Crônica de Rubens Amador, escrita e publicada na década de 90, mas de valor perene e atemporal.
Embora a figura materna seja única, por sua condição física e espiritual, há diversas denominações para esta criatura inigualável.
Há a mãe rica, a pobre, a feliz, a infeliz, e a Mãe Saudade! É dessa que quero falar um pouco nesta data.
Quase todos nós, filhos, nunca tivemos a capacidade de retribuir o amor e o cuidado que esse Ser Especial teve para conosco.
Achávamo-las repetitivas e protetoras, às vezes – quando éramos jovens – ao nos lembrarem, por exemplo, para não esquecermos do cachecol em noite fria. Se chovia, era a capa. E a sua eterna advertência:
— Te cuida, meu filho, não bebe muita coisa gelada!
A gente respondia com enfado:
— Tá, mãe, não te preocupes, não vou beber nada gelado.
Mas dávamos de ombros, fazíamos um muxoxo, e lá íamos, lampeiros, para a “brincadeira”, o aniversário ou o baile. No outro dia, era ela quem vinha com a aspirina, o chá de limão e o mel, porque havíamos feito, na festa que participáramos, exatamente o contrário do que ela nos tinha advertido.
E nos cuidava; nos agasalhava com o cobertor e ficava ao nosso lado sem nenhum queixume, porque nós representávamos um pedaço dela, embora insistíssemos em não nos lembrar disso.
Quantas oportunidades perdemos – os da minha geração – de curtir a nossa mãe com a intensidade que ela merecia.
Nós a queríamos com displicência em casa; porém, se na rua alguém a ofendesse com palavras, partíamos logo para a briga, que esse era o único desaforo que não aceitávamos levar para casa. Cobrávamos destemidamente o respeito de outrem para com alguém que era sagrada para nós. Só que ela nunca vinha a saber do ocorrido e do quanto, reconditamente, nós lhe amávamos.
Nosso único pecado foi que a maioria, tal como eu, não soube expressar o seu bem querer por aquela criatura que nos gerou, talvez porque acreditávamos que ela jamais nos deixaria, e não faltaria tempo para dizermos-lhe, agradecidos, o quanto a queríamos bem. Esse dia, creio, foi sempre adiado pela maioria.
Deus fez todas as mães com a mesma massa, dando-lhes uma sabedoria instintiva, com a certeza de que o seu amor para com seus filhos a faria um ser diferenciado na face da terra. É uma pena que descobrimos, quase sempre, tarde demais esta verdade: Nossas mães eram dotadas da capacidade de saber o que era melhor para sua cria!
Hoje, passados tantos anos sem a minha Mãe, no seu dia, confesso que sinto um pouco de remorso por não ter sido mais cordato nas pequenas coisas para com ela.
Desejo daqui homenagear a minha, e às demais Mães Saudade, que com sua sempre sentida ausência justificam este título, com a mesma intensidade, para muitos dos que me lêem, tenho certeza.
Rubens Amador
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