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sábado, 31 de março de 2012

Medianeras, a retomada do Zero3



Hoje (31), 30 empanadas integrais da Garage Bakery serão o brinde dos primeiros espectadores da sessão de reabertura do Cineclube Zero 3. O filme escolhido foi "Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual", de Gustavo Taretto (2011). A projeção e o debate após o filme serão feitos no auditório do Centro de Artes (Alberto Rosa, 62) às 15h30.

Produção vencedora em Gramado, a história segue a recuperação de dois fóbicos, Martín e Mariana, que moram em prédios opostos, numa neurótica Buenos Aires. A solidão que os separa é o mesmo fator que os poderá unir.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Senhor Outono chegou


O outono semelha aquele senhor um tanto sisudo, que se anima lá pelo meio da manhã, esboçando um sorriso tímido, dando ideia de que uma gargalhada franca irá irromper. Mas não. Lá pelo meio da tarde o sorriso de canto de boca feneceu, e a temperatura que era amena esfriou um pouco mais.

Ele mergulha na noite, deixando atrás de si um farfalhar de folhas que se desprendem das árvores, em encantadoras piruetas. A cada dia que passa ele vai trocando de roupas, optando pelas mais grossas à medida que o inverno, ainda distante, afia as garras na linha do horizonte.

Da noite de segunda (19) para terça-feira (20), este cavalheiro circunspecto perambulou pelas ruas de Pelotas. Andou fechando a cara pelo meio da tarde, brincando de verão. Só brincadeira, pois seu ofício, mesmo, é atrair o frio, que a cada giro do relógio vai se intensificando.

Os dias quentes vão se despedindo, atraídos pelo mistério do outono. Atraídos por esse sortilégio, deixamo-nos ficar mais introspectivos, por vezes filosóficos, como que retornando à casa que o calor nos forçou a abandonar. É o ir e vir das estações, carregando-nos em seus braços invisíveis.

É o lufa-lufa da transmutação. Um convite a que pensemos, igualmente, na fragilidade de tudo o quanto existe, inclusive a nossa própria fragilidade, cujo bajulador ego insiste em salientar que não é tão frágil assim.

A queda das folhas, por outro lado, aconselha-nos a não levar o ego tão a sério. As trapezistas que se soltam dos galhos para enfeitar o chão são grandes conselheiras e, também, insubstituíveis filósofas. É nessa filosofia que precisamos acreditar. Pelo fato de estarem ao rés do chão não significa que tenhamos de subestimar a filosofia que as envolve.

E tudo isso acontece diante do olhar complacente do senhor outono, acomodado a um banco de praça, pernas cruzadas, olhando a tudo e a todos com seu olhar virado para dentro. Aliás, o olhar da sabedoria.

Através da janela, agora, vejo a tarde fazer-se noite. No céu cor de chumbo alguns grafites dourados diluindo-se rapidamente. Na calçada, andar firme e decidido, o senhor outono vai em demanda de seu destino.
Manoel Soares Magalhães

Este ano o outono chegou às 2h do dia 20 de março. O cronista descreveu poeticamente sua vinda meio de lado, quase em silêncio. Veja o post original, com música incluída, no blogue Cultive Ler.
Fotos: Cristina Carriconde (1) e Jô Folha (2)

Amanhecer com os 4 elementos

Além do impressionante jogo natural de cores e sombras, e da profundidade na distância do caminho em direção ao horizonte, a imagem consegue sugerir, mesmo estática, uma sutil contraposição de movimentos: o grandioso sol irrompendo no céu onde se esparramam nuvens, e o humilde movimento da onda rompendo na areia penumbrosa. Fogo, ar, água, terra. Foto de Alison Assumpção, amanhecer de domingo (18) no Balneário Valverde.
Fonte: Facebook

terça-feira, 20 de março de 2012

Grupo estuda a obra de Jung

O Espaço de Arte Ágape abriu um grupo de estudos que abordará as teorias do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Trata-se de uma novidade em Pelotas, onde se leciona psicologia somente à base da psicanálise freudiana e não existe ainda um núcleo de Psicologia Analítica.

O grupo será coordenado pela psicóloga Rose Kerr de Barros e pela arteterapeuta Daniela Meine, com o objetivo de refletir sobre os conceitos de Jung e trocar ideias e vivências entre os estudantes e profissionais que venham a participar.

O primeiro encontro foi há 7 dias, com 7 pessoas, e definiu o horário estável do grupo: todas as terças-feiras das 20h às 21:30. A primeira sessão de trabalho será hoje (20), na Rua Anchieta 4480. Será lido o livro "Jung: o mapa da alma" (veja uma resenha), que analisa conceitos como os tipos psicológicos, self, sincronicidade e outros.

Até abril, o grupo ficará aberto a novos integrantes, e posteriormente se concentrará na tarefa de aprofundar a compreensão deste importante autor para a psicologia, a antropologia, a arte e a educação. Investimento mensal: R$ 80. Informações: 3028 4480 e 9982.4539. No vídeo abaixo, entrevista com Jung realizada pela BBC em 1959.


segunda-feira, 19 de março de 2012

Pelotas, Minha Cidade (poema)


Minha cidade é uma enorme sala de recordações...
De alma, de vida e emoções.
É um pouco de mim mesmo correndo pelas artérias do tempo;
um pouco de brisa e muito de vento.

Luz do sol encobrindo colinas,
a beleza infinita de suas meninas
e estrelas vadias passeando na noite.

É brilho de lua, gota de orvalho;
paz de mil sonhos e um velho carvalho.
É praça e esporte, arte e cultura;
paz e amor na forma mais pura.

Minha cidade é o carro-de-lomba
de uma criança que tomba;
riso de gente,
gente que sente;
é tradição de velhos e moços,
de pai e irmão,
dos amores com brilho,
da mãe que "parte o seu coração
e entrega sorrindo um pedaço a cada filho".

Minha cidade é muito de mim
de campos em flores, de muitos amores,
de rosa e jasmim, de uma paixão dessas sem fim.

É fé e orgulho, som e barulho;
pedra e cascalho, asfalto e cimento
e o mito concreto que vence o lamento.

Minha cidade é História,
é a minha memória
que um dia falece em dado momento.
É trânsito doido, engarrafamento
e o carro de boi que um dia se foi no rumo da Sorte.

É um canto do Sul
que vive a olhar de frente pro Norte.
Minha cidade é um céu sempre azul,
é uma pátria pequena que eu tenho no Sul.

Sérgio A. O. Siqueira - Verão de 1968
Fotos: Nauro Jr (1) e D. Giannechini (2)

A desmoralizada (crônica)

Há tempos que ela fica postada numa esquina central da cidade, exercendo o seu “trabalho”, que vara madrugadas, inclusive. Todos lhe põem os olhos. Principalmente os cidadãos motorizados, à espera de uma piscadela sua, para depois irem em frente. Ainda hoje passei por ela e a vi no mesmo lugar de sempre, a olhar de cima para os passantes, trajando sua veste berrante, que medeia entre o amarelo, o verde e o encarnado.

Disse e reafirmo: é a mais desmoralizada dentre tantas outras que, como ela, “fazem ponto” nas esquinas pretendendo a atenção de motoristas e pedestres, já que ninguém a respeita e praticamente dela debocham. Os motoqueiros, então, nem se fala: são os que mais escarnecem da pobre coitada. Não lhe dão a mínima bola, pois apesar de suas piscadas eles fazem “cara de pau” e vão em frente. Também, a infeliz não tem ninguém para fazer com que lhe dêem o mais comezinho respeito. Trata-se de uma pobre coitada!

A maioria acha que ela está desregulada gravemente. E está. Mal o cidadão avança – pensando que “está pra ele” – e ela, a inconstante, nos seus impulsos, já deixa a pessoa “na mão”; daí a balbúrdia do trânsito na citada esquina.

Nada é feito para consertar esta situação. Talvez um guarda fosse a solução ideal naquela esquina, em vez da tresloucada. E o pior é que, um dia destes, pode-se dar até uma morte por causa dela: ante sua presença, com o desrespeito reinante no local à sua figura, vários homens se entreolham com raiva, outros gritam palavrões, enquanto motoristas quase batem uns nos outros.

Falo da sinaleira que fica na esquina das ruas Voluntários e Anchieta. Antes nada lá houvesse e cada um se guiasse pelo instinto de conservação. Poucos respeitam o sinal. Pouquíssimos.

Quem quiser se divertir com ela, a sinaleira, e ver o que faz para a turma, dê uma chegadinha lá.
Rubens Amador

Fotos: F. A. Vidal

O cronista publicou este artigo na imprensa há alguns anos, quando a sinaleira única, no meio deste cruzamento, não era suficiente para ordenar o trânsito crescente. Em 2010, o semáforo foi tirado daqui e transferido para a Voluntários (agora asfaltada) com Félix da Cunha, com piores resultados, pois os acidentes aumentaram (nas duas esquinas). Em abril de 2011, o cruzamento da Voluntários com Anchieta ganhou sinaleira nova (veja notícia) e uma grande faixa de pedestres. Tudo isso minimizou, após anos, o velho problema da "desmoralizada".

domingo, 18 de março de 2012

Psicanalista argentino palestra sobre violência

Na Sociedade Psicanalítica de Pelotas, o ano começa esta sexta (23) às 20h com a palestra “A Violência e seu impacto no psiquismo: algumas considerações sobre a violência, a insegurança e adições”. O encontro, aberto ao público interessado, será no auditório da Sociedade Científica Sigmund Freud, na rua Princesa Isabel 280, conjunto 302 (confirmar presença pelo 3227 1610).

O conferencista é o psiquiatra Norberto Carlos Marucco (veja biografia), membro da IPA (Associação Psicanalítica Internacional) e psicanalista didata da APA (Associação Psicanalítica Argentina). De 1982 a 1984 foi coordenador científico da FEPAL (Federação Psicanalítica da América Latina), instituição que colabora na troca internacional entre os núcleos psicanalíticos. Presidiu a APA de 2004 a 2008.

O Dr. Marucco é autor do livro Cura analítica y transferencia: de la represión a la desmentida (Amorrortu, 1998, v. resenha em espanhol), em que aborda o papel do analista no tratamento psicanalítico e a questão da estrutura psíquica, do ponto de vista de uma "terceira tópica" (Freud definiu duas tópicas ou estruturas do psiquismo).

Marucco foi um dos entrevistados no livro Sobre Psicanálise & Psicanalistas. Veja textos do Dr. Marucco no sítio da Sociedade de Psicanálise de Brasília (datados em 29-07-2008) e algumas publicações da APA.

Imagens: SPPel

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sete não reabre ao entardecer

A manifestação popular de hoje ante o Teatro Sete de Abril, dois anos após seu fechamento para reformas, rompeu o silêncio e a inércia que se viviam diariamente em Pelotas sobre a falta deste espaço de arte e cultura. Umas trezentas pessoas gritaram, aplaudiram e interromperam o trânsito para exigir a reabertura do teatro.

Com seu fino instinto fotográfico, Nauro Júnior compôs a dupla imagem acima (veja no Facebook), apontando ao pôr do sol, com o povo ao fundo e o teatro em primeiro plano penumbroso, refletido no retrovisor de um carro. Alegria no presente, foco posto no passado, declínio no futuro.

O cartunista André Macedo homenageou o Sete Sem-Teto e os artistas que tentam despertá-lo (veja no Facebook). Não virou estacionamento mas ficou estacionado. O Diário Popular noticiou assim: Artistas realizam protesto.

Atelier de Doces Pelotas

Pelotas é uma capital cultural cheia de histórias e tradições, uma cidade aconchegante e repleta de pessoas hospitaleiras. Fomos a primeira capital farroupilha e berço de heróis da Revolução e, é claro, temos a melhor e mais tradicional indústria doceira do Brasil.

É com este orgulho de sermos Pelotenses que batizamos nosso atelier de doces artesanais com o nome de nossa tão amada cidade.


O texto acima aparece em todos os rótulos de produtos (esq.) do Atelier de Doces Pelotas, apresentando a fábrica artesanal do doceiro Luciano Viegas Moura.

A mensagem tem uma multiplicidade de conteúdos positivos: funciona como uma declaração de amor, como descrição da microempresa, como promoção turística da cidade e como definição da doçura em si. Quem se sente orgulhoso de suas origens, confecciona com suas próprias mãos um produto delicado e os entrega com amabilidade ao mundo.

Os elementos publicitários presentes nos rótulos aludem também a outros símbolos de Pelotas: um esboço do antigo Grande Hotel (prédio inaugurado em 1928, hoje Escola de Hotelaria da UFPel), e uma logomarca desenhada ao modo de um ladrilho hidráulico (dir.). Ambos sinais apostam nas tradições de riqueza cultural e empresarial da cidade. Em vez de "primeira capital farroupilha" (que foi Piratini e não Pelotas), sugere-se: "Somos berço de artistas, governantes e heróis da Revolução Farroupilha".

O Atelier fabrica doces na tradição colonial, sem conservantes e sem glúten: em calda, cristalizados e chimias ou schmier. Os ingredientes naturais são produzidos em Pelotas: pêssego, morango, uva, figo, abóbora.

Com garantia de 12 meses, a principal característica ao paladar é o equilíbrio justo entre a medida de açúcar e o sabor natural das frutas, que permite degustar os doces puros ou com pão, biscoitos, cremes, iogurtes e sorvetes.

As vendas começaram pelas padarias Villa Serrana, Luanda e Art Pão, e devem ampliar-se a outros locais. Também é possível pedir pelo correio atelierdedocespelotas (gmail). O perfil no Facebook foi criado em junho de 2011 e já tem 1700 amigos.

Imagens: F. A. Vidal (1) e Facebook (2-3)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Teatro fechado há dois anos

Amanhã (15) completam-se dois anos desde que esta porta deixou de funcionar. Quando aberta, ela permitia que as pessoas comprassem bilhetes para os espetáculos do Teatro Sete de Abril. Hoje, ninguém sequer olha para ela.

O prédio de 180 anos fechou por segurança, pois devia fazer reformas sem a presença do público, mas nem o projeto nem as verbas estavam prontas. Como leva tempo consegui-las, o plano ficou para a seguinte gestão, e o bicentenário de Pelotas (7 de julho próximo) não o verá reaberto.

Um vereador de oposição propôs no seu blogue (veja o post) e no Facebook (2 ANOS DO TEATRO SETE DE ABRIL FECHADO) uma forma de protesto pacífico que vem ganhando adeptos rapidamente: às 18h desta quinta o público convidado fará uma fila nesta bilheteria, mostrando seu desejo de entrar. Como a porta não abrirá, a fila marcará o tamanho da reação dos pelotenses ante esta falha da gestão de política cultural.

Nestes dois anos de espera forçada, já foram feitos dois protestos simbólicos, com pouco público: um aplauso prolongado ao Teatro, e uma lavagem da calçada. Agora, a atuação foi concebida de forma mais coerente, eficiente e participativa. Até esta meia-noite, 329 dos mais de 5 mil convidados já haviam confirmado presença.
Foto: F. A. Vidal

POST DATA:
14-03-12.
À meia-noite de quarta para quinta, 493 dos 6900 convidados haviam confirmado presença.
15-03-12, 17h. Leia no Diário Popular Fetter pede agilidade nos projetos do Sete de Abril.
15-03-12, 18h. 600 pessoas confirmavam presença, entre 7 mil convidados.
15-03-12, 22h. Nem todos os comprometidos foram, mas a manifestação foi um sucesso, com rompimento da inércia e geração de maior consciência.

terça-feira, 13 de março de 2012

Concerto para pianos preparados

O Núcleo de Música Contemporânea da UFPel convida para o recital "INTERVENÇÕES para piano expandido, interfaces e imagens". Trata-se de uma parceria entre o NuMC, o professor Jônatas Manzolli (UNICAMP) e a professora Catarina Leite Domenici (UFRGS).

O programa se baseia em obras para piano preparado de John Cage (1912-1992). O desafio musical, novidade em Pelotas, homenageia o centenário de nascimento do compositor americano.

O concerto organiza uma trilogia de campos de Escuta, com a ação performática de três pianistas, três pianos e três músicos interagindo com áudio-visual e eletrônicos ao vivo. Atuam os professores Joana Holanda, Lucia Cervini, James Correa e Rogério Tavares Constante.

Haverá Ensaio Aberto (sexta 19:30) e Concerto (sábado 18h), ambos com entrada franca (clique na imagem para ampliar).

domingo, 11 de março de 2012

Samba, substantivo feminino


O grupo porto-alegrense Feira de Mangaio (violão, cavaquinho e percussão), liderado pela comunicadora e vocalista Alessandra Terribili, apresenta hoje (11) a partir das 22h, no Bar João Gilberto, Samba, Substantivo Feminino, espetáculo em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, com canções de diversas mulheres intérpretes e compositoras do samba. A noite feminista segue com DJ Helô. Produção de E-cult e Caio Lopes. Antecipados a R$ 15 (JG, Papuera e Cidadão Capaz), na hora R$ 20.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O Hotel já é Escola

Após reformas, o antigo Grande Hotel já é o novo local do curso de Hotelaria, um dos 94 em funcionamento na Universidade Federal de Pelotas (leia nota oficial). Trata-se de um curso novo (veja definição), ligado também ao Centro de Integração do MERCOSUL.

O prédio foi terminado em 1928, e recebeu visitas de políticos e artistas famosos; em 1950, de uma destas janelas, o ex-presidente Getúlio Vargas olhou para a praça e saudou o povo apostado à sua espera (leia a crônica Um encontro com Getúlio Vargas).
Foto: Facebook

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres inferiorizadas (crônica)

O seguinte artigo, de autoria da escritora Isabel Silva Vargas, obteve o 1º lugar na categoria Crônicas, em novembro de 2011, no XVI Concurso Literário Internacional de Poesias, Contos e Crônicas (veja lista dos premiados).
Desde os primórdios da humanidade, a mulher já tem o estigma da inferioridade. Sem voz e vontade própria, serva submissa, mero instrumento de satisfação, descartável, bem fungível, material e líquido, na medida em que os homens podiam ter tantas mulheres quanto desejassem ou fossem capazes de manter.

Agressões históricas

Constata-se que, desde as épocas bíblicas, nos casamentos, aquilo que concerne ao célebre “para sempre” é condição preponderantemente vinculada à vontade masculina. Isto advém do início da civilização, passando pelas sociedades tribais e pelos impérios orientais e ocidentais. Recordemos o caso de Henrique VIII, que legislou em causa própria e, não resolvendo seus problemas, mandou a mulher para a masmorra e, não satisfeito, que lhe cortassem a cabeça.

Pés de lótus
Crueldades contra a mulher foram sofisticando-se, aprimorando-se em várias culturas, como na China (dir.), onde as mulheres tinham os pés enfaixados e deformados pela deturpada estética da flor de lótus, o que lhes impedia de fugir por ocasião das invasões, facilitando a sua captura e consequente violação.

Na África, por questões culturais e religiosas mutilam a genitália feminina por garantia de virgindade e por não lhe permitirem o prazer. Mais uma vez, mulher-instrumento, a serviço de seu amo e senhor ou para perpetuidade de dogmas. Ainda hoje cerca de 100 milhões de mulheres passam por esta prática, em cerca de mais de 26 países da África e da Arábia. E não esqueçamos aquelas que hoje devem se manter cobertas, invisíveis, à mercê de quem oferece mais nos contratos matrimoniais que são realizados quando meninas.

Apesar de 2000 anos passados desta Era denominada de Cristã e dos avanços sobre os quais poderemos discorrer [v. adiante], as mulheres correm o risco de serem trocadas por menos de meia dúzia de camelos, no norte da África, em países divulgados pela grande mídia por sua cultura e beleza, mas no qual os mais zelosos não se arriscam em largar sozinhas suas mulheres.

Exagero? Isto pode ser o que de mais agradável pode lhe acontecer, se compararmos àquelas que desaparecem, aqui em terra tupiniquim, vítimas da “paixão” – cujo nome correto é barbárie – de seus companheiros, e seus ossos jogados aos cães, eliminando provas, gastos com funerais, lápide e flores. Loucura? Sim, ainda mais se considerarmos que os homens começaram a ser civilizados, ao enterrarem seus mortos. Triste ironia.

Nesta trajetória de tempo e espaço não podemos esquecer aquelas tantas queimadas vivas, torturadas na época da Inquisição – afinal, quem sangra todo mês e não morre só pode ser mesmo uma bruxa –, e aquelas que, mais recentemente, foram queimadas por reivindicarem direitos trabalhistas.

Modernidade

Foi neste século 20 que começaram os tão afamados avanços: direito de voto-exercício de cidadania, desde que os pais ou maridos não determinassem imperiosamente em quem deveriam votar. Democratização da escola pública visando garantir o acesso à educação, embora isso seja um direito fundamental universal e, por conseguinte, não só para o gênero feminino.

Assim mesmo, ainda havia famílias que julgavam que as mulheres deveriam aprender as famosas prendas domésticas (lavar, passar, cozinhar, costurar, bordar) ao invés de aprenderem a ler e escrever.

Foi a partir deste evento, acesso à educação, que as mulheres passaram a ter condições efetivas de ingresso no mercado de trabalho. Maravilha! Graças a isso temos, além das domésticas, babás – consideradas as primeiras profissões junto com as lavadeiras, pois não pressupunham escolaridade.

Puderam as mulheres ascender às carreiras bem mais reconhecidas, aplaudidas e às quais a sociedade confere mais status: médicas, advogadas, dentistas, juízas, promotoras, desembargadoras, por antiguidade e merecimento.

"As Sete Idades da Mulher", de H. Baldung
(v. Wikipédia)
A estas se somam, na atualidade, mulheres pesquisadoras, na política, carreira militar, aviação comercial e outras profissões, outrora inconcebíveis ou inexistentes para o sexo feminino.

Muito bem, as mulheres conquistaram com denodo e competência a possibilidade de disputar com os homens o acesso ao mercado de trabalho, mas em compensação conquistaram a dupla jornada e a culpa de deixarem seus filhos aos cuidados de outras pessoas.

Os salários, em geral, são menores, sofrem constrangimentos ainda hoje, pois apesar do amparo legal, têm que provar que não estão grávidas para serem admitidas no emprego, sofrem assédio psicológico, sexual e moral. Em alguns segmentos, são obrigadas a submeter-se à revista antes de deixarem o local de trabalho, para provar que não estão levando nada do patrão.

Como se toda a responsabilidade que carrega, com o peso histórico de ser a sofredora mártir mãe de Jesus, ou a discriminada Maria Madalena não bastassem, ainda tem de ser como Amélia – que é por quase unanimidade a "mulher de verdade" – e por exigência de mercado tem de ser bela, perfumada e gostosa, pois, como diz o poeta, “beleza é fundamental” [ouça a Receita de Mulher, de Vinícius].

Isabel Cristina Silva Vargas
Imagens da web

Dia da Mulher


Neste 8 de março, a partir das 15h, a concessionária UVEL convida todas as mulheres da cidade a uma tarde feminina, com atividades de embelezamento, assessoria esotérica, moda e bate-papos sobre a vida da mulher moderna. O salão da empresa fica na Avenida Fernando Osório nº 1373.
No campus I da UCPel, das 9h às 21h, representantes da Avon, Mary Kay e Natura oferecem maquiagem e dicas de estética.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Pelotas quer o Sete de Abril aberto


Em 2012, bicentenário da Freguesia de São Francisco de Paula, Pelotas quer ver reaberto o seu Teatro Sete de Abril. Nosso símbolo cultural foi construído ainda em tempos da Vila de São Francisco de Paula, e esteve dez anos fechado desde 1835, logo após sua fundação, até 1845. A Revolução Farroupilha parecia ser um forte motivo para a suspensão completa da vida artística na Província.

Novamente fechado por volta de 1980, o Teatro foi reaberto também por decisão política. Agora, interditado desde 15 de março de 2010 (leia a notícia oficial, redigida pelo próprio Secretário de Comunicação), o prédio espera por terceira vez que alguém faça o necessário para seu resgate. No entanto, permanecem desarticuladas as três principais forças que buscam sua recuperação: público, artistas e autoridades. Visite o evento facebook QUEREMOS NOSSO TEATRO SETE DE ABRIL DE VOLTA.
Arte de Neco Tavares

terça-feira, 6 de março de 2012

Débora e Esther, no Corredor

O Corredor Arte recebeu, até 5 de janeiro passado, uma nova exposição das irmãs Deborah Blank Mirenda e Esther Blank Schwonke (de preto na foto). Influenciadas pelos pais, elas despertaram já na infância o interesse pela pintura. Naturais de Erechim, estão radicadas em Pelotas há vários anos.

Deborah tem formação artística e décadas de atuação na área. Nessa ocasião, ela trouxe formas geométricas (dir.) da nova fase de seu trabalho, além de alguns de seus rostos de mulheres (veja uma nota deste blogue sobre suas pinturas em 2009).

Em caminho autodidático, Esther cultiva flores como hortências e girassóis, e as representa incansavelmente nos quadros. Ela observa a singularidade de cada flor, detendo-se na delicadeza das pétalas, e com esmero pinta aspectos tão detalhados como as colorações únicas e as texturas de superfície.

Apesar da notória diferença de conteúdo nas obras, é possível notar semelhanças no modo de pensamento e de trabalho das irmãs artistas. O jeito suave de aplicar a tinta e o interesse por temas naturais e ingênuos são fatores de aproximação entre as duas. Deborah desenvolveu mais a capacidade de explorar mudanças técnicas e de expressar sentimentos profundos, o que provavelmente influiu no processo pessoal e artístico de Esther.
Imagens: Completa Comunicação

Sereias da Lagoa

Na segunda-feira de Carnaval (20-02), já entrada a noite, a reportagem da Prefeitura fez uma nota interessante e ousada: sobre a saída anual do bloco Sereias da Lagoa (dir.), no balneário Santo Antônio (leia a matéria).

Apesar do elemento óbvio (carnaval em Pelotas), a matéria foi oportuna, pois esse bloco se reúne uma só vez por ano, não entra na programação oficial, fica longe das passarelas urbanas e marca uma distância, também no tempo, dos carnavais populares e multitudinários de nossa cidade.

O original dessa informação é que um veículo oficial estivesse noticiando sobre baixos costumes do povo (em vez de divulgar os serviços municipais) e, ainda mais, fora do horário normal de trabalho. Ousadias atribuíveis à irreverência dos tempos de Momo.

Sem chegar a ser um verdadeiro bloco, as Sereias da Lagoa têm a missão de seguir a tradição carnavalesca dos homens vestidos de mulher. O costume sempre foi mais forte em Pelotas que em outras cidades do sul do Brasil, e começou a decair na década de 1980, até restar este único foco de conservação (nascido na praia do Laranjal na década de 1990).

Este travestismo carnavalesco não equivale a um desfile gay nem a uma amostragem de drag queens, mas a uma antiga sátira que os homens fazem ao lado feminino (tanto de mulheres como de homens) e da sua própria masculinidade.

A julgar pela evolução dos carnavais, a brincadeira pública provavelmente surgiu no início do século XX ou fins do XIX, ou seja, em tempos vitorianos e tridentinos, bem moralistas e solenes. Hoje, a sátira ao homossexualismo é politicamente incorreta.

A espontaneidade semiclandestina deste grupo burlesco pelotense dificulta obter boas imagens do seu desfile, tanto pelo horário como pelo lugar. Após concentração no centro comercial Mar de Dentro, as Sereias têm o costume fixo (sutilíssima alusão ao horário de trabalho, na prostituição) de sair no sábado de carnaval ao entardecer, somente na praia, mas também brinca com o fator surpresa e com as emoções secretas do exibicionismo (veja uma nota pobre em texto e pobre em imagem, sobre este bloco no carnaval de 2011).

Em 2010, o jornalista Miguel Martins redigiu uma nota para o blogue Satolep na Rede, com excelentes imagens de Cláudia Pureza Duarte. Entre os foliões, a fotógrafa captou o músico Sady Homrich, de branco na foto acima à esquerda. Leia sua confissão de amor pelo Laranjal (e por sua mulher) na Zero Hora de 1-2-12.

A maioria dos participantes - se não a totalidade - são homens masculinos e heterossexuais. Somente no carnaval eles ousam desfilar como algo que nunca foram nem serão, arremedando os traços mais histéricos do sexo oposto, com as melhores ou piores roupas de suas irmãs e namoradas. A intenção não é, portanto, a de tirar do armário lados ocultos e assumi-los seriamente. No vídeo abaixo, de 2008, uma gravação fora do desfile, que mostra bem o espírito da coisa.
Fotos: G. Xavier (1), C. P. D. Boéssio (2-3)

POST DATA
8-2-13 
Há um ano, Sereias da Lagoa abriu página no Facebook. A saída de 2013 está anunciada para este sábado (9). 
O acontecimento promete ser marcante, numa cidade que não quis suspender o carnaval após a tragédia em Santa Maria, mas mesmo assim não terá bailes nos clubes (interditados por medidas de segurança) nem escolas de samba na data nacional (a organização adiou os desfiles para os últimos fins de semana de fevereiro). 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Dia Nacional da Música Clássica

Desde 2009, marca-se o 5 de março como o Dia Nacional da Música Clássica (leia histórico). A data, escolhida em alusão ao nascimento de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), já era celebrada na cidade do Rio de Janeiro e ampliou o âmbito, com aprovação do governador do Estado do Rio e, posteriormente, da Presidência da República.

Hoje (5) o Google ilustrou sua página brasileira com a figura acima (veja nota), um novo doodle (esboço rabiscado) dedicado ao maestro que divulgou e enalteceu a brasilidade mediante a música erudita.

Compare (abaixo) duas interpretações da peça "A lenda do caboclo": com o pianista Nelson Freire (partitura original), em gravação na Embaixada Brasileira em Roma, em 29 de abril de 2011, e com o quarteto Kroma, em arranjo para guitarras elétricas, desempenho em Santo André (SP), janeiro de 2004.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Benette Casaretto

Abrindo a programação da BPP alusiva aos 200 anos de Pelotas, a mostra de pintura "Benette e seus temas" homenageia uma das mais talentosas artistas plásticas da cidade e da região: Benedita Casaretto Motta, conhecida como Benette Casaretto. Até 11 de maio, a exposição poderá ser visitada no Salão Nobre da Biblioteca Pública Pelotense.
Sobrinha do arquiteto e construtor Caetano Casaretto, a pintora pelotense nasceu em 1925 e formou-se na Escola de Belas Artes de Pelotas, onde foi aluna de Aldo Locatelli. Estudou com Ângelo Guido, Leopoldo Gotuzzo e outros mestres brasileiros e argentinos. Sua primeira individual foi no Clube Caixeiral de Pelotas, em 1956, segundo o Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul (Renato Rosa e Décio Presser, UFRGS, 2000).