sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Filho amado, cidade protegida

Nesta tarde de chuva, o fotógrafo Nauro Júnior tomou esta imagem na Praça Coronel Pedro Osório e a legendou assim no Facebook:
Satolep está nostálgica nesta tarde de sexta-feira. A beleza do cinza e o romantismo saudoso eu deixo para os Desgarrados desta linda Satolep.
A escultura é uma arte que contém movimento, pois o espectador deve deslocar-se para apreciar os vários aspectos da obra. Neste inusual ângulo do monumento à Mãe, de Antônio Caringi, o artista compartilha conosco a sua visão de Pelotas, ficando na altura do filho e colocando a poderosa mão materna sobre a cidade. Um convite para sentirmos o amor que vem de cima, necessário para acreditar em nós mesmos e progredir na vida.
Foto: Nauro Jr

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Trio Universos e um computador de câmara

O Trio Universos, formado por Daniel Murray (violão), Giuliana Audrá (flauta) e Sergio Kafejian (violão e computador), apresenta-se por primeira vez em nossa cidade na próxima segunda-feira (3). O grupo formou-se em São Paulo há três anos e se encontra, desde a semana passada, em sua primeira turnê nacional, por 12 cidades, incluindo três gaúchas (Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas).

O Trio realiza recitais de música eletroacústica (com instrumentos acústicos e sons gerados num computador) no gênero da Improvisação Livre. Nesse tipo de trabalho, cada músico compõe e estreia a execução de sua obra, ao mesmo tempo em que a ouve em condição de público, pois o som do conjunto é amplificado na sala de concerto. A experiência de um concerto neste gênero é sempre um momento único e sem repetição, o que recorda a essência do tempo e do fato musical.

Além da improvisação com instrumentos eletrônicos e acústicos, os músicos do Trio Universos desenvolvem pesquisa em nível de mestrado e doutorado. Eles criam timbres e sonoridades próprias, mediante instrumentos modificados especialmente para seu trabalho.

O concerto e palestra-laboratório será no Conservatório de Música às 19h. A modo de entrada, solicita-se levar uma doação de material de limpeza ou higiene, que será doado a instituições locais. No vídeo abaixo, uma experiência com desenho de luz (light painting) e o fundo musical do Trio Universos.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Itamar contribuiu à integração de fronteiras

Na próxima sexta-feira (30), será lançado o livro “Itamar Franco: Homem público democrata e republicano”, uma coletânea organizada pelo historiador Ivan Alves Filho e pelo jornalista Francisco Inácio de Almeida, da Fundação Astrojildo Pereira. O lançamento será na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

A obra traz uma série de reconhecimentos à figura do ex-presidente Itamar Franco (falecido em julho passado), escritos por autoridades públicas, personalidades políticas e intelectuais de várias partes do Brasil.

Num dos textos (transcrito abaixo, na íntegra), o atual reitor da UFPel, Antônio César Gonçalves Borges, agradece as decisões do governo de Itamar (1992-1994) referentes ao Tratado Brasil-Uruguai da Lagoa Mirim (leia o texto, assinado em 1909).

Na década de 1990, a Universidade foi pioneira nas ações de integração com o país vizinho, criando a Agência para o Desenvolvimento da Lagoa Mirim e do Centro de Integração do MERCOSUL (leia nota da UFPel, de 22-9-11). Em 2010 (Governo Lula), a UFPel fundou, em Santana do Livramento, o Núcleo de Estudos Fronteiriços, único no Brasil em suas características (leia nota).

Itamar Franco e a Fronteira Brasil-Uruguai
Antonio Cesar Borges, Reitor da UFPel

A recente perda de Itamar Franco conduz à singela homenagem de quem, havidos quase vinte anos, conheceu, através da atitude decisiva do ex-Presidente da República, o seu amor pelo Brasil.

Reporto-me aos idos de 1993, quando, a partir da extinção da SUDESUL, órgão pertencente ao antigo Ministério do Interior, a UFPEL recebia as atribuições de administrar o lado brasileiro do Tratado Brasil-Uruguai da Lagoa Mirim, firmado há pouco mais de um século, consolidando os vínculos históricos e culturais entre as duas nações.

O decreto 1148, de 26 de maio de 1994, tornou a UFPEL uma instituição pioneira nas ações de integração fronteiriça com resultados imediatos: foi criada a Agência para o Desenvolvimento da Lagoa Mirim e, no ano seguinte, foi inaugurado o Centro de Integração do MERCOSUL na área histórica da cidade de Pelotas. Deste modo, era materializado o Tratado de Assunção, além dos interesses aduaneiros, ao situar a educação superior voltada para a integração regional.

Com aquele gesto simples do Presidente foi plantada a semente para o desenvolvimento regional, pois professores e alunos passaram a vislumbrar na fronteira as possibilidades de transformar o cenário empobrecido do sul do Brasil e do norte do Uruguai. Afinal, era preciso unir a educação e outros campos do conhecimento, a fim produzir riquezas e outras ações integradoras.

Então, em julho de 2005, o reitor da UFPEL, autoridades do MEC e o prefeito de Bagé se reuniram para dar início ao projeto de uma nova universidade na região da fronteira, que mais tarde recebeu o nome de UNIPAMPA, a qual firme e independente, passou rapidamente a desempenhar seu papel na região.

Era também necessário fazer com que, nas águas da Lagoa Mirim, viessem trafegar gentes e produtos. Este ideal deu origem ao primeiro estudo sobre a viabilidade econômica e social da Hidrovia do MERCOSUL através da Lagoa Mirim, cujo trabalho foi concluído e entregue pelo reitor da UFPEL ao Ministério dos Transportes em 2007.

Desde aquela época até os dias de hoje, as relações entre a universidade, os prefeitos e os intendentes das cidades uruguaias da fronteira foram gradativamente se consolidando. Esta salutar e continuada convivência mostrou problemas comuns da fronteira e soluções viáveis a partir de entendimentos recíprocos. Em consequência disso, em 2010, foi criado o Núcleo de Estudos Fronteiriços da UFPEL, próximo à linha divisória de Livramento e Rivera, para estudar e apoiar o processo de integração do MERCOSUL e da América Latina.

De pronto, várias atividades foram empreendidas com o apoio e a participação de diversos segmentos da população fronteiriça, que, observada pela academia, tem buscado mostrar no Núcleo de Estudos Fronteiriços que todos juntos podem promover o desenvolvimento desta extensa região e minimizar as assimetrias dos nossos povos, sem, contudo, perder sua identidade e sua soberania.

As Unidades Fronteiriças de Saúde para atendimento médico-assistencial de usuários de ambos os países e a Escola Binacional de Restauração de prédios históricos, dedicada a jovens em situação de vulnerabilidade social, são novas metas a serem desenvolvidas pela UFPEL nas cidades gêmeas, com início em Livramento e Rivera.

Finalmente, vale dizer que ao atender o pedido do reitor, o então presidente Itamar Franco transferiu para a UFPEL as barragens da Lagoa Mirim, não somente para que aquela instituição abrisse e fechasse comportas. Foi mais longe! Ele permitiu que essa instituição federal de ensino superior ultrapassasse limites convencionais de sua atuação e propusesse a hidrovia do Mercosul e projetos inovadores na área da saúde e meio ambiente, com benefícios marcantes para as populações.

Certamente nossos governantes apoiarão os anseios de nossas fronteiras, onde continuaremos a honrar a memória do grande e simples Presidente que há pouco tempo nos deixou!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

100 anos do conto "Duelo de Farrapos"

Há cem anos, em 20 de setembro de 1911, começava a história dos "Contos Gauchescos", relatos de João Simões Lopes Neto inspirados na realidade gaúcha. Nesse dia, o autor pelotense publicou o primeiro de uma série de contos: Duelo de Farrapos (leia o texto completo).

Os demais foram sendo publicados pelo Diário Popular até 1912, quando saíram em forma de livro. Daí em diante, o jornal guardou silêncio sobre a origem jornalística desses textos. Portanto, em 2012, quando se recordam os 200 anos de Pelotas, também será comemorado o centenário do livro "Contos Gauchescos" (veja nota no Diário Popular).

Não foi por acaso - diz Aldyr Schlee em sua edição crítica dos Contos Gauchescos e Lendas do Sul (Editora Unisinos, 2006) - que esse relato saiu justamente naquele dia, comemorativo da Revolução Farroupilha. Os fatos narrados por Blau Nunes se situam justamente quando na província do Rio Grande do Sul vigorava a República Rio-Grandense, em guerra contra o Império do Brasil. No conto de Simões, os farrapos do título são chefes militares do mais alto nível, que realmente duelaram no dia 27 de fevereiro de 1844, um ano antes do fim dessa Revolução.

Em 2001, os Contos Gauchescos foram objeto de estudo de Cláudia Rejane Dornelles Antunes. Consultando os jornais da época, ela achou a data precisa de publicação da maioria desses textos, demonstrando assim, por primeira vez, que o livro de 1912 havia sido uma coletânea de material não inédito. Se hoje sabemos do centenário do "Duelo de Farrapos", é graças à sua pesquisa.

No mestrado em Linguística e Letras da PUC-RS, a dissertação de Cláudia Antunes foi classificada na área de Teoria da Literatura e teve o título: A lógica da criação literária: o exemplo do conto "O negro Bonifácio". Mais tarde foi editada como livro (dir.): A poética do conto de Simões Lopes Neto: o exemplo de "O Negro Bonifácio" (EDIPUCRS, 2003).
Imagens da web

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

93 anos do Conservatório de Música


Este domingo (18) o Conservatório de Música da UFPel completou 93 anos de sua fundação como escola particular. Em setembro de 2008, a diretora Isabel Porto Nogueira foi entrevistada por Lu Albuquerque, no programa Universo In Foco, da TV Comunitária, e contou parte dessa história.

No início do século XX, o diretor do Conservatório de Música de Porto Alegre, Guilherme Fontainha, projetou a criação, no interior de nosso Estado, de diversas escolas de música ligadas a centros artísticos. O de Pelotas foi um dos primeiros e Fontainha, seu primeiro diretor. Em 1937, nosso Conservatório foi municipalizado, permanecendo no mesmo prédio em que fora fundado, na Félix da Cunha esquina Sete de Setembro.

A Prefeitura fez então uma reforma no velho casarão, deslocando as aulas para o piso superior da Biblioteca Pública e os recitais para o Teatro Sete de Abril. Em 1940, foi inaugurado o salão de concertos, batizado com o nome de seu diretor da época, Milton de Lemos. Hoje administrada pela UFPel, a casa segue no mesmo prédio em que nasceu há 93 anos, e é responsável pelos bacharelados em música, cursos de extensão e recitais de música erudita.

domingo, 18 de setembro de 2011

Cães a passeio na orla verde

No fim de semana passado, a artista Norma Alves captou um grupo desfrutando de um dia de sol em pleno inverno, perto do assim chamado trapiche do Valverde (o longo e estreito cais ao fundo). Em sua espontaneidade, esses passeantes não humanos se mostravam ensimesmados e totalmente indiferentes àquele mundo paralelo, virtual e inacessível desde seu fechamento em 2009 (veja nota).

Nesta época do ano, a praia é tão visitada por gangues animais como por pelotenses antropomorfos, não se sabe se pelo frio e vento, pela força do hábito de somente ir à praia no verão, ou pela tristeza de ver fechado o velho e romântico ancoradouro de madeira (o saudosismo das perdas costuma doer na alma dos pelotenses). Os banhistas humanos - ao contrário dos caninos - também não se mostram dispostos a ser fotografados, nem com a naturalidade necessária para compor uma cena ao ar livre e, muito menos, em total nudez.

Há duzentos anos, os colonizadores encontraram nesta enseada rodeada de vegetação um lugar de descanso e o batizaram Valverde, como muitas freguesias em Portugal (veja o verbete na Wikipédia). Este nosso vale-verde é um balneário e sub-bairro do Laranjal, que por sua vez é hoje uma das 7 regiões administrativas (ou Bairros) da Área Urbana de Pelotas.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Paulo Renato e a estética portuñesa


Hoje (16), às 20h30min, o cantor e compositor Paulo Renato e o violonista Maurício Marques apresentam-se num Concerto Poético Musical no Ágape, Espaço de Arte. Os dois músicos têm formação na UFPel, residem fora de Pelotas e seguem suas carreiras pelo mundo afora.

O recital Por tudo...gracias! traz a mais recente proposta de Paulo Renato, por ele denominada como a estética sonora do Portuñés. O neologismo quer significar uma MPB hispanizada, canções latino-americanas em português do Brasil, não com aquele duplo sabor da fronteira, mas com uma nova personalidade (sentida como própria tanto por castelhanos como por brasileiros). No vídeo acima, ele interpreta "Caminhos de Si", de Martim César e Hélio Ramírez.

O recital tem ingressos limitados (antecipados R$ 25), que na hora serão vendidos a R$ 35. Reserve entradas até 18h pelo fone 3028 4480.

Amanhã (17) haverá nova apresentação no Restaurante Ruella (Benjamin Constant esquina Andrade Neves), com ingresso a R$ 10.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Concerto Campestre: uma ilha de arte rodeada de violência

O filme Concerto Campestre (Henrique de Freitas Lima, 2004) foi rodado em Pelotas, com roteiro baseado no romance Concerto Campestre (Luiz Antonio de Assis Brasil, 1997). A história se baseia na realidade pelotense da segunda metade do século XIX; um fato muito parecido aconteceu em terras da família Simões Lopes e esse relato chegou a ouvidos do escritor Assis Brasil.

No período de auge das charqueadas, a riqueza financeira atrai interesses políticos, missões europeias, pesquisadores, comerciantes, aventureiros e artistas. Nesse contexto social, a ambição do estancieiro incentiva a ternura artística nos cenários e aplasta a ternura erótica na intimidade.

O clipe de divulgação (veja aqui) traz uma frase que soa dramática demais, mas que define um traço dessa violenta realidade, em que a cidade se originou como um foco industrial no meio dos banhados e dos matos.
Em um tempo onde a violência fala mais alto 
e a riqueza é a medida de todas as coisas,
o poder da música pode despertar paixões e desencadear tragédias.

Acompanhe no vídeo abaixo a filmagem dos bastidores (com imagens de Luís Smaniotto e Rita de Cássia Murari).

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pianista Irene Porzio

Amanhã terça (13), a pianista uruguaia Irene Porzio Zavala se apresentará por primeira vez em Pelotas, no Conservatório de Música. O programa inclui duas obras: a Sonata Pastoral, em Ré Maior, opus 28, de Beethoven, e as Sete Fantasias opus 116, de Brahms.

Irene Porzio começou os estudos musicais aos 7 anos de idade, em Montevidéu. Estudou piano com Elida Gencarelli e Miguel Marozzina, na Universidad de la República. Em 2007 mudou-se para Belo Horizonte (MG), onde concluiu o bacharelado em piano na UFMG, orientada pelo professor Adalmário Pacheco.

Hoje com 25 anos, Irene cursa o mestrado em Práticas Interpretativas na UFRGS, sob a orientação de Cristina Capparelli Gerling. De variados talentos musicais, integra um duo com a flautista Virginia Amaral, canta como contralto em formações corais, ensina música nos níveis da educação fundamental e leciona piano na UFMG.

Aprecie duas versões do movimento Andante da Sonata Pastoral de Beethoven: com o norte-americano Christopher Goodpasture (abaixo) e com o incomparável Claudio Arrau (1903-1991), em gravação de 1962 (acesse aqui).


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Laranjal na Mídia

O concurso literário "Prêmio Praia do Laranjal", organizado pela SECULT e o INBRAJA, escolheu para sua 4ª edição em 2011 o seguinte tema: As notícias veiculadas na mídia contribuem para o turismo no Laranjal? (leia nota). O primeiro prêmio foi entregue ao professor Marcos de Oliveira Treptow, com a seguinte redação, por ele gentilmente cedida a este blogue.


A contribuição da mídia impressa para a construção da Memória Afetiva da praia do Laranjal

As notícias veiculadas na mídia contribuem, sim, para o Turismo na Praia do Laranjal. Há que, como qualquer leitor atento, perceber os interesses existentes por trás delas. Há notícias que são publicadas com o claro intuito de favorecer ou desmerecer o segmento político responsável pela administração pública. Outras, parecem notícias “vale a pena ver de novo”, ou seja, são reportagens sobre fatos que acostumamo-nos a presenciar na temporada de praia, como, por exemplo, a falta de qualidade da água da lagoa para os banhistas.

Mas, há um terceiro grupo de notícias que, embora pouco espaço receba nos principais órgãos de imprensa locais (ou mesmo regionais), remete a uma efetiva contribuição para o Turismo em nossa querida praia do Laranjal. Refiro-me às publicações de textos, sejam contos, crônicas, memórias etc, que fazem referência a fatos, pessoas, experiências vividas, memórias de nossos cidadãos neste cantinho da Lagoa dos Patos. É neste sentido que, sim, vejo que há uma contribuição muito efetiva da mídia para a construção do Turismo na praia, em particular, do Turismo Receptivo para nossos próprios concidadãos. Cito minha experiência pessoal.

Foi a partir de uma notícia publicada na página 13 do Jornal Diário Popular, edição de 20/09/2002, que vim a conhecer (ou a me reencontrar) com o escritor Felipe Assumpção Gertum. A notícia fazia referência à premiação do livro “Paraíso de Cristal”, romance agraciado como o Melhor Livro Estrangeiro pelo Prêmio Internacional Il Convívio 2002 da Academia Internacional da Itália. Esta pequena nota publicada no jornal de maior circulação local fazia referência ao escritor como sendo o presidente do Instituto Nacional Brasileiro Senador Doutor Joaquim Augusto de Assumpção, o que, na época, foi motivo de uma grande inquietação pessoal. Por ter vivido muitos anos fora de Pelotas, fiquei curioso: afinal, quem é Felipe ou, ainda, que Instituto é este?

Já se passaram quase 10 anos da referida nota publicado no Diário Popular. Conheci, ou reencontrei-me com Felipe. Conheci o Instituto, através da pessoa incansável do Felipe. Fui agraciado com o primeiro lugar na primeira edição deste mesmo concurso, tendo submetido o conto “Risadinha” para apreciação pelos jurados do certame (leia notícia de 2008). Enfim, reencontrei-me com o Laranjal. A premiação do conto “Risadinha” possibilitou mais do que um exercício literário sobre a nossa querida praia do Laranjal. Pela primeira vez eu acreditei que poderia publicar algo que EU tivesse escrito, algo que falasse de NOSSO chão, das memórias de NOSSA gente, das pessoas queridas.

Hoje, após esta experiência, já são mais de 4000 livros impressos, seja de “Curuzu”, “Nuvem Passageira” e, recentemente, “Cartas à Micaela” (no prelo), que nasceram de uma experiência singular até então, nunca antes por mim aceita ou compreendida: eu havia, para a construção do referido conto, mergulhado em uma pasta de recortes de jornais, recortes que por um bom tempo, como estudante ou professor de Letras, pelo simples prazer de tê-los, fui guardando. Tornou-se aquela pasta de recortes parte de minha Memória Afetiva sobre a praia do Laranjal.

Quando no momento que escrevo estas linhas, tenho a minha frente as excelentes crônicas – verdadeiros tratados da Memória Afetiva de Felipe sobre o Laranjal (O retrato que eu te dei, Diário da Manhã, 11/02/07; Jogando bosta na Geny, DM, 25/03/07; Eternas Rainhas, DM, 20/01/08; Coisas boas no Laranjal, DM, 24/02/08; Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes: o pecado da omissão, DM, 09/03/08) – reconheço-me como parte integrante desta História, desta Memória, desta contribuição que o Afeto traz para o Turismo e que a mídia impressa, como instrumento, contribui, em muito, para a perpetuação de nossa querida praia do Laranjal.

O fato é claro: foi uma pequena nota publicada em um jornal diário, sob a premiação de um escritor conterrâneo que estimulou minha curiosidade. Foi a premiação de uma escrita minha, um conto sobre minha memória nos verões passados na praia do Laranjal, que permitiu que eu me visse como “escritor”. Foi a Memória Afetiva de dois homens que viveram duas gerações próximas com seus familiares em um cantinho da Lagoa dos Patos que contribuíram, sim, e continuaram contribuindo para o Turismo em nossa querida praia do Laranjal.

Esta é minha contribuição: que possamos, nós pelotenses, produtores e receptores de textos publicados na mídia impressa local, os maiores responsáveis pelo Turismo em nosso querido cantinho da Lagoa dos Patos.

Marcos de Oliveira Treptow

Fotos de João Célia (1), F. A. Vidal (2) e Norma Alves (3)

Mulheres dançam

O espetáculo de dança MULHERES é resultado de uma disciplina do Curso de Licenciatura em Dança, da UFPel. A apresentação será este fim de semana, no Teatro do Círculo Operário Pelotense (v. agenda cultural do blogue).

As seis alunas/bailarinas são criadoras e intérpretes da coreografia, nascida dos seus questionamentos sobre o que é ser mulher hoje. Elas são: Alexandra Latuada, Andressa Bittencourt, Gessi Könzgen, Jaciara Jorge, Mônica Borba e Taís Prestes.

Com suas diferentes visões e experiências, elas buscam encontrar identidades, dentro da grande diversidade do universo feminino: as angústias, as vaidades, a sensualidade, os desejos das mulheres.

A Direção e Orientação Coreográfica é da professora Maria Falkembach. Veja seu blogue Dramaturgia do Corpo.

Sábado (10) e domingo (11), às 20h. Rua Almirante Barroso, 2540. Entrada franca.

domingo, 4 de setembro de 2011

Mais 7 noites para Woody Allen

Mais uma semana para Woody Allen em Pelotas com sua "Meia-Noite em Paris" (v. nota neste blogue). Talvez um dos melhores filmes do ano, por algum estranho motivo ele chegou a nossa cidade, mas ficou isolado na poltrona das 21 horas (leia a crítica feita pelo jornalista Luiz Caminha no Pelotas13horas).

Além das homenagens que o diretor nova-iorquino faz a Hemingway, Buñuel e uma infinidade de artistas, o título já evoca um disco de Duke Ellington gravado em 1962, Midnight in Paris.

Para o filme de 2011, Woody Allen faz sua própria seleção, também inspirado na música francesa (ouça abaixo o tema principal, com o violonista francês Stéphane Wrembel).

O pelotense vaidoso verá muitas semelhanças entre sua cidade-natal e a capital do mundo: o clima frio e chuvoso, a riqueza arquitetônica, museus e bares, a presença de artistas de todo tipo, a tendência de considerar-se o centro do mundo, e ruas de paralelepídeos.

Uma dessas involuntárias semelhanças aparece na capa do disco de 1962, que mostra um aspecto noturno e enevoado de uma das fontes da Praça da Concórdia, toda uma evocação à "estética do frio" (teoria do pelotense Vítor Ramil). Paris e Pelotas podem não ter nada a ver hoje, mas a conexão mais profunda ficou, neste filme, um pouco mais consciente.

Imagem do vídeo: A Noite Estrelada, de Van Gogh

sábado, 3 de setembro de 2011

Entrelaçamento, foto de Luiz Carapeto

A foto acima é uma das que se encontra em exposição no Espaço Arte Chico Madrid, até 13 de setembro próximo, na série "Percepções", de Luiz Paiva Carapeto. Antes batizada como "Entrelaçamento", agora a imagem tem o título "Eu e Tu".

Num amanhecer em nossa praia de água doce, o fotógrafo encontrou um par de namorados e viu em suas bicicletas essa comunhão, amizade e equilíbrio que provavelmente os uniria para sempre. O infinito também está na paisagem sombria e no horizonte inalcançável.


Percepções
Fotografar para o artista é um momento de prazer.
É quando procura ver além das fronteiras do visível.
É quando busca juntar o que está diante dele com interiorizações de um tempo percorrido.
É quando abandona a rotina e deixa o inesperado acontecer.
É o visual se juntando ao emocional.
É o produto final de como vê e conceitua as coisas do mundo.


Luiz Paiva Carapeto
Imagem: Flickr

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Esquinas de pedra

Uma das semelhanças entre Pelotas e algumas cidades europeias são as ruas calçadas com paralelepípedos, um uso urbano comum no século XIX. Hoje em dia, quem admira as modernidades globalizadas geralmente abomina o que é antigo e não quer nem saber daquela época em que Pelotas reproduzia costumes franceses. Mas se trata de uma reação fóbica ao conhecimento das raízes.

Além de recordar o sabor de tempos passados, as ruas de pedra são seguras, estéticas e ecológicas. Em Pelotas, elas combinam com a umidade do inverno e do verão, e trazem à consciência outra parte da história, menos apresentável ao turista: esses paralelepípedos foram confeccionados, transportados e colocados por escravos ou seus descendentes.

Apesar da decadência pelotense, iniciada entre 1930 e 1945 e prolongada até hoje, muito do que ficou parado no tempo está sendo valorizado e pesquisado, por turistas e estudiosos. Uma das coisas por ser entendidas é como ainda conservamos tantas ruas de pedras, de um modo que nos liga àquelas épocas de riqueza e de paraísos sonhados. Essa ponte tão evitada pode nos levar a nossas raízes e depois permitir-nos avançar no tempo.
Foto 1: esquina de Montmartre, Paris
Foto 2: esquina do Café Aquários
A pedra é o símbolo perfeito da verdade. Áspera como ela, e assim inamolgável, luminosa. Impenetrável às umidades, aos gases, às poeiras, aos limos, tanto como a verdade o é às lisonjas, às calúnias, às deturpações, aos vexames.

Tendo o senhor andado em desassosego por toda parte, ao voltar em busca de algo que perdeu, esta cidade árida o recebe abrindo-lhe os seus caminhos de pedra.
Satolep (V. Ramil, 2008), p. 46.