Esta série fica exposta no Espaço Arte Chico Madrid até 5 de outubro. Nesta sala, havíamos visto outros dois quadros da mesma artista, na mostra "Isla Negra" (à esq. na 1ª foto; veja nota), que em 2009 visitou a casa de Pablo Neruda naquele balneário chileno.
Maria joga com formas minuciosas, como os arabescos do barroco, e as expande a grandes tamanhos, parecido a como nós mesmos ampliamos detalhes pequenos do dia-a-dia para examiná-los e compreendê-los (em certas ocasiões da vida eles nos asfixiam e nos sentimos "afogando-nos num copo d'água").
Em tempos primitivos, nossa percepção infantil não distingue bem as formas visuais e é como se nossos sentimentos parecessem manchas coloridas, algumas de calidez, outras depressivas, e muitas tão misturadas que não sabemos se são boas ou más, se com elas rir ou chorar.
Diz a artista que sua pintura evoca a cultura em dois sentidos: "seja pela ornamentação que remete ao barroco, seja pelo colorido intenso que lembra o carnaval". Ainda em suas palavras, o gestual caligráfico é o que demarca a situação visual, "convivendo livremente reforçado pelas cores vibrantes e quentes".
O título da mostra já denota um conteúdo intencional. Mas não o faz diretamente e sim por aproximação à sensibilidade visual concreta do espectador, com sutileza mas não com a ingenuidade de um principante. As flores estão por toda parte, mas não cansam; antes, dão curiosidade.
É provável que essa sedução visual tenha pelo menos duas vias - a emocional e a racional - mas não sabemos se elas são paralelas ou se entrelaçam. Elaborações como ornamentos, recortes e superposições não dão mensagens específicas, mas geram sensações e pensamentos da zona pré-consciente e até outras mais profundas, como aqueles símbolos que jazem num misterioso ventre materno.
É assim como umas simples flores entram pelos olhos e chegam à mente menos consciente pela via das abstrações, não negando as aparências banais mas conseguindo dribá-las, como o faz a arte moderna.
Graças à manipulação fotográfica, o detalhe superior de um destes quadros pode ser apreciado nas cores originais ou sem elas (clique para ampliar). A alteração não foi pensada pela artista, mas o olho mental pode reconstruir, rever, comparar, ressignificar e finalmente voltar ao original, para revalorizá-lo.
No espaço habitualmente silencioso da Sociedade Sigmund Freud, estas pinturas suscitam um momento de reflexão, e seriam muito adequadas para uma sala de espera médica ou psicanalítica (ainda que neste local não se realizem atendimentos).
Imagens: F. A. Vidal
3 comentários:
Precisamos mais de pequenos e grandes jardins para olhar.
Falaram em jardins? Tive que vir olhar!
Parabéns pela postagem!
E se quiserem conhecer um pouquinho do meu....
Sejam bem-vindos!
http://tuledesilvia.blogspot.com
Aconselho o blogue de Sílvia, "Tule", uma coleção de frases e fotos poéticas, tomadas em Pelotas.
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