quarta-feira, 8 de maio de 2013

Reflexão e cafeína (poema)



O café que eu frequento
é todo janelas
e é grande
e é sujo, o vidro,
por dentro e por fora.

de dentro,
as moscas batem querendo sair
de fora,
os mendigos batem querendo entrar,
e ambos trocam olhares
sobre o meu café.

esse muro transparente
separa tudo
miséria  e  miséria
decadência     e     decadência
solidão                e                solidão
estranho espelho.

e de repente percebo
"tudo lá fora é um reflexo meu"

assim
mantenho os olhos na xícara
ignoro
o zumbido da mosca
a fome do mendigo
evitando
eu.
Alexandre Vergara
Foto: M. F. Soares
Texto: Grito embalado a vácuo

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