Nunca imaginei encontrar uma notícia cultural inserida num currículo Lattes. Na verdade, foi a autora desse currículo, Fernanda Oliveira da Silva, que me deu a informação, quando lhe perguntei sobre o andamento do Dicionário Histórico de Pelotas, cujo projeto ela ajudara a coordenar em 2005 (
leia uma versão), quando aluna de História na UFPel (hoje ela cursa mestrado na PUC-RS, já afastada da equipe do Dicionário).
A tal notícia era que o livro estava agora no prelo, com o texto pronto e esperando publicação, talvez para a próxima Feira do Livro, que começou ontem (30), na Praça Coronel Pedro Osório.
O projeto (
leia o relatório inicial) teve uma equipe de colaboradores que produziram verbetes para uma pequena enciclopédia sobre a história de nossa cidade desde o século XVIII até 1960, compilando informação até então dispersa. Além de Fernanda, identificavam-se os seguintes integrantes: Juliana Cabistany Marcello, Emmanuel de Bem, Caroline Meggiato. Como professores coordenadores: Lorena Almeida Gill, Beatriz Ana Loner e Mário Osório Magalhães.
O problema
A riqueza econômica e a importância política de Pelotas durante todo o Império (1822-1889) prolongou-se pela primeira República (1889-1930), produzindo uma sociedade culturalmente avançada, com artistas, cultores das letras e das ciências. A produção histórica sobre todo esse desenvolvimento focou aspectos ou fases precisas, sem nunca abranger toda a evolução da cidade.
Como resultado, a informação sobre Pelotas não era facilmente encontrável ou continha incongruências não estudadas, ocasionando perda de tempo para quem buscasse apenas uma referência pontual.
Objetivo
O Dicionário Histórico de Pelotas procura sanar esta falta, apresentando com rigor científico, numa obra única, uma visão sintética da cidade ao longo do tempo: sobre suas instituições e associações, por um lado, e seus acontecimentos, etnias, características econômicas, culturais e sociais, por outro.
Métodos
Para o fichamento de temas, a pesquisa começou em fontes
secundárias (textos de história já existentes), discutindo depois em equipe as semelhanças e diferenças da informação, para homogeneizar a linguagem.
Elaboraram-se modelos de verbetes e uma lista com possíveis verbetes, divididos em eventos, povoamento e instituições; a redação foi entregue à equipe (estudantes e professores) ou a especialistas em cada tema. Foram detectados assuntos ainda não estudados pelas fontes secundárias, como associações extintas e de cunho estritamente popular ou a formação dos bairros.
Identificaram-se quais assuntos requeriam o uso de fontes
primárias: fotos e documentos dispersos em cartórios, bibliotecas, jornais diários ou quinzenais. No cartório Rocha Brito, por exemplo, foram pesquisadas 115 instituições, muitas das quais já extintas.
Ao ver aumentar sem medida o número de verbetes, a equipe decidiu restringir a pesquisa, deixando de lado a elaboração de biografias. À medida que o trabalho avançava, os estudiosos sentiam a grande receptividade por parte de quem conhecia o projeto, tanto da comunidade científica como de instituições de preservação da memória da cidade.
Além da pesquisa de dados nas fontes e da redação dos resultados em cada assunto, a unificação dos verbetes foi uma tarefa complexa, pois deviam ter simplicidade, profundidade, correção histórica e uma homogeneidade de estilo.
Antes mesmo da publicação, alguns verbetes serviram de base para os programas de rádio do projeto
Patrimônio Pé de Ouvido, financiado pelo Ministério da Cultura, UNESCO e BID. Um foi feito para a Casa da Banha (
leia), prédio que já foi Quartel Farroupilha e sede de lojas como "Ao Novo Papagaio" (
dir.).
A última versão do projeto do Dicionário é de 2008 (
leia) e inclui um exemplo de verbete (
abaixo) e a lista dos 186 temas escolhidos.
Hino. O Hino de Pelotas, cuja música é de autoria do maestro Romeu Tagnin e letra de Hipólito Lucena, foi composto para as comemorações do centenário de elevação à cidade, em 1935. A letra e a música foram escolhidas mediante concurso, sendo que no tocante à letra exigia-se que resumisse o assunto de forma acessível aos alunos das escolas primárias, possuindo para tal uma linguagem simples e não extenso número de versos. Concorreram 21 candidatos, e o resultado foi divulgado em 1º de junho de 1935. Teve início, então, o concurso para escolha da música que melhor se adaptasse à letra classificada. Concorreram 13 composições, escolhendo-se, em 5 de junho, o trabalho musical de Romeu Tagnin por unanimidade da comissão julgadora.
Esse júri era composto pelo Dr. Francisco Simões, pelo professor Milton de Lemos e pela professora Lourdes Nascimento. Sob a regência do maestro Romeu Tagnin e acompanhamento da banda do 9º Regimento de Infantaria, o hino foi cantado, pela primeira vez, em 7 de julho de 1935, por um coro composto de alunos da rede de ensino, previamente selecionados pelo referido maestro e pelo professor Milton de Lemos. Em conjunto com a bandeira do município, foi oficializado através da lei nº. 1.119, sancionada em 30 de Abril de 1962.
Fontes.─ BPP- Fundo DIV- 001. Diário Popular, 23 de maio de 1935; 25 de maio de 1935; 31 de maio de 1935; 1º de junho de 1935; 7 de junho de 1935.
(Fernanda Oliveira da Silva)
Imagens:
Blog Pelotas Vip (1-3)
POST DATA (5 nov 09)
A professora Beatriz Ana Loner, coordenadora do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel, órgão que realiza o Dicionário de História de Pelotas, escreveu ontem para esclarecer o seguinte:
Os responsáveis do projeto desde o início são os professores Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill e Mario Osório Magalhães, que em equipe assinam a concepção e a execução do Dicionário Histórico de Pelotas.
Fernanda Oliveira da Silva atuou como bolsista até 2008, desempenhando atividades de auxílio formal aos organizadores. Sua participação na obra é como autora de alguns verbetes.
A publicação não está em vista para esta Feira do Livro, mas sim para o primeiro semestre de 2010, em data que será divulgada. Ainda falta que os redatores concordem com a versão final dos seus verbetes e a fase final de captação de recursos.