Habitualmente se diz que as paredes têm ouvidos: silenciosas no meio do ruidoso mundo, elas parecem recolher terrores, angústias e raivas dos cidadãos que dormem em casa e dos que circulam pelas ruas como pilhas elétricas carregadas, prontas a explodir ou a vazar. O Muro dos Lamentos não tinha outra serventia que a de guardar infinidade de segredos em seus minúsculos interstícios.
Nas cidades contemporâneas, existem as chamadas "zonas mortas", aquelas onde não mora ninguém e onde ninguém se atreve a ficar, verdadeiros buracos que atraem depressivos, niilistas e arqueólogos.
Nessas áreas habitadas somente por fantasmas decaídos e mofados, os muros funcionam como depósitos de gritos, de lamentações que um dia emudeceram e ficaram ecoando, no ilusório silêncio das paredes (v. o artigo Livros de pedra, de Manoel Magalhães).
As frases das muralhas de hoje são testemunhos que sobraram de uma época de reflexão – hoje carente de jornais comunitários – e de amor pela liberdade de expressão, mesmo sem costume e sem disposição para escutar.
Interrogações, provérbios, protestos, palavras de ordem, riscos e rabiscos são os fonemas do inconsciente que ousam aparecer à vista pública (por momentos, pois logo são apagados). Esse linguajar primitivo fica à vista de todos aqueles mesmos que o ignoram. Sem os muros como suporte para a gritaria moderna, o que seria da vida nas cidades?
As paredes menores, entre 2 e 4 metros, não atrapalham a vida urbana com seus monossílabos, seus rabiscos e murais coloridos. Suas frases equivalem a vozes de crianças rebeldes, abandonadas pelos mais velhos, magoadas pelas tradições.
Mas há na cidade construções que parecem tão antigas e pesadas como as muralhas de 30 metros de Jericó, a cidade de dez mil anos. Nelas cabem os maiores gritos da humanidade, aqueles que não podem ser gritados pelas criaturas nem escutados pelo Criador.
Siga o Cultive Ler no FacebookCasa abandonada, na Quinze de Novembro |
Nessas áreas habitadas somente por fantasmas decaídos e mofados, os muros funcionam como depósitos de gritos, de lamentações que um dia emudeceram e ficaram ecoando, no ilusório silêncio das paredes (v. o artigo Livros de pedra, de Manoel Magalhães).
As frases das muralhas de hoje são testemunhos que sobraram de uma época de reflexão – hoje carente de jornais comunitários – e de amor pela liberdade de expressão, mesmo sem costume e sem disposição para escutar.
Interrogações, provérbios, protestos, palavras de ordem, riscos e rabiscos são os fonemas do inconsciente que ousam aparecer à vista pública (por momentos, pois logo são apagados). Esse linguajar primitivo fica à vista de todos aqueles mesmos que o ignoram. Sem os muros como suporte para a gritaria moderna, o que seria da vida nas cidades?
Os rabiscos são as letras da selva urbana. |
Mas há na cidade construções que parecem tão antigas e pesadas como as muralhas de 30 metros de Jericó, a cidade de dez mil anos. Nelas cabem os maiores gritos da humanidade, aqueles que não podem ser gritados pelas criaturas nem escutados pelo Criador.
Fotos: M. S. Magalhães (1, 3) e F. A. Vidal (2)
2 comentários:
Manoel Magalhães é um dos mais ativos intelectuais de Pelotas. Me sinto orgulhosa e, testemunhar seu trabalho - em áreas segmentadas, mas sempre com a mesma competência.
Tomas Ochoa.
Escrevi orgulhosa, quando deveria ter escrito orgulhoso. Desculpem o ato falho.
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