quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Semana da Mulher

A Coordenadoria da Mulher, da Secretaria Municipal de Justiça Social e Segurança (SJSS), convida os pelotenses para a Semana da Mulher, de 1 a 8 de março. O evento conta com apoio de outras entidades municipais, como a SMED (Secretaria de Educação e Desporto), SECULT (Secretaria de Cultura) e a SMS (Secretaria de Saúde) e algumas da área privada, como o grupo de Daniel Amaro.

A nova secretaria reúne as antigas SMCAS (Cidadania e Assistência Social), SIS (Igualdade Social), parte da Secretaria de Habitação e a gestão da Guarda Municipal. Quem dirige a SJSS é a Assistente Social Clésis Crochemore.

Programação 2013
Tema: “O Universo da Diversidade Artística na Arte de Ser Mulher”


Exposição de Artesanato

Sexta 1 de março, de 12:30 a 18:30, no Saguão da Prefeitura
Artistas: Ivanise Heidrich/ Camila Heidrich – SJSS e Alunas do CRAS São Gonçalo – SMED e SJSS

Exposição de Telas
5-8 de março, de 12:30 a 18:30, no Saguão da Prefeitura
Artistas: Helena Badia/Graça Antunes/Alice Bender/Arlinda Nunes/Elenise de Lamare/Débora Mirenda/Nauri Saccol/Vera Souto/Olga Reis.

Coral “Loucamente” (CAPs)
Apresentação terça (5) às 19h, no Salão Nobre da Prefeitura.

A Mulher e a Arte – palestra com a professora da UFPel Nadia Senna
Terça (5) às 19:30, no Salão Nobre da Prefeitura.

Vice-Prefeita Paula Schild Mascarenhas
A Mulher e a Política – palestra com a Vice-Prefeita Paula Mascarenhas.
Quarta (6) às 19h, no Salão Nobre da Prefeitura.

Palestras e Apresentação de Dança
Quinta (7), no Colégio Comercial João XXIII, Rua Sete de Setembro, 201
19h –  Grupo de Dança Afro Daniel Amaro
19:30  "Violência Doméstica", palestra com a Delegada Lisiane Matarredona
20h –  "Mulher Negra", palestra com a Prof. Marielda Medeiros

Dia da Saúde da Mulher
Sexta (8), Dia Internacional da Mulher
Horário: 14h às 17h30min
Local: Calçadão da R. Sete de Setembro

POST DATA 
6-03: Poucas pessoas na inauguração da exposição ao meio-dia (veja nota).
7-03: Na palestra de quarta (6), Paula Mascarenhas disse:
Apesar da presidente Dilma, sinto que [as mulheres] ainda estamos engatinhando na política. Nossas lutas não são ‘das mulheres’, nem dos partidos; são da sociedade (veja notícia escrita por Joice Lima).
 8-03: Cerca de 60 pessoas participaram do encontro no Colégio João XXIII (leia nota).

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A história da máquina de fazer chapinhas

O cronista Rubens Amador recorda como nasceu sua paixão juvenil por uma especial máquina importada, surgida em Pelotas perto dos anos 20, a qual imprimia rótulos em chapinhas de alumínio e era muito do agrado do público. Por primeira vez e especialmente para este blogue, ele narra como começou o "namoro" com a máquina, como a reencontrou vinte anos depois... veja como segue a história.
Quinze esquina Sete, início do século XX (praça Osório ao fundo)

A primeira máquina, na Mensageria

Entre os anos 20 e 40, havia em nossa cidade, na parte de baixo do atual prédio da Caixa Econômica Federal, pela rua Quinze, uma casa que se chamava “Mensageria Pelotas”, do ramo da cigarraria, engraxataria e venda de artigos vários.

Sucedeu-a um café famoso, o popular “Oliósi”! (o Aquário da época). Meu pai lá costumava fazer ponto, e era muito amigo dos donos [o casal italiano Isacco Giuseppe Oliosi e Anuncciata Fornari Oliosi].

Proporções da máquina
segundo desenho de R. Amador
Muitas vezes estive na Mensageria com meu pai, para engraxar os sapatos, e me fascinava com u´a máquina de fazer chapinhas, que lá existia. Era um móvel de cerca de l m. e meio de altura por uns 80 centímetros de largura. A gente colocava uma moeda de duzentos réis, que deslizava para um cofre de ferro dentro da máquina, liberando uma espécie de ponteiro no painel da frente, que se girava com a mão em cima da letra ou sinal que se desejasse. Ao final, movia-se uma trave, e a chapa era cortada com as palavras em relevo. É que dentro dela havia duas matrizes (macho e fêmea) com todo o abecedário e sinais. Entre essas partes o alumínio corria.

As plaquinhas eram muito bem acabadas e a cada extremidade havia um furinho para que se a fixasse onde se pretendesse. A cada plaquinha pronta tocava um sino e ela travava, até que alguém pusesse novos duzentos réis.

Naquele tempo (anos 20) havia quase nada de novidades. Aquela era uma, que dava muito movimento na Mensageria Pelotas. Era uma atração. Eu, siderado pela tal máquina, pensava que poderia ficar rico com ela, nas minhas fantasias de menino sonhador. Um belo dia, anos 40, fecha a Mensageria e não se soube mais da máquina.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

"Curta uma bike" em Pelotas

— Oi, amor, tô trancado no trânsito, não vou chegar a tempo. 
Pede pro Artur comprar as coisas pra mim. Beijo.

O estudante Lucas Arizaga foi o vencedor do Festival "Curta uma Bike e uma Caminhada" em outubro de 2011 (leia notícia), iniciativa do governo do Estado do Rio de Janeiro por meio do programa Rio, Estado da Bicicleta. O programa tem como objetivo conscientizar a população a usar a bicicleta como veículo para trabalho e não somente para lazer, além de incentivar o hábito de caminhadas em trechos curtos.

Cursando na época o sexto semestre de Cinema e Animação na UFPel, Lucas concorreu com o curta-metragem Contratempo, filmado em Pelotas. Na história, um menino consegue realizar, de bicicleta, grande quantidade de tarefas enquanto seu pai, preso no trânsito, só perde tempo.

A bicicleta vai da Cohabpel à esquina do Banco Itaú e volta para casa (totalizando uns 5 km), enquanto os carros não se movem muitos metros na Bento Gonçalves. Em Pelotas um engarrafamento de dez quadras pode não ser coisa comum, mas numa metrópole sim. O músico Serginho da Vassoura aparece por menos de um segundo, na praça Coronel Pedro Osório. Valia a pena parar para ouvir, mas a pressa do piloto era muita.

Por ocasião do concurso, Contratempo foi um dos 50 vídeos inscritos, e só 10 passaram para a 2ª fase, de acordo à votação pela internet. O filme de Arizaga ficou em 9º, com mil votos.

Na avaliação por um júri técnico, veio o prêmio principal: R$ 5 mil, uma bicicleta e um estágio em uma grande produtora do Rio de Janeiro. Os outros finalistas ganharam R$ 1 mil. Confira clicando nos nomes:
2º lugar "Rodrigo trabalha em uma gráfica",
Marcha matinal,
Cotidiano (feito em Porto Alegre),
Caminhada que transforma.

Entrevistado pelo Diário Popular, o jovem cineasta contou ter dedicado 16 dias para este curta-metragem: 2 elaborando o roteiro, 7 na pré-produção, 3 na filmagem e 4 na edição e finalização. Os atores participaram de graça e os equipamentos foram emprestados; só foi preciso pagar a gasolina.
Quis pôr uma criança no papel principal pra ficar mais explícito que mesmo alguém pequeno pode chegar a ser mais rápido e eficiente que um adulto, caso utilize a bicicleta. E a gente sabe que aqui na cidade o trânsito é bastante trancado.
O dinheiro de "Contratempo" será investido em outros dois filmes mais caros devido às roupas, veículos e locações: "A não ser pelo bigode", que mostra a confrontação entre nora e sogra, e "Criminal por acaso", história em 15 minutos ambientada em 1938, sobre um gângster norte-americano.

Seu filme anterior foi feito em abril de 2011: um vídeo institucional sobre o curso à distância da UFPel "Especialização em Saúde da Família" (veja aqui).  Lucas Arizaga é de Livramento e mora em Pelotas desde 2008. Ele participa do grupo Pedal Curticeira, uma espécie de clube de ativismo da causa ciclística.

Em dezembro de 2012, o Diário Popular informou que Lucas estava terminando, para conclusão de seu curso, o curta de 15 minutos "O fecho éclair", com data de lançamento prevista para março de 2013.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Padre Carlos, cem anos de vida

O padre Carlos era alemão de nascimento, educou-se na Bélgica mas sua formação religiosa foi no Brasil. Viveu entre nós de 1930 a 1970, voltou ao país natal, onde também foi pároco, mas quis passar seus últimos anos em Pelotas, de 1989 a 2004 (notícia de sua morte). 

Foi homenageado em 2003 (v. artigos Padre Johannes comemora 90 anos, de 25-02, e Catedral homenageia Padre Carlos, de 12-03) e várias vezes de forma póstuma: em 2006 foi dado seu nome ao salão de eventos da Casa da Criança (v. nota) e há algumas semanas formou-se uma comissão para preparar o centenário de seu nascimento, que se completa hoje (25 de fevereiro). Cláudio Milton Cassal de Andrea, membro da comissão, publicou há uma semana o artigo abaixo.



Padre Carlos Johannes – Um Homem Santo

No dia 26 de janeiro deste ano [2013] a senhora Maria Eulalie Mello Fernandes escreveu um artigo de muita sensibilidade [Padre Carlos Johannes – Um Homem de Deus]. Como discípula e orientanda espiritual, como ela mesma afirma, ressalta todas as suas virtudes, chamando-o de Mestre ao conectá-lo com diversas passagens do Evangelho. [...]

Seguirei em outra direção, mostrando-o aos leitores [em] passagens de sua vida [e em] seus serviços prestados à comunidade, que o venerava por sua Santidade. Quem não teve a Graça de conhecê-lo, fatalmente perdeu de se aproximar de uma figura ímpar, de um verdadeiro Homem Santo.

Da Alemanha a Pelotas, duas vezes

Pe. Karl Sebastian Johannes aportuguesou nome.
Ele nasceu em Merzig na Alemanha no dia 25 de fevereiro de 1913. Fez seus primeiros estudos na Congregação de La Salle na Bélgica. Com 17 anos desembarcou em Pelotas motivado por uma fotografia do Colégio Gonzaga levada por um Lassalista que aqui estivera.

É de se imaginar a fibra, a perseverança deste jovem que abandona sua pátria, se distancia da família e parte para o desconhecido. Após seus estudos, em 7 de dezembro de 1946 recebeu a ordenação diaconal pela imposição das mãos de Dom Antônio Zattera – Bispo de Pelotas – e exatamente um ano após, foi ordenado presbítero.

De 1970 a 1989 retornou à Alemanha, onde foi vigário na Diocese de Trier. Neste período conquistou sua aposentadoria e retorna a Pelotas, pois segundo suas próprias palavras, quando do recebimento do título de Cidadão Pelotense [veja lei municipal], seu foco se voltava sempre para esta cidade que tão bem lhe acolhera, para se colocar a serviço do povo necessitado que ele escolheu para Amar.

Um missionário do amor

Não deixava de celebrar missas em sua paróquia de sua cidade. Era tanta a credibilidade que ele transmitia que os paroquianos, ao terminar a Missa, colocavam em seus bolsos euros, os quais transformava em obras aqui na sua diocese.

Eis algumas delas: o grandioso Cenáculo, a Capela do Bom Pastor, a Capela (abaixo) e uma ajuda importante no restaurante da Sociedade São Vicente de Paulo, a maquinaria da fábrica de lençóis da Casa da Criança São Francisco de Paula e a presença financeira sempre em boa hora ao Instituto de Menores, Instituto São Benedito, comissão de obras da Catedral e muitas outras.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Mostra de carnavais antigos no Museu da Baronesa


Na sala de mostras temporárias, o Museu da Baronesa apresenta desde quarta (20) “O Carnaval das Meninas Maciéis”com registros dos carnavais de cem anos atrás, vividos pelos familiares da Baronesa. O Museu Farmacêutico Moura contribui com algumas peças de seu acervo (lança-perfumes argentinos).

Em 1864 Aníbal Antunes Maciel casou-se com a carioca Amélia Hartley, ganhando este solar de seu pai, como presente de casamento. Em 1884 libertou todos seus escravos de uma vez, e foi agraciado pelo Imperador com o título de Barão dos Três Serros (nome de uma de suas fazendas). Dona Amélia ficou sendo a Baronesa, mas ao ficar viúva voltou a residir no Rio. Quem ficou em Pelotas foi sua filha, Amélia Hartley Maciel (1869-1966), conhecida como Dona Sinhá, que casou com seu primo Lourival Maciel (1857-1948). Todos os membros da família foram afastando-se de Pelotas, deixando o solar vazio, até que uma descendente o doou ao município em 1978 e a Prefeitura o abriu oficialmente em 1982.

Mostra de carnaval no Museu da Baronesa
A expressão "meninas Maciéis" foi usada em 1918 pela Baronesa Amélia em relação às netas Déa e Zilda. Nos anos seguintes, as duas foram rainhas do Clube Diamantinos. A exposição inclui fotos delas nos anos 20.

O Museu da Baronesa está aberto à visitação todas as tarde, exceto segundas-feiras. Grupos de 10 ou mais devem agendar a visita pelo telefone 3228.4606. Para entrar ao museu, inclusive à mostra temporária, cada pessoa paga R$ 2. A entrada é livre para crianças (acompanhadas) e o valor é de meia entrada para estudantes e pessoas acima de 60.
Foto: F. A. Vidal

O triste dia em que Irajá Nunes foi a notícia

Quando da repentina morte do cronista do Diário Popular Irajá Nunes, em 26 de outubro de 1977, Rubens Amador relatou detalhes daquele dia amargo. Amigos, colegas, a cidade inteira se inundaram pela impotência ante a fragilidade da vida e a injustiça incompreensível de perder o convívio com um homem tão lúcido, gozador da vida e ainda com um projeto de livro em mãos, que nunca foi editado. O repórter que chegara adolescente agora se ia aos 41 anos.


Dez e trinta da manhã de primavera. Trabalhávamos. Toca o telefone. É o médico Paulo Kelbert, pesaroso, comunicando-me que o Irajá, nosso comum amigo, havia se acidentado seriamente.

– Amador – disse o Paulo – que tipo de sangue tens? Estão pedindo O Positivo, pelo rádio, infelizmente o meu não dá.

–  Não sei – respondi-lhe – mas onde estão solicitando? que já vou para lá.

– É no Hospital de Clínicas.

Irajá Moraes Nunes em 1977
Desligamos e parti para o nosocômio. Lá chegando, na portaria encontrei o Bento, com aspecto grave, que se antecipou à pergunta que formuláramos à recepcionista: “Sobe a rampa, e desce depois, à esquerda, lá fica o Banco de Sangue “. Subimos a rampa rapidamente . Passamos pelo Piegas, que saía, lamentando que seu sangue não dera.

Ao chegarmos à porta do Banco de Sangue, havia um pequeno “comício”, como diria o Irajá. Lá estavam, cabisbaixos, o Clayr, junto a vários outros colegas do jornal. Havia no ar um silêncio eloquente, uma espécie de sufocação e amarga expectativa. Sentado em uma cadeira apropriada, doando o precioso líquido vermelho, o Cunha, da Rádio Universidade .

Aguardamos. Lamentavelmente, ao chegar a nossa vez, não passamos no teste: Tipo A Positivo! Subimos de volta a escada para ganharmos a rua. Antes soubemos do amigo acidentado: “Está sendo operado neste momento, trata-se de caso sumamente grave”.

Não acreditávamos que algo de grave pudesse acontecer ao Mirim – o apelido, se não me engano, foi o falecido Ramão Barros que lhe deu. Não podia ser. O Irajá não poderia morrer assim, num prosaico acidente de trânsito, de manhã cedo, saindo para o trabalho. E voltamos às nossas atividades sem poder deixar de pensar no acontecido, daquela tragédia com o amigo estimado.

Almoçamos e, por cerca de uma hora e pouco da tarde, nos dirigimos novamente ao hospital onde Irajá fora operado. Batíamos nos vidros para entrar, pelo menos no saguão, já que àquela hora era proibido o ingresso de visitantes. Queríamos apenas uma notícia, se possível boa, para retomarmos o trabalho da tarde mais confiante e satisfeitos.

Enquanto o funcionário abria a porta, divisamos em nossa direção o Clayr e o Piegas que se aproximavam. Fui ao seu encontro. Notei nas suas fisionomias profunda tristeza. Confesso que me alarmei, então. Com certa dificuldade perguntei:

– E o Mirim?

Então o Clayr Rochefort olhou-me nos olhos, e pleno de nítida amargura praticamente sussurrou:

– Não deu!

Clayr, figura paterna e amigo íntimo do Mirim
Naquelas duas palavras ele conseguiu traduzir toda a dor que trazia em seu peito e que naquele momento dividia conosco, comigo e o Piegas. Não trocamos mais que outras tantas duas ou três palavras. Com um aceno de cabeça nos despedimos e cada um seguiu o seu caminho.

Irajá Nunes não era um santo. Era apenas um ser humano cheio de ternura e calor. Quem não o conheceu e privou com ele, mas que apenas o leu, sabe do que estamos falando. Agora mesmo estava em lua-de-mel com um livro seu por sair. Era um tremendo cara. Todos nós que o conhecíamos bem e frequentemente participávamos de suas tertúlias, cheias de boa verve e frases inteligentes, sabíamos o quanto ele era amigo de sua família e da forma especial com que evocava a figura de sua esposa, a quem nos dizia sempre ser uma santa, por aturar as suas molecagens.

Realmente, vai ficar no espaço que ocupava o Irajá, nesta Selva de Pedra, um desfalque muito grande. Nesses dias que correm, personalidade coruscante como a sua, era como que pirilampo em voo incerto e nervoso pelo espaço, em busca de algo, mas sempre dando um pouco de sua luz para o nosso deslumbramento.
Rubens Amador (1977)
Foto: reprodução DP

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Pesquisa descobriu a charqueada do Santa Bárbara

A RBS TV Pelotas publicou a matéria abaixo no blogue da redação (hoje pertencente à rede Globo) e no Jornal do Almoço de 21 de outubro de 2011 (o trecho aparece no final do vídeo). Transcrevi o texto e as fotos, e reescrevi as legendas.

A reportagem mostra uma equipe universitária pesquisando a senzala de uma antiga charqueada, que – de acordo a uma lista feita por João Simões Lopes Neto em 1912 para a Revista do 1º Centenário de Pelotas – foi a única que existiu às margens do Arroio Santa Bárbara. Hoje suas ruínas ficam no centro da cidade, mas na época a zona urbana terminava no arroio.

Estefânia Jaékel da Rosa, licenciada em História e então aluna do mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (v. Lattes) preparava um estudo pioneiro no Brasil (leia o projeto Arqueologia da Escravidão no Sul do Brasil), que a levaria à dissertação "Paisagens Negras: Arqueologia da Escravidão nas Charqueadas de Pelotas" (UFPel, 2012). Hoje ela é pesquisadora em Arqueologia da Escravidão no LAMINA/UFPel. 

Esta casa em ruínas foi a senzala de uma charqueada no século XIX.
Fica na Barão de Santa Tecla entre Conde de Porto Alegre e João Manoel

Charqueada no centro de Pelotas é redescoberta

Por Antonio Peixoto, com imagens de Jeferson Kickhöfel

Um trabalho lento e minucioso. Centímetro por centímetro de terra é escavado e vai revelando fragmentos de uma história rica e sofrida. É bem possível que os escombros dessa construção tenham sido de uma senzala que chegou a abrigar 61 escravos em 1854. Pesquisadores e 15 estudantes de cinco cursos da Universidade Federal de Pelotas procuram indícios que mostrem a presença de negros na propriedade.
A senzala estudada faria parte do complexo de uma grande charqueada, sem nome, localizada hoje no centro de Pelotas, que foi esquecida no tempo. A propriedade ficava às margens do arroio Santa Bárbara, que foi aterrado e desviado na década de 1970. O arroio cortava parte do centro da cidade, mas hoje restam apenas indícios dele, com a área próxima ao casarão que facilmente fica alagada em dias de chuva.

Estefânia Jaekel, pesquisadora e mestranda da UFPel
Arqueóloga e historiadora, Estefânia Jaekel pesquisou, para o trabalho final do mestrado na UFPel, as origens da propriedade e descobriu que a casa foi construída numa área de sesmaria doada pelo Império a um estancieiro em 1790.
 A charqueada foi vendida e as terras divididas até que em 1865 teria falido. Foi comprada 13 anos mais tarde por João Simões Lopes, conhecido como o Visconde da Graça  revela a pesquisadora.
Do tempo em que a carne era salgada pelas mãos dos escravos restou pouca coisa. Para o geofísico da Universidade de São Paulo (USP) Gelvan Hartmann, que veio a Pelotas colaborar com os estudos e complementar seu trabalho de pós-doutorado, os objetos é que contarão com exatidão detalhes dessa história.

– Coletamos 12 amostras de tijolos do chão e 12 amostas da parede que devem contar momentos diferentes do casarão, já que ele teria passado por uma ampliação  detalha o geofísico.
Serão necessários 15 anos de mapeamento, testes e muita pesquisa para remontar toda essa história ainda desconhecida. Por enquanto o local está batizado: Charqueada Santa Bárbara.
Google Maps
Charqueada ficava à beira do Santa Bárbara, que passava pelo que seria a rua Santos Dumont

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A fantástica fábrica de doces (crônica)

Durante 2011, Fabrício Carpinejar escreveu uma série de reportagens sobre cidades gaúchas, recolhidas no livro "Beleza Interior" (Arquipélago, 2012). As matérias também estão em Zero Hora, no Facebook e no blogue Carpinejar.

O livro pode ser lido como um pequeno manual poético do Rio Grande do Sul. Sobre Pelotas, o escritor contou a história de Anette Ruas, sobrinha da doceira Nilza Ruas (texto abaixo).

Observador psicológico das essências e dos detalhes, o premiado autor de 21 livros sabe elogiar e ao mesmo tempo tocar nos pontos álgidos. Ele diz que no Rio Grande do Sul não há cidades do interior. Todas são capitais. Capital da uva, capital do vinho, capital do calçado, capital do fumo, capital do doce. O chamado interior passa a significar o universal de cada mundo interno.

Carpinejar dará uma oficina literária dias 22 e 23 de fevereiro, em nossa cidade (v. nota).


Um caderninho escolar surrado, sujo de comida, é o maior patrimônio de Annete Ruas, 53 anos. Mais sigiloso do que agenda de adolescente, mais importante do que inventário de morto.

Ela troca o objeto de esconderijo toda semana. Às vezes esconde tão bem que tarda a achar. O conteúdo vale a fortuna acumulada de três gerações.

O caderno de Anette é um mapa da doçura.
Trata-se do livrinho de receitas da família, alma da empresa "Anette Ruas". A verdadeira bíblia do açúcar, com os segredos portugueses de 40 tipos de confeitos, sustenta uma fábrica de 15 funcionários e gera uma produção de cinco mil produtos por dia.

É óbvio que a história acontece em Pelotas, cidade que é sobrenome de doce, onde até existe legislação para evitar a concorrência desleal.

Nas vitrines pelotenses, não vale colocar brigadeiro grande para ganhar a preferência do cliente. Doce de festa precisa ter até 40 gramas e o de confeitaria não pode ultrapassar 70 gramas. O melhor negrinho é sempre o menor, do tamanho de uma unha e que se desmancha na boca. O terceiro município mais populoso do Estado, a 250 quilômetros de Porto Alegre, leva a sério a atmosfera pecadora de claras, gemas, chocolate e massas. Isso explica a preocupação obsessiva de Anette em proteger suas fórmulas.

– Minha biografia são as receitas – comenta.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mestranda contribui à história de Pelotas

Simone X. Moreira
A jovem professora Simone Xavier Moreira vem pesquisando sobre autores literários gaúchos desde a graduação em Língua Portuguesa na UFPel, passando por duas especializações (v. currículo). Na mesma universidade, ela iniciou em 2010 o projeto em Linguística Aplicada "De Princesa do Sul a Satolep: as construções discursivas de uma cidade imaginada".

Agora que ela conclui seu mestrado na FURG, o tema segue aprofundando em Pelotas: A formação da Princesa do Sul: primórdios culturais e literários. A defesa é às 14h desta quarta (20), na sala 3106 do Campus Carreiros (Avenida Itália, km 8).

Seu grande mérito como pesquisadora científica é a consulta em fontes primárias, ou seja, documentos de época que revelam dados diretos (não de outros pesquisadores) sobre a realidade estudada: as origens literárias de Pelotas na primeira metade do século XIX. Seu orientador de mestrado, o professor Dr. Artur Emílio Alarcon Vaz destacou a importância desta pesquisa em 4 pontos, destacados abaixo.


Almanaque registra dados tradicionais, baseados em Simões Lopes Neto.

Dissertação modifica dados sobre a história da cultura em Pelotas

A mestranda do PPG “História da Literatura” Simone Xavier Moreira obteve acesso a diversas fontes primárias sobre os primeiros passos da cultura em Pelotas, modificando alguns dados que se tinha sobre essa cidade.

O trabalho de Simone é um dos resultados parciais do projeto "Formação e consolidação do sistema literário no extremo sul brasileiro", coordenado pelos professores Artur Emilio Alarcon Vaz e Mauro Nicola Póvoas, ambos da FURG. A pesquisa analisava o processo pelo qual se formou e consolidou o sistema literário da cidade de Pelotas. Para tanto, foram verificados os primórdios da leitura e produção cultural e literária da região.

Sobre a expressão “Princesa do Sul”

Tradicionalmente, o cognome atribuído à cidade pelotense era atribuído a um poema de 1863. Embora Mário Osório Magalhães  já indicasse que tal expressão seria de uso comum e que o poema deveria ser somente o primeiro registro escrito [v. artigo de 2006 no Diário Popular], tal versão não havia sido confirmada.

Outro pesquisador, Adão Fernando Monquelat, igualmente já advertia que a expressão usada no poema citado era "princesa dos campos do sul". Com o acesso ao acervo da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro), a pesquisadora obteve um exemplar do jornal pelotense O Brado do Sul, de 6 de janeiro de 1860, em que já se usava a expressão “Princesa do Sul” para a cidade de Pelotas.

Acesso direto a dois livros antigos pouco citados por pesquisadores locais

  • Exposição dos elementos d'arithmetica para o uso dos estudantes do collegio de Santa Barbara na cidade de Pelotas, de Antônio Luís Soares (1805-1875), publicado em 1848. Trata-se de um manual didático cujo único exemplar encontrado em bibliotecas brasileiras está no acervo na Biblioteca Rio-Grandense (Rio Grande, RS).
O achado antecipa duas datas consideradas marcos históricos por outros pesquisadores: a da publicação do jornal O Pelotense em 1851, tida como o início da imprensa pelotense, e a do “mais antigo livro editado em Pelotas”, o Resumo da história universal, em 1856 [v. citação de 2010 por Mário O. Magalhães].
Embora outros pesquisadores já tivessem citado a existência deste livro de Antônio Luís Soares, ainda não se haviam obtido dados biográficos sobre o autor.
  • A dama de Veneza, de Carlos de Koseritz [1830-1890], publicação de 1858. Novela curta de menos de cem páginas, deve ser considerado o primeiro romance publicado em Pelotas.
A véspera da batalha, outra novela de Koseritz, também foi publicada em 1858, mas não se conhece nenhum exemplar em bibliotecas públicas brasileiras ou estrangeiras. Assim como o livro didático de 1848, citado acima, A dama de Veneza já havia sido citada e analisada no livro Breviário da prosa romanesca em Pelotas, de Luís Borges (2007), que, porém, não marca o ineditismo dessa obra.
3 Poema de um pelotense em 1834

Um outro marco do trabalho de Simone Moreira é a divulgação dos poemas de Mateus Gomes Viana (1809-1839), provavelmente o primeiro pelotense a publicar seus poemas, ainda na década de 1830, no jornal rio-grandino O Noticiador, como o publicado em 15 de dezembro de 1834, em comemoração ao aniversário de D. Pedro II.

4 Documentos prévios ao surgimento da imprensa

Por fim, destaca-se a consulta aos inventários – a partir do Perfil do leitor colonial, de Jorge de Araújo (1999) – de alguns moradores de Pelotas também nessa primeira metade do século XIX, antes do advento da imprensa. Nesse material, poucas obras podem ser consideradas literárias, revelando um leitor muito mais preocupado com os acontecimentos políticos e sociais, do que direcionado a leitura como lazer.

Imagens da web

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O olhar cidadão de Alexandre Neutzling

Douglas Passos, o palhaço Roi-Roi (Emcompanhia de Palhaços)

Os cabeçalhos que desde 2009 apresentam o "Pelotas, Capital Cultural" são criações do designer Nathanael Anasttacio (v. seção Blogue). O quinto deles, colocado ontem (16), mantém o Trevo das Artes, introduzido por ele em 2011, e inova em pelo menos dois olhares: o intenso ideal de futuro, ligado ao chão em que se caminha, e as pessoas como espectadoras e protagonistas de seu meio cultural. Será a ênfase dada pelo blogue neste quinto ano de existência.

Alex Cruz, cantor e compositor (Circo Sem Lona)
Na percepção do humano, o autor gráfico se baseou nas fotografias de outro artista da luz, o fotógrafo Alexandre Neutzling (veja seus álbuns no Facebook), que já vínhamos observando em imagens no Projeto Pelotas Memória e em algumas postagens deste blogue.

As fotos escolhidas são de pessoas em relação às artes, seja atuando, seja observando. Para fora e para dentro são os dois movimentos principais da mente humana, no crescimento pessoal e na compreensão de si mesmo.

Alexandre tem um afinado olhar estético, mas é muito cuidadoso ao registrar pessoas, pois para ele, em acordo com Nauro Júnior, o fotografar artístico deve ser um ato amoroso, não uma invasão visual. Na visão de um palhaço, de um cantor, de uma bailarina, o que as fotos de Alexandre mostram é sempre amor pelo ser humano e amor pela arte que se faz. Grande parte da beleza que vemos se deve à emoção que ele nos desperta com seus personagens – dos poucos que ele fotografa – que se valem da arte para revelar-se a si mesmos e revelar-nos algo superior.
Fotos: A. Neutzling

Morgan Mahira, bailarina de danças árabes, no Piquenique Cultural

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Poema para Lígia Antunes Leivas

Ao saber do falecimento da professora Lígia Antunes Leivas, o poeta e artista gráfico Nathanael Anasttacio compôs para ela a seguinte homenagem. Sobre o autor, veja o post Poemas sociais de Nathanael Anasttacio

Foi graças à critica generosa e amiga de Lígia que resolvi publicar meu primeiro livro "Inquilinos da Intolerância", livro o qual ela tão gentilmente apadrinhou com seus elogios e texto de orelha. Ela emocionou-se, lembro bem, ao ler a contracapa do meu segundo livro e disse que eu jamais parasse de escrever. 
Sinto muito ela não poder ver meu próximo livro, a ser lançado este ano ... mas com certeza será em homenagem a esta poetisa exemplar, amiga e incentivadora que com certeza fará muita falta à cultura pelotense.


A estrela de Lígia

Li ...

No céu a estrela fria
Soube há pouco ... uma estrela sumia
Agonia-me saber ... a estrela morreu

A estreia e a estrada
A poesia que me comoveu ...
Por onde andas, brilho oportuno ???

... brilho daquilo que a poetisa escreveu

Tuas dores ... pontas e farpas
Teu lirismo ... entendimento meu
Tuas letras ... aquilo que em mim doeu

E dói pensar que a voz da escrita silenciou

Ou ... a escrita que nos tornou sozinhos
Ou ... em mim as palavras brotam
Ou ... assim ... noutros pontos calados do caminho

A estrela sucumbiu deixando um rastro
E onde hoje é breu
Ontem foram palavras cadenciando frases e princípios

Na cadência da poesia
Na estrada da estrela ... poetisa
Na simplicidade da grande estrela literária

Brilha em mim a memória do teu talento
Poetisa e poética
... partindo no momento do apogeu

Nathanael Anasttacio

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Lembrança de Clayr e a Pelotas dos anos 50, segundo Timm

José Ubirajara Timm
(Caçador - SC, 14-07-1929)
José Ubirajara Coelho de Souza Timm foi vereador pelo PTB em Pelotas (1956-1959) e jornalista d'A Opinião Pública, vespertino que circulou até 1962. 

Ele escreveu em 2008 a crônica abaixo, em homenagem ao amigo e colega Clayr Lobo Rochefort, recheada de sentidas lembranças da Pelotas dos anos 50. Transcrevi o texto do Diário Popular (Exemplos de integridade e caráter) e introduzi subtítulos. 

Ambos pelotenses adotivos, Timm seguiu carreira no Ministério da Agricultura e Rochefort ficou em Pelotas, onde veio a falecer em 2012 (leia nota neste blogue).


Aniversários Os 118 anos de existência ininterrupta e exitosa do Diário Popular – atualmente exemplo de modernidade e competência empresarial entre a imprensa gaúcha – e os 80 anos de vida e 60 de jornal de Clayr Rochefort, estão sendo merecidamente comemorados em Pelotas e em âmbitos maiores. Clayr dedicou sua mocidade e cerca da metade de sua fecunda existência ao Diário e à então A Opinião Pública, o mais antigo vespertino do País, legado de João Simões Lopes Neto, mas tristemente já extinto.

Comemoração dos 80, em maio de 2008
Sugestão A notável trajetória de Clayr e a sua simbiose com o Diário (na integração de criatura e criador) certamente servirá de inspiração e razão suficiente para alimentar ansiada e momentosa biografia do nosso querido octogenário.

Tenho esperança que nossa festejada Iracema com seu talento em prosa e verso e com seu imorredouro amor pelo Clayr; ou os filhos de ambos, o Théo, também ótimo jornalista, e a psicóloga e professora mestra em Letras Thaís, se encumbam dessa impositiva missão.

Caráter íntegro Na exiguidade do espaço reservado a uma simples crônica, limitarei minha abordagem apenas em ressaltar dois dos muitos valores que engrandecem a rica e complexa personalidade do Clayr: a integridade e o caráter, que se refletem diuturnamente no comportamento do Diário Popular. “Agir com retidão e imparcialidade” (integridade) e ter “firmeza e coerência de atitudes, domínio de si” (caráter) são comportamentos devidos por todos, mas na realidade atual cada vez mais raros, sobretudo no meio político e também na atividade da imprensa. Clayr é uma honrosa exceção a essa regra.

Convivência Somos amigos há cerca de meio século. Convivemos intensamente nos melhores anos de nossa mocidade, inicialmente ele como diretor de Redação do Diário e da Opinião; eu como iniciante membro de uma irmandade de jornalistas na árdua missão diária de redigir, ilustrar, paginar e acompanhar a composição e impressão de dois jornais sem dispormos dos atuais e imensos recursos cibernéticos.

Aldyr Garcia Schlee, por Salomão Scliar (anos 60)
A velha equipe Daquela inesquecível equipe comandada pelo Clayr poucos restam. Osmar Flores, Pedro Miquelarena, Elias Bainy, Ernani Cavalheiro, Ramão Barros, Irajá Nunes (que tinha no Clayr o arrimo de um pai), Eliseu Alves, Doutor Coufal e “seu Patzer” (diretor-gerente, financeiro, mas que nos tratava carinhosamente como filhos) já não pertencem ao nosso mundo.

Para felicidade nossa, Aldyr Schlee – na época magérrimo e imberbe mas já evidenciando sua múltipla genialidade – se revelava com a firmeza do caráter e da integridade mantidos nesses seus 70 anos de vida exemplar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Animais em extinção no Estado

Tatu-bola, por Heloísa Motta
Em janeiro de 2013 o Corredor Arte do Hospital Escola UFPel/FAU recebeu uma exposição do Ateliê Giane Casaretto, que tem uma criação permanente desde 1991 e cada ano participa em pelo menos três exposições coletivas.

A mostra se compôs por duas séries, produzidas em 2012 pelas artistas que frequentam o Atelier: “Meu Jardim”, de livre criação, e “Animais do Rio Grande do Sul em Extinção”, obras em tinta acrílica ou aguada, para a qual foi feita uma pesquisa e uma distribuição dos conteúdos.

Esta nota se refere somente à segunda série, dado o seu caráter educativo. Os trabalhos foram criados pelas técnicas habituais do Ateliê, que incluem pesquisa sobre um tema geral e o desenvolvimento de algum aspecto técnico que contribui ao aprimoramento do artista. No entanto, se considerarmos a importância pública de conhecer e valorizar a fauna e a vida natural que nos rodeia, esta exposição deveria ir além do meio artístico e ser usada como instrumento em alguma campanha, museu temático ou atividade escolar.

Lobo-Guará, por Rosamélia Ruivo
Na pesquisa prévia à produção das obras, foram estudados os animais que estão em extinção no Rio Grande do Sul, entre os tantos ameaçados de desaparecer no Brasil. Foi analisado o habitat, a textura de pele ou penas, a postura e a importância na natureza, entre outros aspectos. Depois da produção, algumas obras foram selecionadas para esta mostra.

Como o ser humano é um mamífero, é mais fácil que os artistas e o público se identifique com esta família animal, que é somente uma que enfrenta os perigos da sobrevivência. Em todo o mundo há milhares de espécies (aves, répteis, peixes, insetos) ameaçados de extinção (veja reportagem da Revista Época).

Uma das ameaças é o florestamento comercial com árvores exógenas ao ambiente dos animais (veja uma lista de espécies em perigo no Estado). O Livro Vermelho, projeto ligado ao Museu de Ciências da PUC-RS, publicou em 2002 a primeira lista gaúcha de animais que requerem proteção (eram 261 espécies), mas ela já está desatualizada (veja notícia de Zero Hora).

O quero-quero não está ameaçado de extinção (v. descrição do sítio Notícia Animal), mas Maria Lúcia Drummond o escolheu por ser a ave símbolo do Rio Grande do Sul (lei 7418). O trabalho (abaixo) foi exposto no Ateliê Giane Casaretto em dezembro de 2012. A artista quis desenvolver a técnica de jogar com a nitidez, para destacar os traços da figura em primeiro plano, deixando o fundo mais indefinido, como uma fotografia desfocada.

A cultura gaúcha se identifica com o quero-quero, que interage com o ser humano tanto no meio rural como no urbano. No entanto, é comum em toda a América do Sul; de fato foi primeiramente descrita em 1784 no Chile, onde é popularmente conhecida como queltehue (keltrewe, palavra de origem mapuche).
Imagens: F. A. Vidal

Quero-quero, por Maria Lúcia Drummond

Cemitério de pneus e pecados

Este depósito de pneus não é um simples lixão, visão desagradável em si mesma, nem somente um gigantesco foco de dengue. A imagem mostra como um projeto bem intencionado é detido pela burocracia e pela política mal conduzida.

Os pneus velhos podem ser reutilizados na indústria (v. reportagem do Jornal da Globo), na arte (v. esculturas à base de borracha) e na ecologia. Em 2008, o arquiteto pelotense Fernando Caetano criou uma forma de aproveitar pneus radiais na confecção de tubos hidráulicos, chamados ecotubos (veja notas da Prefeitura, da EcoAgência, do jornal Minuano e do Correio do Povo).

O projeto não foi continuado e os pneus se acumularam no Ecoponto, antiga olaria na avenida Francisco Caruccio 468. Um desastre evitável e em progressivo aumento, mas invisível para as autoridades. Se não ferem a legalidade, pelo menos são testemunhas da estupidez humana.

A denúncia foi feita em 2010 pelo antigo Amigos de Pelotas. No mesmo ano, Nauro Júnior filmou os pneus e escreveu o texto abaixo no blogue Retratos da Vida.

Pneus abandonados têm moradia clandestina. A imagem sugere que estão organizados e atentos.

Uma novidade lançada em Pelotas em abril de 2008, até agora parece não ter saído do papel, ou melhor, de um depósito onde estão jogados milhares de pneus velhos. Segundo o zelador do local, mais de 5 mil toneladas de pneus estão acumulados em um terreno na periferia da cidade. 
Os pneus são de um projeto chamado Eco-Tubo, que nasceu para resolver os problemas de esgoto a céu aberto. A empresa fazia tubulação de esgoto com os pneus, que chegava a custar 75% do valor dos tubos de concreto, mas por causa de uma pendenga com a Prefeitura o trabalho deixou de acontecer e o depósito em uma antiga olaria cresce cada vez mais. 
Moradores da localidade reclamam e dizem que o lugar pode se transformar em um foco de mosquito da dengue e, se não for resolvido o problema, eles vão colocar fogo nas montanhas de pneus.
Nauro Júnior
Foto: ONG CEA

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Janta de rua

Janta de Rua no Facebook
Ao anoitecer de cada terça-feira, os jovens da Comunidade Eclesial da Trindade entregam refeições a pessoas carentes e moradores de rua, na esquina da Sete de Setembro com a Barão de Santa Tecla.

Eles pedem doações em alimentos não perecíveis (arroz, feijão, massa, óleo, suco), colheres e copos plásticos grandes e caixas de leite limpas e vazias para servir de prato.

Contatar Janaína ou Marcelo Brayer nas terças: na Av. Visconde de Pelotas 451, COHAB Tablada (14-18h) ou na esquina citada (desde 20h). Quanto mais ajudarmos a quem precisa, mais estaremos ajudando a nós mesmos.

POST DATA
5-4-14
Outro projeto é o Sopão de Rua, que serve comida e outros benefícios básicos a moradores de rua na Anchieta quase esquina Bento Gonçalves, nas quintas-feiras às 19h.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Márcio renunciou ao cargo, não ao carnaval

Rei Momo de Pelotas desde o carnaval de 2000, Márcio Luiz Soares Goulart decidiu em 2012 não mais se candidatar e assim fez. A apresentação dos candidatos à Corte 2013 foi realizada terça passada (5) no Casarão nº 6, com nove possíveis reis (v. notícia), e Márcio não era um deles. Hoje com 32 anos, ele começou sendo ainda aluno da Escola Joaquim Duval, do bairro Santa Teresinha.

A escolha da nova corte foi no estádio do Pelotas, sábado (9), adiada 10 dias em respeito à tragédia de Santa Maria. O ganhador foi Gabriel dos Santos Goulart (v. notícia com fotos), 19 anos, 120 quilos, bem mais magro que Márcio, que tem 2 metros de altura e 168 quilos. Um Rei Momo não precisa ser feio ou gordo, mas sim brincalhão, pois representa o antigoverno, a autorização da desordem e da festa (veja na Wikipédia).

Querido por todos, Márcio (32) já estava virando símbolo pelotense.
Depois de 13 anos com a coroa, Márcio pretende dedicar-se aos estudos em algum curso universitário. Diz ele que não é fácil retirar-se mas tomou a decisão com certeza. A rotina cansa e a popularidade se mescla com discriminação. "Solteiro convicto", perdeu namoradas justamente por estar rodeado de belas mulheres.

Quer "abraçar o mundo", renovar e ampliar sua experiência de carnaval. Revelou que tem convites de Porto Alegre e Rio de Janeiro para seguir reinando (v. reportagem do Diário Popular). Acusa a desunião de carnavalescos e aconselha ao novo governo que não ignore a corte, mas a utilize em projetos sociais, para o bem da juventude.

Não é fácil deixar um cargo, ainda que somente simbolize poder, pois a pessoa se acostuma às vaidades como se fossem direitos. A sanidade mental e social implica em evolução e mudanças constantes, sem que se perca um núcleo de identidade própria e de vinculações. Por exemplo, é preciso cuidar da saúde física e do intelecto. O recordado Jorge Ari, Momo pelotense antes de Márcio, morreu no cargo, e era obeso mórbido.
Foto: C. Queiroz (DP)

"Náufrago" será filmado

Nauro Jr. não publicou em seu blogue nem no Facebook. Preferiu dar a notícia ao Diário Popular, que a publicou esta segunda (11): "Náufrago de um mar doce" vai virar longa-metragem. Mas quem leu a coluna do Mansur sexta (8), no mesmo jornal, soube antes.

O escritor-fotógrafo vinha guardando o segredo desde dezembro, quando Henrique de Freitas Lima, que dirigiu Concerto Campestre, soube do livro e, mesmo sem lê-lo inteiro, pediu ao escritor a preferência para filmar a história. O cineasta também dirige a produtora Cinematográfica Pampeana.

Nauro aceitou e contrapropôs que a comunidade pelotense participasse na construção do filme. Assim, o roteiro será feito por Rafael Andreazza, diretor da Moviola Filmes, que fará a coprodução. Alunos de Cinema da UFPel também serão convidados a participar.

Algo interessante desta novidade, guardada por dois meses como segredo pelos envolvidos, é que o fotógrafo de Zero Hora em Pelotas aparece na primeira página do outro jornal da cidade (dir.) e ainda tem uma página inteira, só para ele, bem no centro da edição (fotos de Moisés Vasconcellos).

Afinal de contas, Nauro foi o autor local que mais vendeu na Feira do Livro em 2012, e em toda a história da Feira. Já está preparando a 2ª edição do Náufrago, acrescida de um novo desenho de Pablo Conde e de um mapa da Lagoa dos Patos. Como contou na entrevista ao jornal, Nauro vai divulgar o livro nas escolas para que sirva como incentivo à leitura e ao pensamento. Ele quer que as crianças entendam o valor do estudo e da iniciativa, parecido a como o personagem do livro optou pela vida.
Podemos passar por grandes dificuldades, mas a gente tem que reagir, e a educação é de extrema importância nisso.
Sobre esta epopeia do escritor que escreve com luz veja os posts Nauro escreve um livro de palavras (com um trecho do livro), Nauro traz um pouco de luz a este mundo (com testemunhos pessoais do autor) e Nauro autografa em Porto Alegre.

Cidades irmãs, tão longe e tão perto

O Diário do Matuto, do professor de História rio-grandino Felipe Nóbrega, usa linguagem educada e elegante, mas a crítica é impiedosa. Nesta crônica, que foi despertada pelo aniversário dos 200 anos, o tema é Pelotas e seu momento atual em relação a Rio Grande: segundo o autor, a primeira se desenvolve (culturalmente) mas não enriquece, e esta cresce (na economia) e se vulgariza. 

O autor conhece bem as duas cidades, mas as descreve em tom depreciativo, como duas irmãs que se invejam e maltratam desde o nascimento. Ele não faz ficção, mas traça um panorama tragicômico. Ambas são antigas e empobrecidas, mas Pelotas sabe usar seu bairrismo para atrair turistas (Pelotas, cidade tão rica). O público pelotense é culto mas não consegue ter um bom cinema (A cidade que merece filmes piratas). 
O Matuto percebe Pelotas como subúrbio habitacional de Rio Grande e também como bairro cultural e intelectual. Para ele, o porto marítimo seria somente um bairro de empregos. Não haveria um centro ou matriz; somente fragmentos urbanos. Veja na Wikipédia o conceito de cidade dormitórioCom tal pessimismo, estes municípios nunca se associariam, ficando para sempre como caricaturas. 

O Canal São Gonçalo já foi proteção que permitiu o crescimento econômico; hoje parece uma muralha intransponível.


Pelotas tem muita dificuldade em admitir um sintoma: está se tornando uma cidade dormitório de Rio Grande. E a tendência é cada vez mais entrar nesse movimento no qual Rio Grande é o local onde se ganha dinheiro, Pelotas é o local onde se gasta e se dorme.

Recapitulando: Pelotas era parte de Rio Grande, virou cidade, se transformou num polo econômico fundamental do Estado, estagnou. Rio Grande, por vias de uma política pública federal do governo Lula, recebeu o investimento do Polo Naval, cresceu, não se desenvolveu e fez com que Pelotas voltasse à cena para abocanhar a fatia de serviços que Rio Grande não é capaz de prestar – fundamentalmente, um comércio de qualidade e cultura.

Não é raro ouvir ironias antipelotenses como esta.
O prefeito Fetter Jr. não escondeu o desconforto ao ser perguntado sobre o fato do reaquecimento da economia pelotense estar diretamente ligado, e ser devedor, do Polo Naval na cidade vizinha. Desdobrou-se em oito para não admitir isso.

O motivo? Bem, Rio Grande e Pelotas é como um eterno Brasil-Argentina. Outro motivo: o partidário. Fetter não reconheceria que é por vias de uma administração petista que a Região Sul do Estado voltou a ser importante no cenário nacional. Seria demais para ele assumir a dupla derrota em tempos de duzentos anos.

Não há como negar que a infraestrutura de Pelotas é infinitamente maior do que a de Rio Grande – em se tratando de prestação de serviços e comércio. Mas não fica só por aí, na questão cultural não existe nível de comparação entre as duas cidades.

É vergonhoso que Rio Grande consiga ter apenas um ou dois bares que não se rendem ao pagode universitário, sertanejo universitário e funk universitário após ás duas da madrugada. Do mesmo jeito, é gritante a diferença no que tange à possibilidade de espaços para exposições, pontos de cultura e afins – em Rio Grande esses espaços ainda estão grudados nas mãos de uma elite moribunda.

Vira-lata à espera do Primo Rico.
Claro que Pelotas tem seus problemas, aliás, muitos que estão debaixo do tapete nessa festa de 200 anos, mas não há como negar que a cidade soube fazer uso da própria tradição para ganhar dinheiro.

E tanto sabe que, mesmo não sendo a cidade polo dos investimentos, está tirando mais proveito do que a própria Rio Grande quando o assunto é “desenvolvimento” e não “crescimento”.

Pelotas, mesmo como uma cidade dormitório que ainda não se assumiu, continua sendo o Primo Rico da cidade com síndrome de vira-lata chamada Rio Grande.

Felipe Nóbrega
6 julho 2012
Fotos: L. Bittencourt e Diário do Matuto

domingo, 10 de fevereiro de 2013

"Olhares sobre uma exposição": história da Recotada (2010)


O documentário "Recotada  Olhares Sobre uma Exposição" foi produzido em 2010 pelos jornalistas Camila Sequeira, Cassiano Garcia de Miranda e Márcio Mello, dentro do projeto experimental "Documenta: Arte-Cultura-Moda", uma produtora audiovisual, hoje desativada.

O curta-metragem de 18 minutos, que foi o primeiro trabalho da Documenta, estreou em 18 de agosto daquele ano no projeto municipal Sete Imagens e teve apresentação oficial na UFPel em 9 de setembro. Esta sexta (8) o filme foi destaque no programa Curta TVE (veja nota).

Curadores Adriane, Patrezi (atrás) e Tiago 
A Recotada realizou-se de 27 de março a 1 de abril daquele ano, nos cinco andares da antiga  fábrica de massas Cotada, defronte ao Porto de Pelotas.

Foi a terceira intervenção artística do prédio abandonado. A exposição "Arte no Porto III", idealizada pelo professor José Luiz de Pellegrin em outubro de 2009, foi a primeira.

Pellegrin também participou como orientador na Recotada, que teve a curadoria da professora Adriane Hernandez e dos estudantes Patrezi Carvalho da Silva e Tiago Brandão Weiler (esq.).

O trabalho coletivo foi um Projeto de Extensão Universitária da UFPel, e reuniu obras de diferentes linguagens (essencialmente visuais) como desenho, pintura, instalação, vídeo, intervenção, gravura, objeto, fotografia, grafitagem e performance.

Documentaristas Márcio, Camila e Cassiano, com Adriane
A megaexposição teve cerca de 140 obras de 80 artistas, num formato expansivo (na horizontal e na vertical) inspirado na série de mostras "Arte no Porto", ideadas por Pellegrin. Deu também um passo adiante, tanto em quantidade formal como em qualidade de conteúdo.

Os curadores dispuseram o graffiti no térreo, recriando o nível concreto das ruas, e nos andares superiores, trabalhos com crescente conceitualismo e nível acadêmico. Algumas obras cruzavam vários andares, fragmentadas ou passando através de orifícios.

Uma equipe de mediadores, selecionada pela professora Duda Gonçalves, acolheu os visitantes que se dispunham a ser acompanhados e comentar aspectos da exposição. Mais informações no blogue Recotada.


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Imagens do Teatro antes de fechar


Em 23 de outubro de 2009, o Teatro Sete de Abril lotado assistiu ao espetáculo "Assuma Sua Negritude", de Geanine Escobar e equipe, dentro do 3º Encontro de Teatro de Pelotas (veja nota). No palco, Geanine e o percussionista Daniel Simões dos Santos, com cenografia de Aloisio Licht; na plateia e camarotes, alunos de escolas municipais e grupos convidados.

A fotografia é um dos últimos registros do Teatro em atividade, o qual foi interditado em março de 2010 e segue fechado até hoje. Vale a pena recordar a importância da arte e do teatro na educação, para aprendermos a cuidar do que é nosso capital cultural. Veja mais imagens do Sete de Abril no vídeo Espetáculo Assuma Sua Negritude.
Foto: R. Marin (Facebook)