Em seu estudo, ela define poluição visual urbana como a degradação do espaço em função do uso desordenado de anúncios comerciais. Estes costumam ser fixados sem considerar as características dos edifícios e a identidade do espaço urbano. Neste conceito, a publicidade que é posta de modo ordenado e respeitando a identidade cultural do setor em questão não é poluição visual. A ideia é que as casas e edifícios possam ver-se e que seja ativado o funcionamento econômico e social - como o turismo e o próprio comércio local.
Por exemplo, a Times Square em Nova Iorque é um centro comercial cosmopolita: ali os anúncios podem e devem ser de grandes dimensões, luminosos e variados: se eles fossem retirados, o vazio estaria negando a identidade do lugar. Em uma área residencial, por outro lado, os interesses e as características serão diferentes, e o planejamento da cidade deve contemplar essas diferenças.
O caso de Pelotas: no centro histórico, os anúncios comerciais devem respeitar e fortalecer a identidade cultural da área, que se veria prejudicada se os edifícios e seus detalhes não pudessem ser apreciados.
O magazine no Calçadão (esq.) e a farmácia na Osório (dir.) não destacam os traços culturais e arquitetônicos dessa zona histórica. Um caso emblemático é a Galeria Mazza (última foto abaixo), que passou em 2008 por uma restauração da fachada (provavelmente sob estímulo da pesquisa de Adriana Portella). Veja o post neste blog.
Um exemplo diferente é que as árvores em excesso da praça Coronel Osório já foram consideradas poluição visual, por impedirem ver os prédios mais importantes da cidade (valorização da história e da geografia urbana).
A tese de doutorado de Adriana investigou a percepção de 420 pessoas sobre a poluição visual em três cidades (Pelotas, Gramado e Oxford). Segundo suas conclusões, alguns fatores devem ser considerados no controle da poluição visual para que se obtenha um objetivo comum e coerente:
1. A sociedade e sua tendência ao consumo requerem a existência de anúncios comerciais. Considera-se que os usuários modernos têm necessidades visuais e de consumo, a ser integradas ao meio e manejadas como qualquer outra função urbana. O consumo pode ser estimulado sem prejudicar o ambiente.
2. Os interesses de diversos grupos urbanos, em 4 aspectos:
- a percepção da imagem histórica da zona,
- a imagem que os moradores gostariam de manter,
- a imagem que a autoridade pretende promover, e
- os interesses dos comerciantes.
- a percepção da imagem histórica da zona,
- a imagem que os moradores gostariam de manter,
- a imagem que a autoridade pretende promover, e
- os interesses dos comerciantes.
O terceiro aspecto, da autoridade, não se refere simplesmente às normas, mas ao interesse de "marketing da cidade", a publicidade que favorece o turismo urbano, área por área. Além do controle urbano, há a promoção da cidade.
O quarto aspecto se vê muito no Calçadão, na Marechal Floriano e na General Osório, onde cada comerciante obtém um efeito positivo sobre o pedestre com anúncios individuais, mas, somando-se o conjunto da quadra, tem-se um resultado caótico, sem efeito estético nem comercial.
O que se requer é coordenar todos esses interesses, para um crescimento econômico que respeite a identidade cultural. As normas e o controle da publicidade vão depender de todos esses fatores.
Um dos resultados da tese de Adriana é que, com mais de 10% das fachadas ocultas por anúncios, as pessoas desenvolvem uma percepção negativa do setor. Se a poluição visual diminui, o comércio pode ter até benefícios. O trabalho foi apresentado em Pelotas, segundo noticiado na época, e gerou discussão na Câmara de Vereadores, que já esboçou normas, mas pode não ter suscitado o necessário debate com arquitetos, moradores e comerciantes.
Referências das pesquisas:
- PORTELLA, Adriana Araújo.
Evaluating commercial signs in historic streetscapes: the effects of the control of advertising and signage on user’s sense of environmental quality.
Tese de Doutorado. Oxford Brookes University, Oxford, Inglaterra, 2007.
Tradução aproximada: Avaliação de anúncios comerciais em paisagens urbanas históricas: quais os efeitos do controle da publicidade sobre a percepção que o morador tem da qualidade ambiental. - PORTELLA, A. A. (2003).
A Qualidade Visual dos Centros de Comércio e a Legibilidade dos Anúncios Comerciais.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pos-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. Porto Alegre. - Times Square não é exemplo de Poluição Visual, artigo na revista Arquitextos n.94, março 2008.
Imagens: F.A.Vidal (1) e Adriana Portella (2-4).
4 comentários:
Interessante a pesquisa da arquiteta, sobretudo porque trata de "poluição visual" numa cidade como Pelotas, "conhecida" _ será? _ por seus casarões, seu patrimônio (?) arquitetônico.
Interessante, além dos critérios utilizados (as variáveis), é o conceito desenvolvido por Patrick Sériot, um teorico da Análise do Discurso, sobre "ecologia linguística. Embora não trate da "poluição visual", aborda aspectos referentes ao assunto.
Muito boa matéria!
Bj, Tê!
É com grata satisfação que vemos o imóvel Galeria Nóris Mazza como exemplo de preservação qto ao imóvel e o aparato publicitário. Confesso que a restauração não foi devido a pesquisa da arquiteta em questão, o que acho extremamente importante, mas o que nos leva a manter o prédio é uma questão de consciência, rspeito pela nossa cidade, tentando mostrar aos comerciantes, que não é a MAIOR PROPAGANDA que atrai o consumidor, pq ao readequar a nossa fachada não tivemos problemas com os inquilinos e os clientes até aumentaram. Selma Mazza
ACHO QUE DEVIAM COLOCAR COMO SAO AS RUAS DE SAO PAULO COM A POLUICAO VISUAL
Em São Paulo é bem pior a situação, mas comparar com uma capital tão grande afetaria o objetivo desta nota: daria a impressão de que Pelotas não tem problema algum neste sentido.
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