quarta-feira, 22 de julho de 2009

Pelotas merece um abraço

A jornalista gaúcha Erika Hanssen Madaleno escreveu um artigo falando de seu amor e encantamento com Pelotas.

O texto saiu na edição impressa do Diário Popular de hoje, mas como o site não publicou me pareceu triplamente interessante divulgá-lo aqui: pela ausência na internet, por referir-se a Pelotas e pela bela redação (Erika ganhou o Prêmio Esso Regional em 1991).

O verbo "merecer" se refere à possibilidade de ter algum mérito ou direito, mas a autora mostra o lado emocional de quem ouve essa nossa expressão, tão comum para agradecer, que faz o outro se sentir valioso. Ela se sente amada e nos retribui o abraço.
Pelotas merece
A primeira vez que vim a Pelotas foi no final da década de 80. Como jornalista, tinha a tarefa de escrever uma reportagem sobre as praias do Litoral Sul. Ainda era primavera, fazia muito frio, chovia e o Laranjal estava deserto. Não foi um bom começo!

Para esperar a melhora do tempo, decidi caminhar sozinha pelas ruas centrais. Resultado: me perdi e não sabia mais voltar ao hotel. Definitivamente, Pelotas e eu não estávamos nos entendendo.

Ninguém havia nos apresentado formalmente e senti falta de um contato mais caloroso. A imagem que guardei da cidade foi essa: um local frio, chuvoso e onde a gente se perdia com a maior facilidade. Até visitar Pelotas novamente, anos mais tarde. Bem acompanhada e, especialmente, com olhos mais maduros e com a cabeça mais arejada.

A primeira surpresa ocorreu em uma pequena loja, onde, ao agradecer o atendimento, a moça me respondeu "Merece!". Com essa simples palavra, começava um novo amor, uma nova visão sobre a Princesa do Sul. Com encanto, percebi que todas as pessoas diziam "merece", em vez do tradicional "de nada".

Policiais militares, comerciários, o povo na rua, na rede hoteleira ou em restaurantes, qualquer pessoa a quem eu agradecia por um favor me respondiam com um sorriso: "A senhora merece!". Era apaixonante.

Foi também em Pelotas, no início deste ano, que recebi meu primeiro abraço, daqueles que a gente vê nos filmes e nos e-mails, onde pessoas portam cartazes oferecendo este carinho gratuito [veja o vídeo abaixo]. Um grupo de alegres adolescentes passou por mim na praça Coronel Pedro Osório e recebi um abraço apertado, além de ouvir que eu "merecia" tudo aquilo. De repente, Pelotas entrou em minha vida como um turbilhão de emoções.

Com o calor humano que me foi oferecido, ergui os olhos para a cidade, comecei a pesquisar sua história, descobri sua imensa riqueza cultural, suas casas de espetáculo - onde passaram as melhores e maiores companhias - e os prédios históricos, que não me canso de fotografar.

A beleza da Catedral São Francisco de Paula [acima], o Grande Hotel [esq.], o Theatro Sete de Abril e o Guarany, que me deixaram extasiada, as praças, o povo, os doces... ah, os doces... a perdição do meu regime esquecido.

Hoje não tenho mais medo de me perder em Pelotas. Não penso que seja um município frio e chuvoso. Ando pelas ruas como se vivesse aqui eternamente. O Calçadão virou minha casa; a praça central, meu local de descanso e contemplação.

Quem mora na cidade pode pensar de outra forma, pois vivencia problemas que não percebo. Afinal, ser turista eventual é sempre diferente. Mas neste mês de julho, em que a cidade completa 197 anos, gostaria de homenageá-la, escrevendo este texto de amor incondicional e me redimindo de um dia não tê-la achado tão interessante.

Pelotas tem açúcar no sangue, tem um povo amoroso e hospitaleiro. Me faz bem, me traz alegrias, faz com que eu viaje no tempo e vislumbre o futuro. Na verdade, quem "merece" algo não sou eu. É a gente que vive nesta cidade, que trabalha, estuda, luta por dias melhores, que me recebe tão bem e a tantos outros simpatizantes.

Muito obrigada, Pelotas!

Merece!
______
O psicólogo brasileiro Ary Itnem Whitacker ficou famoso no YouTube em 2006, quando replicou, em plena Avenida Paulista, uma faceta da campanha Abraços Grátis (Free Hugs Campaign)[veja o verbete na Wikipedia], criada em 2004 pelo australiano Juan Mann.
O brasileiro aplica às empresas o efeito social do contato afetuoso, chamando-o "abraço corporativo".
A Terapia do Abraço (Hug Therapy) foi proposta nos anos 80 pela americana Kathleen Keating.


3 comentários:

Fada Safada disse...

Linda declaração de amor à Pelotas.
Uma doçura de cidade.

Fada

Anônimo disse...

O texto é muito bonito, mas o vídeo é DEZ! Sobretudo para mim, que sou beijoqueira e abraçadeira, hehe!
Bj,
Tê!

Anônimo disse...

Francisco, hoje é dia 5 de outubro de 2009 e somente agora vi o teu blog e a publicação do meu texto sobre Pelotas. Fiquei muito emocionada e não sei como te agradecer! O vídeo é maravilhoso, tive a mesma sensação do abraço que recebi em Pelotas e também a que sinto agora, ao ser acolhida por vocês mais uma vez. Muito obrigada, todo meu carinho.
Erika

Erika Hanssen Madaleno
Registro Profissional 4728 MTB