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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Vaticínio político

O cronista pelotense Rubens Amador escreveu um desabafo que interpreta a incomodidade de muitos brasileiros com a situação de pobreza moral de nossa vida política.

Às vésperas das eleições para presidente, desejo fazer um comentário sobre o que está se passando em nosso País, do meu modesto ponto de vista.
Em primeiro lugar, afirmo, e gostaria que alguém me contestasse: Desde o advento da República jamais tivemos uma oposição tão incompetente como a atual. Felizmente, para o prejuízo não ser total, a Imprensa - até aqui livre - brasileira assumiu o lugar de uma oposição acomodada. O episódio do mensalão, em qualquer nação democrática do mundo ensejaria logo um processo de impedimento do presidente da República. Por muito menos, Nixon foi apeado, dado a seus abusos de poder - apenas abusos de poder - não se tratava de desvios de dinheiro pertencente à Sociedade, o que então seria algo impensável. E também jamais se viu tantos abusos com o dinheiro público como neste governo. Aí estão as coleções dos jornais, desde o Império, para quem quiser pesquisar.

Uma mediocridade esperta assomou o poder. O excelente presidente Fernando Henrique foi quem realmente estancou aquela inflação sarneysiana que infelicitava o Brasil. Um grupo de espertalhões se apoiou nas suas iniciativas econômicas, e com tudo que já sabemos, apenas foram tocando o barco, até chegarmos a resultados positivos na economia. Deus nos ajudou, pois, se tivéssemos caído nas mãos dos Delúbios, Gushikens, Zés Dirceu e companhia - sem a orientação econômica herdada de FH, aqueles todos que o próprio governo espertamente defenestrou, ante as gritantes razões que os incriminavam - teríamos chegado a uma débâcle.
Eu nunca acreditei na qualidade das pesquisas, isto já escrevi na imprensa local há muito tempo, desde o episódio aquele que também a Globo orquestrou contra Brizola, e que a verdade da soma final dos votos mostrou a patifaria armada. Tenho firme convicção de que em realidade os índices estão meio a meio, e não com a diferença mostrada. Para mim, as urnas provarão o que aqui afirmo. Iremos para um saudável segundo turno, e aí as coisas não prevalecerão sob o império da falácia, e a parte do povo que pensa, em nossa Sociedade, irá se manifestar com força. A luta será a do bom senso contra o bolsa-família e quejandos. E creio que aquela (Sociedade) vencerá.
Chega os vinte anos de ditadura por que passamos, com todo o seu rosário de coisas negativas, a começar pelo amordaçamento da Imprensa livre. Eu creio que ressentidos, espertalhões na moita, à espera do bote, estão apostando numa vitória fácil, fácil. Estão enganados. A consciência sadia desta nação irá saber se manifestar, e os votos conscientes, patrióticos; não de pessoas que recebem bolsa disso e daquilo, sem que seus problemas básicos sejam equacionados ou atendidos. Que continuem sem saneamento básico, sem escolas adequadas a seus filhos, vivendo em locais cheios de perigos de vida pela insalubridade social a que estão submetidos e enganados com figurinhas eleitoreiras.
Esta eleição haverá de colocar nos seus devidos lugares aos santos e aos demônios. Quem esperar por 48 horas após as eleições do próximo domingo, já terá o prenúncio do que aqui vaticino, tenho certeza. Me cobrem, depois.
Até o segundo turno!
Rubens Amador

Desmoralização e chacina de guarda-chuvas

Os guarda-chuvas de hoje já não infundem o respeito que tiveram no século XX. Sua estrutura de pano e metal foi concebida para proteger as pessoas da chuva que cai em ângulo reto em relação ao chão, ou seja, que não é muito afetada pelo vento. O conserto de peças quebradas sempre foi obra de artesãos cuidadosos, que com a evolução cultural terminaram desaparecendo.

Para baixar custos, os fabricantes passaram a usar materiais plásticos, o que fez os guarda-chuvas frágeis e descartáveis. Se antigamente eles custavam caro e duravam alguns anos, hoje eles custam o equivalente a uma entrada de cinema, e têm uma duração parecida a um filme: horas ou minutos.

Em lugares chuvosos e ventosos como nossa região, fez-se quase inútil comprar estes utensílios, que agora entortam e quebram já no primeiro uso. Os vendedores descaradamente oferecem os mais baratos e alguns consumidores os jogam com descaro no lixo, ainda enquanto chove, como silencioso, impotente e vazio protesto.
Fotos de F. A. Vidal

Cristais ressignificados

Tânia Bellora apresenta até 15 de outubro a série "Cristais", fotografias em que explora efeitos de cores e luminosidades sobre objetos de pequeno tamanho. A exposição se encontra na galeria de arte do campus I da UCPel.
Formada em Direito, Tânia exerceu como advogada e juíza de paz entre 1973 e 1983. Iniciou o curso de Arquitetura em 1998, passando a atuar na área da construção civil desde 2000. As experiências artísticas como fotógrafa iniciaram em 2008, e desde então vem participando em amostras coletivas e individuais.
Mais ousada que nos primeiros trabalhos, onde brincava com luminosidades aleatórias, em "Cristais" a artista joga ativamente com texturas, cores e ângulos de aproximação, entre outros efeitos visuais. Ela experimentou com meia dúzia de objetos e vidros coloridos, obtendo daí algumas centenas de imagens, que recordam manchas de tinta ou até mesmo figuras desenhadas intencionalmente, mas que são na verdade obtidas por simples exploração.
Desta vez, Tânia acrescenta um detalhe que contribui à interação entre o espectador e as obras: ela expõe, junto às fotografias, aqueles objetos que lhe serviram de inspiração (cacos, um vidro de perfume, uma minúscula escultura de uma figura humana).
Não fica totalmente claro como aqueles pedaços de vidro sem formas claras se transformaram em imagens com personalidade própria. Um deles, por exemplo, colocado sobre uma boca de fogão (esq.), ganhou um aspecto impressionante, sugerindo até conteúdos simbólicos.
Segundo Tânia contou à reportagem da UCPel, em sua percepção os cristais sempre lhe despertaram uma ligação com a beleza e a pureza da vida. Ela diz ter encontrado na terra, como lixo, pedaços de vidro que “brilhavam como verdadeiros cristais”, e foi nesse momento que se iniciou um novo processo de criação fotográfica.
A visão da artista reuniu uma habilidade desafiadora, para provocar sensações novas, e uma capacidade poética, para transformar coisas descartadas, aparentemente inúteis, em imagens de interesse estético.
Em conversa improvisada no corredor da galeria, Tânia me contou que suas inovações criativas têm relação com a busca de uma nova página de sua vida. Após a morte de um filho, a dor foi superada gradualmente com a visão renovada de si mesma e do mundo, em que até mesmo os cacos desenterrados rendem imagens estimulantes, ressignificadas de modos mais positivos.
Fotos de F. A. Vidal

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A nova geração política

Esta noite, numa das esquinas da Praça Sete de Julho, candidatos de uma coligação de partidos de esquerda participaram em comício de última hora antes das eleições estaduais e federais deste domingo (3). Doces, churrasquinhos e até cerveja eram vendidos nos arredores do Mercado, mais ou menos entre 19 e 21h.
Usaram do microfone figuras como o prefeito Cláudio "Batata" (de Santa Vitória), o deputado Fernando Marroni, nossos vereadores Miriam (dir.) e Miltinho, entre outros políticos da região.
A deputada federal Manuela Pinto Vieira D'Ávila (acima) falou brevemente, apresentando-se como filha de Pelotas, pois seu pai é natural desta cidade; foi muito aplaudida, mostrando a força de seu carisma pessoal. Jornalista pela PUC gaúcha, a Manu tem desde 2008 um blogue atualizado, o Bola de Meia, Bola de Gude.
A nova geração de políticos inclui homens e mulheres de diversas procedências, predominando a humanística por sobre a artística. Mais do que currículo intelectual, hoje o político requer capacidade oratória e a onipresente simpatia, para poder fazer que as coisas aconteçam.
Aspectos tecnológicos, jurídicos e culturais são manejados por assessores anônimos, sem carisma nem simpatia, mas muito mais idôneos nessas áreas que os líderes políticos, cuja função é coordenar com dinamismo os contatos necessários. A modo de apoio publicitário, mensagens e desenhos em laser foram projetados no edifício abandonado da antiga Secretaria da Receita, futura sede da Câmara (esq.). A tecnologia é definida como barata, moderna e limpa.
Enquanto isso, os entusiasmados candidatos gritavam suas promessas, que, com a potente amplificação sonora, eram ouvidas a várias quadras de distância. Uma inevitável poluição ambiental, lembrança saudosista dos comícios de meados do século XX.
Fotos de F. A. Vidal

domingo, 19 de setembro de 2010

Lembranças da Confeitaria Brasil

O cronista Rubens Amador traz hoje lembranças da elegante e deliciosa Confeitaria Brasil, que se situava na praça Coronel Pedro Osório, numa das esquinas com a travessa Conde de Piratini, vizinha à Biblioteca Pública. A reconstituição dos prédios na década de 1920 (abaixo) foi publicada numa página do antigo CEFET-RS (a Brasil é a casa de um piso).
A foto do queque foi tomada hoje (19) no Café Aquários. A canção do
Candy Man (Willy Wonka & the chocolate factory, 1971) tem a mesma filosofia implícita de que é a infância que nos permite adoçar a vida.
Memorizando um dias destes, com amigo contemporâneo meu, falamos um pouco da inesquecível Confeitaria Brasil, que ficava ali onde hoje está o Banco HSBC, lembrando fatos interessantes sobre aquele extinto estabelecimento.

A primeira lembrança é que lá reunia-se, diariamente, a nata dos varões economicamente bem abonados da cidade. Alguns médicos habitualmente sentavam-se em três ou quatro mesas, e lá confraternizavam diariamente. Eram então, clientes permanentes: o Comandante dos Bombeiros, Sr. Jango Costa, o Dr. Paulo Campelo, o Dr. Avelino Costa, o importador Pedro Capdeboscq e vários outros.

Acredito que, além do convívio entre amigos, havia as famosas empadas que lá eram produzidas diariamente e que Pelotas jamais viu iguais. Generosas no tamanho, eram feitas de uma massa folheada extremamente bem temperada, e no tempo certo tiradas do forno. Seu recheio era maravilhoso. Onde reinavam sempre uma ou duas azeitonas importadas, de alta qualidade. E sei, por ouvir dizer pelos últimos donos, que a fórmula das empadas e do queque - não menos famoso e jamais igualado - morreram com o que as fazia, e que era um cidadão de cor, antigo funcionário.

Ah, os queques! (corruptela de cake, bolo, em inglês), jamais foram igualados - repito - também. Sua massa era de uma leveza fantástica, sem ser pão-de-ló. Seu sabor era o de um néctar. O “olho”, aquela protuberância do bolinho em questão, era mais claro, de um amarelo bonito que contrastava com a cor característica da guloseima. Pessoas de outras cidades vinham cá comprar os queques e as empadas da Brasil.

Isto sem falar nas balas cor-de-rosa, que imitavam bonequinhos, e as balas de framboesa, as Céu Sul. A gente, quando criança, atravessava a Coronel Pedro Osório, nas noites de domingo, brincando na praça acompanhados de nossos pais, no verão. Ia-se até aquela confeitaria, em sortidas seguidas, na busca daquelas delícias inesquecíveis, que só a Confeitaria Brasil tinha, guardadas em vidros brancos, enormes, sobre o balcão. Ah, que saudade.

Tenho certeza de que muitos lembrarão daquela Casa, que era um tesouro de coisas boas, e muito bem atendida sempre. Era difícil obter-se uma mesa vaga na Confeitaria Brasil, lembro-me. Bem iluminado, aquele ambiente deixava as pessoas viverem momentos simples com imensa alegria, onde todos confraternizavam saudando-se, e abanando uns para os outros quando suas mesas estavam distantes.

Hoje, parece que distante é toda uma época que mudou radicalmente - com o “progresso” - infelizmente, para pior, só restando a saudade.
Rubens Amador
Imagens: CEFET (1), COP (2), F. A. Vidal (3)

sábado, 18 de setembro de 2010

92 anos do Conservatório de Música

Em mais um aniversário de fundação do Conservatório de Música (18-09-1918), recordamos uma recente apresentação lírica no Salão Milton de Lemos.

João Ferreira Filho, no seu recital de graduação (18-12-2009) e Letizia Etcheverry, acompanhados por Sérgio Sisto (regente da Orquestra Música pela Música), interpretam Lippen Schweigen (Lábios Mudos) da opereta "A Viúva Alegre", de Franz Lehar. A gravação mostra como nossos alunos desenvolvem uma qualidade expressiva, mesmo com poucos meios econômicos e tecnológicos.

O Universo Singular de Francisco Vargas

Francisco Vargas expôs até esta semana recém passada, na Galeria de Arte da UCPel, as fotografias sob a série intitulada “Universo Singular”, com imagens da natureza desde um ponto de vista visualmente minucioso e humanamente profundo.
O mar, a Lagoa dos Patos, flores, insetos, animais e elementos do cotidiano são revistos pelo olhar amoroso de Vargas. Foram trinta fotografias, todas produzidas em 2010. “É um convite para refletir. De repente, se pararmos, encontramos beleza. Depende da maneira que conseguirmos olhar”, afirmou.
A proposta é eternizar momentos não programados nem ensaiados. O fotógrafo amador (no melhor sentido da palavra, de amor à arte e amor ao universo que visita e revisita) consegue registrar momentos expressivos, altamente significativos do ponto de vista humano, inesperados e irrepetíveis, como o de um díptero com cores e transparência que semelham um vitral (dir.).
Segundo Francisco, o universo é uma obra divina. "Como tal merece ser contemplado e desvendado na sua infinitude e singularidade. Singular porque cada imagem contempla em si o instante único, como o voo de uma borboleta, a brisa em uma flor. Aquele instante captado pela lente é singular, mas cada interlocutor vai interpretar a obra dentro das circunstâncias peculiares de cada um".
Bacharel em Administração de Empresas, com atividades no Serviço Público Federal até sua aposentadoria, Francisco sempre fotografava, mas não o fazia além dos limites da família. A curiosidade e o olhar atento às paisagens desembocaram na dedicação e em estudos sobre a arte de fotografar, que vem realizando nos últimos anos (2007-2010).
Atualmente, seu olhar transcende os detalhes arquitetônicos da Princesa do Sul e desvela, a seu modo, a singeleza dos detalhes naturais, aproximando-se à visão amorosa do Criador.
Fotos: Wilson Lima (UCPel) e F.A. Vidal

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Só Creedence

Neste domingo (19) às 23h, o Bar João Gilberto será palco de mais um show da banda tributo ao Creedence Clearwater Revival, o Só Creedence (veja seu sítio). A data é véspera de feriado no Rio Grande do Sul, onde celebramos ainda hoje a Revolução Farroupilha (1835-1845), cada 20 de setembro.
O grupo porto-alegrense é cover perfeito do CCR (hoje em nova versão, o Creedence Clearwater Revisited), e atualmente viaja pelo Estado homenageando especialmente John Fogerty, com uma reprodução fiel das circunstâncias musicais e técnicas do Creedence original. 
O único que parece romper a fidelidade nos shows é quando o vocalista gaúcho, após cada canção em perfeito inglês american country, agradece dizendo: "Obrigado, galera"!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Marcovaldo estreia em outubro

Na quinta-feira 14 de outubro às 20h, a Moviola Filmes estreará o curta-metragem Marcovaldo, a obra mais recente de Cíntia Langie e Rafael Andreazza. A apresentação será num cinema, ou melhor, num ex-cineteatro que não foi demolido nem virou estacionamento (uma façanha, no mundo moderno). Os teasers (videoclipes de antecipação) podem ser vistos no blogue da Moviola. Serão aceitas doações de leite, a modo de ingresso.

Marcovaldo narra um dia completo na vida de um trabalhador popular, um herói brasileiro desconhecido. Em tom documental e com uma estética visual poética, o filme promove a reflexão do espectador, ao apresentar uma realidade invisível para a sociedade em geral.

Por 14 minutos, o velho Teatro Guarani será novamente um cinema de calçada, como ocorria quando cineastas pioneiros mostravam sua ousadia técnica e artística, na década de 1920. Sendo este um filme pelotense, o público se acotovelará na entrada para ver mais esta produção, e o cinema como arte e espetáculo também recuperará o significado de espelho social, onde os cidadãos se veem na tela mágica e se compreendem a si mesmos.

Na quinta-feira 21 de outubro, o filme será apresentado em sessão do projeto Sete Imagens, no salão Bistrô da SeCult, e haverá debate posterior com o público. Nesta segunda ocasião, o Guarani voltará a sentir-se como um cinema, pois a mesma calçada da Lobo da Costa se encherá de pessoas interessadas em falar de cinema, arte e o estudo criativo do ser humano.
Imagens: Moviola

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dez anos do Corredor Arte

Em 18 de setembro de 2000, abria a primeira exposição de artes plásticas no Hospital da FAU. O novo projeto se inseria nos objetivos de saúde mental para pacientes, famílias e trabalhadores do Hospital, numa parceria com o Instituto de Artes da UFPel.

Em setembro de 2009, o marco alcançado foi o das 200 mostras sem interrupção (leia nota sobre os 9 anos). Ao cumprir uma década, o número de exposições quase chega a 220.

Na próxima sexta-feira (17), a atividade comemorativa dos dez anos de exposições será a palestra Arte e saúde: um campo de possibilidades (cartaz à direita). Na sala acadêmica Professor Carlos Saul, do Hospital-Escola, a psicóloga e artista plástica Cynthia Yurgel falará sobre os efeitos benéficos da arte na saúde física, emocional e mental. Os inscritos terão certificado de participação (informações pelo telefone 3284 4944).

Desde hoje (15), o Corredor Arte abriga uma exposição coletiva de mais de vinte artistas que produziram telas especialmente para esta mostra e irão doar parte do valor das vendas para melhoria do espaço de arte. O Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas colaborou na organização desta mostra comemorativa (convite à esq.).

Um dos fatores de sucesso do Corredor tem sido a coordenação realizada pelo departamento de comunicação do Hospital, a Agência Completa, coordenada por Ana Lúcia Brod. A equipe faz um cuidadoso e eficiente trabalho de organização e divulgação das mostras de arte, que em Pelotas é exemplar, e dentro da UFPel é simplesmente o único.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dificuldades e benefícios do perdão

Na reunião de hoje do ciclo de Encontros com a Filosofia, o professor Osmar Schaeffer (esq.) falou sobre o tema do perdão em Paul Ricoeur (abaixo), pensador francês contemporâneo, falecido em 2005. O palestrante trouxe notas mas não se limitou a uma simples leitura, para benefício dos ouvintes.

A reunião teve uma plateia menor que de costume, e pouco participativa no momento das perguntas. O dia lá fora teve ventos impiedosos, que derrubaram árvores e até casas, em Pelotas. Já de início houve um breve corte de luz, mas que não suspendeu o aúdio.

Ricœur era cristão calvinista e diferenciou o perdão de baixo nível - que comercia com as culpas e penitências - do perdão elevado, que repara os males e faltas num verdadeiro "hino sapiencial", que pacifica as relações e concilia os seres humanos numa corrente unitária.

Segundo o mesmo autor, o perdão é parente próximo do amor e, como este, apresenta três enormes dificuldades: de ser concedido a outros, de ser aceito quando ofertado, e de ser definido conceitualmente. Possivelmente haja outros obstáculos para perdoar, psicológicos e sociais, mas a conferência se concentrou somente no filósofo francês.

Para terminar a segunda edição deste ciclo, que é organizado por professores do mestrado em Filosofia da UFPel, o professor Robinson dos Santos exporá sobre "Albert Camus e o homem revoltado" (terça 21-09) e João Hobuss tentará esclarecer "o que Maistre tem a dizer sobre Rousseau" (terça 28-09), sempre às 17h30min em ponto.
Imagens da web (2) e F.A. Vidal (1)

Carros antigos reúnem-se

A Associação de Veículos Antigos Sul-Pelotas (AVA-Sul) realiza encontros mensais de colecionadores de carros, caminhões e até bicicletas de mais de 25 anos. O Diário Popular informou sobre a reunião deste domingo (leia notícia). Em próxima oportunidade, farei uma visita a este evento que, apesar da aparência e do título, tem características totalmente humanas.

Um dos expositores explicou ao repórter que os automóveis, mesmo antigos, devem funcionar e não ficar parados (conselho médico para a terceira idade). Ele, que tem oito exemplares e roda uma semana com cada um, admitiu que "todo colecionador é um exibicionista".

Esta última hipótese sobre o colecionismo pode ser verdadeira quando se trata de carros, pois são objetos grandes, feitos para correr e ser mostrados, pois são símbolos de potência e ambição. Além da obsessão pelos detalhes antigos, o exibicionismo do colecionador é projetado nesses símbolos.

Em vários Estados existem clubes deste tipo, mas muitos deles passam por alto a palavra "proprietário", emprestando a seus objetos uma capacidade humana, a de reunir-se em associações. Assim, encontramos encontros de fuscas, pick-ups, galaxies. Entretanto, em Itu (SP), ficam todos igualados num "encontro de motos, carros e amigos". Por outro lado, muitos colecionistas também se assumem chevetteiros, opaleiros, amantes do Passat, ou como clube do Mustang, Puma Club.

Não deixa de ser verdade que os carros têm sua personalidade própria - como foi demonstrado nos filmes "Se meu fusca falasse" - mas se eles se associassem talvez não quisessem ficar tão estacionados e preferissem fofocar em paz sobre seus donos.
Foto de Moisés Vasconcelos (DP)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pequeno jardim para olhar

Maria Medeiros compôs um "jardim para olhar", formado por pinturas cheias de aspectos sugestivos, que permitem ao espectador, mediante associações mentais, evocar seu próprio jardim de cores e vivências.

Esta série fica exposta no Espaço Arte Chico Madrid até 5 de outubro. Nesta sala, havíamos visto outros dois quadros da mesma artista, na mostra "Isla Negra" (à esq. na 1ª foto; veja nota), que em 2009 visitou a casa de Pablo Neruda naquele balneário chileno.

Maria joga com formas minuciosas, como os arabescos do barroco, e as expande a grandes tamanhos, parecido a como nós mesmos ampliamos detalhes pequenos do dia-a-dia para examiná-los e compreendê-los (em certas ocasiões da vida eles nos asfixiam e nos sentimos "afogando-nos num copo d'água").

Em tempos primitivos, nossa percepção infantil não distingue bem as formas visuais e é como se nossos sentimentos parecessem manchas coloridas, algumas de calidez, outras depressivas, e muitas tão misturadas que não sabemos se são boas ou más, se com elas rir ou chorar.

Diz a artista que sua pintura evoca a cultura em dois sentidos: "seja pela ornamentação que remete ao barroco, seja pelo colorido intenso que lembra o carnaval". Ainda em suas palavras, o gestual caligráfico é o que demarca a situação visual, "convivendo livremente reforçado pelas cores vibrantes e quentes".

O título da mostra já denota um conteúdo intencional. Mas não o faz diretamente e sim por aproximação à sensibilidade visual concreta do espectador, com sutileza mas não com a ingenuidade de um principante. As flores estão por toda parte, mas não cansam; antes, dão curiosidade.

É provável que essa sedução visual tenha pelo menos duas vias - a emocional e a racional - mas não sabemos se elas são paralelas ou se entrelaçam. Elaborações como ornamentos, recortes e superposições não dão mensagens específicas, mas geram sensações e pensamentos da zona pré-consciente e até outras mais profundas, como aqueles símbolos que jazem num misterioso ventre materno.

É assim como umas simples flores entram pelos olhos e chegam à mente menos consciente pela via das abstrações, não negando as aparências banais mas conseguindo dribá-las, como o faz a arte moderna.

Graças à manipulação fotográfica, o detalhe superior de um destes quadros pode ser apreciado nas cores originais ou sem elas (clique para ampliar). A alteração não foi pensada pela artista, mas o olho mental pode reconstruir, rever, comparar, ressignificar e finalmente voltar ao original, para revalorizá-lo.

No espaço habitualmente silencioso da Sociedade Sigmund Freud, estas pinturas suscitam um momento de reflexão, e seriam muito adequadas para uma sala de espera médica ou psicanalítica (ainda que neste local não se realizem atendimentos).
Imagens: F. A. Vidal

Artesanato ecológico na Feira Bem da Terra

A Feira de Economia Solidária “Bem da Terra, Comércio Justo e Solidário” teve sua sétima edição deste ano na passada quarta-feira (8). Apesar do nosso imprevisível clima, estas feiras têm sido realizadas com sucesso, no amplo espaço da calçada da Gonçalves Chaves, no campus I da UCPel.

Além do habitual - artigos de vestuário, decoração, artesanato, hortifrutigranjeiros, pães e lácteos - desta vez houve uma novidade: a banca "Sítio Amoreza", de Morro Redondo, com produtos artesanais e culinários. A reportagem da UCPel (leia nota) mencionou a participação neste projeto das estudantes de Ciências Biológicas Diandra Corbelini e Luísa Bandeira (dir.), que trabalham conceitos comunitários e ecológicos.

A banca Terra Florida (abaixo) tem sido uma das preferidas, com suas ervas medicinais e bonsais. A agrônoma Rosa Moraes, uma das encarregadas, disse à reportagem que a procura tem aumentado a cada edição.
A Feira Bem da Terra, como é conhecida, é assistida pelo Núcleo de Economia Solidária e Incubação de Cooperativas (NESIC) da UCPel, que dá apoio e capacitação a pequenos empresários da região. A próxima feira será realizada na terça-feira 5 de outubro.
Fotos: Wilson Lima (1) e F. A. Vidal (2)

domingo, 12 de setembro de 2010

35ª Audição de Corais

A UCPel realizou mais uma Audição de Corais Pelotenses, neste fim de semana. A 35ª edição da ACOPEL teve a apresentação de treze conjuntos vocais, dividida em duas noites, de sexta e sábado (10-11).

O auditório Dom Antônio Zattera ficou lotado, especialmente com os numerosos participantes dos corais. O público recebeu um programa impresso com os nomes de todas as canções, mas sem os autores respectivos, nem a identificação escrita do regente de cada coro (veja no sítio da UCPel). A coordenação do encontro foi bastante ágil, conseguindo evitar os clássicos atrasos: os vinte minutos para cada coral foram respeitados com eficiência e sem prejuízo da espontaneidade. O público aplaudia com grande entusiasmo as mostras de maior expressão vocal.

Foi notória a ausência do Coro da Sociedade Música pela Música, o mais numeroso e de ambiciosas metas técnicas em nossa cidade, um hors concours (fora de concorrência) que costumava aparecer na ACOPEL. Ele parece reservar-se para óperas e atuações espetaculares, com a crescente Orquestra Sinfônica. De fato, seus cerca de 60 vocalistas - a maioria com treinamento lírico erudito - fazem parecer injusta uma comparação com grupos de câmara, geralmente com repertório popular.

A 13ª apresentação foi do Grupo Musical Em Canto, da Associação de Aposentados e Pensionistas da UFPel, dirigido por Vera Lúcia Vargas (dir.). Formado por cerca de 25 vozes femininas e por meia dúzia de instrumentistas (teclado e percussão), o grupo "en-cantou" com um pot-pourri de boleros, fórmula simples mas eficaz para agradar uma plateia de amplos interesses.
Foto de F. A. Vidal

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Giovani Goulart e convidados

O músico pelotense Giovani Goulart está na cidade para rever a família e para apresentar um show tributo à Bossa Nova, hoje sexta (leia nota). Após morar uns anos na Alemanha, ele se estabeleceu na década de 1990 na cidade de Braga, norte de Portugal, onde realiza variados projetos.

Giovani vem pouco à cidade e é tanto o que ele faz em música que desta vez somente se verá uma de suas facetas: a da bossa nova. Ele toca e arranja world music, jazz, música portuguesa, de tudo.

Multi-instrumentista e orquestrador, Giovani toca em grupos que ele produz ou dirige, como: Tuniko Goulart Sexteto, Edu Miranda Trio, Filipa Pais Quarteto, João Frade Trio, o quinteto Tramadix (esq.) e seu próprio projeto de Bossa Nova e Jazz (veja o blogue de Giovani O Músico e as suas Músicas). Também a Camerata Bracarense. Tudo em sua cidade adotiva portuguesa.

Mas ele não larga o sotaque gaúcho e quando identifica sua nacionalidade diz: "Sou brasileiro... de Braga". Aqui ele pode dizer tranquilamente que é "pelotense de Braga".

 No Bar João Gilberto, ele se apresenta ao piano hoje (10) formando o seguinte sexteto (de esq. a dir., na foto de Rejane Botelho): Beto Lima no sax, Paulo Lima no baixo, Giovani, Gilnei Amorim na bateria, vocalista Jussanete Vargas e Paulo Velasco na guitarra (também produtor do show). Todos com vasta experiência em Pelotas e região, alguns desde os anos 60.

Ingressos antecipados a R$ 10 (mulheres) e 15 (homens). Naquele tempo se fazia essa diferença na entrada, para atrair mais garotas.
Imagens da web

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Artesanato internacional e intercultural

O Salão Mundial de Artesanato é uma feira internacional itinerante, em parceria de brasileiros e estrangeiros, atualmente em sua 10ª edição no Brasil. Em sua primeira passagem por Pelotas, o grupo se instalou no centro de eventos da Praça Vinte de Setembro, lado sul (esq.), defronte ao monumento ao Bombeador.

O organizador é Miguel Arturi, argentino radicado no Brasil, dono da Arturi Empreendimentos. O grupo vai se renovando e faz turnês mensais, com bancas de vários Estados, ficando em cada cidade uma ou duas semanas. A primeira edição foi em Santa Catarina em 2009, e esta parece ser a terceira no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, a divulgação utilizou um blogue Wordpress e o Twitter, mas em Pelotas a página do Blogger foi fechada.

Neste Salão Mundial, encontram-se tapetes, pulseiras, bijuteria, espelhos, enfeites religiosos, roupas de seda ou lã, figuras artesanais de adorno para mesas e paredes, novidades orientais e até mesmo alguns produtos industriais da zona paulista. O ambiente é de negócios, com vendedores dispostos a mostrar produtos e preços; não se trata de um evento cultural, para conversar sobre costumes e mentalidades, se bem estas surgem de modo implícito, na interação comercial.

A divulgação cita 24 países e 11 Estados; no entanto, a realidade deve estar abaixo da metade. Por exemplo, não se viram aqui os doces portugueses ou as plantas carnívoras do Camboja, que estiveram em Porto Alegre. Em compensação, somente aqui temos produtos de Pelotas, em stands coordenados pela Prefeitura Municipal, com artesanato em madeira, brinquedos, adornos domésticos e doces.

O público tem mostrado interesse nestas feiras, pois não é comum ver juntos artesanato africano, asiático, do Oriente Médio e latino-americano. Em nossa cidade, mesmo 20 expositores geram um bom movimento de vendas (em contraste com os 90 da Capital).

Os produtos peruanos, por exemplo, são de diversos tipos, como figurinhas em barro da Santa Ceia (foto acima à esq.), minipresépios, gorros de lã, e até dois quadros religiosos, identificáveis como o Sagrado Coração de Jesus (esq.) e a Virgem com o Menino (dir.). Se a invasão europeia deixou suas marcas com o sincretismo em toda a América, o exemplo a seguir dá a impressão de buscar maior purismo cultural.

O maior espaço de venda é ocupado, no fundo do salão, por uma organização étnica brasileira, apresentada como os Índios Pataxós da Amazônia. Vestidos a caráter, meia dúzia de indígenas mostram boa vontade para vender seu artesanato, mas com uma expressão de estar pouco à vontade com ser o centro das atenções.

Seminus e com o corpo tapado de enfeites coloridos (dir.), eles podem estar incômodos com o artifício da exposição ou com a contradição cultural, que eles vivem permanentemente, entre os costumes ancestrais (vestimentas, linguagem e crenças) e a vida moderna. Eles são na verdade baianos, mas pertencem à etnia pataxó, que é amazônica.

A entrada geral custa R$ 5, não há praça de alimentação e o estacionamento é o mesmo do Supermercado Peruzzo, vizinho a este pavilhão. Somente até este domingo (12).
Fotos de F. A. Vidal

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Reinaugurado Espaço de Arte do Hospital "Chico"

Quinta-feira (2) o Hospital São Francisco de Paula reinaugurou um espaço de arte, com cinco telas de Maria Lúcia Drummond (dir.).

O Corredor Cultural do "Chico" (como é apelidado o Hospital da UCPel) já era uma das 23 atividades do Movimento de Humanização (leia sobre o projeto) e agora foi reativado, com a coordenação de Orayl Barcellos de Araújo. Até o fim do ano ele planeja expor neste espaço obras de artistas locais como Leyla Lopes e Gracia Casaretto.

Na mesma ocasião, Orayl foi homenageado de surpresa com uma placa especial de agradecimento. Conhecido como filantropo e preservacionista, ele criou a campanha Pronto-Socorro Solidário. Atualmente com 81 anos, ele se emocionou com o reconhecimento público e disse, com alegria, que trabalha com a esperança de nunca cansar, e deseja morrer em plena ação, "de pé, como as árvores" (leia notícia).

Destes cinco quadros de Maria Lúcia, dois ainda não haviam sido expostos, como o das cuias, que aparece mais próximo na foto. Ela mantém a técnica do pastel seco e a temática campeira gaúcha, mas já inicia uma série botânica, impondo a seu talento novos desafios, como a expressão gráfica de sombras, texturas e luminosidades.

A exposição permanece no Corredor do Hospital todo o mês de setembro, com entrada pela rampa da Marechal Deodoro 1123 (sem necessidade de crachá).
Foto de F. A. Vidal

Curso: a mulher na literatura brasileira

O curso de Letras da UFPel oferece um seminário de extensão sobre a mulher na literatura (como personagem e como autora), desde uma perspectiva sociológica. As ministrantes são as estudantes Ana Luíza Almeida e Juliana Grossi, que realizam seu estágio sob a orientação do professor João Luís Ourique, do mestrado em Letras.

Os encontros são às terças-feiras, de 14:30 a 17:30, desde 14 de setembro até 30 de novembro, no auditório do Instituto João Simões Lopes Neto.

Inscrições gratuitas por email: juli.grossi@gmail.com.