e o político
ZH — E o que o leva a "Don Frutos", um romance de 600 páginas?

José Fructuoso Rivera (1784-1854),
o 1º presidente uruguaio, esteve em Jaguarão.
Schlee — Eu não tinha alternativa. Estava atulhado de informação e comprometido com a necessidade de abordar o fato de que Fructuoso Rivera, duas vezes presidente do Uruguai, esteve em Jaguarão, minha terra... Um sujeito desses passando pela minha cidade não pode me escapar. Então eu tive que me atirar em cima dessa história, com a ajuda de um pesquisador chamado Amílcar Brum, que se deu ao trabalho de ir a Montevidéu para desencavar tanto material que eu poderia ter escrito três livros, separando por temas. Por exemplo, coisas que não aparecem muito no livro, como a intervenção brasileira, uruguaia e argentina no Paraguai, que não está lá porque o Rivera morreu antes. Mas eu tinha o tema do Rivera em Jaguarão e por ali fiquei.

ZH — "Don Frutos" é singular por ser a única história em que o senhor enfoca uma figura de poder. O fato de Rivera estar doente quando chega a Jaguarão foi o que o tornou “humano” para ser abarcado pela sua ficção?

Schlee — Exato. No primeiro capítulo do "Don Frutos", a decadência física dele é notória, com o homem se mijando, dependendo da mulher e de um outro cara para ajudar a se movimentar, sem ter mais nada. E adiante no romance, a morte do Rivera pode ser lida de várias maneiras, até mesmo por quem domina a grande literatura uruguaia moderna, ao saber que aquele militar, que era o secretário particular do Rivera, Onetti, era de fato parente do Juan Carlos Onetti. Há um falso diálogo final, no qual Rivera se refere a seu ajudante Capitão Onetti, que é feito com uma colagem de textos do Onetti escritor.

ZH — Havia, então, uma dificuldade em lidar com a biografia de um símbolo político, dificuldade expressa na estrutura do livro?

Schlee — Tem outras coisas, como por exemplo a vinculação com os índios, ou o fato de ele os ter traído ou não, aquela famosa matança dos charruas. Eu estava sempre no fio da faca. O que eu tenho de documentação real do Rivera, conseguida pelo Amílcar Brum: são papéis do governo, da Assembleia Constituinte, da Câmara, do Senado, das igrejas. Agora, biografias do Rivera, eu tive que repassar todas as que havia disponíveis. Para as escritas pelos blancos, o Rivera era um bandido, ladrão, safado. Para os colorados, era um herói nacional, fundador do país. Eu tive que ficar em cima disso, e em nenhum momento pretendi que o leitor acreditasse que ele era bom ou mau. Eu queria, como fiz em toda minha ficção, fugir do maniqueísmo.

O Uruguai e o ídolo
ZH — Em "Os Limites do Impossível" o senhor mescla conto e novela numa trama única, tecida das histórias das mulheres que orbitaram o pai de Carlos Gardel. Como chegou a essa história?

Schlee — Essa história eu resolvi escrever no momento em que tive certeza de que era preciso denunciar as arbitrariedades do então presumido pai de Carlos Gardel a partir de tudo o que ele fez na política do Uruguai, mas particularmente em relação ao nascimento desse filho, fruto de estupro e incesto. Então achei que a narração não deveria se referir diretamente a ele, mas às mulheres que tiveram a ver, direta ou indiretamente, com o nascimento de Carlos Gardel.

ZH — "O Dia em que o Papa foi a Melo" e "Os Limites do Impossível" anteciparam respectivamente: "O Banheiro do Papa", longa ficcional de Cesar Charlone, e o documentário "El Padre de Gardel". Em ambos os casos não houve menção a seu tratamento anterior do tema.

Produção franco-uruguaio-brasileira de 2007.
O livro de Schlee é de 1991.
Schlee — O que eu fiquei estranhando é o quanto sou desconhecido. "O Banheiro do Papa" tem uma história que poderia ser inspirada no Conto V de "O Dia em que o Papa Foi a Melo", também chamado de "Melo Era uma Festa", com todas aquelas decepções dos personagens... O clima é o mesmo, os acontecimentos correspondem, os caras que fizeram o filme tiveram o mesmo sentimento que eu tive de identificação com aquelas pobres pessoas que gastaram os últimos centavos que tinham, mataram um leitãozinho de estimação, roubaram uma capivara para poder oferecer comida aos brasileiros, porque ia ter 40 mil brasileiros lá. Eram pessoas não à procura de um milagre, mas buscando criá-lo, e foram frustradas. O papa passou, virou lixo tudo aquilo. O filme mostra uma ideia que está lá no meu conto, a de alguém que pensa em fazer uma latrina. Mas o protagonista não está no conto, a guria que queria ser radioatriz não está no conto, e aqueles personagens me emocionaram às lágrimas. Não tenho do que reclamar, fico feliz que tenham feito um filme tão bom.

Esse documentário do Gardel eu não vi. Os fatos, os acontecimentos históricos que sustentam a minha ficção no caso dos Contos Gardelianos, são comprovados e são os mesmos que devem ter sustentado o documentário. Não tenho como me queixar de nada. Só fico com pena que estejamos tão perto e tão longe do Uruguai ao mesmo tempo, o que comprova que meu mundo literário é limitado e distante.

O Uruguai e a sexualidade
ZH — "Contos da Vida Difícil" retrata Jaguarão como ponto de passagem do tráfico de mulheres – na sequência da construção da ponte que liga a cidade ao Uruguai. Havia a intenção de confrontar essa ponte, signo de passagem, com a situação dessas mulheres, presas à prostituição?

Schlee — Bem observado. Se há alguma possibilidade de encantamento com esse tema, como também em relação ao futebol, é no fato de ser um assunto que Jaguarão considerou necessário esconder e fazer de conta que não é parte de sua memória. Isso aconteceu de uma forma que eu não procurei explicar, porque eu próprio não encontro explicação. Por que esses fatos raramente respingaram algumas famílias de Jaguarão? Por que a maioria das pessoas esqueceu tudo isso? Por que não se fala que o cabaré que foi tão importante, o do Tomazinho, ainda existe como prédio pertencente a um clube social, o Instrução e Recreio? Os sócios se envergonhariam de dizer “aqui funcionou um cabaré”? Não sei se terá sido isso, mas os acontecimentos eram tão contraditórios que em cima deles eu tinha de construir algo.


A matéria de Zero Hora foi acompanhada de um vídeo com trechos da entrevista (acima).

Fotos: RBS (1), Sul21 (2), Wikipedia (3)

sábado, 17 de janeiro de 2015

Planos de Mel Fronckowiak, 27 anos, ex-rebelde


Em 2015, o casal Melanie Nunes Fronckowiak e Rodrigo Santoro pretende formalizar a relação e morar na casa que ele está construindo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo a imprensa do coração, os dois se conhecem desde julho de 2012, mas já estão morando no apartamento dele, na zona sul. A notícia do casamento saiu primeiro no jornal "O Globo", há dois meses (v. Pure People).

Em dezembro de 2014, o repórter de celebridades Giovani Lettiere comentou que a mudança de residência do casal se deveu aos planos de ter filhos e formar uma família. Segundo o blogueiro carioca, "Santoro fará 40 anos [em 22-8-2015, v. Wikipédia] e não vê a hora de se tornar papai". Por seu lado, Mel Fronckowiak – que completou 27 anos ontem sexta 16 de janeiro (v. Wikipédia) – já dizia, na época em que conheceu Santoro, que um de seus sonhos era ser mãe (v. postagem de 2012).

Mel autografou de agosto a novembro de 2013.
Os dois apareceram em público juntos em Los Angeles, em 30 de maio de 2013, após quase um ano de se conhecerem (v. nota de 2013 no Pure People).

Em 24 de agosto, na Livraria Cultura do Shopping Fashion Mall (São Conrado, zona sul do Rio), Melanie lançou e autografou o livro "Inclassificável: memórias da estrada" (dir.). Nesse dia, mesmo sem declarações, fizeram suas primeiras fotos como casal, assumindo o namoro, destacou o IGente (v. mais fotos no sítio da Globo EGO).

A bela seguiu apresentando o livro em várias cidades, e chegou a Pelotas com o namorado em 1 de novembro daquele ano, quando autografou na Feira do Livro (v. comentário neste blogue). Muitos fãs apareceram no Mercado Central, local da Feira em 2013, mas não houve paparazzi como no Rio. Aqui a imprensa a considerou como mais uma escritora, e o namorado ficou em terceiro plano.

No domingo 2 de novembro de 2013, o amigo fotógrafo Gustavo Vara tomou novas fotos de Melanie no Laranjal (v. making of no YouTube e Facebook). Foi ele quem fez a jovem estudante de jornalismo se aproximar à fama, pelo mundo da modelagem. Até 2007, ela não queria exibir-se ante as câmeras, mas dedicar-se a escrever.

Gustavo não lucrou com isso mas tinha toda a razão (excelente amigo e ótimo profissional). A fotogênica moça teve bons contratos como modelo de publicidade, com sucesso internacional, e as fotos a mostram cada vez mais bela (esq. e abaixo)

Hoje os seguidores de Mel Fronckowiak no Twitter são um milhão 249 mil. A página oficial tem 951 mil curtidas. São admiradores dentro e fora do Brasil. Mais uma pelotense que, mesmo tendo vínculos fortes em Pelotas, passa a pertencer ao mundo.

A improvisada mas talentosa modelo fez uma ponta em "Viver a Vida", novela da Globo. Pouco depois, surgiu à fama como atriz e cantora na novela "Rebelde", coprodução com o México, que foi dublada ao espanhol. Saindo da TV Record passou à Bandeirantes como apresentadora, e agora vai à Globo, não como atriz, mas como repórter (v. nota de dezembro).

Mel foi uma verdadeira rebelde por 8 anos, o que a afastou de Pelotas, sem deixar de ser pelotense.
Parece ter vencido a timidez, mas sua maior realização não está em aparecer nas telas e nas passarelas. Tolerando bem a fama, preferiu namorar sem exibir a intimidade na imprensa. Outro sinal de que ela não buscava a celebridade é o fato de usar sempre seu sobrenome de origem polonesa em vez de algum pseudônimo mais soletrável.

Sua vocação era mesmo o jornalismo, ao qual voltou, sem o ter abandonado, pois se manteve escrevendo crônicas e poemas. Ela mesma diz que segue tendo uma coluna quinzenal no jornal de Pelotas (v. reportagem do programa da Band "Trip TV" em 6 min Mel Fronckowiak relembra tempos de Rebelde e entrevista no Agora É Tarde, 18min).

Assim, após oito anos de agitação e busca, a estudante que virou celebridade viajando pelo mundo parece ter finalmente chegado a uma fase de tranquilização e de encontro com suas metas pessoais e profissionais. Fim da rebeldia e da adolescência, início de uma nova e resolvida mulher.

Outros detalhes da história de Melanie no post deste blogue Melanie Fronckowiak, de modelo a ídolo. Confira também duas crônicas de autoria dela no post No escurinho de nós mesmos


Teaser do programa virtual "Esperando o jantar", novo projeto de Mel após sair da Band.

Fotos: R. Mesquita (1), D. Delmiro, AgNews (2), G. Vara, Flickr (3-4)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A Seleta inspirou gerações (crônica)

O escritor Manoel S. Magalhães (esq.) suspendeu a edição do blogue Cultive Ler, no qual, há uns 4 anos, publicava textos seus e de comentaristas da atualidade. Mas não parou de escrever; até mesmo intensificou a produção de crônicas, que darão em novo livro, desta vez com caráter memorial, muito valioso para conhecer também a história e os costumes pelotenses. 

A seguinte crônica, tomada de sua página no Facebook, se refere a um livro que marcou a infância do autor, "Seleta em Prosa e Verso", que o professor gaúcho Clemente Pinto organizou, em 1883, com trechos selecionados, e que educou gerações de brasileiros ao longo do século XX. A seguir, confira um desses trechos, escolhido por Manoel: "O apólogo das árvores", compilado pela "Seleta" de um dos sermões do Padre Antônio Vieira.


A Seleta apareceu em 1883.
Em 2001 saiu a 59ª edição (leia trechos).
Meu livro de cabeceira, quando pequeno, era "Seleta em Prosa e Verso", organizado por Alfredo Clemente Pinto (1854-1938). Decorei-o inteiramente, para surpresa de meus pais. Eu andava para baixo e para cima com o volume, praticamente em frangalhos. Lia-o de pé, sentado, correndo, nadando e voando...

Quando ganhei de presente História das Invenções, de Monteiro Lobato, deixei a Seleta numa espécie de nicho, aos pés de minha cama. De quando em quando eu a ele retornava, relendo as partes que mais me interessavam – que eram muitas, aliás. A obra de Monteiro Lobato me interessou muito, pois relatava a experiência dos mais fantásticos inventos.

O livro de Alfredo Clemente, todavia, era para mim o primeiro amor literário. E os primeiros amores, sejam eles quais forem, não são esquecidos jamais.

Lembro-me das noites de inverno, quando sob a luz dançante do lampião, ouvindo o vento confessando-se às árvores, eu ia lendo em voz alta as passagens mais interessantes. Tudo em volta silenciava para ouvir as narrativas.

Ainda hoje, embora tenha à disposição boa e eclética biblioteca, sou impulsionado a pegar a Seleta e correr os olhos pelos textos, acarinhando as páginas, a capa, a lombada... Sinto-me como se viajasse no tempo, voltando aos primeiros anos, retornando à época das ilusões, das construções das utopias, da engenharia dos mais improváveis sonhos... E tudo parece realizável, pois o retorno à meninice talvez seja a melhor maneira de acarinhar a abandonada mônada – o nosso verdadeiro ser.

Costumo dizer, para o espanto de muitos amigos, que a felicidade para mim tem cheiro... Cheiro de livro, de livro velho... Quanto mais velho, melhor. Não preciso dizer-lhes, após esta confissão, que o paraíso é tangível, sim... Bem terreno, ao alcance de nossas mãos.

Quando entro num sebo e pego determinado livro, levo-o, incontinenti, ao nariz. Quando dou sorte, o cheiro que o volume exala me conduz ao passado... Vejo-me outra vez sob a chama do lampião lendo o velho e carcomido volume da Seleta em Prosa e Verso. Respiro fundo e me sinto absolutamente vivo. E feliz!
Manoel Soares Magalhães
Facebook, 31-12-14


O apólogo das árvores
da Seleta em Prosa e Verso

O primeiro apologo que se escreveu no mundo (que é fábula com significação verdadeira) foi aquelle que se refere a Sagrada Escriptura no capitulo 9 de Juizes.

Quizeram, diz, as arvores fazer um rei que as governasse, e foram offerecer o governo à oliveira, a qual se escusou, dizendo que não queria deixar o seu óleo, com que se ungem os homens e alumian os deuses. Ouvida a escusa, foram à figueira, e também a figueira não quis acceitar, dizendo que os seus figos eram muito doces e que não queria deixar a sua doçura. Em terceiro lugar, foram à vide, a qual disse que as suas uvas, comidas, eram o sabor e, bebidas, a alegria do mundo; e a quem tinha tão rico patrimonio não lhe convinha deixa-lo para se metter em governos [versículos 8-13].

De sorte que assim andava o governo universal das arvores, como de porta em porta, sem haver quem o quizesse. Mas o [que] eu noto nestas escusas é que todas convieram em uma só razão, e a mesma, que era não querer cada uma deixar os seus fructos. E houve alguem que dissesse ou propuzesse tal cousa a estas arvores? Houve alguem que dissesse à oliveira que havia de deixar as suas azeitonas, nem à figueira os seus figos, nem à vide as suas uvas? Ninguem. Somente lhes disseram e propuzeram que quizessem acceitar o governo.

Pois, si isso foi só o que lhes disseram e offereceram, e ninguém lhes falou em haverem de deixar os seus fructos, por que se excusam todas com os não quererem deixar? Porque entenderam, sem terem entendimento, que quem acceita o governo dos outros só há de tratar delles e não de si; e que, si não deixa totalmente o interesse, a conveniência, a utilidade e qualquer outro gênero de bem particular e próprio, não póde tratar do commum.

Autor: Pe. Antônio Vieira (1608-1697)
do Sermão da Vigésima Segunda (v. parágrafo VI)
Fotos: MariMoon, Sebo do Messias

1000 curtidas para a Humanização

Grupo Medicação, desde junho de 2002 injetando alegria e esperança com as receitas do samba.
Na semana passada, o grupo de Humanização do Hospital Escola da UFPel festejou as primeiras 1.000 curtidas na página do Facebook. Criada em fevereiro de 2014 para divulgar as ações do grupo, a página transmite, em fotos, textos e vídeos, todo o carinho que os voluntários e os trabalhadores do hospital sentem pelos pacientes do Hospital.

Segunda (12-1) a página reunia 1072 curtidas.
A matéria mais recente da página, esta segunda (12-1), foi sobre o Grupo Medicação (acima), que encanta os pacientes com o samba toda quarta-feira, distraindo os internados de suas enfermidades.

Para chegar a mais pessoas, a página veicula campanhas como a de doação de fraldas e, ainda, as ações de Natal, a festa de final de ano, o Corredor Arte e iniciativas como o Outubro Rosa e o Novembro Azul.

Durante os Brechós Solidários, são postadas fotos de algumas peças que estão à venda; desse modo, quem comparecer já tem uma ideia do que está sendo ofertado.

Em agosto de 2014, a comemoração do 10º   aniversário do Mateus, paciente da oncologia, alegrou o coração de muita gente com a iniciativa, demonstrando o cuidado da equipe do setor (v. fotos).

Filipe Oliveira toca para Emanuelle, sua primeira filha.
A campanha do corte de cabelo para confecção de perucas para crianças com câncer também movimentou a página, trazendo muitas curtidas e mais doações para os pequenos (v. nota com fotos).

No entanto, a história que até hoje mais emocionou foi a do papai flautista (dir.). Aluno de Música na UFPel, Filipe Oliveira emocionou muita gente tocando flauta transversal para sua primeira filha, a recém-nascida Emanuelle, enquanto ela fazia fototerapia na incubadora. A foto teve mais de 600 curtidas (v. março de 2014).

O Pet Terapia, o Projeto Integralidade, o Carrinho da Leitura e tantos outros têm na página um lugar para suas fotos, mostrando a todos que os corredores do HE também contêm alegria.

As exatas 1.072 curtidas desta semana são o resultado do trabalho feito no hospital e, com um número cada vez maior, o Grupo de Humanização tenta levar para mais pessoas o cuidado que existe no Hospital Escola.

Projeto NATHOLL espalha sorrisos na Pediatria.

Janeiro 2015 no Laranjal

No que resta deste mês, o Laranjal tem variadas atrações para o público veraneante. Algumas delas estão listadas abaixo (v. Diário Popular). Programa de shows musicais na figura abaixo.

Copa 90 anos Rádio Pelotense - segundas e sextas (16, 19, 23, 26, 30), 20h.
Beach Soccer SESI - sábado 17, 17h e terças e quintas (20, 22, 27), 19h.
Beach Soccer Circuito Verão SESC - quartas (21 e 28), 19h. 
16ª Cavalgada Cultural da Costa Doce - De 15 a 25 de janeiro.
Ação SESC + SENAC - sábado e domingo (17 e 18). Oficina de Gastronomia (saladas/sucos). Verificação de pressão arterial. Automaquiagem.
2º Campeonato de Luta de Braço - Domingo 18, 14h.
5ª Copa Laranjal de Atletismo - Sábado 24, 16h.
Show Renato Borghetti - Sábado 24, 16h.
Etapa Gaúcha de Triathlon - Domingo 25, 8h.
Concurso Garota Verão (regional) - Domingo 25.
Movie Dance Estação - Domingo 25.
Show da Schin - Sexta 30.
Jogos da Diversidade (Associação LGBT) - Sábado 31


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Programação do 5º Festival SESC


Desde hoje (15-1) o público pode retirar as entradas gratuitas para os espetáculos noturnos (20h30) do 5º Festival SESC no Teatro Guarani. Aceitam-se doações de alimentos na retirada dos ingressos (2 por pessoa). Cronograma de distribuição (no Teatro, 9-12h e 13:30-18:30):
  • de 15 a 18 de janeiro: retirar entradas para os dias 18, 19 e 20 [esgotadas no primeiro dia];
  • de 18 a 21 de janeiro: retirar entradas para os dias 21 e 22;
  • de 22 a 25 de janeiro: retirar entradas para os dias 25, 26 e 27;
  • de 25 a 28 de janeiro: retirar entradas para os dias 28 e 29.
Uma vez tendo o ingresso em mãos, o público deverá chegar ao Teatro antes das 20h30, ou poderá ter que entrar numa fila de espera. Mesmo quem não tiver entrada poderá entrar na espera, minutos antes das 20:30. Nos demais shows do Festival, todos gratuitos, não haverá distribuição de ingressos.

Veja programação adicional Festival na comunidade.


Vídeo de divulgação

18 janeiro, domingo

20h30  Teatro Guarany:
Orquestra de Câmara Teatro São Pedro (Porto Alegre, RS). Regência: Antônio Borges Cunha. Concerto para Violão e Orquestra, de Y. Costa. Solista: Yamandu Costa, violão.
ASSISTA AO VIVO.


19 janeiro, segunda

20h30 Teatro Guarany:
Cuarteto 4Mil, saxofones (Argentina). "Tiger Rag".



20 janeiro, terça

18h30 Biblioteca Pública Pelotense:
"Tons Latinos" - com Gahuer Carrasco e seu quinteto (piano Sônia Cava e Paulo Santos; saxofone Adão Santos; violino Renan Leme; contrabaixo Leon Campos). Programa com Astor Piazzolla, e músicas autorais. Artistas de Pelotas.

20h30 Teatro Guarany:
Ópera "Orfeu", música de Monteverdi (v. página do evento), com artistas da UFRGS. Regência: Diego Schuck Biasibetti (Porto Alegre, RS).


21 janeiro, quarta

18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30 Teatro Guarany:
Quinteto Porto Alegre (RS).



22 janeiro, quinta

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30 Teatro Guarany:
Cia de Dança Contemporânea Muovere (Porto Alegre, RS) e Orquestra Residente. Obras de Vivaldi, Bach e Shostakovich.

23 janeiro, sexta

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30min Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30min Catedral Metropolitana de Pelotas:
Núcleo de Metais e Banda Sinfônica Acadêmica.

24 janeiro, sábado

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30 Praia do Laranjal:
Orquestra Unisinos Anchieta, Renato Borghetti e Daniel Sá (Porto Alegre, RS).



25 janeiro, domingo

16h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital da Classe de Piano.
18h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital Classe de Canto.

20h30 Teatro Guarany:
Concerto Orquestra Acadêmica. Regência: Ranson Wilson (EUA). Solista: Clarissa Borba, vibrafone (Brasil/França). Obras de Ravel, Stravinsky e Ney Rosauro.

26 janeiro, segunda

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30 Teatro Guarany:
Núcleo de Cordas e Violões e Núcleo de Madeiras.

27 janeiro, terça

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
17h30 Café Aquários ― Grupo de Metais.
18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30min Teatro Guarany:
Orquestra Residente. Regência: Emmanuele Baldini (Itália). Solistas: Horácio Schaefer, viola (RS) e Emmanuele Baldini, violino (Itália). Obras de Mozart e Michael Nyman.


Concerto para Violino em Ré Maior, opus 35 de Tchaikovsky, 1º movimento, 
com Emmanuele Baldini e Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz, Belém do Pará, 14-3-2013

28 janeiro, quarta

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30min Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30min Teatro Guarany:
Núcleo de Percussão / Núcleo de Metais.

29 janeiro, quinta

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30min Teatro Guarany:
Banda Sinfônica Acadêmica. Regente: Gustavo Fontana (Argentina).
Solistas: Flávio Gabriel (trompete) e José Milton (trombone tenor).

30 janeiro, sexta

13h Biblioteca Pública Pelotense ― Recital de Alunos.
18h30 Biblioteca Pública Pelotense ― Música de Câmara.

20h30 Largo Edmar Fetter:
Orquestra Acadêmica do Festival. “Música das Américas”, obras de Gershwin, Bernstein, Villa-Lobos e Leonardo Martinelli. Solista: Michel Lethiec, clarinete (França). Regência: Evandro Matté (Porto Alegre, RS).  ASSISTA AO VIVO.


Imagens: Nauro Jr, ZH (1), SESC (2)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Lalala: fusão de rappers e melodia

Garcez Dirty Lion, Zudizilla, Pok Sombra e Lara Rossato apresentam música "Mais que lalala", do disco "Naturezação", produzido por Anderson Silva (SP) e Menega. Lara foi gravada por Mateus Kieling na rua Gonçalo de Carvalho, no Bom-Fim porto-alegrense. Scratch: DJ Micha (Rio Grande).

A voz e a figura pop-rock de Lara, que já morou em Pelotas, enriquecem e se equilibram com as letras de protesto, rítmicas e verborreicas dos rappers pelotenses. O Mercado dá o tom urbano e popular. Uma fusão musical original e respeitosa, que mantém e acentua o essencial de cada um: o masculino nas rimas e o feminino na melodia. Os traços comuns entre todos também ganham destaque: movimento marcado, criação autoral e consciência crítica. Divulgado pelo Diário Popular.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ir ao mar (poema)

É hora de içar as velas, ajustá-las ao vento, pegar a bússola, deixar o pranto cair, desatracar o barco, desamarrar as cordas do passado e rumar ao oceano. 

Carrego algumas mágoas, mas a água salgada irá curar. 

O porto não é tão seguro, não possui o que quero no momento, 
então, é hora de partir, esperei demais. 

Eu vou, 
não volto, 
se não tive festa de despedida tua, não importa mais. 

Novos mares,
novos amares,
novos amores, estou chegando. 


Navegar é preciso, mas amar é preciso mais. 

Janaína Madruga da Rocha
13/01/2015.

5º Inutilitários, bazar de arte


Compre, aprecie e colecione arte. É o lema implícito do Inutilitários Bazart, que a cada verão é reeditado pelo Ágape, Espaço de Arte (Anchieta 4480) para mostrar os artistas, fazer circular novas obras e formar público para as artes visuais em Pelotas. Em 2015, a exposição-bazar segue até a sexta-feira 23 de janeiro, na galeria JM.Moraes, sem abrir sábados nem domingos (v. fotos da inauguração).

Na imagem acima, fotografia e desenho mesclados, representando a esquina do Casarão Maciel, situado na Praça Coronel Pedro Osório nº 8. O trabalho pertence a Henrique Magalhães, de Portugal, e tem o valor de R$ 270. Abaixo, o homem com cabeça de polvo, desenho do caricaturista pelotense Sandro Andrade, à venda por R$ 250.

Outros 25 artistas também trouxeram obras especialmente para o Bazart: Alexandre Lettnin, Carla Borin, Carla Thiel, Daiane Biasibetti, Daniela Meine, Deborah Blank, Edison, Elaine Dias, Felipe Holman, Felipe Povo, Giane Casaretto, Gracia Casaretto, Grupo Superfície, Guinr, Izabel Neitzel, Liane Coll, Maria Clara Leiria, Mariane D`Ávila, Mariza Fernanda, Marta Dutra, Priscila Dias, Rehel Jérôme, Sebaje, Thiago Reis e Vivian Herzog.

Sob técnicas variadas – desenho, fotografia, pintura, cerâmica, colagem, gravura e objeto – as obras medem no máximo 40x60 cm, para ter preços acessíveis e poder inserir-se em diversos ambientes cotidianos, como lugares de trabalho ou estudo, espaços íntimos, salas de espera. No Ágape, respira-se arte todo dia, nos corredores e até nos banheiros, onde telas e cores fazem mais agradável o estar, o pensar, o conversar, o trabalhar, o viver e o conviver.


Imagens: Facebook

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

1º Ciclo de Filmes no curso de Cinema (2010)

Cartaz desenhado por Bruna Ferreira
alude às bicicletas e à pobreza do pós-guerra.
O curso de Cinema, aberto na UFPel desde 2010, realizou uma interessante ideia, ao mesmo tempo com fins de docência e de extensão universitária. No 1º semestre desse ano, alunos do Instituto de Artes – hoje Centro de Artes – participaram num concurso interno de cartazes, destinados a um ciclo de filmes com debates.

Os quatro cartazes ganhadores trazem a mesma informação, com design próprio (um deles ilustra este post). O desenhado por Renato Cabral representa singelamente o rosto da protagonista do filme "Viver a Vida", de Godard, a dinamarquesa Anna Karina, na época com 22 anos.

A seguir, professores do curso de Cinema organizaram o ciclo de 4 filmes, usando na promoção os cartazes selecionados nesse concurso. Finalmente, a atividade foi conhecida pelo público pelotense, ao ser anunciada na imprensa, e se efetuou, com pleno sucesso, no auditório do IAD (Alberto Rosa 62).

Para cada encontro, foi escolhido um tema cinematográfico e um especialista que exporia conceitos sobre a obra, facilitando também a discussão aberta. Os temas foram: o gênero Western, o estilo do Expressionismo, o movimento do Neorrealismo italiano e o vanguardismo francês da Nouvelle Vague (links direcionam à Wikipédia).

Cerca de quarenta pessoas, entre professores e estudantes universitários, assistiram a pelo menos um filme, formando-se cada dia plateias pequenas, de cerca de uma dúzia, ideais para debates profundos e participativos. Os filmes escolhidos são considerados obras-primas, por isso o ciclo também valeu como uma grande aula magistral de história do cinema. Confira alguns comentários sobre o ciclo, registrados em crônica no Diário da Manhã.
  • “Era uma vez no oeste” (1969, em cores), do italiano Sergio Leone, foi o western escolhido por Miguel Mishuo Watanabe, professor na UCPel, que se referiu aos planos visuais, à escolha de atores, às mesclas de gêneros cinematográficos. Naquela segunda-feira 30 de julho, o público também falou da música, dos cenários naturais, da influência da ópera clássica nas coreografias, na lentidão, no dramatismo e na identificação de um leit-motiv musical para cada personagem. Com Henry Fonda, Claudia Cardinale, Charles Bronson, Jason Robards (veja cena no vídeo abaixo).
  • Na terça 31, o expressionismo foi representado pelo filme mudo “O Gabinete do Doutor Caligari” (1919, p/b), do alemão Robert Wienne. A profª Andréa Schönhofen, da UFPel, explicou que as angústias do pós-guerra na Europa e a introversão do temperamento germânico criaram temores apocalípticos, dúvidas morais e até o questionamento da realidade em si. A cópia usada nesta ocasião foi uma versão com texto em inglês e música clássica de fundo, datada de 1952.
  • Dia 1 de agosto, a profª Regina Zauk, então coordenadora do hoje desativado cine-clube Fanopéia, do CEFET (atualmente IFSul), falou sobre o neorrealismo italiano e a obra-prima “Ladrões de Bicicletas”, de Vittorio De Sica (1948, p/b). O argumento e o modo de filmar tocam de tal forma os valores humanos mais básicos que o espectador não pode deixar de se emocionar. O neorrealismo denuncia a tragédia social e moral europeia após a Segunda Guerra Mundial, mas sua vertente italiana inclui a esperança, a crença de que sempre algum passo pode ser dado em direção à vida e ao crescimento.
Anna Karina em "Viver a Vida"
  • No último dia, Beatriz Ferreira e Sandra Espinosa, acadêmicas de Filosofia da UFPel, trouxeram “Viver a Vida” (1962, p/b), da Nouvelle Vague. Este movimento francês, próprio dos anos 60, teve sua própria estética, mas se caracterizou mais pelo oposicionismo às tradições. O diretor Jean-Luc Godard tenta transmitir suas idéias filosóficas mediante as formas visuais, deixando o conteúdo fragmentado num mosaico de cenas sem uma união evidente, que o espectador deve reconstituir.

    A jovem Anna Karina era modelo e casou com Godard, que a transformou num dos símbolos deste movimento do cinema. Sua imagem (dir.) até hoje nos convida sutilmente a pensar sobre a vida e suas mudanças.
Segundo foi comentado, este ciclo seria o primeiro de uma série, especialmente porque o curso de Cinema da UFPel iria atraindo e desenvolvendo estudiosos cada vez mais capacitados. Nos anos seguintes, este breve ciclo não se reeditou, mas tiveram continuidade ciclos maiores, como os de Cinema e História da Arte, Cinema e Quadrinhos, Cinema e Gastronomia, Cinema e Filosofia, Cinema e Literatura e Cinema e Design de Produção, todos ligados à UFPel. Também apareceram o cineclube Zero3, seguido pelo Zero4, o Festival de Cinema e Animação Manuel Padeiro e as diversas estreias e promoções da Moviola Filmes.

O debate de filmes é uma atividade que serve à formação acadêmica de artistas e humanistas, e é reconhecida também sua utilidade para o desenvolvimento do pensamento crítico, em todos os níveis educativos, e para fins terapêuticos, graças às semelhanças entre o cinema, o funcionamento do psiquismo e a evolução da vida pessoal.


O duelo final — entre Charles Bronson e Henry Fonda — revela um dos mistérios do filme:
a presença do Homem da Harmônica (indígena) está ligada a um dos crimes do vilão (branco).

domingo, 11 de janeiro de 2015

No escurinho de nós mesmos (crônica)

Melanie Nunes Fronckowiak escreveu algumas crônicas para o Diário Popular, antes e depois de se converter em celebridade internacional (confira uma de 2007: A eficiência do 0-800). 

Após deixar pela metade o curso de Jornalismo na UCPel, ela já foi modelo, Miss Rio Grande do Sul, Miss Bumbum Internacional, atriz de novela na TV Record, cantora pop. Tudo isso em menos de dez anos (veja a história dela no post Melanie Fronckowiak, de modelo a ídolo). Hoje ela é apresentadora na TV Band, noiva de Rodrigo Santoro, autora de um livro de poemas, e ainda planeja ser mãe em 2015.

Numa de suas crônicas mais recentes, Melanie faz um paralelo entre a penumbra de uma sessão de cinema, propícia para o amor a dois, e o invisível "escurinho" da intimidade pessoal, chave para o amor a si mesmo. Saiu no Diário Popular no sábado 22 de março de 2014.


Cinema. Sessão do meio da tarde. Filme ruim. Entro com a minha tradicional água com gás e um pacotinho de balas de iogurte.

Acho o hábito do cinema solitário genial. Ninguém para comentar alto sobre o filme ou para remexer os pacotes de plástico até conseguir enfim chamar atenção. Nada de vergonha alheia muito próxima de você.

O único problema disso é que sempre há alguns outros solitários que acham que essa é uma grande oportunidade de encontrar uma alma gêmea. Outro alguém que também vai ao cinema sozinho, não necessariamente por opção, e fica te olhando como quem diz: "E aí? Que tal juntarmos a nossa autossuficiência nesse escurinho desacompanhado e refrigerado?"

De verdade, vou ao cinema sozinha, porque acho a minha companhia ótima e porque é incrível não depender de ninguém para fazer coisa nenhuma. Mas nessa tarde o cinema era praticamente meu. Um casal de idosos estava sentado bem no meio da sala. E eu aproveitei a intimidade estabelecida pela quantidade de pessoas e fiz a linha "civilizada no elevador", compartilhando um simpático "Boa tarde", que foi devolvido com a mesma educação, sem considerar uma dosagem de espanto. A educação anda como o tomate, há alguns meses, inflacionada no mercado, enquanto antipatia e grosseria estão sempre em promoção.

Percebi que o casal comemorou a minha presença e depois entendi o porquê. O senhor fazia contas, "faltam mais dois", ele tentou sussurrar. Confesso que nem sabia que havia um mínimo para que o filme pudesse ser rodado. Mas, aparentemente, dentro do conhecimento dele, ainda precisávamos de mais duas pessoas. E ele foi fazendo a contagem, até que relaxou e percebeu que a programação daquela tarde estava garantida.

Depois continuou outros assuntos com a esposa. Ele falava alto, por mais que achasse que falava baixo. Quase um sussurro teatral, absolutamente audível e um pouco cômico, considerando a pequena quantidade de pessoas na sala do cinema. Falou de uma tal de Márcia, que andava de mal com um tal de Vítor. Teve uma crise de tosse, outra de riso. Ou uma de tosse e riso, mais ou menos combinadas.

— Quanto ele vai levar para se atrever a me beijar?
— Levei metade do filme mas finalmente pude pôr o braço.
Ao longo do filme o papo continuou amimado, comentavam, palpitavam alto sobre o futuro dos protagonistas, era como se estivessem em casa. Eu, obedecendo pateticamente o lugar marcado, estava sentada mais atrás e podia acompanhar a movimentação. A verdade é que o filme era péssimo (o que justificava a sala bastante vazia) e o casal de senhores tornou-se muito mais interessante.

Em certo momento, e não me perguntem o que acontecia na telona, observei o homem passando a mão em volta dela, acomodando seus cabelos grisalhos no seu peito. Pude ver pela silhueta iluminada um beijo carinhoso, antes de um novo ataque de tosse brusco e para o lado oposto.

Fiquei pensando no meu hábito solitário de frequentar salas de cinema quase vazias. E em como, na verdade, existem grandes personagens e suas vidas sentadas nas poltronas. A vida de quem vive pode ser tão mais interessante do que as histórias. Nós é que esquecemos de amparar o olhar nas frestas da realidade.

Foi a primeira vez que senti solidão num momento como esse. Não queria alguém para escorar a cabeça, queria um peito para escorar a vida e a história compartilhada em anos de caminhada conjunta. Queria alguém que respeitasse o meu silêncio e o escuro que carrego (todos carregamos) dentro de mim mesma. Não senti falta de companhia, mas de estar acompanhada. Que é parecido e, ao mesmo tempo, totalmente diferente. No primeiro, temos alguém por perto. No segundo, temos alguém por dentro. E dois num cinema escuro, viram um só. O amor é a arte de duvidar da matemática.

Mel Fronckowiak


"Flagra" (1982), trecho do DVD "Multishow ao Vivo Rita Lee"

Fotos: Facebook (1), NaTV (2), Pó de Giz (3)