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terça-feira, 30 de junho de 2009

Sete de Abril recebe público, mas não turistas

José Luiz Röhnelt
Transcrevo artigo do advogado José Luiz Röhnelt (esq.) - estudioso de História do Brasil, ex-presidente da OAB-Pelotas - publicado no Diário Popular de hoje (30-6), página 2.
Começamos lembrando que a crítica construtiva, bem intencionada, é mais benéfica para o administrador - público ou privado - que o elogio fácil, muitas vezes movido por interesses pessoais.
Teatro de Ouro Preto
Faz algum tempo, visitando Ouro Preto, tivemos oportunidade de conhecer seu teatro [dir., 1ª foto], construído no período da produção de ouro, quando a população da cidade equivalia à de Nova York.
Não será exagerado defini-lo como uma relíquia arquitetônica, de estilo semelhante ao do nosso Sete de Abril [2ª foto abaixo]. A diferença reside na forma de administração.
Teatro Sete de Abril
Lá, integrado no roteiro turístico, as portas do teatro permanecem abertas à visitação [veja a notícia de sua reabertura em 2007].
Aqui, nos fins de semana, se não houver programação, com as portas fechadas, priva-se os forasteiros da satisfação de admirar uma das joias mais valiosas do patrimônio histórico, artístico e cultural da cidade.
Essa orientação prevaleceu também durante a Fenadoce, quando milhares de pessoas nos visitaram, atraídos pela programação e, com certeza, pelo desejo de visitar os pontos turísticos. Presenciamos a cena de grupos contemplando a fachada do prédio, enquanto outros se detinham na leitura das placas comemorativas.
Estamos convictos de que o prefeito Fetter Júnior, mergulhado no estudo dos problemas da cidade, que não são poucos, não tem conhecimento do fato. Caso contrário, dinâmico como é, a falha administrativa já teria sido corrigida, com a implantação de, pelo menos, um horário de visita.
O Blog do Noblat publicou o seguinte texto em março passado sobre o Sete de Abril. Sobre a fundação da Vila, em 7 de abril de 1832, e a mescla histórica com a Abdicação, 7 de abril de 1831, veja o artigo de Mário Osório Magalhães (Diário Popular, domingo 08.06.2008).

O Theatro Sete de Abril foi a primeira casa a abrir suas portas às artes cênicas na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e a quarta no Brasil. No auge do ciclo das charqueadas, os detentores do poder político e econômico construíram belas residências, prédios públicos e monumentos com traços arquitetônicos imponentes, revelando suas aspirações à nobreza.
Recebeu três visitas imperiais: em 1846, D. Pedro II e sua esposa foram aclamados e a corte ceou no salão do teatro, no intervalo do primeiro e segundo atos; em 1865, o casal imperial foi aplaudido pela platéia entusiasmada; e em 1885, a Princesa Isabel e o Conde D’Eu, hospedados na cidade, assistiram a vários espetáculos. Talvez dessas visitas resulte o fato de Pelotas ter, entre seus ilustres habitantes, nove barões, dois viscondes e um conde.
Em 1916, o teatro passou por uma reforma e disso resultou a linha art déco que hoje o caracteriza. Ganhou três vitrais: o central tem as cores da bandeira do Brasil e os laterais, as cores do Rio Grande do Sul. Foi tombado pelo IPHAN por seu imenso valor histórico.
Muitos gostariam de visitar o foyer onde D. Pedro II e a corte imperial cearam, mas ainda não valorizamos nem cuidamos nosso próprio patrimônio. Há pelotenses que levam doces e salgados para comer durante o espetáculo, sem consciência de que estão num prédio restaurado de 180 anos.
A Prefeitura faz investimentos no uso e na preservação do teatro, mas o povo também precisa colaborar. Se tivermos orgulho de nossa cidade, será maravilhoso, mas quantos de nós sequer saberíamos responder as perguntas de um turista?
Fotos da web.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Obras de Ivani Knorr

A artista plástica Ivani Piriz Knorr esteve expondo 25 quadros e um objeto na Galeria de Arte da UCPel, na primeira quinzena de junho.

Ela usa diversos materiais, e o que mais chama a atenção à vista é o tamanho e a tridimensionalidade de seus painéis com placas metálicas pintadas (dir.).

Após graduar-se em Desenho e Plástica na UFPel, em 1978, Ivani estudou técnicas em madeira, cerâmica decorativa e óleo. Nos anos 90, dedicou-se mais a outras atividades, mas há pouco retornou à arte, com seus traços de ousadia e criatividade.

Num dos quadros (detalhe à esq.), as poucas cores apresentam-se em partes contrastantes, e as formas parecem dialogar no meio de uma tolerância.

O mesmo conjunto de manchas (não aleatórias) também sugere movimentos de fragmentação, suscitando a curiosidade e o pensamento do observador.


O objeto que faz parte desta amostra é uma cadeira feita com materiais reciclados.

Segundo informação na ficha da obra, a artista recuperou a estrutura de um ferro-velho, utilizando para o assento e o encosto discos de arado sucateados.

O objeto fez parte da 1ª Dança das Cadeiras do MAPP, ainda à venda por R$ 450.
Fotos de F. A. Vidal.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Diário da Manhã completa 30 anos

O jornal Diário da Manhã de Pelotas está fazendo hoje 30 anos. A edição desta quarta-feira traz mais do dobro de páginas, e a redação trabalha normalmente (dir.), recebendo mais visitas que de costume. Um bolo serviu para comemorar a data, que coincide com o aniversário de seu diretor. A casa atual fica na Gonçalves 771, próximo à Voluntários (abaixo).

Em junho de 1979, Hélio Freitag iniciou esta empresa familiar que em tudo parecia querer competir com o outro jornal da cidade: mesma função, nome análogo, endereço próximo.

A tradição e o peso do Diário Popular tiraram de ação o Diário da Manhã por um tempo. Mas ele voltou para ficar, poucos anos depois, mantendo a competição. A rivalidade já chegou à agressão: o DM denunciando "mentiras" do DP, e o DP ignorando a existência de algum outro jornal.

Na fundação, já havia um jornal com o mesmo nome em Passo Fundo, que contribuiu a formar o de Pelotas (o daqui é autônomo e o Grupo Diário da Manhã tem 4 jornais e 3 rádios, no norte do Estado). No Brasil, há outros jornais com este nome: os do citado grupo gaúcho e o Diário da Manhã de Goiânia. Em Ponta Grossa houve um, também com site, e deixou de existir em 15 de novembro de 2008.

O Diário da Manhã de Pelotas ainda é dirigido por Hélio Freitag, hoje acompanhado por Hélio Júnior (dir.), que viu o jornal crescer desde criança e hoje é jornalista formado.

Nas mãos dos dois, a empresa seguiu crescendo e, mesmo cobrindo só a área de Pelotas, tem algumas vantagens sobre o seu colega mais velho: traz mais artigos e colunas de colaboradores (especialmente em esportes e cultura), uma crítica de restaurantes por mês, um caderno diário de Saúde, e mais colunistas sociais. Tem menos assinantes, mas os números atrasados são comprados pelo mesmo preço do jornal de banca.

O Diário da Manhã não tem site, não parece próximo o dia em que o tenha, nem seus jornalistas tem blogues, situação que hoje é análoga ao DP, que parou de sair na internet há dez meses e ainda não estreou seu novo design.
Fotos de F. A. Vidal.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sonora Brasil: Violão do Sul e do Nordeste

No dia dos namorados (12 de junho), o Salão Milton de Lemos abriu suas portas por primeira vez este ano, para receber dois violonistas de alta qualidade: o gaúcho Daniel Wolff e o maranhense João Pedro Borges. Eles vinham pelo projeto do SESC "Sonora Brasil", este ano organizado em 4 etapas, totalizando 331 recitais ao longo de vários Estados.
Na primeira etapa, "Violão do Sul e do Nordeste", os músicos tocam juntos por primeira vez, com perfeita harmonia e bom humor (veja a nota sobre as apresentações no Paraná). O programa - que é comentado em voz alta, na falta de uma folha impressa - cobre autores do Sul, abordados pelo gaúcho, e do Nordeste, interpretados por João Pedro.
O início foi dado pelo duo, tocando "Sons perdidos", de Bruno Kiefer.
Daniel tocou em solo cinco obras: Innominata, de seu pai Henry Wolff; Poemeto, de seu chefe na UFRGS Fernando Mattos; Ritmata, do catarinense Edino Krieger; Sonhando de alegria, de Jaime Zenamon (boliviano, residente em Curitiba); e, dele mesmo, a Suite Scordatura. Cada parte (Ciranda - Ostinato - Noturno - Moda de viola) é tocada em diferente afinação do instrumento, que o intérprete deve adaptar com rapidez.
A seguir, João Pedro Borges trouxe mais seis obras: do pernambucano Marlos Nobre, Homenagem a Villa-Lobos e o Ciclo Nordestino (Samba matuto - Cantiga - É Lamp - Gavião - Martelo); do paraibano José de Lima Siqueira, Cinco Invenções para Violão (Vagaroso - Andante - Moderato - Allegretto - Andante); Cantiga, do baiano Nicanor Teixeira; Pequeno Estudo para Violão, do baiano Lindemberg Cardoso; e a valsa Maria Luísa, que João Pedro compôs em homenagem a uma criança falecida.
Para o final, eles programaram tocar juntos a valsa Ernesto Nazareth, da Suite Retratos do gaúcho Radamés Gnatalli (veja no vídeo, com violonistas italianos). Ante os aplausos entusiasmados, Wolff e Borges acrescentaram, para maior alegria do público, o famoso Odeon de Nazareth, sempre em dois violões.
Fotos da web (2-3) e F. A. Vidal (1).

POST DATA
Veja aqui uma gravação de "Odeon", com os violonistas Wolff e Borges, no recital desta turnê nacional realizado em Caruaru, em 2009. O vídeo foi subido à internet em 2010.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Aula Magna sobre Pesquisa em Arte

O Instituto de Artes e Design quis recuperar uma tradição universitária positiva e organizou a sua primeira Aula Magna em muito tempo (o próprio diretor, Lauer dos Santos, não tem registro de alguma, nesta unidade da UFPel).

Como em Pelotas é comum realizarem-se conferências no início do ano acadêmico, é interessante diferenciá-las nestes dois tipos: uma Aula Inaugural abre o ano letivo de um curso universitário, e uma Aula Magna abre, mais solenemente, o ano de uma faculdade ou instituto que contém vários cursos.

Para esta Aula Magna, proferida em 23 de abril no IAD, a Dra. Icleia Borsa Cattani, que é orientadora dos dois doutorados do Instituto de Artes da UFRGS, trouxe o tema “Pesquisa em Arte: caminhos metodológicos”.

Como escapando do título, a professora expôs muito menos sobre a metodologia do que sobre um conceito que ela tem investigado com entusiasmo: as mestiçagens artísticas. Trata-se de cruzamentos ou mesclas formais nas obras, em qualquer gênero ou tipo de expressão (cinema, literatura, pintura, música), onde o autor faz citações explícitas ou coloca em contraposição elementos de épocas ou pensamentos diferentes.

Observa-se mestiçagem na pintura "A negra" (1923), de Tarsila do Amaral, onde se misturam e se contradizem os traços cubistas do fundo e o aspecto primitivo nas formas do corpo. Um exemplo mais próximo a nós é o livro "Satolep", em que Vitor Ramil faz conviver personagens e frases de contextos e momentos históricos diversos, sem buscar uma solução ou uma síntese.

O hibridismo é um fenômeno diferente, que também aparece na pesquisa em arte. A hibridação busca a fusão dos elementos antigos num conjunto novo, diferente dos originais. A diferença entre mestiço e híbrido ocorre também na biologia; o primeiro é proliferante, com seus detalhes diferenciados, enquanto o último é estéril, sem a contradição que gera a criação.

Neste tema, a professora Icleia organizou um livro de referência, com impressão de luxo: "Mestiçagens na Arte Contemporânea" (Porto Alegre: EDUFRGS, 2007). Vários autores, inclusive ela mesma, definem os conceitos e os exemplificam ricamente nos relatos de pesquisa em várias áreas, especialmente nas artes plásticas.

Logo após a conferência, que lotou com alunos e professores o auditório do IAD, o livro foi vendido e houve sessão de autógrafos no saguão de entrada. Outra Aula Magna, somente no ano que vem.
Imagens da web (1 e 3), fotos de F. A. Vidal (2 e 4).

Performance de Ana Batista

Ana Batista (esq.) formou-se recentemente como artista plástica na UFPel, e tem usado o gênero performance, pouco conhecido entre nós, como modo de expressão de ideias e de interação provocativa com o público, fora ou dentro das galerias de arte tradicionais.

Em um desses originais desempenhos - ao mesmo tempo simbólicos e concretos - a artista passeou pelas ruas de Pelotas levando uma cadeira, na qual se sentava por momentos e seguia seu caminho.

Em outra ocasião, ela foi conduzida pela cidade por seu namorado, com um colar de cachorro no pescoço.

O performer artístico trabalha com seu corpo de modo teatral, geralmente sem palavras, gerando uma situação inesperada e que faz pensar.

As ações artísticas mais excêntricas, mas com significados de protesto precisos, tiveram ponto alto nos anos 60 e 70, na Europa e América Latina; Lenir de Miranda realizou algumas em Pelotas.

O gênero se presta para mensagens rebeldes e até de violência moral, levando ao nível concreto certos mal-estares e angústias sociais, mas também permite sugerir conteúdos críticos com certa sutileza.

Para o concurso de artes plásticas aberto pelo Instituto João Simões Lopes Neto em 2008, Ana gravou uma performance inspirada no conto "Os cabelos da china" [leia o texto]: cortando uma mecha de si mesma, colocou os cabelos pretos na cabeça de uma Barbie, de cabelos loiros.

Na abertura desta exposição, ela reproduziu o procedimento ante os visitantes, que não entendiam de início a relação da boneca com a literatura. Seu projeto incluía repetir a ação a cada dia da amostra.

O detalhe do corte de cabelos no conto, por parte de um homem, foi simplesmente o ponto de partida para uma elaboração própria e nova, que relaciona o corpo da artista com o "objeto Barbie", símbolo de manipulação cultural da mulher e das nações. Cada observador pode ter sua interpretação e sua reação, interagindo de seu modo com a artista e com o objeto.
Fotos de F. A. Vidal.

domingo, 21 de junho de 2009

Destaque para o trabalho de Adrian Nörnberg

Adrian Nörnberg dos Santos é um artista pelotense formado há pouco pela UFPel, especializa-se na xilogravura e já tem destacado suas obras em exposições e concursos. Sua mais recente amostra, "Reflexos urbanos", esteve no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo até 18 de maio passado (leia a nota de Bianca Zanella).

Em 2008, ele obteve uma das cinco menções honrosas, entre 73 inscritos, na primeira edição do Prêmio João Simões Lopes Neto de Artes Visuais, com o trabalho "Jogo do Osso", inspirado no texto do escritor pelotense [leia o conto aqui] .

Diz o presidente do IJSLN, Henrique Pires, que este é atualmente - considerando a valorização do artista - o maior prêmio de artes visuais vigente no Rio Grande do Sul (leia a nota).

A mesma xilogravura de Adrian, em 3 cores, foi escolhida como capa do nº 17 da revista da AJURIS Caderno de Literatura, onde os juízes gaúchos colocam sua criatividade artística. Neste número, correspondente a 2009, homenageia-se o escritor em textos e imagens. A edição teve 10 mil exemplares, com distribuição por todo o país e em várias embaixadas brasileiras.

A gravura "Jogo do Osso" apresenta variados elementos, muitos em contraposição - tentando transpor do texto escrito o máximo de detalhes visuais, sem sugerir o final.

À esquerda, o artista situa o bar, espaço de encontro e harmonia, num contexto rural. No lado oposto, edifícios em atitudes humanas - alusão à modernidade - se contrapõem à simplicidade do jogo, mas em consonância com a violência competitiva. No relato, o jogador aposta a própria companheira - ambos no centro - e termina arrependendo-se.
Imagens: F. A. Vidal (1) e A.Nörnberg (2).

Ajuris premia redações sobre Lopes Neto

O 8º congresso da AJURIS (Associação dos Juízes Gaúchos) realizou-se em Pelotas nos últimos dias (17-19), trazendo o fluxo turístico de outras cidades do Estado e um movimento cultural estimulante: apresentação do grupo Tholl, exposição de artes plásticas, lançamento do nº 17 de sua revista Caderno de Literatura (à dir. o nº 10), e premiação de concurso de redação sobre João Simões Lopes Neto (veja o regulamento).

Os encontros anteriores eram feitos na Serra Gaúcha e a mudança para nossa cidade, por esta vez, teve relação com a homenagem ao escritor pelotense. A próxima será em São Leopoldo e vai valorizar uma personalidade local.
Sexta (19), autoridades e intelectuais pelotenses se reuniram com alguns dos magistrados na casa da Dom Pedro II nº 810 para conhecer os ganhadores do concurso de redação.
A cerimônia iniciou com o documentário "João Simões Lopes Neto: entre o real e o imaginado" (2006), de Pedro Zimmermann e Henrique de Freitas Lima. Trata-se de uma série ainda em produção, de sete episódios: um documentário e seis ficcionais [Veja nota sobre a pré-estreia].
O habitual atraso de meia hora nao surpreendeu nem incomodou, pois o encontro seria longo e agradável. Nenhum comentário foi feito sobre o filme, visto anteriormente no Instituto, quando o diretor da série, Freitas Lima, esteve numa edição dos Diálogos na Casa de Simões.
O dono de casa, Henrique Pires, deu a palavra aos representantes da AJURIS e foi solicitado a anunciar os nomes dos premiados, sem mediar explicações sobre o concurso e suas categorias, que eram quatro. O júri, que estava presente, foi presidido por Aldyr Garcia Schlee e formado também por Paula Schild Mascarenhas (UFPel) e Rubem Daniel Castiglioni (UFRGS).
No parecer da comissão (leia o relatório), lê-se que foram descartadas todas as 28 dissertações das categorias de nível fundamental e médio, por erros ou impropriedades inadmissíveis. Na categoria universitária, a comissão aceitou somente um dos sete trabalhos, o qual recebeu uma menção honrosa. Na categoria Livre – única onde houve finalmente vencedor – três trabalhos foram tidos como inadequados e dois foram considerados aceitáveis.
O padre Servando Germán Varela Moure, de nacionalidade uruguaia, professor adjunto na UCPel, ganhou o prêmio principal com o trabalho "O Negrinho do Pastoreio: Mito, Literatura e Religiosidade". Menções honrosas foram designadas para o professor Jucelino Viçosa de Viçosa e a graduada em Letras Francesca Batista de Azevedo.
Os autores premiados não se apresentaram, nem pessoalmente nem por procuração, e os diplomas foram entregues a três autoridades públicas: o titular da 5ª CRE, o Secretário de Cultura de Pelotas e um integrante da Câmara de Vereadores. Como a entrega foi simbólica, os ganhadores deverão procurar o Instituto.
Na confraternização - com vinho tinto e sopa de ervilha e de abóbora - Henrique Pires confirmou que dia 3 de julho será entregue a próxima edição do prêmio Trezentas Onças a Aldyr Schlee, Paula Mascarenhas e Antônio Hohlfeldt. Os três aceitaram, mas o escritor jaguarense mostrou dúvidas, que pareceram dissipar-se no diálogo acolhedor com o diretor do Instituto (dir.).
1: Pintura de Danúbio Gonçalves (site AJURIS). 2: Desenho de André Koehne (Wikimedia). 3. Foto de F.A. Vidal.

Obras inspiradas em Simões Lopes Neto

Durante a semana em que a AJURIS (associação de juízes gaúchos) realizou seu 8º congresso, promoveu uma exposição de artes plásticas relacionada com sua homenagem a João Simões Lopes Neto. Em contato com o MAPP (movimento de artistas pelotenses), reuniu parte das obras não premiadas no concurso, realizado pelo Instituto pelotense, sobre a obra do escritor (leia a nota de Bianca Zanella, de 22-10-08).

Expostas por poucos dias nas salas do Centro Adail Bento Costa, os vinte trabalhos ganharam divulgação e, com sua diversidade e originalidade, abrilhantaram o encontro de magistrados.

Os artistas - não somente pelotenses - pesquisaram nos textos de Simões e encontraram inspiração dentro de seus gêneros plásticos (pintura, criação de objetos e uma performance). Não se limitaram a reproduzir imagens, mas fizeram elaborações sobre o conteúdo literário e simbólico, algumas mais sérias, outras com alguma dose de bom humor.

A tela "Tantíssimos rumos" (esq.), de Giane Casaretto, cheia de vertentes, camadas, direções e volumes, sugere a existência de riquezas visíveis e invisíveis, conscientes e inacessíveis à análise.

Por sua verdade simples e trágica, a lenda do Negrinho do Pastoreio (leia o conto) é a que mais desperta associações, em imagens, emoções ou ideias de tipo social, histórico, religioso. Com inspiração nesse texto, Junior Asnoum enfatizou a sensação vertiginosa e angustiada da "Eterna procura" (dir.).

Paulo da Silva Correa destacou mais a relação espiritual do Negrinho com os animais, os insetos e a natureza. Felipe da Silva usou nanquim e duas cores para expressar um sentido menos doloroso e solene. Os dois artistas usaram o mesmo título - O Negrinho do Pastoreio - para denominar seus quadros (ausentes neste post).

Em arte digital, Leonardo Azevedo imprimiu movimentos à relação quase coreográfica entre o Negrinho, sua Madrinha e os cavalos (esq.).

Com sentido da síntese e da geometria, Alice Bender atualizou a busca idealista de uma pessoa e de uma nação, em "Luz à liberdade" (dir.).

A riqueza literária, que já parecia inesgotável, se associa às técnicas plásticas e multiplica seus sentidos e interpretações.
Fotos de F. A. Vidal.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O único cinema de Pelotas

O Cineart é um conjunto de 3 salas de cinema, criado no último andar do shopping Calçadão para projetar filmes para plateias menores que as dos cinemões - supostamente, seriam filmes de maior qualidade ou de interesse mais restrito.

É administrado pelos donos dos antigos cinemas Capitólio, Pelotense, Rei e Tabajara, pertencendo ao Grupo Arcoiris, rede catarinense instalada em 30 cidades de 6 Estados (segundo o site, está exibindo só 16 filmes em todo o país). A programação do cinema de Pelotas aparece sob o nome Arcoiris Art.

Com a evolução tecnológica e social, todas as plateias se reduziram, os cinemões fecharam e o público já nem lota este pequeno conjunto - de umas 80 cadeiras cada sala. O Cineart mantém o nome mas somente mostra cinema comercial, não o antigamente chamado "cine-arte". Por isso talvez muitos pelotenses não gostam de seu único cinema, mas também outros se sentem agradecidos por ainda haver um, mesmo que em pobres condições.

O centro comercial do calçadão da Andrade Neves sobrevive com lojas de miudezas. A escada rolante que funciona já esteve parada dois anos; a outra nunca funcionou. O vagaroso elevador - cujos 4 andares são: térreo, sobreloja, 1 e 2 - está programado para parar somente nos extremos.

Como qualquer empresa, o cine precisa manter-se com ingressos, e estes são tão poucos que o pessoal contratado é o mínimo necessário: o administrador atende no caixa, um técnico de projeção marca as entradas, outro funcionário atende público e limpa as salas, e a segurança é feita por todos.

A bombonière tem pipoca doce e salgada, refrigerantes, balas, doces e chicletes. Não há café nem bolachas, como é norma na Arcoiris.

Além do pessoal reduzido, outros signos de pobreza: um precário banheiro masculino, falta de isolamento da cabine de projeção (da plateia se ouve o técnico falando no celular) e a tendência a interromper a projeção quando os espectadores já se retiraram. Os preços são normais: não decaem na mesma medida.

Em maio fui assistir "X Men Origens: Wolverine". A exibição não teve interrupções nem problemas de som, mas a sala 3 é tão pequena que não se pode ver o filme a grande distância: só há seis filas de poltronas.

Como de costume no Brasil, o público começou a retirar-se apressadamente ao aparecerem os créditos finais. Esperei até o último momento, ouvindo a música, e após todas as identificações apareceu Wolverine - amnésico e alcoólico - conversando com a próxima namorada. A breve cena é um gesto bem-humorado de Hollywood para premiar os poucos que respeitam a projeção completa da obra.
Fotos de F. A. Vidal

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ideias para promover a leitura

No blogue português Bibliotequices achei estas ideias para promover o interesse pelo livro e pela leitura, em diversos níveis de ação (veja o post); adaptei a linguagem para ser mais simples e compreensível.

Para atrair o interesse

  • Exibir o livro de forma chamativa e criativa.

  • Apresentar o livro em todas suas formas - edições de luxo ou edições de bolso, em braille, e-book e audiobook.

  • Estimular a paixão pela leitura, seja mediante exemplos de referência, o grupo de pares ou a promoção mediática da leitura.

  • Para quem não se interessa pela leitura ou pela pesquisa de informações mais profundas, descobrir quais as portas que se poderão usar como entrada para a leitura.

  • Criar nos promotores de leitura (educadores, publicistas, escritores, pais e mães) a noção de que as pessoas são conquistadas para a leitura das mais variadas formas, até bem diferentes da forma em que nos conquistou.

  • Abrir os horizontes dos próprios promotores de leitura: existem novos gêneros, novos autores, novos fenômenos literários, novas mídias, novos temas, novas linguagens.

Para encaminhar o interesse

  • Ensinar e desenvolver técnicas de leitura para ir desde o bê-a-bá até à leitura de livros científicos.

  • Identificar os pensamentos da pessoa que tem vontade de ler, e orientar suas motivações para a variedade de gêneros e autores da cultura universal.

  • Identificar o leitor individual que poderá ter interesse num determinado livro e então fazer chegar essa informação ao interessado de modo chamativo.

  • Nós lemos por prazer, mas não somente; também lemos para melhorar o trabalho, como parte de nossa profissão.

Exposições na Secult

Este ano a diretoria de Artes Visuais da Secretaria de Cultura organizou ciclos de ocupação rotativa para suas três salas de exposições: duas no Centro Cultural Adail Bento Costa (Pç Osório nº 2) e uma no Paço Municipal (hall da Prefeitura).

Houve concurso, e os primeiros selecionados ocupam essas salas de 20 de maio a 17 de junho. Cinco artistas exporão em cada sala, até o fim deste ano. As obras se encontram à venda e há possibilidade de contatar os artistas. (Clique nas imagens para ampliar).

A Sala Antônio Caringi recebe a amostra "Transitório", três séries de desenhos em papel da artista gaúcha Vivian Herzog, totalizando 42 obras em lápis de cor, grafite e aquarela.

Com traços aparentemente pré-infantis, ela cria um estilo mais primitivo que o naïf. Num jardim da infância isto não chamaria a atenção, mas no contexto universitário parece-nos estar em presença de uma nova linguagem.

"Assovios Diluídos" está na Sala Inah Costa: são dez quadros de Francisca Alves da Silva, pintora nordestina radicada em nossa cidade.

Em amostra anterior, comentei suas obras consistentes em "células de cor" (veja o post).

Desta vez, Francisca denomina cada criação com títulos originais, alusivos à natureza: Umidade, Vapores, Terrestre, Salinácios, Pé-de-pedra, Casca-disso, Mitosidade, Meiosidade.

A percepção fica seduzida pelas cores, e a mente fica intrigada sobre as formas que estão subliminarmente sugeridas pela colocação espacial das "células".

Roger Coutinho apresenta, na Sala Frederico Trebbi, a série "Flutuações", uma dúzia de fotografias em cores, sem conexão entre si nem com elementos reais. Dentro da arte moderna, o estímulo visual pode funcionar como uma provocação, e quanto mais ambígua for, mais projetivas serão as reações do espectador.
Neste caso, o artista não fotografa, mas utiliza a fotografia como meio para gerar manchas aleatórias e fazer o público, talvez, pensar em si mesmo. No entanto, por não sugerir opções além da provocação, provavelmente a reação do público seja a frustração.
Fotos de F. A. Vidal.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Primeira doutora na UCPel

A Universidade Católica de Pelotas prepara doutores em dois cursos de pós-graduação stricto sensu: o doutorado em Letras, funcionando desde 2006, e o doutorado em Saúde e Comportamento, recém aberto para sua primeira turma em 2010.

Nesta segunda-feira (8), o site da UCPel anunciou que a primeira tese na Universidade seria defendida pela professora Valesca Brasil Irala (esq.), da primeira turma do doutorado em Letras.

Especialista em Espanhol e mestre em Letras pela UCPel, Valesca pesquisou o uso do Orkut como meio de interação e aproximação entre alunos e professores de línguas estrangeiras em escolas públicas. O título do trabalho: A reinstitucionalização como prática: entre o jogo de rir "com" e o jogo de rir "do" professor. O texto apoiou-se em teóricos como o russo Mikhail Bakhtin e o francês Michel Maffesoli.

A comissão de avaliação desta tese foi a primeira banca de doutorado formada na UCPel. Seus integrantes: Hilário Inácio Bohn (UCPel), Maria das Graças Pinto (UFPel), Clara Dornelles (UNIPAMPA, U. Federal do Pampa), Elzira Yoko Uyeno (UNITAU, U. de Taubaté) e Vilson Leffa, o orientador do trabalho (dir.).

Em seu estudo, Valesca observou que os professores de inglês e espanhol que usam as comunidades do Orkut para comunicar-se com seus alunos fora de aula obtêm a simpatia dos jovens. A escolha do tema surgiu de sua própria experiência como professora de Espanhol numa quinta série em Bagé, sua cidade natal.

Num dos depoimentos, uma estudante se refere assim a sua professora: “Mesmo de licença ou com a greve dos professores, ela não deixou de nos mandar recados e se comunicar conosco”. Por outro lado, o uso de palavras distantes da realidade dos jovens gera um distanciamento.

“Já vi alunos escrevendo em seus orkuts que preferiam que seus professores morressem”, disse Valesca ao site da UCPel. “Mas, com a tese, entendo que a real tradução disso seja que eles gostariam que os professores nascessem novamente, de forma que o relacionamento entre eles fosse mais próximo”.
Fotos da web.

Três artistas muito jovens

Três jovens em fase de iniciação artística expuseram trabalhos na Galeria de Arte da UCPel, na segunda quinzena de maio, em sua terceira amostra conjunta. Elas são Priscila Cardoso Rodrigues (17 anos), Tuane Neves da Silva (15 anos) e Ana Paula Cardoso Rodrigues (11 anos).

A descoberta do gosto pela pintura - há sete anos, em Joinville - levou Priscila a aprender cada vez mais sobre a arte, como autodidata. Panos de chão, camisetas velhas, tudo lhe servia para experimentar, aprender e explorar sua capacidade de retratar imagens do dia-a-dia.

Em Pelotas, ela conheceu a professora Liane Bonow e começou a ter aulas de técnica em pintura, há uns três anos. Ela e outras meninas mais interessadas organizaram sua produção e fizeram já duas exposições coletivas.

Priscila assina como Prika: naturezas-mortas, paisagens e abstratos. Do trio de jovens artistas, ela tem a maior produção (16 obras, nesta amostra), com os conteúdos mais variados e ousados. Em "Degraus" (dir.), ela trabalha simultaneamente com as assimetrias e perspectivas, sugerindo ainda o movimento na água que cai.

O quadro mais caro nesta exposição é dela: "Girassóis" (acima à esq.), à venda por R$ 300. O de menor preço também: "O beijo", R$ 20.

Hoje, é Priscila que ministra aulas: seus alunos são dez jovens em vulnerabilidade social atendidos pelo Exército de Salvação. “Todos aqueles a quem dou aula não têm condições de comprar o material necessário, que é repassado gratuitamente pela instituição. Quero continuar esse trabalho pelo tempo que for possível”, diz Priscila, segundo a notícia no site da UCPel.

"Cores" (esq.) é seu ingresso no terreno das abstrações, sugerindo uma visão de mundo em compartimentos multivariados.

Tuane, que vem tendo aulas desde 2008, também começou sozinha, experimentando em panos de prato. Para ela, a pintura é um estímulo para melhorar o uso da técnica e até, futuramente, comercializar suas obras.

Ela participa nesta exposição com 8 quadros, em sua maioria paisagens, flores e animais. Na simplicidade das formas, em geral curvilíneas, destaca o uso das cores no monocromático "Barquinho" (esq.). O "Lago dos cisnes" (dir.) sugere uma metáfora de três talentos realizados, no curso da vida.

O testemunho de Ana Paula, anotado pela divulgação da Galeria, é simples e significativo, como sua pintura é puro e autêntico naïve:

Minha irmã Priscila começou a dar aulas de pintura em tela na instituição onde moramos. Aceitei o convite para fazer aulas com ela. Eu admiro muito esta arte e sou bastante aplicada no aprendizado, pois quero melhorar cada vez mais.
Sou feliz por ter começado cedo nesta arte, porque sei que muitos não têm a mesma oportunidade que eu de aprender a pintura em tela. Eu quero pintar muitos quadros, porque cada quadro que alguém pinta tem um sentido onde você pode expressar cada detalhe, cada cor.
Fotos de F. A. Vidal.