Uma semana antes da inauguração da Feira do Livro, a vida habitual da praça é invadida, primeiro, pela organização dos stands. Durante o ano, o clima de relaxamento é respeitado pelos passantes, que ignoram crianças, estudantes, aposentados, moradores de rua, pedintes, desocupados, prostitutas, pombos, peixes, tartarugas e outras espécies deste habitat.
Por 20 dias, porém, as letras (entenda-se: os comerciantes, os intelectuais e o público leitor) ocupam pela força o espaço dessa fauna, aparentemente inofensiva por seu analfabetismo e sua naturalidade. O escritor Manoel Magalhães registrou em fotos essa incomodidade (veja a postagem).
Como essa perturbação da vida paradisíaca é passageira, não se poderia considerar propriamente uma confrontação entre o natural e o civilizado, mas somente um acidente de percurso, uma crise estacional.
O maravilhoso seria que esses dois mundos, em vez de invadir-se como bárbaros, pudessem conviver durante o ano todo de diversas formas positivas, sem ignorar-se, mas aproximando seus saberes: o da razão idealista e o da vida como ela é. Algum dia, os pombos aprenderiam a ler, e os humanos poderiam voar.
Foto: M. Magalhães (Cultiveler.com)
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