quarta-feira, 11 de abril de 2012

Resgatando Os Óculos do Vovô

O casal Diniz ( à esquerda, de pé) representou os pais do neto travesso.
O diretor Francisco Santos (de barba) fez o avô de seu próprio filho (Mário Santos).
Oscar Araújo ( de chapéu) foi o médico (cena gravada em 1913 no Parque Souza Soares).

O mais antigo filme de ficção brasileiro é o curta-metragem mudo Os Óculos do Vovô, produzido em Pelotas em 1913. Fragmentos do filme foram resgatados na década de 1970 e hoje (11) a comunidade pelotense poderá vê-los, por primeira vez em 99 anos (veja nota do 3º Festival Manuel Padeiro).

Mário Ferreira dos Santos como o neto
(cena gravada no casarão da Marechal Deodoro).
Na virada do século XX, o português Francisco Dias Ferreira dos Santos (1873-1937) chegou ao Brasil numa turnê de teatro e apresentou-se ao longo do país durante anos. Em 1909 chegou ao extremo sul, e aqui concebeu uma pioneira empresa de cinema.
O empreendimento já era ousado para a época, e mais ainda por situar-se longe dos grandes centros urbanos. Os estúdios da Guarany Fábrica de Fitas Cinematográficas (ou Guarany Filmes) ficavam numa casa da Rua Marechal Deodoro (esquina com General Teles), em Pelotas.
No primeiro filme da produtora Guarany, um menino pinta os óculos de seu avô, que ao acordar pensa estar cego, dando lugar a cenas cômicas (veja comentário no portal IMDB).
Antônio Jesus Pfeil
Um antigo poema do norte-americano Leroy Freeman Jackson (1881-1958), Vovô perdeu os óculos, relata um caso muito parecido, mas de posterior publicação ao filme pelotense (leia o original de 1918 Granpa dropped his glasses).
Além de produzir a obra, Santos é diretor e roteirista, e atua como o avô; seu próprio filho, Mário Santos, faz o garoto travesso. As cenas externas foram rodadas no Parque Souza Soares, no bairro Fragata. Mais detalhes sobre a história de Santos e as produções da Guarany Filmes no artigo de Liângela Xavier Francisco Santos: um ilustre desconhecido.
Uns sessenta anos depois, restos dos Óculos do Vovô foram achados em São Paulo pelo pesquisador canoense Antônio Jesus Pfeil (dir.), em poder de Yolanda L'Huillier, neta de Francisco Santos. O material foi recuperado na Escola de Comunicações e Artes da USP, ganhou trilha sonora própria, e foi exibido em 2009 no Festival de Gramado (veja notícia).
O antigo filme poderá ser visto somente na abertura do 3º Festival Manuel Padeiro, no Teatro Guarani (veja histórico), associado à mesma produtora de Francisco Santos que há cem anos iniciou a criação cinematográfica no Rio Grande do Sul.
Sede da produtora foi usada como locação (Deodoro com Teles).

POST DATA
Junho de 2013
Ricardo Villas-Boas publicou em abril passado os restos do filme resgatado, com a trilha sonora por ele composta em 2006 (vídeo abaixo).

Agosto de 2013
O documentário "As Memórias do Vovô" foi apresentado no Festival de Gramado (v. nota neste blogue), homenageando o cineasta Francisco Santos e os cem anos de seu curta "Os Óculos do Vovô".

18 comentários:

Coca disse...

Interessante o resgate desta historia, que mais do que Historia de Pelotas é da Historia do cinema.

Anônimo disse...

Vidal
Quero lhe parabenizar pelo blog. Com relação a cas ela "ainda" existe e creio ela deveria ser um marco na cultura local. Pois corremos o sério rico de encontrá-al qualquer dia destes - se não for tombada - cercada de tapumes e tristemente destinada a dar lugar a mais um dos "maravilhosos" empreedimentos imobilíarios de gosto duvidoso que pipocam em Pelotas. Basta verq ue nos anos 90 nas imediações desta casa havia um e há, descaractirizada infelizmente, um conjunto de casa em fita. Quando fizeram uma intervenção o projetista teve o bom senso de contruir um prédio de tijolos à vista que respeitava no primeiro pavimento as proporções das casinhas vizinhas (dimensão de janelas porta etc., alías no projeto original a porta era antiga, hoje substituida por outra de ferro). Passado o tempo na esquina se ergueu insolente monstrengo ao gosto pós moderno de fundo de quintal que quebrou a harmonia da quadra. Devemos ter consciência que não basta apenas tombar um prédio isolado é necessário preservar manchas históricas, o contexto amplo no qual se insere o edifício e que lhe permite dialogar com a cidade (vide cidades mineiras) e a quadra eclética da Pç. Coronel Pedro Osório. Um dia chegaremos lá apesar de muita gente criticar e defender o iconoclasmo. Sigamos olhando o futuro que trará seus erros e acertos, vivamos o presente e sejamos críticos do passado mas não iconoclastas.
Abraço

Fickel

Francisco Antônio Vidal disse...

Obrigado pela visita e pelo comentário. Façamos algo pela casa: diga-me o endereço exato ou envie uma foto e publicarei uma nota especial para mostrá-la.
Outra curiosidade: a casa onde o vovô mora e o médico visita, nesta última foto, não é o casarão do Senador Assumpção, vizinho ao Guarani?

Anônimo disse...

Vidal a casa em questão fica na deodoro esquina Gal.Teles. Você pode conferir in loco. Na foto em que os dois senhores se comprimentam os gradis e a porta da casa continuam os mesmos, e ao que tudo indica a cena do filme com o menino correndo foi filmada nos fundos da casa onde há um alpendre com colunatas de ferro fundido como os que aparecem na foto. tala esquema não corresponde ao casarão dos Assumpção que possue gradis de ferro fundido e não forjado. Esta casa foi dividida e sublocada recordo enquanto morava ainda em Pelotas que havia uma serralheria funcionando no porão. Pelo que soube ainda, havia ainda vestígios do laborátório de filmagem do francisco Santos no local. Vale conferir pois este é um espaço de fato precioso para a história do cinema nacional. Sugiro que munido da imagem faça uma visita ao local e constate. Vale uma pesquisa para averiguar estes fatos com mais precisão a fim de resgatar parte desta história.
Att.
Fickel

Francisco Antônio Vidal disse...

Na Deodoro com Teles ainda existe um grande casarão subdividido e com porão alugado, de janela aberta para a Deodoro. Realmente há total semelhança da porta e das sacadas superiores, mas não das janelas inferiores. Da rua também se vê uma escada muito antiga, que pode ser a que aparece no filme, ou uma similar.
Será interessante verificar o que resta nesta casa daquela época, a ponto de fazer 100 anos.

Anônimo disse...

Vidal boa noite! Sim os óculos sob a as sacadas são ovais, mas devemos lembrar que as casas sofriam reformas e com certeza o porão que é habitável em algum momento recebeu as janelas para iluminação no lugar dos óculos. Eu lí há tempos sobre esta casa ligando-a a Santos, contudo não consigui mnais encontrar a fonte talves Pelotas mémória - de fato faz pra mais de 20 anos. A sacada em questão que mencionei fica nos fundos sendo possível vê-la pela Teles.
Tentarei encontar a fonte em que li. Outra possibilidade seria o àlbum do centenário da independência que traz fotos da cidade em 1922. Ele se encontra na biblioteca Pública.

Anônimo disse...

VIDAL! ENCONTREI A FONTE QUE COMPROVA SER ESTA CASA DA DEODORO COM TELES O ESTÚDIO DO SANTOS: A GUARANI FILMES. ENVIO O LINK DE UMA PESQUISA FEITA POR LIÂNGELA XAVIER MESTRE EM COMUNICAÇÃO PELA PUCRS E PROFESSORA DO CURSO DE CINEMA DA UFPEL.
SEGUE O LINK: http://orson.ufpel.edu.br/content/01/artigos/primeiro_olhar/96-123.pdf.
PODEMOS LUTAR PELA VALORIZAÇÃO DESTE PATRIMÔNIO. O ARTIGO SE CHAMA FRANCISCO SANTOS: UM ILUSTRE DESCONHECIDO. TRAZ FOTOS DA CASA E DO ALPENDRE NOS FUNDOS ONDE O MENINO DA FOTO APARECE CORRENDO. ABRAÇO
FICKEL

Francisco Antônio Vidal disse...

Já incorporei no post o link citado. Tentarei completar a pesquisa com imagens e dados da velha casa. Obrigado ao atento e ágil leitor Fickel (o nome é Pedro Luiz?)

E será Liângela Xavier, professora do curso de Cinema da UFPel, descendente do amigo de Francisco Santos, o também ator português Francisco Vieira Xavier? Outro dado a ser descoberto nesta história.

Anônimo disse...

Vidal bom dia! Fico grato pela consideração e registro novamente minha admiração pelo teu blog. O professor e pesquisador Pedro Luiz Fickel é meu primo, sobrinho de meu avô Guido Fickel. Abraço!
Edwin Fickel

Pedro Henrique Caldas disse...

Parabéns pela postagem Vidal.
Gostaria de destacar que o artigo da profa. Liângela Xavier reproduz, basicamente, dados e informações publicadas no livro FRANCISCO SANTOS - PIONEIRO NO CINEMA DO BRASIL,escrito por Pedro Henrique Caldas e Yolanda Lhullier dos Santos, neta do cineasta. Aliás, se retirados todos os parágrafos extraídos do livro sobraria muito pouco no artigo... Mas, viva a produção acadêmica!!!

Este livro teve uma primeira edição em 1995 e a segunda em 1996, patrocinada pelo Festival de Cinema de Gramado, onde cada convidado e participante recebeu um exemplar como "souvenir".
Há exemplares das duas edições na Biblioteca Pública Pelotense.

Francisco Antônio Vidal disse...

Eu é que agradeço pelas observações. Yolanda é precisamente a neta que guardava o material de Francisco Santos, entregue a Pfeil sessenta anos depois da filmagem.

O que acha, sr. Caldas, de vir a Pelotas falar sobre o livro e a pessoa de Francisco Santos?

Já tenho fotos externas da antiga casa, que não foi demolida por estar tombada (já houve intenção de venda) e está precisando de cuidados. Mora ali uma descendente anciã do anterior ou atual dono. Se possível, farei fotos internas também.

Douglas de Albuquerque e Holanda disse...

O que poucos sabem é que o menininho do filme é o Mario Ferreira dos Santos, o maior filósofo e o maior dos brasileiros que já viveu neste país. Um filósofo à altura dos grandes nomes da Filosofia e provavelmente o maior de todo o século XX. Ele que estudou no Colégio Gonzaga e escreveu para os jornais da cidade de Pelotas, mas que é um grande desconhecido não só na cidade, como em todo o país. Este herói do pensamento merecia ao menos um busto em uma das belas praças da Princesa do Sul.

Francisco Antônio Vidal disse...

Esta é uma excelente ideia para uma nova pesquisa. Prepararei um post sobre isso. Obrigado ao atento leitor.

Familia Diniz Martins disse...

Olá. Adoramos ver as fotos dos nossos bisavós e saber um pouco mais da participação deles no cinema brasileiro. Somos netos de Jorge Diniz E Graziela Costa. Obrigada

Francisco Antônio Vidal disse...

O site IMDB registra a participação em outros filmes dos atores Jorge Diniz e Graziela Diniz, que representam neste curta o pai e a mãe do menino (na foto maior junto ao avô e ao neto).
O médico é Jaime Cardoso (de chapéu).
Todos eles são pioneiros do cinema nacional, há cem anos.

Rogério Diniz disse...

Muito interessante, esse casal Diniz são meus bisavós.

Anônimo disse...

Rogério, você é irmão da Taís Diniz?

Anônimo disse...

Sim, Rogério é irmão de Taís Diniz, no caso, eu!