O de maior alcance e volume literário é Aldyr Garcia Schlee (dir.), que em dezembro passado lançou uma série de contos em torno ao nascimento de Carlos Gardel, Os limites do impossível (veja nota).
Schlee é jaguarense que reside em Pelotas desde os 15 anos de idade, e seus conteúdos são habitualmente focados na fronteira com o Uruguai ou no país vizinho. Inclusive os uruguaios o têm como escritor nacional deles. Sua carreira profissional se situa no jornalismo e na docência universitária, começando na literatura de ficção somente após os 40 anos de idade.
Proveniente da sociologia como Schlee, mas já consagrada como professora de literatura, Hilda Simões Lopes patrocinou a Feira do Livro de 2009, lançando aqui duas obras recentes: um manual de redação e um romance em torno à figura literária de Clarice Lispector. Hilda reside em Porto Alegre, onde tampouco participa de academias.
Vítor Ramil (esq.) é conhecido nacionalmente como cantor há 30 anos, e lançou um segundo romance em 2008: "Satolep" (leia nota), obra de longa preparação e de complexos conteúdos, fruto de obsessivos amores por Pelotas, sua cidade-natal. Nem Ramil nem Schlee pertencem a agrupações literárias, por opção.
Entre os membros da Academia Pelotense de Letras, Manoel Soares Magalhães tem-se mostrado como romancista, poeta, pintor e blogueiro, com surpreendentes resultados ao conjugar diversas artes e gêneros discursivos. O colega de sodalício Francisco Dias da Costa Vidal, cronista de jornais desde os anos 50 e psicólogo desde os anos 60, apresentou em 2008 sua segunda coletânea de relatos de viagem, desta vez um retorno aos veraneios dos anos 40 no balneário do Hermenegildo, de Santa Vitória do Palmar, município mais austral do Brasil.
Marlise Flório Real (dir.) é psicóloga, vitoriense radicada em Pelotas, que publica crônicas sobre amor e sexualidade, e as reúne em livros. O último deles foi lançado em outubro de 2009.
O poeta Joaquim Moncks não publicou livros recentemente, mas tem vindo a Pelotas como integrante da Academia Sul-Brasileira de Letras, onde paraninfou o ingresso de um escritor. João Manuel Cunha é professor de literatura mas está mencionado neste blogue como escritor, pela simples façanha de ter sido citado num discurso de ingresso na Academia Brasileira de Letras, o do cineasta Nelson Pereira dos Santos (leia nota).
José Antônio Mazza Leite provém das ciências biológicas mas tem se dedicado à pesquisa histórica, especificamente sobre Pelotas. Em 2009 publicou um resumo justamente sobre a origem e desenvolvimento de nossa cidade.
Rubens Amador Filho é jornalista com talento para a ficção, especialmente os contos breves. Em 2008 criou um novo meio de comunicação em Pelotas, onde inventa personagens, colunistas e até notícias, buscando com teimosa rebeldia uma cidade futura que se resiste a ser reinventada, e que Ramil já descrevera num limbo, mundo ideal paralelo. Rubens apresentou duas obras em 2009, derivadas da produção no blogue Amigos de Pelotas, afinal também este uma obra literária.
Pablo Rodrigues é outro jornalista que publica somente crônicas e textos poéticos, mas cultiva um estilo de pureza e profundidade literária, nas pegadas de Guimarães Rosa.
Janaína Brum tem um blogue de poesia, o que em si mesmo não seria um destaque literário. Mas sua produção é disciplinada, criativa e baseada em estudos linguísticos. Outra jaguarense que enriquece nossa cidade com o verbo sonoro e delicado que sai de um coração sensível, peneirado por uma inteligência e uma boa capacidade artesanal.
Beatriz Araujo é porto-alegrense radicada em Pelotas há nove anos, e escreve na internet poemas dedicados com naturalidade ao amor, simplesmente. Sua primeira coletânea foi encarregada a uma editora virtual.
Nauro Machado Jr. diz que não é nem quer ser escritor; mesmo que seu livro sobre o Grêmio Esportivo Brasil seja um fenômeno de vendas em Pelotas. Ele é fotógrafo profissional e já tem mais ideias para contos e romances, o que o define, pelo menos agora, como um futuro escritor. Que seguirá sendo fotógrafo.
Anderson Reichow já publica crônicas, contos e reportagens na internet, com evidente talento. Sua primeira participação num livro ocorre nestes dias, como um dos nomes numa coletânea de artigos sobre direitos dos animais. Veio de Canguçu aos poucos e já é pelotense adotado, sendo o segundo mais jovem deste grupo de autores.
Em 2008, Júlia Thomaz (dir.) publicou contos breves, aos oito anos de idade (veja nota), e, mesmo que não saibamos sua direção profissional ou vocacional, é a mais precoce escritora jamais vista em Pelotas.
Fotos de F. A. Vidal
Prezado Vidal, não concordo quando dizes que a literatura de Schlee tem mais alcance que a de Ramil, por exemplo, o qual foi publicado nacionalmente. A obra fronteiriça do escritor nascido em Jaguarão é importante, inegavelmente, mas bastante inferior às construções literárias do cantor-escritor pelotense. Até Magalhães, cuja obra é considerada marginal, é mais importante à cidade de Pelotas que a literatura de Aldyr. Tenho acompanhado a literatura pelotense nos últimos anos e, sem medo de errar, apontaria Ramil e Manoel Soares Magalhães como os dois mais importantes escritores contemporâneos de Pelotas, os quais, cada um ao seu jeito, desenham uma Pelotas que, malgrado as diferenças contextuais, aproximam-se
ResponderExcluirde forma fantástica. Portanto, seu juizo de valor parece-me equivocado.
Ernesto
Na avaliação de pessoas é inevitável certa influência de nossas simpatias e antipatias. Tentei depurar aqui esses sentimentos e considerar mais os argumentos lógicos, preferindo ver mais as boas qualidades do que os possíveis defeitos.
ResponderExcluirApós os 40 anos de idade, um escritor pode autoafirmar-se com certeza, e isto é comum aos 3 escritores citados. No entanto, Schlee é o que destaca. Ele leva a dianteira no tempo de amadurecimento e na eficiência produtiva (aspectos formais).
Magalhães e Ramil são sim os mais destacados escritores de ficção daqui: pelotenses que falam sobre Pelotas diretamente a seus conterrâneos. Quem quiser lê-los e ver seu valor universal precisa conhecer Pelotas ou, pelo menos, abrir-se a conhecê-la. São narradores locais que transcendem o espaço fechado a uma cidade. Fazem os nexos internos deste nosso umbigo fragmentado e autorreferente. Estão crescendo dia a dia e ainda chegarão a degraus superiores.
Schlee sai da casca nacionalista e, sem perder o bairrismo, busca o outro, o diferente, o inimigo tradicional, que descobre ser um irmão. O exercício empático é levado à máxima expressão e obtém valor universal, além das épocas. É um narrador binacional (façanha em si mesma), que transcende o tempo. Faz nexos idiomáticos, históricos, psicológicos e antropológicos. Está em seu ponto alto mas ainda terá um maior reconhecimento posterior.
Boa polêmica. Pra mim Magalhães é para Pelotas o que Roberto Arlt foi para Buenos Aires. Havia o "genial" Jorge Luis Borges e o autor de Os Sete Loucos & Os Lança-chamas correndo por fora. Tornou-se universal narrando as peripécias de seus personagens na capital portenha. Magalhães faz o mesmo por aqui, inclusive na forma narrativa aparentemente descuidada, dando verdade às suas figuras marcadamente sofridas através da oralidade. Eu diria que não há necessidade de conhecer Pelotas para que os livros de Magalhães - e do Ramil também - ganhem universalidade. Não há necessidade de conhecer Moscou para entendermos a importância de um Tolstói, por exemplo.
ResponderExcluirErnesto
Quem "canta" sua terra torna-se universal.
ResponderExcluirAcho Vitor Ramil muito hermético - porém Satolep é um grande livro. Não conheço os demais escritores, exceto Manoel cuja literatura é forte, mais ao gosto popular, embora seus protagonistas sejam bastante reflexivos. Seu estilo lembra o do escritor argentino citado por Ernesto, cuja opiniões me parecem centradas.
ResponderExcluirQue valor literario pode ter a obra de um autor academico que gosta dos frufrus da academia? Bem faz o Schlee, a Ildinha e o Ramil não participarem desses sodalicios?
ResponderExcluirAnônimo das 19:37, que bobagem disseste. O cara pode ser acadêmico e escrever bem? Não esquece que quem fundou a Academia Brasileira de Letras foi um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis. Logo...
ResponderExcluirComo tenho dito, o blogue tenta fazer um mapeamento, estimulando as pessoas a lerem mais, e a conclusão fica por conta dos leitores.
ResponderExcluirA partir de uma opinião crítica, brota a polêmica e desta pode sair um acordo, ou permanecer a separação dos fãs. Poderiam estar todos de acordo?
Em seu livro mais recente, A SENHORA DO AMOR, de Manoel Magalhães, há um trecho que refere-se a um piano de "calda preta", quando a verdade deveria referir-se a "cauda preta" ("Calda" pode ser chocolate, de baunilha...). Outros livros da produção "marginal" do autor contém uma série de erros de pontuação, de grafia e até de concordância, mas ele está na Academia Pelotense de Letras....
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