Nos cemitérios dormem corpos e almas que alguma vez habitaram a cidade. Para não esquecer seus mortos, as famílias construíram neles uma cidade separada do mundo, um limbo de transição entre o céu e a terra, dois universos vizinhos e sem entendimento.
A fundação desses dormitórios devia se localizar originalmente nos confins urbanos, simbolizando o fim-de-mundo, o fim dos tempos e o fim da vida.
Um século depois, a cidade dos vivos se espalhou tanto que a cidade dos finados parecia ter-se deslocado para o meio da vida moderna — uma ilha de vazios, de nadas já esquecidos, de perdas que o tempo terminou preenchendo... rodeada de fantasmas agitados, coloridos e narcisistas.
Todos viajantes em busca de si mesmos, soldados de guerras caóticas, sem ordem no espaço, nem início nem fim.
Como museus de lembranças e lamentos coletivos, os cemitérios antigos se transformaram em depósitos de arte ao ar livre: mausoléus, pórticos, vitrais, esculturas de anjos, cruzes em tamanho natural, epitáfios e epigramas poéticos.
Tudo para marcar os momentos de despedida e para jogar com a zona ambígua entre a desvinculação e a continuidade, lembrando as portas do Paraíso e do Inferno.
A arte tumular precisa dessa imobilidade trágica.
As flores murcham e ressurgem, e até mesmo as lágrimas são novas e diferentes em cada visita, mas os monumentos dos sepulcros não podem ser movidos, nem trocados nem revendidos, sob pena de que aqueles espíritos invocados ameacem vir com suas espadas apocalípticas para cobrar o lugar fixo de suas amarguras e maldições.
A fundação desses dormitórios devia se localizar originalmente nos confins urbanos, simbolizando o fim-de-mundo, o fim dos tempos e o fim da vida.
Um século depois, a cidade dos vivos se espalhou tanto que a cidade dos finados parecia ter-se deslocado para o meio da vida moderna — uma ilha de vazios, de nadas já esquecidos, de perdas que o tempo terminou preenchendo... rodeada de fantasmas agitados, coloridos e narcisistas.
Todos viajantes em busca de si mesmos, soldados de guerras caóticas, sem ordem no espaço, nem início nem fim.
Como museus de lembranças e lamentos coletivos, os cemitérios antigos se transformaram em depósitos de arte ao ar livre: mausoléus, pórticos, vitrais, esculturas de anjos, cruzes em tamanho natural, epitáfios e epigramas poéticos.
Tudo para marcar os momentos de despedida e para jogar com a zona ambígua entre a desvinculação e a continuidade, lembrando as portas do Paraíso e do Inferno.
A arte tumular precisa dessa imobilidade trágica.
As flores murcham e ressurgem, e até mesmo as lágrimas são novas e diferentes em cada visita, mas os monumentos dos sepulcros não podem ser movidos, nem trocados nem revendidos, sob pena de que aqueles espíritos invocados ameacem vir com suas espadas apocalípticas para cobrar o lugar fixo de suas amarguras e maldições.
— V. cemitério e necrópole na Wikipédia.
— Conheça a pesquisa fotográfica de Helena Schwonke e o trabalho de E. Figueiredo Alves, ambos feitos neste cemitério.
— Leia neste blogue: Consolação, dormitório de almas e de arte.
— V. notícia de 2002 sobre vandalismo no cemitério.
Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula, Av. Duque de Caxias nº 454, bairro Fragata.
Fotos: F. A. Vidal
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