
A primeira palestra foi a do dr. Zimerman — que veremos nesta nota — e a segunda foi conduzida por Marciara Centeno, psicóloga em formação psicanalítica, que falou das dificuldades do amor relacionando-as com a autoestima. As duas reuniões atraíram numeroso público jovem, principalmente da área profissional da psicologia e da psicanálise, e ambas duraram pouco mais de duas horas (sem evasão), indicador do alto interesse desse público.
Concentrando-se no psicanalista britânico Wilfred Bion (1897-1979), Zimerman abordou o tema à base de quatro emoções vinculadoras: Amor, Ódio, Conhecimento e Narcisismo. Essas tendências vêm sendo tratadas pela psicanálise desde Freud, passando por Melanie Klein e Bion. Sobre este tema, o próprio Zimerman publicou o livro "Os quatro vínculos" (ArtMed 2010, veja o sumário), escrito posteriormente a esta conferência em Pelotas (veja resenha de 2009), e anteriormente "Bion da teoria à prática" (ArtMed, 2003).

Por sua parte, Bion valorizou o desejo de conhecimento, que se manifesta como um amor à verdade, perseverante mas não rígido. Nas relações pessoais, essa “pulsão epistemofílica” (desejo de investigar e de saber) nos faz querer conhecer o ser amado — sem deixar de respeitá-lo — e querer que este nos conheça em nossa verdade interna.
A teoria de Bion inclui as outras duas tendências (amor e ódio), cada qual com seu lado bom e mau: o amor tem seu lado negativo na possessão asfixiante do objeto amado e o ódio tem expressão positiva na agressividade, necessária para defender-se, proteger, avançar, mudar, criar.

Também há pulsões narcisistas, conhecidas como “egoísmo” (lado ruim das tendências à autossatisfação). Sem uma dose certa de narcisismo (preocupação consigo mesmo) não poderíamos sobreviver nem gostar de nós mesmos. Um nome popular dessa tendência em grau bom é a autoestima.
Em cada pessoa, então, essas variáveis formam as configurações vinculares, os diversos modos de amar e ser amado. O amor considerado sadio joga com esses quatro elementos, analisados numa relação entre duas pessoas: cada uma delas amando, odiando e conhecendo a outra, e relacionando-se com as partes de si mesma (não só numa autoestimação pura, mas também com possíveis elementos negativos).
Quanto às complicações: há a relação narcisista, a configuração triangular, o sado-masoquismo, o vínculo “tantalizante”, eterna e desesperante frustração (assim nomeado por Zimerman a partir do mito de Tântalo). Outra complicação do amor é a chamada gamofobia ou evitação do casamento, por medo ao sufoco ou a ser adulto (veja reportagem).
Precisamos equilibrar-nos entre certo grau de idealização e as inevitáveis desilusões, seja na vida de casal, seja no âmbito da psicoterapia. A melhor relação amorosa será uma configuração vincular “suficientemente boa”, onde é preservada a admiração e as desilusões podem ser toleradas.
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Um comentário:
Muito boa a resenha sobre a apresentação do Dr. David. Parabéns, Francisco!
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