segunda-feira, 31 de maio de 2010

The Beats novamente em Pelotas

O grupo argentino The Beats reproduz desde 1987 a música de The Beatles. Eles imitam todos os detalhes dos rapazes ingleses, inclusive a roupagem e a instrumentação original dos anos 60, até o ponto de terem sido indicados como a melhor banda cover no gênero beatle em 1996.

Compare os Beats argentinos (acima) com os insuperáveis Beatles (som de estúdio, abaixo). Veja aqui outra versão dos ingleses (show no Shea Stadium, Nova Iorque, agosto 1965).

Veja aqui outra banda de tributo, The Cavern Beatles (integrantes naturais de Liverpool, com grandes semelhanças físicas e de voz com os originais), cantando a mesma Ticket to ride, do filme Help!

Neste feriado católico de Corpus Christi, quinta 3 de junho, The Beats se apresenta de novo no Teatro Guarani, às 21h (a vez anterior foi em 2007). No sábado 5, eles estarão em Porto Alegre, no Teatro do SESI.

domingo, 30 de maio de 2010

As árvores da praça Osório

Na foto de Cristina Carriconde, jornalista pelotense, as árvores da praça Coronel Pedro Osório, vistas do Edifício Rheingantz, parecem reflexos num lago circular. Entre as sombras desenhadas no chão e as folhagens de cores, flutuam nossas lembranças perdidas de um tempo ainda presente.

Ruínas coloniais à espera de um resgate

Casarão com feições coloniais estava abandonado em 2006, ainda com telhas.
Em 2008, plantas saíam pelo espaço deixado pelas telhas.
Perto do ano 2006, o administrador de empresas Saul Moura dos Santos adquiriu o abandonado e ruinoso casarão dos Mendonça (Gonçalves Chaves esquina Sete de Setembro).

Segundo a notícia do Diário Popular (leia), a prefeitura havia dado dois meses de prazo para fazer as contenções que impedissem ações vandálicas (acima), e um arquiteto (Pierre Prestes) preparava um projeto de reforma.

A casa ficou protegida contra invasões, mas seguiu deteriorando-se pelo abandono, até abrir-se um rombo no telhado, que aumentava dia a dia. Em 2008 as árvores cresciam, dentro das salas, e eram regadas pelas chuvas.

Fachada principal, começando a descaracterizar-se (2010)
Em fevereiro de 2009, num post sobre uma casa abandonada (leia), um leitor sugeriu no blogue que pesquisássemos sobre o casarão dos Mendonça.

Em julho desse ano, o jornal acima citado afirmava que até dezembro o referido prédio estaria pronto para o início da obra (leia). Operários haviam retirado as árvores, a calçada já estava liberada para os transeuntes e os acessos da casa seguiam bloqueados. Na edição de 20 de julho, uma antiga moradora foi entrevistada e a reportagem incluiu até um histórico do prédio. Mas no fundo nada havia mudado.

Corredor de entrada, visto pela porta principal (2010)
No comentário aqui no blogue, o nosso leitor anônimo dizia que o valor deste casarão reside na arquitetura colonial lusitana, da qual há pouquíssimos exemplares conservados em Pelotas, que justamente foi habitada em seus inícios por imigrantes portugueses.

Os casarões que fazem a fama e os louvores da cidade - e que é muito mais caro cuidar - são de tipo eclético, mais recente e de menor pureza artística. A construção colonial remete diretamente aos açorianos que primeiro chegaram a Pelotas, o que tem maior valor histórico e maior profundidade afetiva para nossa cidade e cultura.

Mais um ano transcorre e a antiga casa segue deteriorando-se por dentro e por fora, como mostram as duas últimas fotos deste post, tomadas em maio de 2010. Numa delas (acima), vê-se a porta principal (na verdade, um portão metálico improvisado, pois a original apodrecei). De uma abertura nessa mesma porta, podem ver-se azulejos e lajotas expostos à intempérie (dir.).
Fotos da web (1-2) e F. A. Vidal (3-4)

Beleza fotográfica

Desde que chegou de Piratini a Pelotas, aos quatro anos, Eduardo Devens costumava admirar a beleza dos prédios da cidade. Ao crescer, estudou medicina e se dedicou aos procedimentos médicos voltados à estética, utilizando na profissão o olhar voltado para o belo desde a infância.

Trinta anos depois, o hábito antigo se converteu no passatempo artístico de fotografar detalhes da vida de Pelotas e arredores, alusivos ao passado ou à vida cotidiana atual. Tais detalhes dialogam com o dia-a-dia, ora escondendo-se atrás do estresse da cidade, ora ocultando-o em cores e ângulos inesperados.
A série Beleza Pelotense se constituiu dessas fotos, e foi apresentada em duas partes. A imagem acima pertence à segunda, vista em outubro de 2007 na Sala Antônio Caringi, que na época se colocava no interior do Grande Hotel. A Secretaria de Comunicação qualificou a mostra como "uma coleção de pequenas jóias para adornar ainda mais a coroa da Princesa do Sul".

sábado, 29 de maio de 2010

Feijão no Dente, banda latino-americana

Esta segunda-feira (24), a Fábrica Cultural Música pela Música acolheu mais uma apresentação do Sete ao Entardecer. O projeto municipal perdeu este ano o seu espaço natural, o Teatro Sete de Abril, fechado em março para restauração (ou reformas, não ficou bem claro) dias antes de os shows começarem.

A casa particular da Félix da Cunha dispõe de 150 cadeiras, capacidade bem menor que o Sete com lotação máxima (600 pessoas), mas na distância entre as duas salas - cerca de um quilômetro - é como se o público se reacomodasse: se no habitual horário das terças ocupava o Sete pela metade, agora, na Fábrica, se adapta ao lugar e aos shows específicos (são uns trinta por ano, sempre com músicos locais).

Neste que é o oitavo espetáculo de 2010, uma plateia de cerca de 50 pessoas escutou o som latino-americano da banda Feijão no Dente, em seu primeiro recital "grande".

Estudantes da Licenciatura em Música da UFPel, já com experiência tocando, criaram o grupo em julho de 2009. Sua primeira apresentação foi no projeto de extensão “20 pras 10”, do I.A.D., em que os alunos do curso fazem uma pequena mostra musical no intervalo das 9h40min, uma vez por semana. Depois dessa estreia, a banda fez a abertura de alguns shows para o projeto Roda Viva do Bar João Gilberto.

Segundo o vocalista Fagner Moura, o curioso nome foi escolhido justamente para criar surpresa e interesse. "Feijão no dente" pode sugerir muitas coisas, menos o que o grupo é: um divulgador de música popular brasileira e latino-americana, especialmente uruguaia e argentina. Os músicos não somente tomam diversas raízes (Atahualpa Yupanqui, Chico Buarque, Moraes Moreira) mas as mesclam em verdadeira fusão de ritmos e sotaques.

Nesta ocasião, a banda apresentou-se com Roberto Kittel (guitarra), Fagner Moura (violão e voz), Luiz Britto (cajón) e Ottoni de Leon (baixo), mais a participação especial de Lyber Bermudez na percussão e Fabrício Moura no bandolim. A partir da esquerda: Roberto, Fabrício, Lyber e Fagner. Acima à direita: Ottoni.
Fotos de F. A. Vidal

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nota sobre a produção de doces

Reportagem da RBS TV Pelotas sobre a produção de doces: os de receitas portuguesas e os da tradição colonial. Jornal do Almoço de hoje sexta (28), com o repórter Daniel Trzeciak e o cinegrafista Leonardo Silva. Se não puder ver o vídeo acima, clique aqui.

O leitor saberia dizer qual é a rua onde fica a fábrica de doces de dona Emília? (veja a resposta nos comentários)

Alguém nos ama (Nietzsche?)

O papel da foto acima encontra-se colado no tapume da obra que reforma o antigo casarão do Sallis Goulart e Ginásio Pelotense, pela Rua Tiradentes. A mesma imagem está no blogue do Camafunga (janeiro 2008) e no fotolog de Paulo Momento, ambos de Pelotas. Em nossa cidade há vários nietzscheanos, especialmente na Filosofia da UFPel, mas não se sabia de uma devoção tão quase-cristã como esta.

A frase "Nietzsche te ama" - ironia paradoxal da filosofia - também apareceu há uns dias no twitter de Richard Brodt, outro pelotense, que deve ter visto este anúncio na rua. Em inglês (Nietzsche loves you), o Google informa como sendo o título de uma palestra na Suíça (abril 2009) sobre o filósofo alemão e o nome de uma peça em um ato, escrita pela norte-americana Kelsey Gipe (s/d).
Foto de F. A. Vidal

terça-feira, 25 de maio de 2010

Chuvas que pregam peças

Em cada estação, as chuvas nos pregam peças quando estamos desprevenidos.

No verão, nos dão um banho repentino no meio de um dia de sol. No inverno, saímos de casa com guarda-chuva e chegamos totalmente molhados. Mas em zona úmida não existem simplesmente dois tipos de precipitações.

Como em Pelotas chove normalmente ao longo do ano, temos aguaceiros diferenciados segundo a estação. A cada tempo, uma surpresa molhada.

No outono, por exemplo, temos aquelas garoas finas, de várias horas, que não chovem mas molham como se chovesse. E não faltam as chuvaradas enganosas, como a de ontem (24), uma segunda-feira totalmente nublada, com altíssima umidade do ar.

Após o anoitecer, uma miúda precipitação fazia papel de mosquinha morta, dissimulando suas ambíguas intenções pluviais. Era uma garoa progressiva, evoluindo para toró. Bem lentamente ela foi pegando força (acima), dando tempo de proteger-se a quem não tivesse guarda-chuva (maioria de quem saiu de casa de manhã). Não pude fotografar o momento mais intenso, pois com o vento a máquina já estava molhando-se. Parecia uma chuva de verão, mas a temperatura se manteve outonal, nem quente nem fria.

A maior travessura dos anjinhos ficou armada no Edifício Everest, pela Gonçalves Chaves. Uma série de canos lança desde o primeiro piso pequenas cascatas direto na sarjeta. Num dos carros estacionados, o jorro caía justo na porta do motorista (dir.), que enquanto durou o fenômeno com certeza não pôde abri-la.
Fotos de F. A. Vidal

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Serenata para a terra da gente

María Elena Walsh, compositora e poetisa argentina nascida em fevereiro de 1930, fez a letra e a música de Serenata para la tierra de uno em 1968. O poema canta o amor pela pátria como se fosse uma pessoa; mudando pequenos detalhes alusivos à Argentina, pode aplicar-se a qualquer terra natal.
Mercedes Sosa (1935-2009), acompanhada pelo violão de Nicolás Brizuela, gravou esta e mais onze canções em abril de 1980, para a TV suíça, em Lugano (DVD Mercedes Sosa Live).

POST DATA (15-01-11):
A compositora María Elena Walsh faleceu em 10 de janeiro, aos 80 anos de idade.

Porque me duele si me quedo, pero me muero si me voy,
por todo y a pesar de todo, mi amor, yo quiero vivir en vos.
Por tu decencia de vidala y por tu escándalo de sol,
por tu verano con jazmines, mi amor, yo quiero vivir en vos.
Porque el idioma de infancia es un secreto entre los dos,
porque le diste reparo al desarraigo de mi corazón.
Por tus antiguas rebeldías y por la edad de tu dolor,
por tu esperanza interminable, mi amor, yo quiero vivir en vos.
Para sembrarte de guitarra, para cuidarte en cada flor,
y odiar a los que te castigan, mi amor, yo quiero vivir en vos.

domingo, 23 de maio de 2010

Banda da Escola Ferreira Vianna


A banda da Escola Municipal Ferreira Vianna foi criada em junho de 2007 e já participou em três desfiles da Semana da Pátria, além de outros eventos, em Pelotas (veja uma nota) e cidades próximas. O grupo se constitui por alunos desde a pré-escola até oitava série e alguns ex-alunos.

Esta tarde de domingo, a banda da Escola foi a penúltima a apresentar-se no 11º Festival de Bandas e Fanfarras, na Avenida Bento Gonçalves. O evento é uma parceria entre radialistas e o projeto municipal Banda na Escola, que desenvolve agrupações musicais em estabelecimentos de Pelotas e região (cerca de vinte). O público era o costumeiro na avenida: pouco, considerando-se um clima favorável e a existência deste festival.

Dirigida por Paulo Medeiros, a banda da Ferreira Vianna está com 70 integrantes, incluindo balizas, guarda de honra e músicos. Nesta ocasião, o jovem mor Rafael Medeiros também tocou uma música ("Brasileirinho"), como solista no metalofone, acompanhado pela banda.

A guarda de honra feminina (acima) lidera o conjunto, portando o pavilhão nacional à frente, e na segunda linha as bandeiras de Pelotas, do Rio Grande do Sul e da Escola Ferreira Vianna. As jovens que têm as mãos livres fazem um movimento horizontal ao marchar (não vertical, como é o usual). A banda é conduzida pelas coreografias das balizas (meninas e adolescentes) e uma comissão de frente (dir.) de quatro crianças. Finalmente, vêm o mor e os instrumentistas (de percussão e sopro).

Todos levam muito a sério suas funções ao desfilar, sabendo que representam sua escola ante a sociedade; no entanto, percebe-se ainda alguma tensão, talvez pela falta de costume à exibição pública ou da necessária consciência mística para marchar com solenidade e orgulho. A percussão soa com certa suavidade, e os instrumentos de sopro não se fazem ouvir a mais de uma quadra de distância.

No entanto, em somente três anos de existência, e considerando a origem social e a diferença de idade dos integrantes, é impressionante o que já se conseguiu, especialmente no trabalho melódico e na apresentação visual. Com estas virtudes encaminhadas, em poucos anos esta banda infanto-juvenil estará ao nível de todas as outras. Neste festival, a escola ficou em 3º lugar na arrecadação de agasalhos.

A Escola Municipal Ferreira Vianna funciona há 53 anos no que foi uma antiga charqueada, no bairro da Balsa, zona pobre da cidade, entre o centro e o canal São Gonçalo. Uma pesquisa (leia aqui) não conseguiu precisar a antiguidade dessa casa colonial e detectou o desconhecimento nos alunos sobre a história do estabelecimento.

O pelotense Antônio Ferreira Vianna (1832-1903) atuou no Rio de Janeiro como jurista, jornalista, vereador, deputado e ministro imperial da Justiça. Neste último cargo, redigiu e fez aprovar a Lei Áurea (leia biografia). Daí que seja nome de rua também no Rio de Janeiro. Em nossa cidade, a avenida que leva seu nome se associa a ansiedades e tragédias automobilísticas, desde que foi pavimentada no primeiro governo Irajá até sua duplicação no governo Fetter Jr. (leia a nota)
Fotos de F. A. Vidal

sábado, 22 de maio de 2010

Arte entre túmulos

A estudante de Jornalismo Helena Santos Schwonke, 23 anos, fotografou detalhes de esculturas, bustos e mausoléus que adornam o Cemitério São Francisco de Paula. As imagens em preto e branco ficaram expostas durante o mês de maio na Galeria de Arte da Universidade Católica de Pelotas.

Os cemitérios normalmente contêm obras de arte de tipos diversos: esculturas, pinturas, poesia, gravura e música. No entanto, sua existência não costuma ser considerada pela sociedade, seja porque a emoção dos visitantes impede que as percebam, seja porque as pessoas interessadas em arte não costumam visitar cemitérios.

Associada a temores e perdas, a chamada "arte tumular" cai no esquecimento geral, com o paradoxo de que tais obras de arte se destinam justamente a representar a memória nos vivos de seus entes queridos. Enquanto as igrejas têm a conotação da espiritualidade pura, apesar da existência em seu interior de mausoléus, o medo da morte tinge os cemitérios de cores negativas.

Daí que a autora destas fotos preferisse o preto e branco, como forma de chamar a atenção, com suavidade e respeito, para a existência da arte nestes ambientes. Mantendo uma tonalidade depressiva, a falta de cores evita qualquer associação possível com algum interesse mórbido.

O título por ela escolhido para esta sua primeira exposição, foi justamente “A Arte Esquecida”. O que servia para eternizar memórias está, curiosamente, sendo esquecido, avalia a artista. Muitas de suas esculturas favoritas já foram furtadas ou depredadas. “Daqui a pouco esses monumentos não existirão mais”, alertou.

Sua principal intenção, desde que começou a fotografar arte tumular, é mostrar às pessoas que o cemitério pode esconder belezas. “Muita gente não tem a ideia de que pode existir arte num lugar assim, que a maioria julga triste”, ponderou.

De acordo com a artista, que começou estes registros aos 15 anos de idade, os cemitérios são locais costumeiramente frequentados na Europa, tanto em função das figuras ilustres sepultadas nos locais quanto pelas obras de arte.

Apesar de ter fotografado arte tumular no Uruguai e no Canadá, Helena irá expor apenas imagens de Pelotas. Tudo para mostrar à população o patrimônio existente em sua própria cidade. “Aqui temos Simões Lopes Neto, Lobo da Costa, Antônio Caringi. O preconceito é só falta de informação. O cemitério é um museu a céu aberto”, avaliou.

A proposta de Helena pretende desfazer esse preconceito e, principalmente, valorizar a cultura e o patrimônio. Segundo ela, o acervo de nosso cemitério mostra a arte e a história de uma Pelotas muito diferente da que conhecemos hoje. "Se trata de uma arte de muito bom gosto e cheia de detalhes que fazem o observador viajar no tempo, na história da cidade e na história das famílias”, destacou.

A técnica utilizada privilegia os detalhes, para valorizar os traços delicados das esculturas, em dez fotografias no formato 30cm x 40cm. Em relação com a sua profissão do jornalismo, Helena explica que ela segue sendo, com a fotografia, uma mediadora entre a arte tumular e o público. “Com minhas fotos, estou representando o mérito do escultor. Eu aproximo as obras às pessoas”, declarou.
Imagens da artista

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Café e cerveja

Samanta Flôor é ilustradora freelancer, seus trabalhos saem em jornais como Zero Hora e lugares inesperados, no Flickr e, desde 2006, no seu blogue Cornflake. O apelido provém de uma música da Tori Amos, que ela adora (Cornflake Girl).

A Samanta mora em Porto Alegre mas numa dessas vindas a Pelotas, em fevereiro passado, fez o desenho ao lado, e pôs o título "Café e cerveja".

Os seus admiradores acham o seu traço "fofo", que é um aumentativo sintético de "simpático". Ela disponibilizou um calendário assim, fofíssimo, em dezembro de 2009. Veja abaixo as pine-up girls de janeiro e fevereiro (procure pela data; pode copiar e imprimir).

Como ela trabalha nisso, aceita encomendas por e-mail, do mundo inteiro (e sua qualidade é de nível internacional). Começou fazendo rabiscos ao telefone, e deu nisso. Na verdade, ela é arquiteta formada mas exerce como desenhista. De mão cheia. Ilustra livros e faz histórias em quadrinhos, que ela chama de toscomics.

A Sam parece não saber, mas também é uma escritora minimalista, daquelas que faz frases poéticas e apaixonantes, como os epigramas do Mário Quintana. Veja só:

Será o inverno a estação das minhas esperanças?
----------
Ontem uma minúscula borboleta branca com pintinhas cinzas pousou na minha mão esquerda.
----------
...e então a Chapeuzinho mostrou ao lobo que café com biscoito é mais gostoso e saudável do que pessoas, e eles viveram felizes para sempre.

Imagens: Cornflake

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O dia em que choveu dinheiro, no Guarani

O cronista Rubens Amador presenciou um fato inacreditável, em 1937.

Segundo seu relato, o filme Pennies from Heaven (1936) foi publicitado, somente em Pelotas, com uma ousada técnica, que fez a romântica música-título, uma canção de ninar, cantada no filme por Bing Crosby (veja o trecho original), perder a espiritualidade original (veja a letra completa). Mas ninguém reclamou por isso.

Para acompanhar a leitura, clique no vídeo (final desta nota) para ouvir a música cantada por Billie Holliday, em gravação de 1936 (Teddy Wilson no piano, Benny Goodman no clarinete, Jonah Jones no trompete, Ben Webster no sax tenor).


Uma única vez, caíram Pennies from Heaven
Faz muitos anos, aconteceu chover dinheiro do céu, defronte ao velho e simpático Teatro Guarany.

O empresário do cine-teatro, da época a que me vou reportar, parece-me que era David Guirotane. Ele deu um autêntico show de marketing, com a finalidade de lotar a casa, antecipando-se, sem o saber, em várias décadas, às modernas técnicas publicitárias. Segundo a imprensa da cidade, escrita e falada, os dirigentes do Teatro Guarany prometiam que, às 16 horas do dia tal, “cairia dinheiro do céu”, associando tal fato ao filme que tinha o título: "Dinheiro do Céu".

Desnecessário dizer que, por volta das 16 horas do dia marcado, grande número de pessoas se aglomerou frente ao cinema na expectativa de tão excitante promessa. Havia um grupo enorme e heterogêneo; todos, no fundo, muito curiosos ante os repetitivos anúncios feitos pelos meios de comunicação durante toda a semana. Só se falava na fita "Dinheiro do Céu", e na “chuva pecuniária” que desabaria, ali na rua Lobo da Costa, frente ao cinema.

É preciso que se diga que quase todos os jornaleiros de Pelotas lá estavam (havia quatro jornais na cidade) e formavam um grupo de respeito, pois eram brigões. E, dentre eles, muitos garotos classe média, entre eles eu, torcendo para que ninguém conhecido me visse ali. Como os demais, eu estava decidido “a pegar algum”. Aliás, este era o propósito da maioria, daí já se poder imaginar o clima reinante.

Às 16 horas em ponto, a zoada aumentou lá em baixo, pois alguns funcionários da casa de espetáculos já apareciam no primeiro andar do prédio. Viam-se, de mão em mão, vários sacos com o que seria dinheiro. Grandes cartazes foram erguidos naquele momento, lembrando o filme, que seria lançado no domingo próximo.

De repente, realmente começou a chover dinheiro do céu!

O centro da enorme roda humana que se formara, transformou-se, como que por encanto, em uma autêntica liça: empurrões, guris rolando, gritos de “este é meu!” e não paravam de cair moedas e cédulas de um e dois mil réis, em papel, e de 100 a 500 réis em moeda.

A música criou a lenda das moedas do céu
para as crianças não terem medo de trovão
Lá em baixo, no “apanha” desesperado, várias notas ficavam rasgadas pelo empenho dos disputantes. A gritaria era infernal e se mesclava com as risadas das muitas pessoas adultas que tinham ido assistir algo jamais visto em nossa cidade, promovendo a uma “fita” de cinema, segundo os programas impressos, fartamente distribuídos. Por cerca de vinte minutos, choveu dinheiro, tal como anunciavam os reclames de “Dinheiro do Céu”. O que levou grande público a assisti-lo nos dias subsequentes.

Eu vi. Participei. O irmão do Gaitinha, o mais famoso vendedor de jornais daquela época, anda por aí, e volta e meia nos encontramos e revivemos aquela tarde inesquecível. Tive o prazer, um dia destes, de ouvir de viva voz o testemunho do Dr. Francisco D. C. Vidal, meu caro amigo, que residia defronte aonde todos os fatos se deram, e de sua janela principal a tudo assistiu com seus familiares.

Naquela noite fiquei de castigo, sentado em uma cadeira frente a minha mãe, enquanto ela costurava minha roupa, depois de passar iodo nos arranhões que eu apresentava. Ela verberando a minha sina de brigão, ante aqueles lanhados todos. E eu firme, sem revelar o que tinha acontecido. Jamais vou me esquecer daquele dia e daquele filme que passou no Guarany, e que me rendeu quase três mil réis. Na época, um chefe de família modesto ganhava mais ou menos 150 mil réis!

Juro-lhes: se tivesse a graça de voltar no tempo, repetiria tudo de novo. Aquele foi o primeiro dinheiro que ganhei com meu próprio esforço. E que esforço.
Imagens da web (1, 3), blog Common Cents (4, Gerard Oge) e F. A. Vidal (2)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Necrorgânicos, desenhos infernais

Cassius André Prietto Souza participou com dez desenhos no primeiro ciclo de mostras de artes plásticas organizado pela SeCult. Sua primeira exposição individual teve o título “Necrorgânicos, uma visita ao inferno”, e em suas obras ele se utilizou de caneta esferográfica, pincel atômico e pastel seco sobre papel.

As imagens necrorgânicas, como ele as chama, são figuras de personagens sinistras, por ele pesquisadas, desde a infância, em escritores antigos e modernos, histórias em quadrinhos, jogos de vídeo, RPG, videoclipes e cinema.

Se necro é morte e orgânica é vida, os necrorgânicos são demônios assumidamente malignos, que perseguem o ser humano desde os mais antigos tempos, desde dentro da mente das pessoas, numa espécie de mundo paralelo. Em "Sucubus" (acima), diabos com chifre, cola e asas crucificam e aterrorizam a existência normal.

Sem pudores morais, Cássius pressente, constrói e expõe, a quem for passando, os temas mais apavorantes, como rituais profanos de magia negra, depravação, selvageria e carnificina. Seu sentido não está posto em assustar, mas em pôr ordem e detalhismo em elementos inconscientes, rejeitados e temidos por todas as culturas em todas as épocas.

Este mundo de mortos-vivos é seu mundo pessoal, mas também é o mundo escondido da humanidade. Segundo ele, suas imagens personificam o mal: um mal literário, artístico e popular com padrões que estão numa ordem entre o faustoso, com sua beleza, e o sexualmente depravado.
Fotos de F. A. Vidal

Jazzy Beatles

Esta noite, no Bar João Gilberto, o guitarrista Celso Krause apresenta o CD Jazzy Beatles, projeto em associação com o produtor fonográfico Zé Ricardo.

Os músicos pelotenses recriam melodias do famoso quarteto inglês somente com vozes instrumentais: guitarra (Krause), baixo (Zé Ricardo), bateria (Renato Popó), percussão (Davi Batuka), sax tenor (Daniel Zanotelli), sax alto (Pablo Arrigonni), violinos (Lys Márcia Ferreira e Paulo Alfrino Borba).

Partes da música estarão escritas, outras somente mentalizadas, e mais algumas sairão na hora do improviso.

Este show já foi apresentado em outubro de 2009 (veja anúncio) e em janeiro (na Casa do Joquim, veja anúncio). Desta vez, foi anunciado o preço da entrada (R$ 5) mas não dos discos.

Na fotografia de Moizés Vasconcellos para o Diário Popular (dir.): Popó, Krause e Zé Ricardo.

No vídeo abaixo, o trecho solo de Krause em "Beira Mar" (Gil e Donato), gravado em 2004 na TVE, com o grupo Jazzmania (baixo Paulo Lima, tecladista Toni del Ponte e baterista Gilnei Amorim).

terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma cidade é feita por corações

Paris, Je T'Aime foi o filme escolhido para iniciar mais um ciclo de cinema ao redor da História da Arte, na sexta-feira 9 de abril. O professor Carlos Alberto Santos (abaixo), que leciona esta disciplina na UFPel, seleciona algumas obras audiovisuais que ilustram períodos históricos e aspectos artísticos interessantes, e os comenta antes da projeção. Abertos à comunidade, os ciclos vêm sendo feitos há três anos no I.A.D., com sala quase cheia, e sem cobrar entrada. O esquema começou há uma década quando o Instituto de Artes estava na Marechal Floriano e os filmes ainda eram em VHS.

Nossa cidade é uma extensão de nossa família, já disse Vítor Ramil (veja entrevista). Por que não se entender bem com nossa comunidade, se ela é feita de pessoas que pensam, sentem e sonham? Mas geralmente quem mais odeia um lugar são os que nele habitam, e os turistas que o visitam uma vez por ano são os que o fotografam e louvam. Talvez por isso, Paris, Je T'Aime tem 22 diretores dos cinco continentes e atores franceses e estrangeiros. Há dois diretores brasileiros, Walter Salles e Daniela Thomas.
O modelo do filme coletivo pode ser aplicado a quem quiser manifestar amor por sua cidade. Dezoito bairros de Paris inspiram dezoito relatos de seis ou sete minutos, de gêneros diversos, sobre amores e medos, cada um deles acontecendo em ruas, praças, restaurantes, metrô, cemitério, dentro de casa, longe de casa, dentro do carro, longe do país de origem etc. A premissa do filme é que a cidade é um grande coração coletivo formado por milhares de corações individuais.

Segundo a Wikipédia, Paris tem 105 km2 e Pelotas, 1608. No filme, Montmartre, Pigalle, Quartier Latin, Bastille e outros setores parisinos sediam histórias de prazer e sofrimento, ilustrando como as pessoas vivem ou tentam viver. Em nossos bairros e sub-bairros não seria diferente: o centro histórico, Simões Lopes, o Porto, a Cerquinha, Recanto de Portugal, a Z3, a Dom Joaquim, Tablada, Guabiroba, Vila Princesa, Navegantes, Obelisco e toda a zona rural.
Pelotas está sendo descoberta por turistas, pesquisadores e estudantes, enquanto alguns pelotenses persistem em dois mundos fictícios e paralelos: o das glórias históricas e o das denúncias urgentes. Vaidades e ódios se anulam, e a comunidade fica estagnada. Os tempos e as interações nos levarão a uma integração gradual, passando pela conscientização de nossas belas e feias intimidades.

No trecho sobre o bairro Tour Eiffel (abaixo), de tom levemente surrealista, escrito e dirigido pelo francês Sylvain Chomet, um menino chamado Jean-Claude conta como seus pais se conheceram. As imagens mostram como o mímico (ator inglês Paul Putner), preso por engano ao imitar um ladrão, se apaixona por uma colega (atriz belga Yolande Moreau), também presa por algo parecido. Eles têm este filho, que é objeto de deboche por ser "filho de mímico", ocupação que o relato coloca como odiada pela sociedade. Mas seus pais o amam assim como é, e o animam a sorrir para a vida, como faz todo palhaço.
Assim deveríamos orgulhar-nos de nossa cidade e nossas origens.
Imagens da web e F.A. Vidal (2)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Imagens de Pelotas no Corredor

Nely Rodeghiero volta ao Corredor Arte com suas inovadoras ideias. Se em 2009 trouxe pintura em telhas (veja a nota), agora suas imagens de Pelotas são feitas em discos de vinil transformados em relógios.

A mostra inclui 27 discos pintados (que são também relógios a pilha) e 8 quadros abstratos à base de tinta acrílica, todos à venda por preços populares (abaixo de R$70). A visitação pode ser feita até esta quarta (12).

Artesã e recicladora, Nely trabalha com materiais descartados - como telhas, vidros, espelhos e potes - e produz com grande agilidade mais de uma obra por dia.

Além disso, ajuda a valorizar o patrimônio de Pelotas, ao divulgar lugares e construções da zona urbana e rural. Nos últimos 12 anos, quando começou a dedicar-se à arte como forma de superar uma depressão, suas obras já foram expostas em clubes, escolas, galerias e universidades.

O casarão da família Mendonça (acima), na Gonçalves Chaves com Sete de Setembro, hoje em ruínas, ficou gravado num destes discos visuais, assim como o Casarão nº 6, a Olaria São Domingos, a entrada da Associação Rural, a fachada do Diário Popular, o Paço Municipal, a cervejaria Brahma e vários outros. Esses ambientes, que na verdade são lembranças da pintora e dos espectadores, vieram encher o espaço estreito do Corredor Arte de vida e amplitude.

Mesmo não tendo um acabamento minucioso, as obras de Nely não deixam de ter sentido poético, pelas ideias que as originaram e seguem nelas contidas. Se algum dia os elepês contiveram música, as capas de tinta lhes dão maior rigidez e logo adquirem formas e cores de lembranças visuais.

Algumas delas podem ter conexões sonoras, como os "Dançarinos" ou o "Caminho das Águas", enquanto outros aludem ao silêncio que nenhuma gravação poderia registrar, como a paz do santuário de Guadalupe ou do Trapiche do Valverde (esq.).

Todas essas imagens agora vão registrar a passagem do tempo, com seus ponteiros que deixam mais espaço livre à imaginação. Do velho disco, a artista somente deixou vigente o formato circular.

Como se fosse pouco produzir tantas ideias e objetos, a artista traz também pinturas sem título, que contrastam com a simplicidade ingênua das imagens figurativas. Do registro visual de lugares cotidianos e históricos, Nely passa à elaboração abstrata, com poucas linhas e poucas cores, como se não tivesse um ponto de vista determinado.

Um deles, no entanto, mediante formas que lembram edifícios de uma grande urbe (esq.), parece falar das outras pinturas. A boa distância dessas imagens concretas, esta segunda visão sugere que a cidade está no espírito interno da artista, a brotar de seu pensamento espontâneo.

Do mesmo modo, é possível pressentir que as pinturas à base de cores, sem formas claras, se referem a sensações pessoais ante a natureza e o meio rural. Mais especialmente, de acordo ao testemunho dela, à sensação de estar viva e poder perceber o mundo à sua volta com esperança.

Com esta exposição, o Corredor Arte abriu um caderno de registro (dir.), que permite estimar o número de visitantes e guardar algumas apreciações.
Fotos: Corredor Arte (1-2, 4-5) e F. A. Vidal (3, 6)

Consulta Popular, projeto UTI Neonatal

Nesta quarta (12), realiza-se a consulta popular 2010-2011 do Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Sul. O Estado destinou este ano 150 milhões de reais para os projetos mais votados pela população.

O COREDE Sul, com sede em Pelotas, inclui 22 municípios, de Canguçu a Jaguarão e de São José do Norte a Santa Vitória do Palmar, dispondo de 12 milhões para qualificar projetos nas áreas de saúde, segurança, educação, agronegócios e outros. Há 28 COREDEs no Rio Grande do Sul.

As inscrições podem ser feitas até as 15h de terça (11), no Paço Municipal de Pelotas e pela internet. A partir das 14h de quarta, eles serão explicados por seus proponentes no Salão Nobre da Prefeitura. Cada cidadão pode votar em 4 projetos. Para votar bem informado é bom assistir às palestras.

Um dos projetos, já apresentado anteriormente, é a reforma da UTI Neonatal do Hospital-Escola da FAU-UFPel. Pelo texto abaixo, a coordenação de comunicação pede o voto dos pelotenses para reformar a UTI de recém-nascidos.

O Hospital Escola (HE) conta mais uma vez com a comunidade para aprovar seu projeto nas eleições do COREDE SUL, pleito que destina verbas públicas para os projetos mais votados pela população.

A Reforma e Adequação da UTI Neonatal do Hospital Escola UFPel/FAU propõe:

  • aumento de leitos em área coletiva e de isolamento para os recém-nascidos em estado grave, e

  • melhorias no espaço de observação dos bebês que apresentam desconforto ventilatório leve, em fototerapia ou submetidos a cirurgias.

Este projeto do Hospital busca oferecer tratamento intensivo a mais crianças e recém-nascidos de Pelotas e da região sul. 100% das internações do H.E. são destinadas ao Sistema Único de Saúde.

Para contribuir com esta obra de saúde pública, compareça, nesta quarta-feira (12), no prédio da Prefeitura Municipal de Pelotas, portando carteira de identidade ou título eleitoral, e vote no projeto nº 01.

Camelôs bem tutelados

Há cerca de duas décadas, a proliferação de vendedores ambulantes no centro de Pelotas levou à necessidade de um local onde eles tivessem bancas fixas, ou seja, deixassem de ser "ambulantes" (a palavra sugere caminhada, deslocamento).

Desde antes da construção, o lugar ficou com o apelido pejorativo de "camelódromo", depois suavizado para "shopping popular". Na cultura hispânica, conhecem-se como mercados persas, pelo costume árabe de vender em feiras. No Brasil, o mercador de miudezas ficou como camelot, de igual significado no francês.

O elemento grego dromo significa "corrida ou corredor" (substantivos). Daí saíram: autódromo e aeródromo, o neologismo brasileiro sambódromo, o termo médico dromomania (correr compulsivo) e o dromedário (camelo corredor). O elemento perdeu o conteúdo de deslocamento quando inventamos os fumódromos (espaços para fumar, sem movimento). Outra ideia brasileira, os camelódromos, acrescentaram uma ambiguidade: podem ser um corredor para camelos ou para camelôs. Ambos teriam um pé no Médio Oriente.

No aspecto legal, ninguém se importou com os camelôs serem comerciantes informais, que não pagam impostos normalmente, como o fazem os empresários estabelecidos. O povo denomina os produtos baratos como "piratas" (falsificados ou "fora-da-lei"), denunciando o lado negativo da atividade.

O primeiro camelódromo pelotense ia ser vertical (numa espécie de edifício, com vários pisos sem acabamento), mas a construção não deu certo. A opção foi um quarteirão baldio, vizinho à antiga Praça dos Enforcados, onde há um século passava um braço do Arroio Santa Bárbara (ainda se vê a ponte da Marechal Floriano com Santos Dumont).

Do outro lado da Floriano, situa-se a Receita Federal, onde as leis se cumprem com rigor, na área comercial e financeira. A impressão, no entanto, é que a União patrocina o comércio marginal. Em nosso país, fingimos cumprir a legalidade, mas legalizamos a improvisação e toleramos a corrupção. É o nosso Brasil dividido em dois.

Hoje, nosso respeitado camelódromo é visitado por pobres e ricos que buscam um produto barato e descartável, enquanto dezenas de outros ambulantes já se instalaram nas calçadas. Pelos corredores de nosso "mercado popular", quem fica fixo são os ex-ambulantes e quem corre são os compradores.
Foto de F. A. Vidal

domingo, 9 de maio de 2010

Mães de coragem

O flagelo da droga pesada é um perigo público (veja na Wikipédia) e motiva campanhas como "Crack nem pensar". Em Pelotas, o amor, o desespero e a coragem de cinquenta mães de jovens dependentes do crack levaram à criação do grupo Mães Contra o Crack, em outubro de 2009.

A vereadora e psicóloga Miriam Marroni deu apoio à iniciativa, na forma de um movimento parecido ao das mães de desaparecidos argentinos, que protestavam periodicamente perante a casa de governo para obter ajuda oficial na recuperação dos familiares.

Algumas mães de jovens viciados têm tomado a medida provisória de prender seus próprios filhos para impedirem que eles sigam na droga. O símbolo da corrente foi tomado por estas mães, que desfilam acorrentadas pelas ruas, desde a Câmara de Vereadores até a Prefeitura. Em abril passado, o grupo adotou uma camiseta e abriu o blogue Mães Contra o Crack.
Inquestionável é a gravidade do problema e admirável é a coragem de quem decide enfrentá-lo. Até os pesquisadores e os terapeutas vivem o medo de trabalhar contra a força de traficantes e bandidos sem escrúpulos. A sociedade hoje não consegue sequer salvar da morte os dependentes; muito menos poderá anular o poder criminoso dos produtores e comerciantes de drogas pesadas.

No entanto, é preciso mencionar que o enorme efeito emocional de campanhas como esta não lhes dá maior efetividade. Pedir tratamentos eficientes para famílias sem recursos é somente a motivação inicial, mas outros elementos devem ser considerados:
  • que uma campanha educativa deve afirmar uma meta positiva, e não limitar-se a declarações e lamentos "contra" os males,
  • que o problema é muito complexo e não pode ser enfrentado somente por médicos, ou somente por políticos, ou somente pela polícia, mas por uma sociedade organizada,
  • que o amor das mães é forte e necessário, mas se faz impotente em ausência do apoio comunitário e da autoestima do enfermo dependente,
  • que a existência de opções de trabalho e lazer (educação, arte, esporte, jogos) ajudam a ocupar o tempo livre e a manejar a angústia de muitos jovens que, de outra forma, se aproximariam do delito, da droga e das desviações sociais,
  • que a ausência de figuras masculinas próximas e firmes é um dos fatores de risco mais frequentes entre drogaditos, que são em maioria do sexo masculino.

Sonhos dedicados aos sonhadores


Um dos selecionados para expor na Sala Antônio Caringi foi Michele Iannarella, artista plástico italiano residente em Pelotas desde 2003. A mostra esteve duas semanas na SeCult, até esta sexta-feira 7 de maio (veja nota).
Casado com uma pelotense, Michele optou por radicar-se no Brasil e seguiu criando em seu intenso estilo, cheio de cores e onde as aparências oníricas se mesclam a elementos concretos reais.
Na Itália, ele já produzia havia trinta anos (veja algumas obras dele no sítio Dimensione Arte) e aqui desenvolveu sua linha própria, cativante à primeira vista.
A série Sogni Dedicati foi exposta em 2008, no Bar João Gilberto, no Centro do Mercosul e na Galeria da UCPel. São oito telas em tinta acrílica, de dimensões médias, entre um e dois metros de lado. A maior delas (acima) tem 1m x 2m: Gli ombrelli per il sogno di Kyoto (Guarda-chuvas para o sonho de Kyoto). A menor (75 x 115 cm) é Le sette sorelle (As sete irmãs), imagem à direita.
Na ocasião, ele falou à reportagem da UCPel sobre sua esperança de, pela arte e pela fantasia, poder-se modificar a cinza e fria realidade atual:
A arte é o que se sonha e o que se vive no cotidiano. É sentir-se livre e libertar-se dos medos, pesadelos e fragilidades. A arte é dar ao nosso mundo uma demão de cor (leia a nota).

O título "Sonhos Dedicados" se refere, de acordo ao artista, às pessoas que acreditam num mundo melhor, aos que lutam para realizar os seus pequenos grandes sonhos, àqueles que permanecem crianças e trazem seus sonhos à vida. Aos "recolhedores de gotas de sonhos".
Os sentimentos idealistas se juntam à urgência de melhorar o mundo real.
Abaixo, Clonazione di organismi geneticamente modificati (Clonação de organismos modificados geneticamente).
Fotos de F. A. Vidal