domingo, 9 de junho de 2013

Cronista de arte há 60 anos

Francisco Dias da Costa Vidal
(foto tomada pela neta Potira aos 3 anos)
Em 2013, o psicólogo Francisco Dias da Costa Vidal completou 60 anos como colaborador do Diário Popular. Seu primeiro trabalho nesse jornal abordou a atuação do pianista franco-suíço Sebastian Benda, que residiu no Brasil de 1952 a 1981. O recital foi organizado em abril de 1953, pela Sociedade de Cultura Artística, no Conservatório de Música.

Nos anos 50, Vidal assinava com o pseudônimo de Franco Villa. Até hoje, ele já publicou uns 3 mil artigos, entre crônicas de viagens, críticas de arte e notas sobre educação e psicologia. Hoje (9) ele completa 84 anos de vida.

Confira nesta postagem: 
  • transcrição do artigo publicado em 1953, 
  • link de um relato em áudio sobre a vida do pianista, 
  • um vídeo em que Benda (1926-2003) toca com seu filho violoncelista (brasileiro), e 
  • artigo de Clayr Lobo Rochefort sobre os 50 anos de atividade do cronista.

Sebastian Benda

Capa do programa do Sarau nº 146
da Sociedade de Cultura Artística
Ainda sob os efeitos da impressionante interpretação musical de Sebastian Benda, aqui concluo não haverem palavras exatas que descrevam esse raro fenômeno de sublimidade em forma de pianista.

É compreensível a existência dessa realidade, porque ela decorre e aparece numa linhagem que já se distinguia e praticava a mesma atividade, lá pelos tempos de Bach.

Mas, se por um lado acredita-se no aperfeiçoamento de uma função e sua transmissão através das gerações, o fato é que se trata de algo de extraordinário, e me atrevo mesmo a afirmar: jamais ouvi um pianista que me impressionasse tanto.

É a segunda vez que recebemos a visita de S. Benda, e desta feita ele se exibiu num programa onde pôde demonstrar a plasticidade da sua arte.

Começou com uma Fuga de Bach — o idolatrado de Frederico o Grande, em cuja corte atuaram antepassados de Benda — que o recitalista coloriu de uma luminosidade interpretativa fora do comum. Aliás, esta uma de suas características: sente-se um colorido vibrante em toda a sua interpretação, constituindo paisagens sonoras de uma nitidez impressionante.

E a agilidade? Sim, esta jamais esteve divorciada da clareza, da sincronia absoluta, da precisão interpretativa, em seus mínimos detalhes. Foi o que generosamente admiramos nos dois Estudos de Liszt-Paganini e na Rapsódia Húngara nº 12. Esteve admirável nos Prelúdios de Gershwin, acompanhando-lhes o sabor característico e o ritmo leve.

Que beleza! Quanta perfeição, senhores! Só ouvindo, para sentir-se até que ponto um ser humano pode atingir o sublime! Uma justeza e uma precisão na técnica e na alma da ação, que, sem exagero, dá vontade de se rir de pura satisfação e encantamento...

O distinto auditório não se conteve e exigiu dois extras, que foram: Rondó Caprichoso de Mendelssohn e Giga de Bach. Nesta última, seus dedos longos e treinados dançavam e — no cruzado das mãos — saltavam com tal elegância e justeza como se fossem autênticos bailarinos clássicos, esvoaçando ritmados sobre o teclado preto e branco. Só este detalhe de execução encheria a noite.

Sebastian Benda: para onde fores, em imaginação te acompanharemos e, em espírito, presenciaremos o teu Êxito inevitável, enquanto, ansiosos, aqui estaremos aguardando o teu pronto regresso.
Franco Villa
Francisco Dias da Costa Vidal
Diário Popular, 23 de abril de 1953

Ouça neste link um relato sobre Sebastian Benda, gravado em 2010 pela Universidade Federal de Santa Maria por ocasião dos 50 anos da instituição. Abaixo, Christian Benda e seu pai, Sebastian Benda, num trecho de "Pohádka" ("Conto de Fadas", para cello e piano), de Leos Janacek.


50 anos de crônica

Na edição de 23 de abril, 50 anos passados, o Diário Popular publicava a primeira crônica de arte de um colaborador que se tornaria assíduo e eficiente nas páginas do jornal. Falo de Francisco Dias da Costa Vidal, engenheiro agrônomo, psicólogo, psicanalista, professor aposentado, aficionado musicista e escritor – o terceiro mais antigo colaborador do Jornal em atividade, depois do ministro Mozart Victor Russomano e do professor Alvacyr Faria Collares. Franco Villa era então seu pseudônimo.

Meu antigo colega de aula, nos sete anos de Colégio Gonzaga, e companheiro de conjunto musical com o saudoso Barbosa Lessa, Mílton Ceia, também já falecido, Germano Pinho e outros, o vi iniciar-se no mister jornalístico pela mão do velho jornalista Waldemar Coufal, cronista de arte do Diário Popular, o mais competente da sua época e certamente ainda não igualado até hoje, em Pelotas. Com Vidal, na mesma época, freqüentavam a "escolinha" de Coufal o Carlos Alberto Motta, que já nos deixou, e o Luiz Carlos Lessa Vinholes, todos amantes da música, do canto, das artes plásticas, do teatro etc.

Impressionante, a forma como o aluno assimilou o estilo do professor, ainda hoje presente nas suas longas e eruditas apreciações sobre os eventos artísticos e culturais da cidade. Culminando, depois de vários roteiros turísticos, Vidal lança um livro de crônicas de viagens, muito elogiado por seu conteúdo cultural, pela riqueza de informações e pela leveza do texto.

Recordo que, iniciando suas andanças por Santiago do Chile (publicou um série infindável de crônicas sob o título "Santiago outra vez..."), Vidal acabou apaixonado pela capital e pelo Chile todo, de tal modo que lá foi encontrar sua cara-metade, a Ana Elisa, sua companheira de mais de 40 anos. O casal tem cinco filhos e é pioneiro do Movimento Familiar Cristão. Mas, Vidal e Ana não apenas pregam, senão que constituem singular exemplo de vida a dois, dedicada à prole, aos amigos, à comunidade.

Como colega e amigo de tantos anos, companheiro de lides jornalísticas e irmão do mesmo credo, envio ao Vidal, por este meio, um cordialíssimo abraço, que por certo lhe darei em pessoa, bem assim em seus familiares, no dia 27, quando o Conservatório de Música da UFPel lhe prestará justa homenagem. Ao cumprimentá-lo, o Diário Popular expressa seu reconhecimento a Francisco Vidal pela prestimosa colaboração de todos esses anos.

Clayr Lobo Rochefort, Jornalista
Diário Popular, 23-4-2003

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais do que gratificante, é uma realização pessoal verificar que algumas pessoas, como Franco Villa, dedicaram sua vida à divulgação da arte e da cultura. Ou seja, ao desenvolvimento de uma região, em especial, de sua cidade. São essas pessoas que marcam uma comunidade. Seu selo de qualidade e conhecimento do que realmente importa para o crescimento intelectual do cidadão. Parabéns pela reportagem sobre os 60 anos de crõnica de arte ininterruptos. Fecundidade admirável. Pelotas merece!
Abraço fraterno, prof.ª Loiva Hartmann