Pedro Munhoz e seus convidados: bailarina Carol, cantor Cícero do Crato e griô Dilermando |
Pedro Munhoz é um cantautor latino-americano bem especial: nasceu no Rio Grande do Sul, compõe em português e utiliza ritmos e instrumentos brasileiros. No entanto, o nome hispânico, a ideologia socialista e a linguagem musical o aproximam mais de um chileno como Victor Jara ou do cubano Silvio Rodríguez.
Nos anos 90 esteve radicado em Pelotas, onde lançou seu primeiro disco (Encantoria). Na sexta passada (15-08) apresentou aos pelotenses as músicas de seu sexto CD, "Guitarra toda a vida" (v. discografia completa).
O jornalista Carlos Cogoy relatou o espetáculo no Diário da Manhã (v. notícia), destacando um comentário do músico em discordância com a Estética do Frio, do pelotense Vítor Ramil. De acordo à matéria, Munhoz disse que suas letras falam daqueles que passam frio e que tal frio, entendido como miséria e sofrimentos injustos, não lhe servem como estética.
Ao parecer, Pedro Munhoz pretende superar a contraposição entre a alegria tropical tupiniquim e a melancolia invernal dos europeus. Por um lado, suas letras e melodias remetem à tristeza e à dor que se espalham pela América do Sul invadida e dessangrada. Por outro, a instrumentação étnica e a voz raspada e gritada querem fazer-se válidos em todos os lugares cálidos e equatoriais, talvez em busca de um sentimento indígena mais próximo ao sertão ou aos mares do Caribe.
Entretanto, se chegarmos a entender o conteúdo do Frio proposto por Ramil, veremos que a proposta de Munhoz se enquadra na mesma estética que ele diz rejeitar. Cantar a injustiça dos oprimidos é simplesmente outra manifestação do Frio, propriamente americana, e pouco tem a ver com o tropicalismo, mais otimista e menos realista. Com tudo isso, o "lamento cálido" de Pedro Munhoz conserva sua vigência em lugares frios como Pelotas (v. canção "A outra história da Princesa", letra e vídeo abaixo, confira áudio no PalcoMP3).
Nos anos 90 esteve radicado em Pelotas, onde lançou seu primeiro disco (Encantoria). Na sexta passada (15-08) apresentou aos pelotenses as músicas de seu sexto CD, "Guitarra toda a vida" (v. discografia completa).
O jornalista Carlos Cogoy relatou o espetáculo no Diário da Manhã (v. notícia), destacando um comentário do músico em discordância com a Estética do Frio, do pelotense Vítor Ramil. De acordo à matéria, Munhoz disse que suas letras falam daqueles que passam frio e que tal frio, entendido como miséria e sofrimentos injustos, não lhe servem como estética.
Ao parecer, Pedro Munhoz pretende superar a contraposição entre a alegria tropical tupiniquim e a melancolia invernal dos europeus. Por um lado, suas letras e melodias remetem à tristeza e à dor que se espalham pela América do Sul invadida e dessangrada. Por outro, a instrumentação étnica e a voz raspada e gritada querem fazer-se válidos em todos os lugares cálidos e equatoriais, talvez em busca de um sentimento indígena mais próximo ao sertão ou aos mares do Caribe.
Entretanto, se chegarmos a entender o conteúdo do Frio proposto por Ramil, veremos que a proposta de Munhoz se enquadra na mesma estética que ele diz rejeitar. Cantar a injustiça dos oprimidos é simplesmente outra manifestação do Frio, propriamente americana, e pouco tem a ver com o tropicalismo, mais otimista e menos realista. Com tudo isso, o "lamento cálido" de Pedro Munhoz conserva sua vigência em lugares frios como Pelotas (v. canção "A outra história da Princesa", letra e vídeo abaixo, confira áudio no PalcoMP3).
A outra história da Princesa
Música e letra: Pedro Munhoz
CD: C´aminhador ao vivo
Eu prefiro cantar a minha terra,CD: C´aminhador ao vivo
Os barracos, vielas deste chão,
A miséria beirando o São Gonçalo,
Porta da frente do rincão.
É preciso lembrar o saladeiro,
Dia e noite o açoite, a escravidão.
Charqueada mandando no destino,
Filho pra Europa, negro no porão.
Eu prefiro cantar a minha terra,
Dor que encerra no peito cantador,
Das meninas da Praça Pedro Osório,
A luta diária dos camelôs.
Eu prefiro chamar a minha terra
Pelo seu nome, não perco o tom,
Do contrário é visão iluminada
Tão somente por luzes de neon.
Vê bem, vê lá,
Esta terra
É feita de gente,
Camará!!!
Sol poente num beco do arrabalde,
Cheira cola um menino na calçada,
Têm notícia da Alta Sociedade:
Faliu mais um neto das Charqueadas.
Ponta a ponta percorro esta cidade,
Manifesto, protesto com os estudantes.
Em fevereiro eu sou Bruxa,
Sou Pelotas, Farrapo, sou Xavante.
Bom Jesus, Cascata e Lagoa,
Manhãzinha se vai o pescador,
O pó da estrada destas serras,
A gente buena do Interior.
Eu prefiro chamar a minha terra,
Pelo seu nome, não perco o tom,
Do contrário é visão iluminada
Tão somente por luzes de neon.
Fotos: C. Cogoy (DM)
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