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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Primeiro blogue gastronômico

Há dois meses apareceu o primeiro blogue pelotense de crítica de restaurantes, o Vigília Gastronômica.

Foi criado por seis amigos que comentam, sem pretensões e com bom humor, suas visitas a casas de comida e bebida, às vezes elogiando com diplomacia, às vezes desnudando a má qualidade do atendimento, da comida ou do preço - mas sempre com fundamento. Afinal, a comida é o único estímulo humano que entra pela boca e pelos olhos, e gera controvérsias.

O sexteto de vigilantes é o seguinte: Ana Marafiga, designer, Charles Huber, professor universitário, Daniel Costa, formando de jornalismo, Gonçalo Cholant, professor de inglês, Guilherme Corrêa, mestrando em computação, e Paula Gracioli, estudante de jornalismo.

O ritmo de postagem em novembro foi a cada 2 ou 3 dias; em dezembro dilatou-se para uma semana. A nota mais interessante - em texto e fotos - foi uma comparação dos dois sushi-bars que há em Pelotas: o Shanghay (dir.) e o Luna Inti (leia).
A nota mais recente foi sobre os pastéis recheadíssimos do Komilãw (foto abaixo).

Diz Guilherme no primeiro post: Inicialmente, a intenção foi focar apenas em locais públicos - bares, botecos, restaurantes e afins - e publicar críticas, levando em consideração a qualidade, o preço, o atendimento e o ambiente. Logo em seguida, surgiu a idéia de escrever resenhas a respeito dos pratos que o próprio grupo prepara, passando para o leitor, não só a receita básica mas, também, dicas que podem ser úteis na hora de cozinhar.

Se bem o blogue está dirigido basicamente aos pelotenses, as regras incluem relatar visitas gastronômicas fora de Pelotas. Charles foi o primeiro a cumprir essa espécie de exceção, e comentou sobre o Eis, uma sorveteria da cidade de Birkenfeld (se alguém passar pelo sul da Alemanha, não custa nada conferir). Guilherme apresentou o PratBurger, de Porto Alegre.

Os guris estão no gmail, no Twitter, no Orkut e no Flickr (veja os contatos). E aceitam convites para jantar... na sua casa ou no seu restaurante! Não se acanhe, eles são muito simpáticos.

Valorizando que eles armaram o primeiro blogue gastronômico, vale destacar que a crítica de restaurantes pelotenses na internet foi iniciada em agosto de 2008 pelo blogue Amigos de Pelotas (colunista Slow Food).
Fotos: blogue VG

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Do encontro de blogueiros nascem mais ideias

Em novembro, a experiência deste blogue serviu para iniciar um debate entre psicólogos blogueiros de Pelotas. Éramos somente três, e dois estávamos na cidade: Liana chegaria em dezembro. O bate-papo pelo computador foi de uma hora, mas muito intenso, criativo e interessante (veja a nota).

Pois exatamente um mês depois, na quinta-feira 17 de dezembro, o encontro pessoal se realizou: na mesa 10 da Doçaria Pelotense, o chá dos três foi às quatro e, em vez de chá inglês, foi com coca zero, suco natural e H2O maçã.
O entusiasmo da primeira vez (ou seria esta a primeira vez?) parecia ter diminuído, mas a criatividade seguia fluindo e fomos buscando pontos comuns. Não eram muitos, exceto pela tendência a sair da cidade natal (Liana é de São Gabriel, Isane é de Jaguarão), o gosto pela redação e a inventar assuntos e formas de comunicação.
De fato, nós três seguimos escrevendo com frequência nos blogues e a Isane (a morena) nos anunciou que abriria um novo, destinado a mostrar o trabalho de colegas daqui: deve chamar-se Psicólogos de Pelotas e estar disponível desde o primeiro dia do ano que vem: 01-01-10. A Liana, por sua vez, acha que poderíamos ter um programa de rádio, e só precisaríamos definir os assuntos e o feeling recíproco. O que eu pressinto é que outros colegas aparecerão com mil ideias e que teremos um foco de mudanças positivas na cidade. É questão de tempo, somente.
Foto de F. A. Vidal (tomada por uma garçonete da Doçaria)
POST DATA: O blogue Psicólogos de Pelotas já está disponível para colaborações.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cidade de enchentes

Em dezembro, várias exposições e encontros culturais foram realizados nos espaços de convivência da Universidade Católica. Uma dessas atividades foi uma exposição de fotografias sob o título "Pelotas, cidade de enchentes".

O projeto assinado por Diogo Salaberry, aluno do Jornalismo da UCPel, incluiu três colegas fotógrafos: Marcel Ávila, Felipe Nyland e Solano Ferreira.

Todos eles cobriram para a imprensa escrita (Diário Popular e Zero Hora) as inundações de janeiro passado e publicaram seus trabalhos nesses meios (impresso e eletrônico), inseridos nas notícias. A exposição começou dia 9 de dezembro no campus II e terminou dia 17 no campus I.

As enchentes são um problema da humanidade há milênios e rendem fotografias de todo tipo. Esta série mostra em somente 28 imagens aspectos dramáticos e/ou estéticos, mas cotidianos em nossa cidade, como o contato sensorial com a água (fotos maiores, de Marcel Ávila), reflexos de simetria (à esq., foto de Solano Ferreira) e um desnível paradoxal (foto menor). Todas estas são fotos de fotos.

Sendo Pelotas um lugar baixo, chuvoso e próximo a banhados e ao mar, expõe-se permanentemente ao problema físico e social que advém das inundações, sem contar o aspecto psicológico, nunca bastante considerado e resolvido (perdas e renovações, afogamentos, frio, isolamento e necessidade de ajuda).
Imagens de F. A. Vidal

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Casamento civil coletivo

O saguão do Paço Municipal foi o cenário do matrimônio coletivo de 31 casais, no sábado 5 de dezembro. A ação é parte do projeto Ronda da Cidadania - com apoio do Poder Executivo - que desde 2001 já organizou 576 casamentos gratuitos para casais sem recursos financeiros. Em dezembro de 2008 somente, o benefício foi recebido por 56 pares de noivos de uma só vez (leia).

As Rondas da Cidadania são serviços de utilidade pública, promovidos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em que mutirões de profissionais dão atendimento gratuito à comunidade. Em Pelotas, já se realizaram 36 edições, metade das quais foram casamentos coletivos.

Enquanto no piso superior a Banda do 4º Batalhão de Polícia Militar tocava a Marcha Nupcial, cada noiva era chamada pelo locutor, descia as escadas sob chuva de pétalas de rosas e se encontrava com o noivo (dir.). A Guarda de Honra que acompanhava as noivas era formada por estudantes das escolas Independência e Ferreira Viana.

O prefeito fez um discurso de saudação; ele e sua esposa presidiam a solene circunstância. O Coral da Santa Casa cantou “Como é grande o meu amor por você”, e logo as uniões foram formalizadas no casamento propriamente dito, por intermédio do Cartório de Registro Civil.

Havia noivos muito jovens e outros de mais idade, como o casal Sérgio e Loiva, com 57 e 60 anos, respectivamente (leia nota no portal da Prefeitura).

Segundo os juízes Marcelo Cabral e Suzana Neves da Silva, coordenadores da Ronda da Cidadania em Pelotas, os casamentos coletivos têm por objetivo dar proteção à família com o apoio da legislação e garantir cidadania às pessoas, além de realizarem um sonho. Antes da cerimônia, os nubentes recebem orientações jurídicas (sobre direitos e deveres para com o cônjuge e filhos), sociais (sobre planejamento familiar) e psicológicas (veja nota). Ações parecidas são realizadas em outros Estados, como o "Paraná em Ação" (200 casais).

O projeto municipal Fala Pelotas providenciou - mediante parcerias com empresas comerciais, artistas e escolas - a decoração do local, os trajes dos noivos e noivas, maquiagem, fotografias, música e outros itens para embelezar o dia (leia notícia).
Imagens da web

domingo, 27 de dezembro de 2009

O dia em que o Aquários fechou

Na sexta-feira 26 de junho deste ano, o Café Aquários amanheceu fechado e assim permaneceu todo o dia. Somente um cartazinho na porta informava o motivo: luto. No início da noite anterior havia falecido um dos donos, o português Joaquim Rodrigues. Ele tinha 75 anos de idade, uns 50 de Pelotas, e uns 40 de Aquários, que era sua casa e segue sendo a de muitos pelotenses.

O Amigos de Pelotas registrou o fato naquela tarde; um cliente dizia só ter visto o Café fechado uma vez na vida (leia os comentários) - um modo de dizer, pois o lugar fecha todas as noites, às 22h (no horário de verão, às 23h).

No dia seguinte, Zero Hora noticiou: "Morre o dono do Café Aquários de Pelotas" (leia), com a foto de Nauro Jr. (abaixo). A imagem da loja fechada parece banal para alguém de fora, mas em nossa cidade é momento histórico e insólito.

Em 1912, abriu ali um dos primeiros cinemas da cidade, o Ponto Chic, que funcionou por uns vinte anos (veja uma foto). Na década de 30 ou 40 abriu um café, e nos anos 50 denominou-se como até hoje.

O Aquários é um ponto de encontro - um lugar no sentido estrito - e não de passagem simplesmente. Marcos Macedo referiu-se numa crônica ao conceito de "lugar" (leia).

Nesta ocasião, os clientes habituais ficaram ali mesmo toda a manhã, mesmo sem tomar cafezinho (que no Aquários chega a ser um detalhe). A tristeza se focava na falta do seu espaço diário; se o Café tivesse seguido aberto, alguns deles não teriam percebido a morte de alguém. Os meios de comunicação sutilmente pareciam noticiar a provinciana frustração. Um cliente teria dito: "Com o Café fechado a cidade morre".

Que cidade pequena; só tem um café? Na verdade, o principal lugar de Pelotas não deixou de ser um lugar por ter fechado um dia, mas precisava das portas abertas. O lugar é feito pelas pessoas, mas requer referências físicas.

No dia seguinte, 27 de junho, o Aquários abriu e ZH também noticiou, aparentando que o foco era o vazio comercial; no entanto, o texto de Giacomo Bertinetti se refere às alterações emocionais (leia). Disso faz hoje seis meses e esperamos que a normalidade não mais se altere no nosso bastião de paz.
Foto: ZH (Nauro Jr)

Peixes morrem, por ações e omissões dos pelotenses

Domingo passado (20), uma leitora visitava a Praça Osório e observou o abandono e sujeira em que se encontrava o lago, com lixo flutuando e peixes mortos. Tomou fotos (dir. e abaixo) e as enviou a este blogue e ao sítio da RBS Pelotas Mais, com um texto de desabafo.

A quantidade de lixo espalhado dentro do lago e o esforço daqueles seres para conseguirem sobreviver era algo inexplicável, inconcebível na verdade.
De que adianta embelezar uma praça, colocar ali para viver seres que necessitam o básico em termos de cuidados e depois não dar conta do mínimo que deveria ser feito: prestar a manutenção necessária para a limpeza e consequente sobrevivência dos animais que ali habitam?
Foi deprimente visualizar aquilo e o pior foi não ter para quem pedir ajuda. Resta então tornar pública a minha indignação com quem tem responsabilidade e deveria zelar pela conservação da limpeza e vida do lago da praça Coronel Pedro Osório.
E, sinceramente, se for para deixar os animais agonizando naquela porquice (perdoem o termo, mas representa o verdadeiro estado do local), então é melhor secar imediatamente o lago e acabar com o sofrimento de quem não tem culpa do ser humano ser tão pouco inteligente quando se trata de responsabilidade (veja a matéria completa).

A professora Aline Neuschrank, autora da denúncia, não a enviou a outros meios, mas a notícia do Pelotas Mais foi tomada pela TV e teve outras repercussões.
O Diário Popular publicou o fato na contracapa de terça (22) e no portal da internet (leia). Nos dias seguintes, o Amigos de Pelotas postou em vários tons: crítico, trágico, sério e irônico.
Terça (22) às 16h alguns peixes mortos haviam sido retirados e - quem sabe para quê - deixados em exposição (dir.).
O lago seguia com a água turva e escura, mesmo sem lixo. Tão "irrespirável" devia estar, que alguns dos peixes sobreviventes tentavam aproximar-se a uma fonte de água limpa (abaixo à esq.).
Uma tartaruga só podia ser vista se estivesse perto da superfície; na imagem (última à esq.), ela empurra com a cabeça um peixe morto, como tentando reanimá-lo.
Naquela tarde, a Brigada Militar veio pesquisar o possível crime ambiental (abaixo à dir.), configurado há meses mas somente agora evidenciado.
Mesmo sem intenção de dano, pode haver muitas quotas de responsabilidade, por ações ou omissões. Será difícil identificá-las, pois o público que suja a praça é anônimo, enquanto os funcionários municipais se encontram fragmentados em secretarias sem coordenação: Qualidade Ambiental, Serviços Urbanos, Turismo, Educação e Cultura. Todas poderiam contribuir para prevenir e solucionar problemas como este, mas sua desunião é causadora de dores de cabeça na população.

Enquanto eu tomava fotos, aproximou-se uma senhora de aparência muito humilde, com um só dente e um toco de cigarro aceso na boca. Aparentando consciência da situação, ela me comentou:
― As crianças dão pipoca aos peixes e eles morrem afogados.
A senhora jogou a bagana no chão (não no lago, ainda bem) e afastou-se, preocupada com a inconsciência dos outros.
Outros transeuntes jogam lixo no chão (mau costume que ninguém se atreve a censurar) e atribuem ao vento ou às pombas sujarem a praça. Sacos plásticos e folhas das árvores simplesmente chegam aonde não devem; copos descartáveis e paus também?
Os funcionários públicos serão responsabilizados por não limparem a piscina, ou por deixarem mais de mil animais num espaço tão reduzido, mas eles dirão que somente seguem ordens. Ninguém parece pensar em prevenir erros ou em cuidar dos animais ou do ambiente natural. Mas todos gostam de ver os peixinhos vermelhos e as tartarugas. Quando aqui havia jacarés, era uma sensação.
Quarta (23) o Diário Popular informou (leia) sobre as medidas que seriam tomadas: mudança dos peixes para o lago da Rodoviária, escovação do fundo da piscina e, futuramente, adoção do lago para cuidar de modo adequado da alimentação dos animais. Com sorte, isso ocorrerá em janeiro próximo.
Hoje (27) ao meio-dia a água parecia menos suja (dir.) e os bichos, mais tranquilos. Se não houvesse uma manifestação popular, o que a prefeitura teria feito pela situação deles?
As palavras piscina e aquário apresentam uma curiosa troca de significados ao longo do tempo.
  • No latim original, uma piscina era um viveiro de peixes, mais para criação do que para exposição ― nosso popular "aquário".
  • Por sua vez, um aquário se referia a algo puramente aquático, como um chafariz ou um provedor de água (daí o signo zodiacal) ― o que hoje se chama "piscina" (depósito de água para pessoas ou para peixes).
Fotos de Aline Neuschrank (1-2) e F. A. Vidal (3-7)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Natal no Aquários

Até o dia de Natal, o Café Aquários atendeu seus clientes com o carinho de Papai Noel. Pelo menos essa foi a mensagem passada pelos seus funcionários, vestidos de vermelho e com a típica touca vermelha - incluída a bolinha branca na ponta - que tradicionalmente se associa à figura do Bom Velhinho (acima).
Ao mesmo tempo, a decoração fotográfica do local segue completando-se neste mês, com as novas fotografias sendo colocadas nas partes altas das paredes. Em setembro passado (dia 18), o Amigos de Pelotas mostrou um aspecto das mudanças (veja a nota).
As maiores são vistas aéreas, que substituem as clássicas, em preto e branco, do centro da cidade (dir.) e do Laranjal. Não exatamente iguais às antigas, as coloridas têm marcos mais largos, focam em ângulos mais próximos e mostram com maior nitidez os pequenos avanços urbanos de Pelotas. Um ou mais desses fatores progressistas deve ter tocado os velhos clientes, pois já alguns destes se pronunciaram contra, dizendo que preferiam as velhas fotos!
Por outro lado, as imagens menores, tomadas à base do atual cardápio, começaram a ser postas no setor da lancheria. Elas ilustram justamente os sanduíches, sorvetes e variedades de cafés que são a cara do Aquários, tanto para os consumidores como para os que atendem ali todos os dias do ano, da manhã à noite. Quando tomei a primeira foto acima, há três dias, a moça que se vê do lado esquerdo, chamada Clara, veio me dizer, mostrando a 4ª foto, em tom de brincadeira mas sem esconder seu orgulho:
― 'Tá vendo aquele capuccino? É minha obra-prima, fui eu que fiz!
Alguém identifica qual a rua que atravessa a foto abaixo?
Fotos de F. A. Vidal

Café Sócrates

Há poucos anos - mais ou menos entre 2005 e 2007 - esteve funcionando em Pelotas o Café Sócrates, encontros mensais de reflexão filosófica entre profissionais de diversas áreas.

A atividade foi iniciada pelo psicanalista Paulo Luís Sousa e seguiu em mãos de um informal clube filosófico, entre os quais o professor Jandir João Zanotelli ex-reitor da UCPel, e a empresária sra. Aira Gallo. O piso superior da Doçaria Pelotense se fez acolhedor para as conversas do pequeno grupo, porém com inconvenientes acústicos. Eu estive em quatro encontros e num deles expus um ponto de vista psicológico.

Em agosto de 2007, Zanotelli tratou a pergunta “Por que me odeias se não te fiz nenhum favor?”, ao redor dos valores da solidariedade e da generosidade. Houve doze presentes, que participaram fazendo perguntas e comentários. Esta reunião teve um convite de divulgação (abaixo), que deu impulso à atividade, mas o procedimento não se repetiu.

Em setembro, cinco pessoas discutiram, durante quase duas horas, sobre a pergunta “O que é o poder?” e seus significados filosóficos, teológicos e psicológicos.

Em outubro, a reunião foi em torno ao tema “Como ocorre o encontro humano?” (no caso, ocorreu em torno a uma bandeja de doces e o chá de frutas da Doçaria). Ante a pouca clareza na organização das datas, os sete contertúlios concordaram que as sessões ficassem na penúltima quarta-feira de cada mês.
A reunião de novembro abordou o tema “Nascimento e Morte”. Depois disso, as férias diluíram o grupo, que não se reconstituiu no ano seguinte (ou não me informou).
As quatro reuniões foram organizadas pela sr. Aira Gallo, dona da Doçaria, e o professor Zanotelli fez as exposições para estimular os debates, sugerindo também os temas seguintes, com aprovação dos contertúlios. Apesar de ser uma excelente ideia, não teve continuidade por falta de organização. Entre fundar um estilo próprio em Pelotas e reproduzir uma iniciativa trazida de fora, a informalidade do grupo não conseguiu nem uma coisa nem outra.
O Café Sócrates não é um lugar físico, mas uma forma de diálogo, que pode estabelecer-se entre pessoas de quaisquer idades ou origens, somente exigindo atitudes de curiosidade, tolerância e profundidade. Longe de pretender encontrar respostas definitivas, visa a gerar mais perguntas em torno a assuntos de interesse das pessoas.
Em dezembro de 1992, o francês Marc Sautet (dir.), professor de filosofia, iniciou diálogos num café de Paris, que denominou "Café Filosófico", com inspiração socrática. Em 1995 relatou seu método no livro Un Café pour Socrate (veja passagens do texto original). Os temas eram escolhidos na hora do encontro - domingos às 11h - e as opiniões eram dadas por todos os presentes, somente facilitadas por um mediador, que era sempre ele. Sautet faleceu em 1998, por um tumor cerebral, aos 51 anos, mas os cafés-philos (leia verbete na Wikipédia) seguem até hoje.

A divulgação deste método nos Estados Unidos pertence a Christopher Phillips (abaixo à esq.), escritor que em 1996 fundou a S.P.I. (Sociedade para a Indagação Filosófica) em Nova Jersey e estabeleceu orientações para o debate coletivo.
Em 2001 ele escreveu parte de suas experiências em Socrates Café: a Fresh Taste of Philosophy (1ª imagem acima à dir.), e já tem mais dois livros nesse tema. Algumas das sugestões de seu criador são que as reuniões destes “clubes filosóficos” sejam semanais ou quinzenais, durem duas horas, tenham a condução de um facilitador (não um expositor) e girem cada vez em torno a uma pergunta, que cada pessoa responderá. É importante a estabilidade do lugar, horário e periodicidade. O objetivo é ordenar a expressão participativa, estimulando a curiosidade e a tolerância intelectual. Há um formato para crianças e adolescentes, com os mesmos princípios.
A iniciativa se transformou numa espécie de franquia internacional bastante livre, que já teve centenas de grupos em diversos países. Na América do Sul, há ou houve pelo menos um Café Sócrates em Caracas e outro em Buenos Aires. A esposa de Christopher, a professora e pesquisadora mexicana Cecilia Chapa Phillips, traduziu a informação principal ao espanhol, mas ao parecer os livros ainda não passaram ao português.
Imagens da web (1, 3) e F. A. Vidal (2)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Avisos da paróquia (humor)

Em homenagem ao feriado religioso, transcrevo uma antologia de avisos fixados em portas de igrejas, onde predomina a boa vontade sobre a capacidade de redação. São todos autoexplicativos e - dizem - tirados da vida real (mas não de Pelotas).

Na sexta-feira, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare. Toda a comunidade está convidada a participar nesta tragédia.

Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os seus maridos!

Assunto do sermão de hoje: Jesus caminha sobre as águas. Assunto do sermão de amanhã: Em busca de Jesus.

O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia.

O torneio de basquete das paróquias continua com o jogo da próxima quarta-feira. Venham nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!

O preço do curso sobre Oração e Jejum não inclui a comida.

O mês de novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia.

Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.


Para todos os que tenham filhos e não saibam, temos na paróquia uma área especial para crianças.

Quinta-feira que vem, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as senhoras que desejem formar parte das mães, devem dirigir-se ao escritório do pároco.

Interessados em participar do grupo de planejamento familiar, entrem pela porta de trás.
Foto de F. A. Vidal (2)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Day by Day, a versão gaúcha de Godspell

Graças a uma promoção do Emaús Pelotas, assistimos em 27 e 28 de outubro de 2007, pela primeira vez em nossa cidade, à peça “Day by day - a história que todo mundo conhece”, adaptação livre do musical de 1971 Godspell (palavra que em inglês equivale a “evangelho”, boa notícia).

O grupo porto-alegrense “Cantar a esperança”, que vem encenando esta obra desde 1985, sob a direção de Dayse Matias, satisfaz ao mesmo tempo objetivos artísticos e de evangelização, ao contar a história de Cristo de forma moderna, ágil e engraçada, sem perder o seu significado essencial. Em 2009, eles se apresentaram em setembro, no bairro porto-alegrense de Higienópolis (veja abaixo o cartaz).

A história que todos conhecemos é a do Jesus bíblico, desde o anúncio de João Batista até a Ressurreição. Quando já não o vemos flutuando nas nuvens, e sim cantando e dançando, jogando pétalas para a platéia e incluindo-nos entre os seus amigos, a imagem daquele mestre espiritual adquire nova vida e, mesmo já conhecendo a história, nos emocionamos ao vê-lo despedir-se, ser preso e condenado. Avançada a história, sentimos que a alegria de conhecê-lo foi um sonho, mas sua pronta reaparição faz que a tristeza de perdê-lo também fique no passado.

As canções do norte-americano Stephen Schwartz - que do musical de teatro passaram ao filme Godspell, de 1973 - estão nesta versão gaúcha bem traduzidas à nossa linguagem, inclusive com o típico “tu”. Algumas liberdades foram necessárias para ajustar a mensagem ao público atual e assim retraduzir para nós o que os norte-americanos (de marca protestante) lêem na peça original.

Godspell (veja o filme completo aqui, 1h40 sem legendas) faz adicionalmente um louvor em imagens à cidade de Nova Iorque, com seus parques e impressionantes edifícios, incluídas as Torres Gêmeas recém construídas. A primeira foto acima, capa da trilha sonora, é de uma cena filmada no topo do antigo World Trade Center, na época o edifício mais alto do mundo, com mais de cem andares.

A mensagem turística focada em Nova Iorque é tão óbvia que as imagens se colocam ao nível do texto, como dizendo: "Cristãos do mundo, amem sua própria cidade". Os pelotenses verão, no clipe abaixo (Save the People), um chafariz parecido ao da Praça Osório e poderão até ver alguma semelhança entre o Rio Hudson e o canal São Gonçalo.

Com todas as mudanças e simplificações, permanecem em Day by day (a peça gaúcha) os conteúdos do Evangelho, tipicamente o amor comunitário, a fé incondicional em Deus e a renovação do mundo. Inclusive ficou conservada a mescla de estilos musicais mais comuns dos Estados Unidos (rock, ragtime, gospel, sapateado).

Uma só inovação pareceu-nos desnecessária, ainda que bem apreciada pelo público: a melodia Hosanna Hey, que pertence a “Jesus Cristo Superstar” (ópera-rock de 1970). Afinal, o próprio filme Godspell, feito em 1973, entre tantas citações, também punha no seu Jesus recém batizado o “S” de Superman, detalhe inerente à mentalidade ianque, mas alheio ao cristianismo (contraditório, inclusive).

Algumas alusões a nossa cidade contribuíram a aproximar do público a mensagem religiosa com humor e otimismo, sem as solenidades das catequeses tradicionais, mas conservando os “puxões de orelha” do discurso cristão. Por exemplo, o bom samaritano e o filho pródigo aparecem como personagens pelotenses. Na atualizada parábola do rico e do pobre (parodiando Lucas 16, 25), um engraçado Pai Abraão diz ao rico que reclama por sua condenação:

- Filho, então tu pensavas que a vida era como uma caixa de docinhos de Pelotas?

Banda e coro, presentes no palco, desempenharam-se com agilidade e entusiasmo, acompanhando com perfeita sintonia os atores-cantores, também estes com boa pronúncia e afinação. A voz mais expressiva é da Madalena, que canta Day by day e “Aonde vais?” com graça e sensibilidade. O Jesus, personagem tão idealizado, tem aqui muito boa expressão corporal, mas com maior serenidade pareceria mais um mestre que um discípulo. Leves problemas nos microfones dos atores dificultaram a audição de algumas falas. Além de um bom conceito e um bom texto, é sobre o trabalho deles que se apoia o sucesso deste espetáculo, apresentado somente numa temporada breve a cada ano.

O público, quase a metade do Teatro Guarani em cada apresentação, aplaudiu com entusiasmo e carinho o trabalho dos artistas visitantes, e estes retribuíram com uma repetição do trecho “A luz do mundo”, música baseada no Sermão da Montanha (de Mateus capítulo 5).

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O que a chuva permite ver

Esta foto é uma das cento e poucas que Greta Paim já postou no Flickr. São todas tiradas em Pelotas, com uma sensibilidade juvenil e feminina.

Greta explora ângulos, atmosferas, luminosidades e autorreferências, geralmente com oportunidade e bom humor.

Nesta rua da zona do Porto - Alberto Rosa, próximo à D. Pedro II - ela viu uma daquelas imagens que nos deixa sem palavras, seja pela composição aparentemente casual ou pela associação de significados possíveis (árvore e torre; igreja de ponta cabeça; mundos paralelos e simétricos etc.).

Como legenda, ela deixou esta frase:

é por esses e outros motivos que eu AMO chuva :)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A vinheta da paranoia colossal

Protásio Jr. postou no YouTube há um mês uma produção realizada no estúdio Submarino Amarelo: A Vinheta da Paranoia Colossal, de Protásio Jr., Alex Vaz e Rodrigo Ávila.

Há outra música ali do grupo Os Protásios, gravada em abril, mas esta é a primeira editada em estúdio. Parece haver uma forte inspiração no grupo alemão Fools Garden, especialmente na música Lemon Tree (veja).

Acho até que você só quer fazer de mim um tipo de palhaço personal,
Ou então liga e me convoca pra sair, numa ordem crucial,
Tanto faz se fui eu que disse adeus - tua paranoia é colossal.


Bate o pé, teima e nunca para de insistir que eu sou o paciente cordial,
Mas pega mal fazer tanta loucura por aí: há tanto crime passional.
Já sei o que dizer quando perguntarem por ti...

Já sei o que dizer quando perguntarem por ti:
Juro que não foi - juro que não foi - juro que não foi intencional!


Leopoldo Plentz inclui Pelotas na "Fronteira Sul"

Melo, Uruguai (L. Plentz, 2004)
Na jornada que se denominou Noite Branca, em 5 de dezembro passado, uma exposição de fotografias aproximou-se bastante, conceitualmente, ao sentido de complementar o lançamento do livro "Os limites do impossível – contos gardelianos".

A série "Fronteira Sul", concebida por Leopoldo Plentz em 2004 e exposta em Porto Alegre em setembro e outubro de 2009 (esq.), foi aberta no Instituto Simões Lopes Neto uma hora antes da sessão de autógrafos e permanece aberta à visitação até 27 de dezembro próximo.

Plentz costuma pesquisar imagens no contexto urbano, mostrando uma ótica interessante. Em uma dezena de imagens, ele apresenta seu olhar sobre Uruguai, Argentina e Brasil, nas cidades de fronteira e em capitais, buscando uma identidade comum aos gaúchos no sentido geográfico e "geológico", como ele diz (leia nota).

A visão do fotógrafo, registrada em anos recentes, se completa bem com as situações da literatura de Schlee, especialmente neste último texto, ambientado em San Fructuoso, hoje cidade de Tacuarembó.

Leopoldo Plentz
A época, no entanto, é distante de nós 120 anos, e estas fotografias vêm fazer uma ponte, registrando no hoje elementos que são perenes. Essa visão tem algo de holográfico, na medida em que mostra no detalhe uma característica global.

Vistas em Pelotas, as imagens de outras cidades platinas nos fazem tomar consciência desses aspectos do todo escondidos nos detalhes não percebidos.

A foto tomada em Pelotas – "Coca-Cola", Quinze com Tiradentes – registra uma esquina vazia de pessoas e ações, mas cheia de história, o antigo posto de gasolina defronte ao Mercado, hoje Paulinho Loterias.

A renovação dos espaços urbanos ocorre muitas vezes conservando elementos bem antigos, não como nas modernas construções, que destroem tudo o que havia antes.

Aceguá, Uruguai (L. Plentz, 2004)
Aldyr Garcia Schlee reconheceu nestas fotografias o sentido de sua literatura e de sua percepção de fronteira:

Nasci no lado brasileiro do Jaguarão, mais precisamente no lado de cá do rio, na cidade de Jaguarão, diante da cidade uruguaia de Rio Branco, que fica do lado de lá.
Por que aqueles dois mundos tão próximos e tão separados, apesar da majestosa ponte que os unia e das falas diferentes que os distinguiam? Como explicar tudo aquilo, que poderia ser tão simples e tão igual, sendo tudo a mesma gente, sem a linha divisória, numa terra só?
Aprendi, então, a olhar para o outro como quem se vê num espelho. E descobri que, na fronteira, nós não somos nós, apenas; somos nosotros, nós outros, nos outros. E percebo que essa é a grande lição da fronteira, justificando todos os seus mistérios e toda a sua magia (leia todo o texto).
Melo, Uruguai (L. Plentz, 2004)
Imagens da web

domingo, 20 de dezembro de 2009

Em 2012, mais um fim do mundo (humor)

Uma antiga profecia anunciou para o solstício de inverno de 2012 (21 de dezembro) o fim de um ciclo para a humanidade, sem especificar se haveria algum cataclismo ou sobreviventes.
A oportunidade foi excelente para mais um filme de antecipação catastrófica, desses em que os americanos realizam seus maiores temores bíblicos. Os ambientalistas tendem a dar-lhes razão, e falam hoje como os antigos profetas ("O fim está próximo").
O que nenhum deles pensou é que, daqui a dois anos, Pelotas terá celebrado seu bicentenário (200 anos da fundação da Freguesia) e dezembro será o último mês dos mandatos municipais (prefeito e vereadores). Os novos já estarão eleitos, mas poderão assumir? Haverá um desastre mundial? Ou só aqui?
No dia final, se ele vier, estas manchetes não serão brincadeira.
A imagem acima não é uma fotografia, mas a última (abaixo) foi tomada em 2005, ante o vulcão Arenal, na Costa Rica.
O Estado de S. Paulo
PT e MST envolvidos no fim do mundo
O Globo
Lula diz que Brasil aguenta o rojão

Valor Econômico
Finalmente os juros caem

Revista VEJA
Exclusivo: Entrevista com Deus

NOVA
O fim do mundo está aí, prepare o astral

CAROS AMIGOS
O capitalismo faliu!

Zero Hora
Gre-Nal não será mais realizado

Diário Gaúcho
Família é achada morta em casa, antes do fim do mundo

Diário Popular (edição de sábado/domingo, seguinte ao fim do mundo)
Fim do mundo causa comoção na Zona Sul


Amigos de Pelotas
Nós avisamos!

Jornal da UFPel
*Mestrados suspendem ingresso para 2013
*Reitor inaugura shopping Anglo antes do fim do mundo


UCPel (notícias)
*Recesso letivo será adiantado em uma semana para ajustar-se ao fim do mundo
*Católica é homenageada em última sessão da Câmara

Prefeitura (notícias)
*Fetter diz que fim do mundo não afetará Pelotas
*Prefeito leva trabalho para casa e seguirá trabalhando

Rádio Universidade (Pelotas 13 Horas)
*Mozart Russomano questiona juridicamente o fim do mundo
*Treze Horas transmite ao vivo para o mundo, até o fim

Diário da Manhã (Coluna do Freitag)
Brodbeck enviou este foguetinho: o mundo não vai acabar.

Câmara Municipal (notícias)
*Vereadores convocam 5ª Conferência de Cultura para depois do fim do mundo
*Cururu é chamado para exorcizar profecias negativas
*Adinho, Zequinha, Pedrinho e Miltinho propõem última homenagem: a Deus

sábado, 19 de dezembro de 2009

Pelotense escreveu livro para mergulhões


Francisco em 2006
O balneário do Hermenegildo, fundado na década de 1920, faz parte do município de Santa Vitória do Palmar. Suas areias se juntam às da praia do Cassino, que pertence a Rio Grande, formando o que se chama de "a praia mais extensa do mundo", dos molhes da Barra do Rio Grande até a Barra do arroio Chuí, totalizando uns 230 km.

Meu pai - Francisco Dias da Costa Vidal - veraneou ali com sua família, quando tinha entre 7 e 16 anos. Em 1936, a motivação para ir tão longe foi a indicação médica para tratar, com ar puro e o iodo do mar, um início de tuberculose. Em 1945, os pais decidiram suspender os veraneios, e as lembranças da infância davam volta, cada verão, como as ondas rompendo na areia.

Francisco passeando na praia, ante as poucas casas que havia em 1942
No Hermenegildo, a orla era mais ampla que hoje, mas o vento ainda é do sul
O primeiro retorno foi trinta anos depois, em 1975. Em vez de apaziguar as recordações, a visita suscitou o desejo de resgatar o que tinha sido arquivado. Nos anos 80 e 90, ele contatou pessoas que haviam estado lá na mesma época e, aos poucos, alinhavou na velha máquina de escrever uma série de relatos, que após digitou no computador, já em 2003 ou 2004.

Eram recordações daqueles anos, retiradas de fragmentos de seus diários de vida e reformuladas pela visão do adulto. Todo um passado familiar vinha à tona nestas crônicas, que agora podem ler-se também de outras formas: como uma descrição do longo espaço entre Pelotas e Santa Vitória, e como uma viagem pelo túnel do tempo que separa a década de 1940 do século XXI.

Com esses relatos como material de um volume (seu primeiro livro, também de crônicas, saiu em 2001), os filhos Francisco, Carlos, Ana e Maria colocaram fotos antigas da família, reformaram o texto e conseguiram o design gráfico e a impressão na Editora da UFPel. O título "Vamos ao Hermenegildo?" foi escolhido para que o livro tivesse um sentido afetivo, inclusivo e turístico.

Na capa (esq.), desenhada por Ana Teresa Vidal, vê-se o autor naquela época, em foto tomada em Pelotas, remarcando que ele não era do Hermenegildo mas gostava de ir lá.

Profª Anita Carrasco
Minha função foi acompanhar as sucessivas revisões, ao longo do ano de 2008, e achar uma centena de vitorienses que poderiam gostar do livro, para enviar convites para o lançamento. Fiquei sabendo que em Pelotas há muitos deles, a começar por Anita Leocádia Carrasco Pereyra (dir.), professora de História e Geografia, a quem propusemos prefaciar o texto.

Como primeira fã da obra, ela indicou os conterrâneos e leitores que se interessariam. Também sugeriu a expressão "livro para mergulhões", a partir da localização tão precisa que o livro contém e que motivaria quase que somente aos naturais de Santa Vitória.

O mergulhão é uma ave comum no litoral sul, a partir da qual saiu o apelativo carinhoso com que os santa-vitorienses se identificam. Tanto é assim que a palavra funciona como um verdadeiro chamariz de vitorienses, seja onde for que eles se encontrem (leia comentário).

A primeira sessão de autógrafos foi em Pelotas, dia 19 de dezembro de 2008

O lançamento em Pelotas foi marcado para 19 de dezembro, que - depois soubemos - os vitorienses celebram como o aniversário da cidade, pois nesse dia, no ano de 1855, iniciou-se a Povoação de Andréia, com a construção da primeira capela e sua padroeira Santa Vitória, que daria o nome definitivo à Vila, em 1872 (veja a história do nome).

Nesta sessão de autógrafos (dir., com o amigo Rubens Amador) e no mês seguinte, foram vendidos uns cem exemplares. Dois deles foram levados por vitorienses e começaram a circular entre os veraneantes.

É preciso dizer que os fãs do Hermenegildo - além de ser muitos e estarem espalhados por várias cidades gaúchas - são verdadeiros fanáticos de uma causa, tão apaixonados como torcedores de um time ou seguidores de um partido ou de uma religião.

A biblioteca atende gratuitamente, durante todo o ano
Desta forma, o lançamento na praia, preparado por nós com apoio da Prefeitura de Santa Vitória, foi marcado para a sexta 23 de janeiro de 2009, na Casa do Livro do Hermenegildo (esq.), biblioteca gratuita fundada em 2007 por um grupo particular e mantida à base de doações.

A primeira parte da reunião durou uma hora, somente com discursos. A apresentação foi feita pelo prefeito Cláudio Pereira e pelo Secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Kininho Dornelles, também conhecido como cantor nativista. Depois deram seus testemunhos outras figuras locais, colaboradores do livro e o próprio autor, que na sequência autografou por mais duas horas.

Kininho apresentou o autor
Antes do lançamento, fomos entrevistados na rádio local e tivemos encontros com estudiosos do Hermenegildo, que foram os fãs mais entusiastas desta obra. Também conhecemos pessoas mencionadas no livro, a maioria idosas mas totalmente lúcidas.

Todas elas também chegaram na Casa do Livro naquela tarde. Descendentes de outras pessoas citadas no texto fizeram-se presentes na cerimônia com a honra de representar personagens históricos do lugar, que viveram entre na primeira metade do século XX.Em cada acolhida pudemos sentir aquele amor pela terra, mencionado acima, que era devolvido também a nós mediante o lançamento do livro.

Estudiosos do Hermenegildo se entusiasmaram com a obra
Um detalhe importante para a comunidade é que este era o primeiro livro a ser lançado no balneário (os escritores locais haviam apresentado obras na cidade, somente). Mas o mais curioso para nós, visitantes, é que, como o livro vinha circulando informalmente havia um mês, mesmo sem ter estado à venda na praia, boa parte do público interessado já o havia lido ou sabia do que tratava. Os leitores vinham pedir seu autógrafo e obter exemplares para dar de presente; todos eles agradeciam ao escritor-historiador que trazia ao Hermenegildo a primeira obra escrita exclusivamente sobre a localidade.

Um casal de turistas uruguaios e um rio-grandino que passavam uns dias no balneário se interessaram pelo acontecimento social que o livro estava gerando. Curiosamente, uma senhora que é citada no texto não soube do lançamento, nem nós soubemos que, justamente naqueles dias, ela estava veraneando no Hermenegildo (mas dias depois a encontramos, seguindo pistas inesperadas e contatos de amizades).

Rua das Maravilhas, Rua da Saudade, Vento Sul, Marinheiros ao Largo, Rua das Lembranças, Beco do Bagre... são nomes poéticos (mas reais) que transportam o veraneante a outro mundo - um mundo de fronteira, que não é brasileiro nem uruguaio, mas uma mistura única. No Hermenegildo, por exemplo, observamos que os "mergulhões", que têm nomes de batismo incomuns, se conhecem somente por apelidos - ainda mais incomuns.

O "Hermena" está relativamente modernizado, tem dois supermercados, um hotel e uma lan house, mas não se pode dizer que possa receber muito turismo nem tenha uma autonomia para funcionar como município... ainda. Enquanto o lugar não se faz muito atraente para grandes massas, conserva (e perde lentamente) aquele caráter de intimidade e informalidade tão próprio.

Em fevereiro de 2009, houve outra sessão de autógrafos na Feira do Livro do Cassino. Em novembro, durante a Feira de Pelotas, o blogue Tear de Sentidos, de Teresinha Brandão, publicou uma das crônicas. Deixamos o livro à venda aqui, em Rio Grande, Santa Vitória e Hermenegildo, com a sensação de que um longo ciclo de despedidas históricas se fecha mas a vida continua.
Imagens: F. A. Vidal