ENCONTRO COM CORTAZAR
Encontrei-o no banco da praça.
Início da manhã.
O sol ainda se espreguiçava, lancetando as tijoletas quebradas.
Mãos no bolso, caminhava apressado.
Foi quando vi Cortázar.
Tristemente abandonado no banco da praça.
Pelo jeito passara a noite por ali.
Aproximei-me.
Seu estado era péssimo.
"Histórias de Cronópios e de Famas", estava escrito na capa.
Olhei para os lados.
Vazio.
Enfiei o volume embaixo do braço e segui meu caminho.
Manoel Soares Magalhães
Fotos da Praça Coronel Pedro Osório: Flickr (1) e blog Viaje por Pelotas (2)
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12 comentários:
Caro Magá: Cliquei em primeiro em "excelente", porque não cabe "excelentíssimo"! Está uma poesia muito bem escrita e que toca a gente, do jeito que só os bons poetas sabem fazer.Parabéns Manoel.Abraçpos, Rubens Amador.
O que posso deprender do texto de Magalhães é uma incansável busca pela brevidade. Sua escrita atual transita ora pelo texto poético, ora pelo haicai, ora pelo poema propriamente dita. Difícil isso, pois o escritor, ao retirar "gordura" do texto corre o risco de "emagrecê-lo" demais. Não é o caso de nosso competente escritor pelotense, que já deveria ter saido de nossas fronteiras acaso não houvesse tanta cegueira por ai. Os editores não são artistas, são comerciantes, e como tal analisam as obras passíveis de publicação. Por esta razão escritores do valor de Magalhães - e tantos outros que existem por ai, estão fadados ao limbo, apenas conhecidos por seus admiradores mais próximos. Uma pena. O texto sobre Cortazar é muito bom. Em poucas linhas ele cria uma situação, um suspense e uma solução - ainda que simpes, é inesperada. Um poema? Um conto brevíssimo? Não sei. Sei que é algo provocador. Paravés Francisco por republicar está raridade. O comentador acima, Rubens (o Rubens editor do Amigos?) foi correto em sua análise.
Marcos Vianna
Com certeza é um relato ultrabreve, mas, como o conteúdo é tão sintético, o autor se vale da forma em linhas da escrita versificada para que a leitura seja feita com pequenas pausas entre as frases.
Trata-se de uma criação literária que vai além da graça do ritmo formal e da provocação do conteúdo. O escritor se faz poeta nesta homenagem ao poeta dos cronópios, escrevendo como ele escreveria, incluindo-se a si mesmo no livro que diz ter encontrado na praça. Uma série de metáforas que nos deixa pensando, meio atordoados.
O sr. Rubens (acima) é o que publica os epigramas de domingo aqui no blogue (e pai do Rubens Filho).
Manoel tem um jeito especial de ver o mundo... Um poeta em busca da simplicidade, e isso nao é pouco.
Virginia
Metáforas? Será que eu não sei mais o que é isso?
Grata, Francisco pela postagem deste lindo poema de Manoel Magalhães!
....
Caro Manoel, como sempre, escreves poemas de uma simplicidade rara (praças, livros, ...) mas também sempre profundos, que tocam nossa alma.
Quanto ao trecho
"Vazio.Enfiei o volume embaixo do braço e segui meu caminho.", esse "grande "pecado" - terias "roubado"???? o livro? -, em se tratando de
"Histórias de Cronópios e de Famas" e Cortázar, com certeza, serás perdoado, rsrs!
Parabéns pelo texto! Tocante!
Abr,
Tê! (Teresinha Brandão)
Grato a todos pelas belas palavras. Respondendo a pergunta de Teresinha: não, não foi roubo. Ao menos imagino assim...
O terreno da simplicidade já é conhecido pelo nosso Manoel Magalhães. Quem conhece suas telas atesta sua capacidade para a simplicidade/ingenuidade, coisa rara na literatura, a qual, para muitos só é séria e competente se for complicada. Isso é um grande erro. Manoel de Barros, poeta amazonense (?) é simples mas de uma grande profundidade. O nosso Manoel é dessa escola. Parabéns ao Pelotas Cultural por nos presentear com uma coisa tão bonita e sábia.
Alfredo
Possíveis metáforas seriam o furto do livro significando furto de ideias do livro, o encontro na praça pública representando o encontro numa livraria ou âmbito público de livros.
Tomar o Cortázar-livro pelo Cortázar-autor poderia ser uma metonímia.
Francisco, interessante análise. Se num texto tão pequeno existem tantas possibilidades a serem analisadas, fico imaginando um texto maior. Moura.
Na praça Cel.Pedro Osório, foi o espaço onde encontrei bons amigos. Lígia Antunes,Joaquim Moncks e Sacharuck, que mora em São Lourenço.
Pela terceira vez visito a cidade para lançar meus livros na Feira do Livro.
Amo Pelotas.
DO ESCAPE AO ESCAPISMO - "Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo" ("Instruções para Dar Corda no Relógio" - deve ser por isso que os relógios, agora, são a pilha). No mítico Sítio Arqueológico de Sepolta, a maioria das pessoas que conheço - começando pela minha irmã - abandonaria o velho Cortázar na praça, e iria para casa ver a novela da Globo. "Populorum Progressio", como se diz no Vaticano. Isso quer dizer: "Assim Caminha a Humanidade" (tradução brasileira de "Giant", se não é uma falsa memória).
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