Tudo parece em seu lugar, esperando por uma reforma: porta, janelas de uma sala, respiradouros de um sótão, calçada em bom estado.
Em Pelotas há muitas casas demolidas que mantêm a fachada, como à espera de algo. Não deixa de impressionar a contradição entre os restos mortais e a casca. Mas em certos casos somente um observador mais cuidadoso percebe a contradição entre a aparência trabalhada de uma máscara e o vazio absoluto.
Basta parar para olhar pelas frestas que veremos o vazio. A foto à direita espia pela janelinha do sótão mais à esquerda, por onde se revelam insuspeitados segredos.
Um passante distraído ou apressado pode não perceber este fenômeno, mesmo que haja do seu lado uma entrada aberta para carros (abaixo): um pedestre terá que olhar pelas janelas, um motorista terá que buscar estacionamento, e existe um, justamente com a entrada do lado desta... casa?
A fachada está aí, inteira, mesmo que com remendos (na janela esquerda, na foto superior), mas na verdade o terreno virou mesmo estacionamento, de um lado a outro do quarteirão, enquanto alguma empresa não constrói ali algo lucrativo.
Como a porta estava aberta, com passagem para a Gonçalves Chaves, fotografei também o lado interno da fachada, uma visão triste do ponto de vista estético, e imagino que bem sinistra para quem tenha eventualmente conhecido o que existiu ali.
Nossa cidade também está esvaziada, mantendo aparências de uma antiguidade respeitável, enquanto dias melhores não vêm.
Fotos de F. A. Vidal.
Fotos de F. A. Vidal.
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