domingo, 9 de agosto de 2009

Júlia Thomaz, escritora aos oito anos

No último sábado da Feira do Livro de 2008, apresentou-se uma menina pelotense para autografar seu primeiro livro, uma coletânea de dezoito relatos breves, chamada precisamente “As Aventuras do Livro”. Era Júlia Fripp Thomaz, aluna de 2ª série do Colégio Gonzaga.

O lugar foi o mesmo dos adultos, mas uma hora antes. O espaço onde às 18h autografariam vários escritores de maior trajetória, era todo para Júlia, única criança pelotense escritora.

Às 17h, os primeiros leitores e curiosos se aproximaram, inclusive um grupo de crianças que iam passando (esq.). Seria mesmo possível que uma menina de somente oito anos tivesse escrito um livro? Não é algo que vejamos todo dia por aqui.

Então a menina apareceu, mas não parecia uma escritora; era uma menina como as outras. Afinal, os escritores adultos também parecem pessoas comuns, e eu nunca tinha visto, mesmo, uma menina escritora.

Júlia tem uma família muito simpática - seu pai é professor, sua mãe é médica - tem uma irmãzinha menor, tia, avós, tudo normal. Mas Júlia é muito imaginativa, inventa relatos com ensinamentos e poesias, os conta em voz alta e os escreve à mão.

Quando ela disse que estava fazendo um livro e começou a desenhar ilustrações para esses contos, Julieta Fripp, sua mãe, começou a digitar o texto. Uma produtora fez o design, a escola financiou a impressão, e aqui está a Júlia na Feira do Livro de Pelotas, autografando sua primeira obra.

Já não é comum encontrar crianças publicando o que escrevem, mas aqui temos uma escritora que compartilha com naturalidade seu mundo pessoal, como se fosse sua missão de vida e como se o estivesse fazendo há muito, como alguém que leva toda a vida escrevendo.

E não pude deixar de lembrar o jornalista Jayme Copstein, que no dia anterior autografou no mesmo estande. Júlia y Jayme, oito e oitenta anos, duas personalidades que nos inspiram quanto ao profissionalismo, o bom humor e a generosidade de socializar sua criação.

Numa parada dos autógrafos, ela recebeu um reconhecimento de sua professora e algumas colegas de turma, a irmãzinha observando (esq.). Na foto abaixo, Júlia admira seu prêmio junto a seus pais, irmã, professora e colegas.

Com o relato feito pelos pais, eu já sabia como Júlia fazia para escrever os contos. Mas logo ela mesma se mostrou totalmente à vontade na arte de fazer as dedicatórias. Não há nenhum segredo; afinal, “só” é preciso ter uma idéia precisa e pô-la no papel. Ela fica séria, olha o horizonte e escreve com total segurança uma frase específica para cada pessoa, criada no momento. Para sua tia ela escreveu: “Você é uma tia muito especial”. A mim dedicou esta frase: “Você vai se impressionar com esses livros”.

Talvez ela tenha percebido meu impacto com o fato de ela estar publicando seu primeiro livro, ilustrado por ela mesma (somente a ilustração de capa não lhe pertence), contribuindo com uma pontinha de luz e esperança num evento pensado mais para adultos. Sim, eu já estava impressionado.

Logo percebi que ela sabia o que estava dizendo: o epigrama abaixo me causou a mais profunda impressão, como ela havia previsto.

Como uma discípula de Mário Quintana ou Pablo Neruda, em três linhas simples e profundas, ela relaciona cores, sons, símbolos e amores, à base dos nomes de seus familiares - Julieta, Laura e Florismar.

Veja os incríveis comentários suscitados com esta notícia no Amigos de Pelotas.

A cidadania dos nomes
A minha mãe é como um pé de mamão.
A minha irmã é como o dia ensolarado.
O meu pai é como o mar limpo.
Fotos de F. A. Vidal

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