segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A casa mais antiga de Pelotas

Sob este título, Mario Osório Magalhães escreveu em 2004 no Diário Popular (veja o artigo) algo que ninguém parecia saber nem valorizar: a existência de uma casa com 200 anos, razoavelmente bem conservada.

Se alguém ficou sabendo da "novidade", ninguém pareceu dar-lhe valor, pois a casa continua no mesmo lugar sem mudanças. Nem foi demolida, nem restaurada.

Conta o historiador pelotense que nessa casa, atual rua Major Cícero de Góes Monteiro número 201 (entre Félix da Cunha e Anchieta), morou a família de Antônio José Torres. Daí um dos primeiros nomes da Major Cícero (até 1869): rua do Torres. Quando da criação da Freguesia de São Francisco de Paula, em 1812, esta casa era uma das duas que já existiam no primeiro loteamento (entre a Bento Gonçalves e a General Neto), no qual foi construída a primeira igreja, no mesmo lugar onde hoje está a Catedral.

O mais surpreendente é que esta casa resista ao nosso clima sem desmoronar, enquanto outras mais novas literalmente caem aos pedaços. O fato é único em Pelotas, e talvez em todo o Rio Grande do Sul.

Uma restauração se faz urgente, não só pela antiguidade do material físico, mas por seu sentido histórico: ali se discutiram a localização da futura igreja e os limites da primitiva Pelotas, a que dependia da Vila de São Pedro.
Pedro Luís Prietto dá mais detalhes urbanísticos e históricos desta casa, no site da ONG Viva o Charque (veja o artigo), do qual provém a primeira foto deste post (abril de 2005).

As outras duas fotos são da mesma casa hoje à tarde (23): a fachada em deterioração (compare-se com a imagem superior) e um detalhe da soleira (esq.).
Fotos de F. A. Vidal.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Porquês e paraquês de um projeto cultural

Em 2008, o novo ministro da Cultura brasileiro, Juca Ferreira, apresentou a segunda edição do Plano Nacional de Cultura (PNC), um importante instrumento para o desenvolvimento humano em nosso país, que tem um ministério especial para a Cultura há poucos anos. O documento está disponível na internet, e espera por novas contribuições.

Esse grande projeto nacional tem um sentido maior neste momento de crise mundial, onde os possíveis investidores precisam de mais estímulos e fundamentos para apostar na cultura. O orçamento do país inclui 0,6% para cultura, mas as atividades dessa área já representam 7% do PIB. Nos próximos dias comentarei algumas das informações contidas no PNC.

O blog Em busca da ignorância perdida, de Jorge da Cunha Lima (ex-diretor da TV Cultura), dá os parabéns ao ministro e justifica a importância do documento com vários porquês (veja o post). Parece óbvio ou vago o que diz, e ainda com muitos termos negativos, mas vejamos como fica se transpomos essas ideias a Pelotas.

Precisamos de um projeto cultural devido a muitos "porquês":

  • porque os valores artísticos nacionais [em Pelotas], não consagrados no mercado comercial da arte, são ainda desconhecidos;
  • porque o acesso à cultura ainda é privilégio de uma minoria absoluta da população;
  • porque não cultivamos os valores nacionais [em Pelotas] nem selecionamos os valores universais;
  • porque as instituições culturais destruidas pelo Collor [capitalismo?] ainda patinam na burocracia do desmanche;
  • porque não existem geografias culturais solidárias, capazes de maximizar os recursos criativos e institucionais de cada [de nossa] região cultural;
  • porque não existem sistemas nacionais [em Pelotas] para organizar os arquivos, os museus, as bibliotecas e os centros culturais;
  • porque ninguém ainda entendeu que não existe educação sem cultura numa nação [numa Pelotas] que se respeita;
  • porque a comunicação privada nos priva de qualquer nível cultural e a comunicação pública se debate na falta de gestão e de recursos.
Essas queixas bem-intencionadas escondem os objetivos propostos. Transformemos os lamentos em frases positivas. Precisamos de uma política cultural nossa para conseguir:
  • conhecer e reconhecer nossos valores e talentos,
  • incluir o máximo de pessoas no acesso às criações culturais,
  • cultivar nossa identidade local, no contexto da cultura universal,
  • dar liberdade aos criadores e fortalecer as entidades culturais,
  • configurar uma geografia cultural solidária, que maximize os recursos da região,
  • instituir um Sistema Regional de Cultura, que articule as instituições e suas atividades,
  • vincular educação e cultura, saúde e cultura, felicidade e cultura,
  • aumentar a 2% o orçamento municipal designado à cultura.

Imagens proporcionadas pelos artistas:
"Charqueada", de Manoel Soares Magalhães.
Ândrea Rodrigues, do Estúdio Unidança.

Contrastes arquitetônicos

Paulo Gastal Neto, o mesmo jornalista do post abaixo, fotografou prédios da cidade para mostrar contrastes entre arquitetura nova e antiga. É fácil encontrar em Pelotas vários casarões do século XIX ao lado de edifícios relativamente novos.
Gastal publicou cinco fotos quarta-feira (18) em seu blog (veja o post), aparentemente com a intenção de continuar numa segunda parte. Mesmo ele não dando informação alguma sobre os prédios, considero como uma contribuição em forma de pequena amostra fotográfica.
O conceito é muito interessante do ponto de vista gráfico ou estético (para deliciar-se visualmente com cores, formas e ângulos), e ainda mais pelo lado histórico e arquitetônico, na comparação de épocas, autores e proprietários. Ignoro se alguém teve esta ideia antes, mas fica o registro dela e a possibilidade de seguir explorando-a artisticamente.
Minha reflexão é que estas comparações não teriam sido possíveis sem a demolição de boa parte de nossos prédios: onde há edifícios modernos antes houve casas antigas.
A foto acima é do moderníssimo Centro Empresarial Albert Einstein, na Sete de Setembro 160, construído em conjunto com uma casa antiga, sua vizinha, que parece estar adiante dele. Os dois formam realmente uma unidade de opostos, que a foto não aproveita (a entrada ao edifício está no térreo da casa).
A seguir, o Teatro Guarani (1920) e o edifício Montreal (2005), de 10 andares residenciais, que está a uma quadra de distância, numa composição de diálogo visual, com o mais antigo com leve predominância.
À direita, o antigo Grande Hotel (1928), totalmente sobrepujado pelo Barão de Jarau, que é mais alto mas não tanto. Se o fotógrafo tivesse deixado o Grande Hotel em primeiro plano, teria obtido um ângulo bem mais favorável aos dois, mais imponente e contrastante.
Abaixo, o antigo Asilo de Órfãs, de meados do século XIX, com sua torre de 3 andares igualando-se (em tamanho e em forma) ao edifício residencial de 12 pisos, na Gonçalves Chaves com Barão de Butuí.
É assim como Pelotas luta internamente com seus próprios valores e tendências: uma conservadora e outra inovadora.
Poderão elas algum dia unir-se sem anular-se?
Fotos: Blog PGNeto.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um blog miscelâneo, em tonalidade masculina

O pelotense Paulo Gastal Neto iniciou em julho de 2006 um blog chamado, tautologicamente, Paulo Gastal Neto, trazendo notas pessoais, notícias e comentários.

As suas opiniões são claras e marcantes; nem sempre muito originais, mas costumeiramente polêmicas, às vezes politicamente incorretas. Seus assuntos preferidos são o futebol, culinária, política e cinema. Num estilo franco e provocador, ele expõe sempre seus amores e ódios com total liberdade de expressão e com bom humor. Conta hoje pouco mais de 7800 acessos.

Resgato dele o amor por Pelotas e o desejo de contribuir com coisas positivas para a cidade, cujas falhas ele não deixa de reconhecer.

Gastal (46 anos) é repórter e apresentador da Rádio Universidade, com programas diários às 7h30 e 19h. Ele tem outros dois blogs, somente sobre futebol em Pelotas: o Futebol, com notícias (desde junho de 2007), e o Bola Branca (desde outubro de 2006), com sua coluna semanal no jornal Diário da Manhã de Pelotas (sem site).

Em 28 de julho de 2006 ele escreveu:
Hoje é o Dia Nacional do Combate ao Colesterol!
Vou comemorar comendo uma picanha bem gorda!


No dia seguinte, postou outra radical afirmação:
Sou contra a pena de morte até para crimes hediondos.
Abriria, talvez, uma ou outra exceção, um ou outro caso quem sabe: Uma delas seria para o grupo “É o Tchan”. Não há outra saída para se reiniciar um processo de renovação da música brasileira senão exterminá-los.

Fotos: Blog PGNeto.

Bicentenário de Pelotas, já?

Sabemos que Pelotas é bem antiga, e teve seu maior desenvolvimento no século XIX. Seu bicentenário, portanto, será no século XXI, mas em que data exatamente? Para determinar o dia da festa, basta saber quando a cidade passou a ter vida independente (hoje diríamos: quando foi fundado o município).

O site da Prefeitura Municipal informa no item História [todos os grifos seguintes são meus]:
A Freguesia de São Francisco de Paula, fundada em 7 de Julho de 1812 por iniciativa do padre Pedro Pereira de Mesquita, foi elevada à categoria de Vila em 7 de abril de 1832. Três anos depois o Presidente da Província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, outorgou à Vila os foros de cidade, com o nome de Pelotas.

Se nos orientarmos pelos verbos, acharemos que Pelotas foi fundada em 1812, sendo depois elevada a outras condições posteriores à de sua criação. Sigamos agora os substantivos do ato de fundar: Freguesia, Vila, Cidade.

Em 1812 apareceu a Freguesia, passou a haver uma igreja e seu pároco, mas nada de governo próprio. A autorização foi do Rei de Portugal, D. João VI, estabelecido no Rio de Janeiro desde 1808. A partir de 1812, podiam registrar-se os nascimentos aqui mesmo, celebrar-se casamentos e funerais, além das missas e sacramentos - já sem necessidade de viajar 60 km. Havia um capitão-mor, muitas casas esparsas, mas com uma igreja haveria uma comunidade. Mantinha-se a dependência política de Rio Grande, que já era Vila desde 1750. O sentimento deve ter sido de liberdade e progresso, e ainda com a autorização do próprio Rei; é o que o 7 de julho recorda.

Em 1832, a freguesia passou a ser considerada Vila, com a desejada autonomia; desse ano data a primeira Câmara de Vereadores - o decreto imperial, no entanto, era de 1830. A Vila foi "qualificada" como Cidade junto com Rio Grande, em 1835 - ambas mereciam essa honra por ter resistido leal e bravamente à invasão espanhola, no fim do século anterior.

Um artigo do Diário Popular (7-07-2002) esclarece o significado das datas históricas. Foi criada uma igreja num local próximo às charqueadas, o qual ganhou o nome de
Freguesia de São Francisco de Paula - título meramente religioso: ainda estava vinculada ao vizinho município.
Em 7 de dezembro de 1830, decreto do imperador Dom Pedro I eleva a freguesia à condição de vila - o que a desliga do Rio Grande. Porém, sua instalação como tal (Vila de São Francisco de Paula) só ocorre em 1832, dia 7 de abril, com a instituição da primeira Câmara Municipal.

Apesar dos dados históricos, tem sido costume marcar a fundação da cidade em 1812, e por consequência celebrar os aniversários de Pelotas no dia 7 de julho. Daí que já estejamos preparando o Bicentenário para 2012, que por coincidência será o último ano da administração atual.
Imagens: Wikipédia e Flickr (Gutemberg).

Milton de Lemos, finalmente em reforma

O salão Milton de Lemos leva o nome do diretor mais destacado do Conservatório de Música de Pelotas, que veio do Rio de Janeiro em 1923, aos 25 anos de idade, para dirigir a escola fundada em 1918. Aposentou-se depois de exercer essa função por 31 anos, seguiu trabalhando em Porto Alegre mais um tempo, e finalmente foi morar em sua terra natal, onde faleceu em 1975.

O prédio ocupado pelo Conservatório já era antigo quando de sua fundação. De 1939 a 1941, enquanto o professor Milton de Lemos era o diretor de ensino, a administração da escola fez uma reforma geral, incluindo a fachada, ampliando-se para 350 pessoas a capacidade do auditório. Na época, todas as aulas e espetáculos foram transferidos para a Biblioteca Pública Pelotense.

Em janeiro passado, as cadeiras colocadas há 68 anos começaram a ser retiradas, e deverão ser substituídas - após licitação pública, o antes possível este semestre - por móveis modernos, cômodos e silenciosos. A mudança estava pensada para o verão passado mas foi sendo adiada. Até 1969, o Conservatório era municipal, e sua sede física também; nesse ano, a escola (não o prédio) foi integrada à Universidade Federal de Pelotas e desde então sofre a inevitável burocracia nacional, com o entrave adicional de que sua casa depende da Prefeitura.

Na comemoração dos 90 anos, em 18 de setembro passado, a diretora Isabel Nogueira confirmou a renovação das velhas cadeiras. Além dos famosos rangidos, elas tinham a paradoxal característica de, mesmo pregadas no chão, fazer um forte ruído ao cair seu assento móvel, ferindo às vezes o sacrossanto silêncio dos concertos mais solenes.

Na mesma celebração dos 90 anos, o professor de Composição Rogério Constante apresentou o Estudo Eletroacústico nº 8, alusão bem-humorada ao ranger das cadeiras, um trecho eletrônico de sonoridades elaboradas por um programa computacional.
Ao ser executada no salão em penumbra, essa música dialogou com o ruído real da velha madeira, causado pelos mais leves movimentos dos espectadores ao sentar-se, acomodar-se ou levantar-se. Nessa verdadeira homenagem de despedida, o ranger foi incluído como elemento musical concreto, de certa forma compensando em nossa memória a incomodidade do inoportuno ruído.

Hoje, as cadeiras se foram para sempre e estão sendo recuperados e retocados o forro, o assoalho e as paredes. Por alguns meses, ali não haverá exames nem recitais.

Também nesse 18 de setembro, o reitor Antônio César Borges anunciou (dir.) que o prédio da antiga alfândega faria parte da Universidade, para salas de aula, depósito de materiais e arquivos e, eventualmente, para apresentações artísticas – mantendo a sede da Félix da Cunha e o Salão Milton de Lemos para os concertos.
Em diálogo privado, ele me comentou que não se opõe a que o Conservatório ocupe - além do segundo andar - o piso térreo da casa da Félix da Cunha, de propriedade municipal, o que, segundo ele, somente depende de boa-vontade e de acordos políticos.
Fotos: F. A. Vidal.

O mundo feminino de Graça Antunes

A galeria de arte da Universidade Católica de Pelotas iniciou suas exposições de 2009, há uma semana, com uma série de 15 quadros de Maria da Graça Jardim Antunes, artista múltipla, que há quase trinta anos se dedica à criação, docência e divulgação da pintura, desenho, gravura, cerâmica e escultura.

Sob o título “Mundo Meu”, Graça Antunes apresenta suas já clássicas mulheres gordas e aspectos desse mundo, intensamente feminino, sensual e apaixonado, mas também com ação, decisão e evolução.

Na época em que Graça teve o último de seus quatro filhos, ao redor de 1980, ela pintava grávidas, mas foram diversificando-se, sem perder os grandes volumes: passaram a ser mães-moradas, moças-enamoradas, geradoras de vida, robustas, sedutoras.

Vestidas ou seminuas, delas brotam cores, emoções, gestos, amores, sensualidade. Mulheres que despertam paixão, que sabem o que sentem e que agem de acordo. "No mundo da lua" (em detalhe, acima) mostra uma dessas ousadias: subir por uma imensa escada e construir na imaginação o mundo interno - acolhedor e natural.

As quatro estações têm um magnetismo que nos faz ficar olhar detidamente cada figura. Em "Inverno" (esq.) as roupagens são sugestivas, com seus volumes e texturas. A postura da personagem, os galhos das árvores, o lago congelado, tudo nos faz sentir o ar frio, e nos leva a um recolhimento físico.

O "Vilarejo do sonhos" (esq.) é outra versão, mais aterrissada, dessa atitude sonhadora e realista ao mesmo tempo, que busca a paz e a felicidade. Lá está a escada, em busca da lua. As casas se reúnem para sonhar juntas, sugerindo o inconsciente coletivo.

Tomei as fotos com flash, mas a luminosidade que se vê num canto das figuras é causada pelas lâmpadas da galeria, focadas de cima ao acaso, alterando a percepção correta dos quadros.

Há dois anos, uma reportagem destacou o trabalho de Graça em faiança, um tipo de cerâmica branca (abaixo, foto na contracapa do Diário Popular). Ela faz trabalhos por encomenda, como namorados, papais-noéis, bonecos de profissões. Mas são as gordinhas que inundam seu ateliê, no shopping Zona Norte. Atualmente, Graça Antunes é presidente do MAPP (Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas), associação criada em junho de 2000.

“Mundo Meu” fica até 12 de março na UCPel. A galeria, que renova expositores quinzenalmente, pode ser visitada, das 8h às 22h, no campus I, com entrada pela Gonçalves Chaves e pela Dom Pedro II.
Fotos de F. A. Vidal e site do DP.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pelotas durante 12 meses

A Impresul Artes Gráficas e Editora, empresa porto-alegrense fundada em 1968, imprime há onze anos seu calendário promocional com paisagens do Estado, em parceria com a Portfólio Design.

A edição 2009 ficou ilustrada com imagens de Pelotas, seus prédios históricos e belezas naturais, sob o olhar do fotógrafo Raul Krebs (dir.), destacado profissional do Estúdio Mutante, professor universitário e talentoso pesquisador.

Ele veio conhecer Pelotas por este trabalho, e aqui usou duas máquinas fotográficas: uma com todos os avanços tecnológicos, e outra do tipo mais primitivo, sem lentes, de um modelo projetado por Leonardo da Vinci. O projeto gráfico pertence a Marília Vianna (da Portfólio Design, que assume o layout do calendário).

A notícia oficial é que o prefeito Adolfo Antônio Fetter Jr. recebeu um exemplar do calendário e foi representado pelo atual Secretário de Cultura, Mogar Xavier, no coquetel de lançamento, dia 21 de janeiro, no restaurante Épico, na Capital. De acordo com o site da prefeitura, há a intenção de fazer uma exposição com o material, doze fotografias da melhor qualidade estética e gráfica.

A imagem no Laranjal (esq.) é do mês de abril. O sebo (acima) ficou em julho.

Parte da tiragem do calendário - que é brinde para os clientes da Impresul - é posta à venda ao público, com benefício para o Instituto do Câncer Infantil (em 2008, com fotos da Serra Gaúcha, foram 400 exemplares à venda). Contato com o ICI-RS, para compra do calendário: 51-3331.8704.
Fotos da web (Impresul e ZH).

Capitólio (1928-2007), o John Wayne dos cinemas

O Cine Capitólio abriu em novembro de 1928, numa época em que Pelotas já conhecia bem o cinema, mas sentia os inícios de uma crise financeira que aos poucos deixaria a tradição da riqueza pelotense como uma lembrança do século XIX.

Existia desde 1925 uma sala maior - o Apollo, que durou mais uns 40 anos - e outras menores, ainda mais antigas. Inaugurados no mesmo ano de 1928, o Capitólio e o Grande Hotel (no lugar onde até 1919 tinha estado o Cinema Polytheama), foram as últimas grandezas de uma cidade que se resistia à decadência, ou - diríamos hoje - que se resistia às modernizações do século XX.
Nos anos 50, o Capitólio funcionou como teatro e cinema, com seus camarotes no segundo andar, numa época em que Pelotas ainda tinha uma interessante vida intelectual e artística. "Capitólio" era o nome de uma das sete colinas de Roma, dado a edifícios governamentais ou muito suntuosos, em todo o mundo.
Na década de 1960, fecharam alguns velhos cinemas e surgiram novos: Tabajara, Pelotense e Rei. Havia filmes e público para várias salas, que se diferenciavam por estilos. A juventude preferia o Capitólio, que dava os filmes mais "legais". Havia brindes de Natal: passes livres para o ano inteiro.
Em 1967, o Capitólio passou por uma reforma, que deixou a fachada com um aspecto modernista. Na época, os brise-soleils (quebrassóis em forma de barras paralelas - veja na foto maior acima) eram um ousado recurso arquitetônico, para proteger da luz e calor solar. Hoje, essa mesma fachada com os brises à vista perdeu toda a graça e todo o sentido, pela sombra que os edifícios frontais projetam sobre o ex-cinema.
O filme Titanic (1997) lotou o Capitólio por última vez, marcando o lento naufrágio do velho gigante. Naquele ano, fechava as portas o Cine Pelotense, anunciando qual seria o destino dos sobreviventes. Apareceu o DVD, e os cinemas não ofereceram grandes vantagens aos poucos espectadores.
Além da internacional permissão para sujar a sala com pipocas e refrigerantes, a passiva gerência do Capitólio não ofereceu grandes novidades; ficou olhando o público diminuir, enquanto o público olhava o cinema envelhecer e perder funcionários, para manter os custos. Crianças de 8 anos entravam, em companhia de adultos, para ver filmes adultos. A projeção era interrompida nos créditos finais, mesmo com espectadores sentados. Sessões eram canceladas porque as cópias não chegavam de Porto Alegre a tempo. O cinema estava dando prejuízo, mas permaneceu aberto. Os donos não queriam perder seu antigo negócio, mas nenhuma "salvação" se vislumbrava.
Em outubro de 2007, o Capitólio projetou seu último filme na primeira quinta-feira, e na sexta amanheceu com cartazes que diziam ambiguamente: "Fechado para reforma" (dir.). Em novembro já estava aberto o lucrativo estacionamento, doce vingança dos donos, que não sabiam nem queriam administrar um estabelecimento social ou cultural - somente comercial.
Em maio de 2008, Rubens Filho fotografou horrorizado, para o Amigos de Pelotas (veja o post), os carros estacionados sobre o parquê, ao lado da tela branca em progressiva deterioração (esq.).
Em outubro, um ano após o "falecimento", fotografei o cemitério de nossas lembranças, para o blog do Rubens. Vi um carro com ar fantasmagórico sob a escada que levava à Sala 2 (3ª foto a contar de cima; veja o post). O guichê de venda de entradas estava quebrado, como se tivesse levado uma bordoada com algum pesado ferro (2ª foto). Em novembro, outra foto minha rendeu mais comentários (veja o post).
Sexta passada (13), perguntei ao caixa do estacionamento - mesmo empregado que até 2007 carimbava as entradas na Sala 1 - se eu podia tomar alguma foto no interior do recinto. Ele disse bem sério e firme que não podia. "Ordens da direção".
Afinal, digo eu, aquilo não era ponto turístico ou um lugar cultural, só um estacionamento. As instruções deviam ter sido: "nada de repórteres, nada de perguntas, ninguém fuce na minha loja".
Ante o leite derramado, uns olham para outro lado para não ver, outros choram, alguns protestam ou denunciam. São emoções, mas não mudam os fatos. Não é o fim do mundo; estamos ante mudanças culturais. Mas o defunto e a dor dos sobreviventes exige respeito.
Fotos da web: ZH (Nauro Júnior), Amigos de Pelotas e Flickr (guitavares).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A Praça da Alegria

Entre a legalidade e a informalidade, a sabedoria popular coloca elementos positivos onde eles contrastam com a realidade dura e triste.

Na zona da Várzea, os braços do arroio Pepino servem como esgoto de toda a cidade, o que gera transtornos públicos quanto a saúde, segurança e higiene, historicamente sem solução. Todo esse setor baixo da cidade (Umuarama, Navegantes, Balsa, Porto), que a legislação municipal agora denomina como o grande bairro São Gonçalo, tem ainda características rurais e suburbanas.
Além de assaltos, cães de rua e o império criminoso de traficantes, a população ainda convive com os riscos do arroio: total desproteção nas beiras, escuridão à noite, mau cheiro, lixo de todos os tipos, risco de inundação...até um jacaré já apareceu naquela zona, assustando os moradores.
Para compensar a feiura e o perigo sanitário que o Pepino representa - problemas que até a própria comunidade ajuda a aumentar - há vizinhos que põem ali um toque de beleza e humanidade. Em alguns pontos à beira do arroio, encontram-se adornos e bancos, como tentativas de estruturar uma pracinha, para um descanso no caminho, para admirar a paisagem, conversar, ler, brincar ou estudar.
Na Avenida Juscelino Kubitschek, entre a Bento Gonçalves e o pontilhão da Cassiano, deparei-me com a Praça da Alegria, com dois bancos, um tronco, um pneu a modo de jardim, e até sua placa de identificação, posta bem alto na árvore.
O idealismo e a fantasia nos fazem esquecer dos riscos e desagrados e nos põem num oásis de pureza, tranquilidade e otimismo.
Afinal, se a alegria nasce do espírito humano, ela também é parte da nossa realidade, e não temos por que negá-la.
Fotos de F. A. Vidal.

Os antigos cinemas de Pelotas

Em julho de 2008, o documentário de média-metragem "Estacionamento", de Cíntia Langie e Daniela Pinheiro, mostrou uma pesquisa sobre 30 cinemas que haviam existido em Pelotas, detendo-se para mostrar imagens de 18 deles. A produção pertence à Moviola Filmes.

O cartaz não anunciava o lugar de exibição, mas o nome do filme.
Estacionada era a situação da cinematografia na cidade.
O filme foi apresentado no Projeto Sete Imagens, com uma frase publicitária que evocava o triste destino do Cine Capitólio, fechado em outubro de 2007:
O Sete de Abril vai virar estacionamento!
Na ocasião, um simples banner amarelo anunciando o filme parecia confirmar o terrível anúncio (dir.).

O ator Lori Nelson entrou caracterizado como um mestre de cerimônias dos anos 20 e com expressão melancólica leu o roteiro de Cíntia Langie. Foi proclamada a morte dos antigos cinemas de calçada, mas, para alívio de todos, o Sete de Abril não viraria estacionamento. Somente veria "Estacionamento". Veja o teaser.

Após a performance, houve um debate com um crítico de cinema, um cineasta e professores da área. Com a ausência dos empresários convidados - João e Geraldo Sica, do antigo Capitólio - foram convidados de improviso os donos dos cinemas de Rio Grande, que estavam na plateia pelo interesse que este trabalho havia suscitado.

Cíntia Langie
Estreado em maio de 2008, Sete Imagens é um projeto do Teatro Sete de Abril para promover a criação local em cinema e vídeo. Ele continua em 2009. Após cada filme, há um debate com especialistas.

Com os dados de cada cinema, começarei uma pesquisa sentimental, para ampliar o conhecimento histórico de nossa própria cidade.

Cine Capitólio. Virou estacionamento. Pe. Anchieta 2009.
Cine Rádio Pelotense. Virou supermercado. Andrade Neves 2330.
Theatro Guarany. Não é mais cinema. Lobo da Costa 849.
Theatro Sete de Abril. Não é mais cinema. Pç Cel. Pedro Osório 160.
Cine Rei. Virou magazine. Andrade Neves 1967.
Theatro Avenida. Abandonado. Av. Bento Gonçalves 3972.
Cine Fragata. Hoje é casa noturna. Av. Duque de Caxias 668.
Cine Garibaldi. Galpão da Embaixador. Garibaldi 660-A.
Cinema Praiano. Abandonado. Tuparandi 366 (Laranjal).
Theatro São Rafael. Em ruínas. Pç 20 de Setembro 846.

Foram demolidos e em seu lugar há novos prédios:
Cine-Theatro Apollo. Gomes Carneiro 1661.
Cine América. Quinze de Novembro 205.
Cinema Politeama. Pç Cel. Pedro Osório 51.
Cinema Coliseu. Pe. Anchieta 1346.
Cinema Ponto Chic. Quinze de Novembro 602.

Foram ocupados por igrejas evangélicas:
Cine Tabajara. General Osório 1094.
Cine Esmeralda. Av. Domingos de Almeida 2114.
Cine Glória. Av. Cidade de Lisboa 245.
Os nomes das ruas e a numeração corresponde aos endereços atuais.
Fotos: blog Moviola (1) e F. A. Vidal (2)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Como ficou a Bibliotheca por dentro

Biblioteca Pública Pelotense em 2009, recém restaurado, piso térreo, salão da claraboia
Durante 2007 e 2008, a Biblioteca Pública Pelotense passou por uma restauração, a primeira completa em sua história. Custou 2 milhões de reais, financiados pelo Ministério da Cultura, com patrocínio do Instituto Votorantim. Após a entrega oficial, há um mês e meio (veja o 1º post deste blogue), faltava ir ver como o prédio ficou por dentro.

Sala de leitura, vista da escada de acesso ao piso superior
E ficou como novo. Nem tudo o que há de antigo em Pelotas se perde; muitos prédios são renovados ou reaproveitados, deixando testemunho da riqueza que houve aqui no século XIX, que foi de onde nasceu tamanho nível cultural.

Dona Sônia (foto abaixo) é a funcionária mais antiga, que sabe tudo sobre a Biblioteca. Ela trabalhou aqui 30 anos, aposentou-se e logo voltou, por amor a este lugar. Com um sorriso e uma amabilidade sem fim, ela conta a todo visitante o que sabe deste lugar, por experiência própria.

Uma das coisas que ela sempre diz é que a Biblioteca, em seus 130 anos, nunca teve caráter público, muito embora o nome. Foi fundada e sempre administrada por particulares, gente de fama, riqueza e poder. E de pensamento político republicano. Queria-se uma biblioteca para a cidade, para a educação e a cultura de seus habitantes. Por isso até hoje seus serviços são gratuitos.

Dona Sônia na hemeroteca
Em 1875 foi decidida a construção da Biblioteca, inicialmente num terreno cedido por João Simões Lopes, o Barão da Graça (mais tarde, Visconde). Seu neto João foi um famoso escritor, cujas obras orgulham os pelotenses mas ainda estão muito arquivadas nas estantes, pouco conhecidas e pouco valorizadas.

Nenhuma rua central de Pelotas leva o nome de João Simões Lopes Neto (1865-1916). Não reconhecido por seus contemporâneos, ele assistiu durante sua breve vida à demorada construção da Biblioteca.

Foi de 1881 a 1888 que se edificou a Biblioteca no lugar atual. Portanto, ela tem realmente 120 anos, sendo 93 deles com dois pisos. O material aqui albergado é de grande valor histórico, com muitas obras do século XVIII e até mais antigas.

Na última foto abaixo, olhando para a praça Coronel Pedro Osório, vê-se ao fundo o grande Salão Nobre. Ele não é usado como biblioteca, mas como espaço de reuniões e exposições.

À direita, o corredor transversal onde se apoia a escadaria dupla. Caetano Casaretto foi o arquiteto que criou todo este andar superior, em 1915.

Por estes degraus transitaram os vereadores pelotenses, durante os anos em que a Câmara funcionou neste prédio. Sim, uma verdadeira ocupação do prédio histórico, autolegalizada pelo poder político (e até hoje os vereadores procuram uma sede para o Legislativo municipal).
Do piso superior pode ver-se a entrada e o Salão Nobre, ao fundo.
Fotos de F. A. Vidal.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um blog pessoal e feminino

Taurus et Cancer é assumidamente um blog pessoal, um verdadeiro diário, escrito em primeira pessoa do singular, que foi como nasceram os blogs. Vou apresentar um, feito em Pelotas, mas que nos transporta a um mundo pessoal.

Após 10 anos de blogosfera, ainda existem os diários? Com certeza, mas a maioria é escrita por adolescentes. Isabel Nogueira iniciou este blog em 16 de junho de 2005; já adulta, portanto (com doutorado em musicologia, inclusive). Em seu texto se notam com grande acentuação e verdade estas três características: é uma pessoa adulta que escreve, é uma mulher de alta feminilidade, e é uma artista de múltiplos talentos. Alguns posts são transcrições, mas quando é a Isabel que fala, o leitor fica admirado com a pureza desses traços.

No dia de início, ela mesma explica o significado do nome Taurus et Cancer e sua motivação para escrever (quanto mais autêntica, menos maiúsculas ela usa).

depois de muito ler os blogs dos amigos, e adorar acompanhar assim eletronicamente um dia de cada vez e seus movimentos, me aventuro no mundo dos blogs.
sei, já sei, não tenho tempo.
não tenho tempo de atualizar, tenho muita coisa pra fazer, mas o caso é que sempre adorei diário, e o blog é um diário em meio eletrônico compartilhado.
assim, que irei postando neste blog, como for possível, os causos [da família], entre os taurus-cancer da casa: pedro de touro, paulo de câncer, e eu touro com ascendente em cancer...

Totalmente pessoal, plenamente consciente do que faz e 100% comprometida consigo mesma, Isabel precisa de um diário para dialogar consigo mesma, e para deixar um testemunho aos filhos.

Ela se apresenta como musicóloga e pianista, que é o que diz seu currículo, mas seu texto respira sensibilidade por todos os poros, e nos confunde sobre qual é ou seria seu principal foco. Segundo o currículo, é a música, mas o blog mostra um leque que praticamente inclui todas as áreas artísticas e humanas: poesia, fotografia, comics, vídeo, cinema, dança, folclore, culinária, roupas, história, sociedade, psicologia, idiomas... Neste blog, vemos belas imagens, ouvimos bela música, captamos sabores e aromas, sentimos emoções e somos seduzidos por este mundo tão... taurino e canceriano.

Afinal, uma mulher de vários cotés, sendo os principais: mãe, filha, pesquisadora e, mais recentemente, bailarina de flamenco. Acima, seu "coté diretora", em 2005 (foto tomada para o livro sobre o Conservatório). Na primeira foto, Isabel aos 20 anos.

O blog está hoje com 17740 acessos, o que Isabel considera um público pequeno, para ser um blog. Mas dividindo esse número pela quantidade de dias, dá como resultado 13 visitas diárias em média. A matemática não mente: Isabel tem vários leitores fiéis, e aqui só estou dizendo algumas razões.

Em 10 de dezembro passado, Isabel postou o que transcrevo abaixo, sob o misterioso título
"munto topante"...
gabriel está se descobrindo no mundo das palavras.
e, de forma muito decidida, faz uso delas, mesmo que não sejam ainda totalmente compreensíveis.
ele adora o pedro, as coisas do pedro, as brincadeiras do pedro, tudo do pedro.
e, do seu jeito criativo, convida o pedro para brincar de "eu, ômalanhadôsi" (homem aranha dois) e "tu, totópisi" (doutor octopus), ou de "quívi" (incríveis). [...]
outro dia, o gabriel chutava alguma coisa (ele esta sempre chutando algo...) e acertou no prato de massa miojo que estava comendo.
bem, tive que parar tudo, dizer a ele que não dá para chutar o prato, que é hora de comer, e ainda por cima resultou numa grande sujeira.
que ele prestasse atenção, porque o que eu estava falando era muito importante.
fiz um pequeno discurso e perguntei se ele tinha entendido que era muito importante. ficou me olhando e concordando, bem serio e concentrado, dizendo "munto topante, mamãe, munto topante..."
pensei em como tem coisas que são "munto topantes" na vida, e em como este olhar serio e concentrado do gabriel me serviria para relativizar...
Fotos de Isabel Nogueira.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Parte de uma cidade se resiste a cair


Pelotas tem muitas casas antigas que ainda não foram demolidas; algumas muito bem conservadas, outras em total abandono. Uma que se equilibra entre o desmoronamento e a integridade é a construção da rua Padre Anchieta 880, esquina Almirante Tamandaré, no bairro do Porto. Nos anos 80 aqui funcionou a redação do Diário da Manhã.

Há anos que ninguém habita neste casarão, a ponto de perder a integridade que parece ter vivido em outros tempos. Hoje ainda é uma sombra do que foi, como um idoso mendigo que se resiste a morrer, que insiste em honrar a lembrança de um passado digno.

Suas portas e janelas se bloqueiam, negando a realidade. Sua madeira podre não se desfaz, rígida em sua fragilidade. As plantas invasoras a despenteiam sem destruir seu teto.

Sua fortaleza é autossuficiente, mesmo que ninguém lhe traga vida e maquiagem. Quando colapsar, receberá atendimento. Mas quando isso ocorrerá?


Fotos: Flickr (2), F. A. Vidal (1, 3-4)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O centenário Diário Popular

O Diário Popular de Pelotas é o 6º jornal mais antigo em funcionamento no Brasil todo. Foi fundado em 1890, tem mudado de proprietários, de administradores e logicamente sua apresentação visual tem se adaptado aos tempos. Tendo sido até os anos 80 um jornal tradicional, em preto e branco, o DP nos últimos anos aumentou o número de assinaturas, adotou o formato tablóide com o uso de cores e até construiu um site, onde veiculava a maior parte das notícias e colunas, mesmo sem muitas fotografias e com pouca interação com o leitor. Há um ano, o jornal circula em duas edições diárias, uma delas identificada como da cidade de Rio Grande.

Em outubro de 2008, o DP deixou de aparecer na internet, mas mantinha o acesso às edições antigas, desde 2001. Em janeiro de 2009, o site esteve anunciando a sua próxima reaparição, com mais imagens, mais colunistas e mais interatividade, sem dizer em que data isso aconteceria.

Mais antigos que o DP são:
- Diário de Pernambuco (Recife, 1825),
- Jornal do Commercio (Rio de Janeiro, 1827),
- O Estado de São Paulo (1875, como "A Província de São Paulo"; com o nome atual desde 1890),
- O Fluminense (Niterói, 1878) e
- "Diário Popular" de São Paulo (1884; foi comprado pelas Organizações Globo em 2001 e mudou para "Diário de S. Paulo", mantendo um suplemento com o antigo nome).

O decano de Pelotas não é o único "Diário Popular" no Brasil: existe desde 1963 um jornal com a mesma denominação em Curitiba, identificado como Diário Popular do Paraná.

A imagem ao lado não é de agora, mas de 2004, quando ocorreu o mesmo fenômeno em Pelotas; foi publicada há poucos dias no blog meteorológico MetSul. A natureza tem seus ciclos repetitivos, e os pelotenses parecem às vezes segui-los fielmente.

O site do DP continua inacessível.

A perigosa Ferreira Viana

A pavimentação da Avenida Ferreira Viana ocorreu no primeiro mandato do prefeito Irajá Rodrigues (1977-1982), que se caracterizou por obras vistosas e até bem-intencionadas, mas que por mau planejamento trouxeram alguns incômodos. O acesso motorizado às praias do Laranjal se fazia pela paralela Av. Domingos de Almeida; somente ciclistas e charretes passavam pelo caminho poeirento e solitário que ia da Bento Gonçalves até os fundos do Instituto de Menores.

A renovada artéria se fez atraente pelo concreto - muito melhor que as pedras da Domingos de Almeida - e especialmente pela nova conexão com a ponte sobre o arroio Santa Bárbara. Ninguém se importou com que a via carecesse de acostamento e tivesse um sistema confuso para transitar em duas mãos, em ultrapassagens perigosas, sem adequada sinalização no pavimento.

O fluxo de carros aumentou e ainda apareceram os ônibus, cujas paradas entorpeciam o trânsito. Desde os anos 70, os pelotenses arriscam suas vidas neste caminho infernal. Se não houve mais acidentes, foi por ajuda divina ou pela habilidade dos motoristas, usualmente apressados. Os veículos não motorizados agora preferem a Domingos de Almeida, que mesmo duplicada e asfaltada foi sempre rejeitada pelos motoristas.

Na ida para a praia, os passageiros que pretendam subir ou descer dos ônibus se encontram, além da inexistência de acostamento (perigosa para os veículos) com a falta de espaço para caminhar. Entre o meio-fio e o pequeno poste da parada (esq.) há uns 80 cm para fazer equilíbrio. Os outros 70 cm em declive, entre o poste e o valetão aberto, não são transitáveis; de noite, ficam invisíveis. Em dias de chuva, o cidadão ainda precisa evitar os possíveis escorregões.

A única solução para este problema seria duplicar a via e que o trajeto de ida seja feito pelo outro lado do valetão.

Na vinda, os ônibus param do lado das casas, onde não há o mesmo risco de vida (somente o perigo para os veículos). Estas fotos foram tomadas em janeiro de 2009, ainda sem todas as paradas terminadas.

A prefeitura não mandou as linhas de ônibus de volta para a Domingos de Almeida, mas preferiu fazer as paradas clássicas, talvez tendo em vista que a Ferreira Viana seria duplicada, como já foi anunciado pela atual gestão. Trinta anos depois, a perigosa avenida terá duas pistas para veículos motorizados, pista para bicicletas e asfalto (melhor que o concreto).

Provavelmente, as paradas de ônibus serão como as que já existem, com pouca proteção contra a chuva, pouco acostamento e a necessidade de mais pontilhões, para os pedestres não precisarem caminhar meio quilômetro para chegar ao outro lado. E a educação dos motoristas?
Fotos de F. A. Vidal.