sexta-feira, 12 de julho de 2013

Perdida (poema-relato)

Ela morreu ali, naquela estrada,
a triste meretriz, bem junto aos muros
do velho cemitério, entre os escolhos;
Encontraram-na fria e sem mortalha,
perto dos cães vadios e dos corvos!
Morta, sem uma lágrima nos olhos...

Quando o coveiro lhe apalpou nos seios,
mirrados e sem cor, o vento agreste
gemeu-lhe uma risada em derredor...
Nem um lírio lhe viram no cabelo...
que aquele corpo resvalou do mundo
sem deixar uma página de amor!

Se teve afetos, se viveu sorrindo
na triste solidão da eternidade,
um mancebo jamais veio pranteá-la...
Apenas teve a pálida Delorme *
por convivas na morte as brancas larvas
que abrigam-se na vala!

Porém, mais tarde, um dia sobre a cova,
beijando o lodo que ao sepulcro cai,
um vulto apenas perpassou na sombra
do velho cemitério.
– Era seu pai.
Francisco Lobo da Costa
1878, em "Auras do Sul"

Edição e voz de Fábio Zündler

* Marion Delorme: cortesã francesa que viveu entre 1611 e 1650.

Um comentário:

Emcompanhia de Palhaços disse...

MORRO EU E TU... NA INFINITUDE