sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ana Paula Maciel

Ana Paula gera discussão sobre o pacifismo verde.
O projeto cultural da UFPel "Quartas no Lyceu", inciado em 2013, aborda este mês o tema "Política e cidadania: em defesa do planeta". No módulo Ideias e Pensamentos, realizou-se anteontem (12-2) uma conversa entre a bióloga Ana Paula Alminhana Maciel (dir.), ativista gaúcha do Greenpeace, e a professora Ana Paula Nunes, responsável pela gestão ambiental na UFPel (v. artigo Quartas no Lyceu recebe ativista do Greenpeace).

A gaúcha de 31 anos graduou-se como bióloga em 2007 (v. nota da ULBRA) e desde 2006 atua como marinheira da ONG internacional Greenpeace (veja sua história em notícia do Instituto da Unisinos e em artigo do Greenpeace). Junto a outros ativistas, foi presa na Rússia em setembro de 2013 (v. notícia do Correio do Povo), retornou ao Brasil em 28 de dezembro (v. reportagem da chegada a Porto Alegre) e deu entrevista a Zero Hora no dia seguinte.

Ana Paula no Greenpeace 
Excepcionalmente, a atividade da UFPel foi realizada no auditório do Direito, devido à ocupação do prédio, desde quinta (6-2), por alunos que exigem melhores condições de estudo (v. notícia do Diário Popular e uma nota da UFPel de 11-2). A casa que foi doada pela família Antunes Maciel para que nela funcionasse o antigo Liceu Rio-Grandense não recebeu a senhorita Ana Paula Maciel, ironicamente devido a um protesto pacífico.

A moça gera polêmica, a seu favor e contra, e não para de manifestar-se em debates e na mídia (v. sua página pública no Facebook). O blogueiro "de esquerda" Luiz Afonso Escosteguy, que costuma se descrever como "chato", questionou Quem é Ana Paula Maciel? Agora a advogada Bianca Pazzini relata seu primeiro encontro com a ativista Ana Paula (artigo abaixo, exclusivo para este blogue). Bianca também é porto-alegrense, reside em Pelotas há três anos e é pesquisadora em Direitos Humanos e Meio Ambiente.



Ana Paula Maciel e o Ativismo de Embarcação
Bianca Pazzini – advogada

Nesta última quarta-feira (12) presenciei mais uma edição do “Quartas no Lyceu”, projeto criado e inserido dentro do glorioso programa “UFPel Cultural”. Na ocasião, apresentou-se uma conversa da professora Dra. Ana Paula Nunes, responsável pela Gestão Ambiental da Universidade, com a bióloga Ana Paula Maciel. Ativista gaúcha do Greenpeace, a última esteve presa pelo período de 62 dias em território russo, enquanto protestava em desfavor da exploração de petróleo no Círculo Polar Ártico. Tal acontecimento causou grande movimentação e comoção mundial, resultando em notoriedade para o movimento e status de celebridade para a ativista.

A causa defendida é de grande importância global, não há dúvidas. Assim como para outros movimentos de defesas de direitos (ambientais, animais, sociais, raciais, sexuais, etc.), o ativismo ostensivo trata-se de ferramenta de suma relevância na evolução social e jurídica dos povos. Nisso não há o que discutir. E ouvir a Ana Paula Maciel, nesse sentido, foi de grande valia. Por sua experiência de 10 anos de ativismo junto ao Greenpeace, ela narrou, além da experiência na Rússia, alguns episódios que sugerem a dimensão dos problemas ambientais do planeta.

Ocorre que, embora muito bem intencionada, pairou sobre sua fala certa superficialidade no conhecimento de causa. Além de um exagerado humor para abordar uma questão tão cara – o que comprometeu um pouco a seriedade de sua fala –, a ativista emitiu opiniões controversas sobre determinados temas, minadas do mais perigoso senso comum.

Isso transpareceu especialmente em momento final do evento, no qual tive a oportunidade de questioná-la acerca de suas posturas pessoais, pontualmente no que diz à questão do consumo ético [v. vídeo explicativo] e hábitos cruelty-free. A pergunta pareceu propícia ante às reflexões (até aí acertadas) sobre a necessidade de respeitarmos todas as formas de vida no planeta. Surpreendentemente, a resposta emitida, em sentido contraditório, revelou uma total desconsideração às vidas não humanas. A bióloga informou que, além de não se abster de qualquer produto de origem animal (especialmente do consumo da carne, por entender que se trata de uma iguaria “gostosa”), entende o uso de animais como conveniente para o homem.

A grande falácia em seu discurso transpareceu quando da afirmação de que consumir vegetais pode causar o mesmo sofrimento do que consumir animais. Segundo ela, é pretensão do homem pressupor que os vegetais não sofram. Ora, sabe-se que o discurso da “alface que chora” é tendencioso e não verdadeiro. Deveria ser evidente, especialmente para quem tem formação em ciências biológicas, que a existência de um sistema nervoso central é fundamental para ocorrer o sofrimento. Os animais ainda diferenciam-se dos vegetais pela potencial senciência, que é capacidade de sofrer ou sentir prazer.

Bianca Pazzini
O ativista não é um semideus, mas tem um importante papel na transformação social. A evolução de cada um de nós e do ambiente que nos rodeia só ocorrerá se agirmos, em todas nossas condutas, com o máximo de retidão de caráter que pudermos. A posição do formador de opinião requer uma revisão completa de valores, e não uma mera abstenção de jogar lixo pela janela do carro.

A própria Ana Paula Maciel, em seu discurso, aduz que não precisamos ser os melhores em tudo, mas devemos ser o melhor que pudermos. Logo, é contraditório afirmar que algo deve ser feito se não o praticarmos em nossas ações mais banais. Em suma, de nada adianta um ativismo midiático e “de embarcação” em detrimento de uma verdadeira racionalização e revisão de hábitos.
Fotos: P. Pires (DC), GreenpeaceCNPq

POST DATA
14-2-14

– Conforme a coluna de Hélio Freitag, os ocupantes do Liceu receberam quarta (12-2) a visita da ativista Ana Paula. Ela disse que apoia a manifestação dos estudantes a favor da qualidade de ensino e que a educação não está em primeiro plano no Brasil (Diário da Manhã, 14-2-14, p. 2).
– Veja também entrevista no programa Frente a Frente, na TVE gaúcha, em janeiro passado (4 segmentos totalizando 1h).

15-2-14
Ana Paula fala ao Diário Popular num corredor do Mercado Central (acima).


4-4-14
Ana Paula ganhou ensaio fotográfico na Playboy brasileira de abril (v. notícia). Ela aparece nua entre árvores, como Eva num paraíso solitário, mostrando uma coerência entre natureza que ela defende, o naturalismo que ela aceita e a naturalidade que ela vive. 
Se bem as fotos divulgadas hoje (dir.) são bem comportadas, ela maliciou com a própria nudez dizendo "a gente vai ver se o desmatamento é zero" (nota de Zero Hora), mostrando aí outra coerência: entre liberdade mental e liberdade corporal, uma antiga bandeira feminista. 

4 comentários:

vazubel disse...

Creio que a informalidade e o tratamento que a convidada deu ao encontro, de certa forma incomodou a alguns participantes. No entanto, a mesma não se preocupou em ser simpática a quem lhe ouvia, mostrou-se verdadeira e apresentou seus valores. Se estão de acordo com o que pensamos alguns de nós, isto é outro ponto. O que é certo, o que é errado, tem relatividade na medida em que não temos conhecimento nem domínio total sobre fatos e pessoas.

Francisco Antônio Vidal disse...

Pois é, quanto mais conhecimento temos, mais opiniões desenvolvemos sobre fatos e pessoas. O difícil é permanecer imparcial, pois também nossa visão está influída por nossas opções políticas ou religiosas.

O artigo não é neutro, mas reconhece que a ativista sabe o que acontece na área dela. Em todo caso, os ambientalistas mais radicais e apaixonados acham que o cuidado do planeta inclui necessariamente não maltratar nem comer animais. Mas nem todos têm a obrigação de ser radicais.

Anônimo disse...

O artista Júlio Guarany publicou no Facebook hoje (02-03) uma resposta a este post.


QUARTAS NO LYCEU ?

Gostaria de dizer em algumas linhas, o que estou sentindo em relação à visita da Ana Paula à Pelotas-RS, no último dia 12/02, quando foi interrogada no Lyceu. Uso o termo interrogada pois foi o que digeri de sua entrevista, no blog do Sr. Francisco Vidal-Pelotas Cultural, percebi que as pessoas estavam esperando por respostas mirabolantes, intelectualizadas, com profundos aspectos científicos abordados etc. E o que percebi foi que Ana procurou ser prestativa de sua experiência vivida na Russia, para que em algum momento isso possa contribuir a alguém que queira tomar rédeas de sua vida, e ousar fazer algo de mais prático pelo planeta, que agoniza. Enquanto alguns estão preocupados com respostinhas elaboradas, ou perguntinhas de cunho intelectual e científico que nada agregam ao nosso cotidiano, muitos agonizam por soluções.

Ninguém percebe, vejo eu, o quanto deve ter sido angustiante para Ana e sua família, o desfecho daquela situação, e o que realmente passava em sua cabeça, do que estava por vir, o que realmente os russos seriam capaz de fazer com os ativistas.

Enquanto isso, aqui estava eu no calçadão de Pelotas-RS, lutando para colher assinaturas para o Desmatamento Zero, em duas mobilizações que realizei, e não me lembro de ter conversado com ninguém ou ter recebido ajuda de uma entidade de Pelotas para tal evento, a não ser claro do Povo Pelotense que acolheu e assinou pelo desmatamento zero, e também pela assinatura e envio de ajuda aos ativistas na Rússia.

Por que digo isso?

Porque me entristeço com a atitude de pessoas que estão com seus traseiros colados nas cadeiras de órgãos públicos federais, que ficam preocupados se uma ativista come ou não come carne vermelha, se é ou não vegetariana, como se isso fosse tudo, ou se fosse uma exigência para estar no Greenpeace.

Se seres vivos com sistema central sente ou não dor, ora senhores (as) acordem !
Ana respondeu bem que vegetais também sentem, quando os cortamos, pois são organismos vivos, estão conectados aos corpos sutis do universo, assim como nossa energia vital está. O Planeta é um Organismo Vivo, tudo esta relacionado, até mesmo os pensamentos de pobreza da mente.
Francisco Xavier dizia; "Enquanto evoluímos, vamos comendo nossa carninha de todos os dias, o importante é criar pensamentos novos e disciplinar os lábios".

Senhores e Senhoras acordem, deixem os egos de lado, seus diplomas e cargos de referência e assumam o papel de co-colaboradores do Criador do Universo, que não excluía, não preconceituava, não rotulava (como ouvi dizer que; Ana é uma ativista mediática, de embarcação).

Ora vão plantar batatas, milho e feijão, e ajudar a fazer do Brasil uma Grande Nação, pois grande parte dos recursos dos impostos vem do suor de quem labuta de sol a sol, e não é empregado público, ok?
Pensem que quando um ativista embarca em um navio do Greenpeace, e sai para tomar uma atitude ousada pelo planeta está também fazendo por todos nós, e por vezes acaba por não voltar para casa por conta disso. Pensem que quando vocês criticam pessoa, ou pessoas, estão crucificando novamente a Jesus, na cruz. Isso vale para todos os críticos de plantão, com seus aspectos racional e instrumental, baseados apenas na matéria que apalpam, pois lhes digo; que além desse mundo a matéria não é palpável, porque simplesmente ela não existe, é um éter de solidão, só, com elétrons passando para cá, e para lá. Matéria não existe, o que existe são energias de luz, que se constroem e dão forma a tudo que se conhece por matéria, e que se desintegram em um piscar de olhos.

Aplaudam Ana Paula, pois ela venceu o medo, e foi lá e fez por todos nós, tenham gratidão ao Universo, aos alimentos, as pessoas que são nossos enviados, nossos anjos. Vençam a si próprios! Muito Obrigado ! Júlio Guarany

Veg Power disse...

Mais uma hipócrita... biólogos que acham que há sofrimento vegetal... pqp ser ecologista de greenpeace é o fim msm!